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DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIA

O Património Histórico-Artístico das Caldas de Monchique na valorização do destino

4. DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIA

A estratégia de dinamização do património histórico-artístico das Caldas de Monchique decorrente do trabalho de mestrado baseia-se nos princípios emanados de organismos internacionais e portugueses, no que respeita à gestão do património cultural e ao turismo.

Três documentos redigidos pelo International Council of Monuments and Sites (ICOMOS) exprimem fundamentos para o trabalho de valorização daquele destino turístico algarvio. Por um lado, a Carta para a Interpretação de Sítios de Património Cultural preconiza a documentação do significado destes sítios “through accepted scientific and scholarly methods”7, bem como

o respeito pela sua autenticidade.

Já a Carta Internacional do Turismo Cultural8

veicula a necessidade de envolver as comunidades locais e os visitantes, com claros benefícios para ambas as partes a partir do diálogo, ao mesmo tempo que 5 Serrão, Vítor (2001), A Cripto-História de Arte. Análise de Obras de Arte Inexistentes,

Livros Horizonte, Lisboa.

6Cf. ICOMOS (2008), Québec Declaration on the Preservations of the Spirit of Place. 7 ICOMOS (2008), Charter for the Interpretation and Presentation of Cultural Heritage Sites, Objetivos.

8 Cf. ICOMOS (1999), International Cultural Tourism Charter: Managing Tourism at Places of Heritage Significance.

Figura 5 e 6 Estatuetas romanas em bronze,

localizadas no antigo balneário provisório.

Figura 7 Um dos painéis de azulejos barrocos, proveniente do extinto balneário, demolido na década de 1940.

define a gestão do turismo nos sítios com significado cultural. Com a realização de entrevistas junto daqueles que utilizaram os edifícios estudados na dissertação, tentámos sensibilizá-los para a importância da história do conjunto patrimonial, e em simultâneo das suas próprias experiências de vida e de trabalho nas Caldas de Monchique. Com efeito, os turistas que participaram nas visitas guiadas valorizaram em grande medida este tipo de conteúdos acerca dos indivíduos, que enriqueceu a narrativa histórica e artística.

Por último, a Declaração do Quebeque sobre a Preservação do Espírito do Lugar vem sublinhar, precisamente, essa relação de enriquecimento mútuo entre os patrimónios material e imaterial, na medida em que inscreve o espírito do lugar como “the physical and the spiritual elements that give meaning, value, emotion and mystery to place. Rather than separate spirit from place, the intangible from the tangible, and consider them as opposed to each other, we have investigated the many ways in which the two interact and mutually construct one another.”9.

Na ausência de um plano regional de turismo para o Algarve, encontram-se no Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT)10 as directrizes que o Estado

português aponta para o desenvolvimento deste sector na província turística, por excelência.

Constatando a ampla oferta de equipamentos e serviços complementares no nicho de Saúde & Bem Estar na região, o documento aponta a necessidade de “desenvolver propostas específicas direccionadas à captação de turistas na época baixa (mercado interno)”, no sentido de potencializar os recursos existentes ao longo do ano, através da captação de turistas nacionais para colmatar a diminuição na afluência internacional, fora da época alta. Defendemos, pois, o Touring Cultural e Paisagístico como âncora, assumindo o papel estratégico das Caldas de Monchique no processo de combate à sazonalidade, pela fruição permanente do seu património.

E o Plano confirma esta necessidade, ao revelar que o Algarve deverá apostar noutros cinco produtos turísticos para atenuar a sazonalidade e complementar a oferta, além do tradicional Sol & Mar e do Golfe. Neste sentido ainda, são identificados os Circuitos Turísticos Religiosos e Culturais como forma de “colocar 9 ICOMOS (2008), Québec Declaration on the Preservations of the Spirit of Place,

Preâmbulo.

10 Turismo de Portugal (2013), Plano Estratégico Nacional de Turismo. Revisões e Objectivos 2013-2015.

os recursos georreferenciados em valor, desenvolver conteúdos e informação para o cliente, e incentivar a diversificar as experiências”, pelo que a criação de actividades de animação turística direccionadas para os recursos patrimoniais concorre no alargamento da oferta regional.

Contudo, é defendido pelo Turismo de Portugal, I.P. um projecto de revitalização do Algarve, no sentido de torná-lo num destino de excelência de Sol & Mar, insistindo na sua dependência face a este produto, ao passo que, reforçando outros produtos complementares como o Turismo Cultural, os efeitos da sazonalidade seriam sentidos de forma menos intensa.

No que respeita às perspetivas da Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg)11, verificou-

se um aumento de 5,1% no número de visitantes nos monumentos que tutela, em 2014, sintomático da crescente procura dos turistas pelos produtos turísticos culturais. Ao mesmo tempo, há uma maior aproximação à Entidade Regional de Turismo do Algarve, numa sinergia que nos parece salutar entre ambas as entidades públicas regionais, demonstrativa de que Turismo e Cultura se complementam no território algarvio. O programa DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos terá contribuído igualmente para este aumento. Prevê-se a requalificação da Fortaleza de Sagres, com um novo centro de exposições, que reforçará a oferta cultural na região.

Também articulando o património histórico e as dinâmicas turísticas, a DRCAlg encetou já parcerias com diferentes roteiros internacionais, como a Rota Transnacional dos Omíadas – Itinerário Turístico Transnacional pela Bacia do Mediterrêneo ou a Rota Europeia dos Descobrimentos, ao mesmo tempo que se encontra disponível para colaborar com novos projectos de Touring Cultural no Algarve, tendo o Turismo e o Património como eixos de desenvolvimento.

A conjuntura mostra-se, assim, favorável à implementação de um projecto de Touring Cultural nas Caldas de Monchique, apoiado nas tendências do mercado turístico, que refletem mudanças no perfil psicográfico dos turistas que visitam o Algarve, mas ainda um incremento institucional das ligações entre Turismo e Cultura, e a abertura a parcerias com novos projectos na região.

5. CALDAS DE MONCHIQUE: O PATRIMÓNIO