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2.5 AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

2.5.2 APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS (PBL)

Os adultos são mais motivados a aprender quando as suas próprias necessidades de aprendizagem e experiência fornecem o ponto de partida para a aprendizagem e quando o foco de sua aprendizagem é a aplicação imediata às situações da vida relevantes. Eles também estão motivados para aprender quando sua experiência pessoal é utilizado como um recurso, bem como direcionam e avaliam sua própria aprendizagem (KAUFMAN, 1998). Sendo

assim, o PBL é considerado como uma estratégia de ensino que valoriza o autodirecionamento e a troca das experiências na busca da resolução dos problemas.

O método PBL, conhecido no Brasil por Aprendizagem Baseada em Problema, surgiu no final dos anos 60, na McMaster University Medical School, Canadá, disseminando-se inicialmente nas escolas de Medicina e, em pouco tempo, difundiu-se pelo mundo, em várias universidades. O PBL é centrado no estudante e surge a partir de um problema real ou simulado, procurando estimulá-los a solucionar o problema em questão por meio do desenvolvimento de habilidades e atitudes e do pensamento crítico, procurando por um conhecimento mais consistente e duradouro sobre o tema pesquisado. Desse modo, aprende-se a aprender, tornando-se responsáveis pela própria aprendizagem (GERTZMAN; KOLODNER, 1996; SOARES; ARAÚJO, 2008).

Este sistema de ensino, de acordo com Nii e Chin (1996), proporciona conhecimento aos alunos por meio de um processo de aprendizagem ativo, pois acredita-se ser melhor do que aprendido por meio de métodos convencionais passivos. A justificativa para a Aprendizagem Baseada em Problemas centra-se na idéia de que ela melhora as estratégias de raciocínio indutivo que podem ser mais eficazes para a aprendizagem.

Soares e Araújo (2008) definem o método PBL como um método que procura aprofundar o conhecimento do estudante com estratégias e comportamentos aplicáveis por meio de leituras prévias, discussões em grupos, e propõe despertar nos estudantes as habilidades de resolver problemas e o raciocínio crítico. Para Cyrino e Toralles-Pereira (2004, p. 782), o PBL encontra suas raízes na teoria do conhecimento de John Dewey, tendo como proposta educativa que a "aprendizagem parte de problemas ou situações que intencionam gerar dúvidas, desequilíbrios ou perturbações intelectuais".

Conforme Kaufman (1998), a Aprendizagem Baseada em Problemas é a aprendizagem que resulta do processo de trabalho para a compreensão ou resolução de um problema. Esse método de ensino pode ser aplicado em vários formatos, mas geralmente é usado em pequenos grupos com um facilitador, tendo como essência enfrentar o problema, participar de estudo independente, e dar retorno para o problema.

Para tanto, o PBL rompe com o modelo tradicional de ensino-aprendizagem e ao invés de um professor transmitir conhecimento ao aluno, é o estudante o responsável pela busca de conhecimento necessário à solução de um dado problema. Trabalhando em pequenos grupos e coletivamente, os alunos devem pesquisar e resolver problemas complexos, relacionados à realidade do mundo em que vivem (CARVALHO, 2006). Então, o PBL é, conforme esta autora, uma apropriação didática da forma como os adultos constroem seu conhecimento no

dia-a-dia. Desse modo, apresentados aos problemas, os estudantes não buscam uma única resposta certa. Ao contrário, o aprendizado ocorre na busca das várias possíveis respostas ao problema. Há a necessidade de interpretação, coleta de informações, tentativas de soluções e avaliação de opções até que se chegue a conclusões.

A atuação do professor para o PBL exige dele mais participação, planejamento, trabalho cooperativo e tomada de decisão. Portanto, de acordo com Cyrino e Toralles-Pereira (2004), para um aprendizado de conteúdos cognitivos e integração das disciplinas, o professor deverá ser criativo e se preocupar não apenas com o "que", mas com o "por que" e o "como" o estudante aprende. Sendo assim, Soares e Araújo (2008) alegam que os professores passam a ser tutores, tendo a função de orientar, explicar conceitos, sanar dúvidas com relação aos requisitos do projeto e às tarefas a serem cumpridas.

Na escolha dos problemas, segundo Ribeiro (2005), um dos critérios que mais afeta o PBL é o grau de estruturação. Quanto menos estruturado o problema, ou seja, menos indefinido, com informações insuficientes e perguntas não respondidas, maior as chances de desenvolver habilidades de solução de problemas. O problema empregado nesse tipo de aprendizagem deve ser real ou uma simulação próxima da realidade, abrangendo várias áreas de conhecimento. Dessa forma, Soares e Araújo (2008) alertam que um bom problema é aquele que motiva o estudante a pesquisar e estudar, pois por meio dos problemas desenvolvidos, o PBL consegue levar o estudante a ser agente ativo no ensino, dono de sua aprendizagem de maneira contínua e capaz de um raciocínio crítico-analítico, dentre outras características.

Para Rodrigues e Figueiredo (1996), a forma de iniciar o método PBL tem diferido de uma instituição para outra. Para eles, o método de Aprendizagem Baseada em Problemas exige alguns pré-requisitos como: espaço livre para a aprendizagem do estudante, revisão no papel do docente, revisão no conceito de autonomia departamental, mudança dos critérios de seleção dos estudantes e investimentos financeiros na infra-estrutura. Os autores acreditam que esses pré-requisitos podem influenciar na forma de implantação e na exequibilidade do método. Assim, percebe-se que o sucesso do PBL está além da simples aplicação do método em uma sala de aula.

O sucesso dessa estratégia de ensino, como analisa Lennartsson (1996) e Kaufman (1998), oferece flexibilidade educacional, pois os alunos e professores se envolvem em um processo de descoberta em conjunto, na qual o professor estimula os alunos ao diálogo, à reflexão, à autonomia e ao aproveitamento das oportunidades de aprendizagem.

Mamede e Penaforte (2001) argumentam que se tem discutido o PBL como um protótipo de uma nova classe de abordagens institucionais que pode ser descrita como construtivista, colaborativa e contextual. Entretanto, vários aspectos ainda requerem investigações. Dentre essas questões, os autores destacam: de onde parte e qual a natureza das ideias que brotam durante a discussão em grupo, se há realmente a construção de novas ideias enquanto os estudantes elaboram sobre o problema e indagam se a natureza da rede semântica resultante é verdadeiramente orientada por problema. No entanto, para estes autores, tais questões não fragilizam o PBL, pois seus pilares estão assentados nos princípios da aprendizagem derivados dos desenvolvimentos mais recentes da psicologia cognitivista, sendo o método PBL uma perspectiva construtivista e uma abordagem educacional sobre uma considerável fundamentação empírica.

Portanto, a Aprendizagem Baseada em Problemas apresenta algumas vantagens, dentre elas a necessidade dos professores conhecerem em profundidade o assunto que ministram, identificando facilmente os níveis de conhecimento prévio necessários para a compreensão de um determinado assunto (RODRIGUES; FIGUEIREDO, 1996). Ribeiro (2005) complementa afirmando que as vantagens estão relacionadas ao favorecimento da aquisição de conhecimentos de maneira mais expressiva e duradoura e ao desenvolvimento de habilidades e atitudes profissionais positivas por parte dos estudantes, independente da área de conhecimento.

Porém, alguns professores, atentam Soares e Araújo (2008), hesitam adotar esse tipo de estratégia de ensino, mesmo cientes de sua importância, por causa da falta de experiência, da ambiguidade de avaliação e do medo de alterar os seus papéis para os de facilitadores. Em contrapartida, Gil (2005) mostra que não são apenas os professores que temem as mudanças, visto que os alunos estão tão acostumados com aulas expositivas no sentido clássico, que tendem a rejeitar inovações propostas pelos professores, mantendo uma atitude de passividade e desligamento. Aliás, os alunos também podem não se adaptar a um ambiente de aprendizagem autodirecionada devido aos diferentes estilos de aprendizagem, entre outros fatores já argumentados nos capítulos anteriores deste trabalho.

Enfim, percebe-se que a Aprendizagem Baseada em Problemas tem sido atualmente usada em diferentes áreas de conhecimento, na qual vem se propagando como uma metodologia eficaz no ensino. Forrester (2004) e Larsson (2001) comentam que os alunos desenvolvem sua capacidade de comunicação, de reflexão e de resolução de problemas, sendo bem melhor que uma educação baseada apenas nas leituras. Tem se observado também a sua

interdisciplinaridade dentro dos cursos, ajudando os professores interligarem seus assuntos, norteando melhor os estudantes nos conhecimentos adquiridos.