• Nenhum resultado encontrado

4.1 PERSPECTIVAS DE APRENDIZAGEM

4.1.4 VISÃO DE APRENDIZAGEM PELO DOCENTE

Os professores revelam que a aprendizagem pode ser experiencial, participativa, significativa e prática. Essa visão deles aproxima-se das perspectivas da aprendizagem em ação, na qual o aprendizado ocorre a partir da troca de experiências, alinhando-se teoria e prática em que os alunos aprendem em tempo real, trabalhando em equipe para desenvolver novos conhecimentos que se tornem significativos nas suas vivências.

Bom, eu deixo muito claro pra todos os meus alunos que a aprendizagem é

experiencial, ou seja, se a gente não pratica a gente não desenvolve o

comportamento, não desenvolve conhecimentos. Há alguns teóricos da área de aprendizagem que inclusive vão mais além, não adianta colocar a mão na massa se eu não modifico o meu comportamento a partir de um aprendizado, o aprendizado, de fato, não aconteceu. Então, eu tento dentro das possibilidades e limitações fazer com que o aluno interaja com aquilo que está sendo discutido em sala de aula.

[PI.4]

É que temos que deixar claro, e eu friso o tempo todo isso, de que nunca eu estou dando uma receita de bolo, ne? Eu digo a eles que não precisaria a gente ta aqui, pois a gente teria um livro e pronto. A gente tem que ter a capacidade de pensar

ideias adaptando ao ambiente. Então, se na tua situação fazendo totalmente de

maneira diferente deu certo, que bom. Eu acho que é interessante trazer isso pra os alunos, de que eles também podem opinar e podem estar certos também. [PIV.6] A aprendizagem é muito diferente porque não é só como eu vou me portar como docente, mas você começa a ver que em determinado momento você ensinou alguma coisa que o aluno foi lá e colocou na prática. [PIV.8]

Eu começo a jogar e a questionar os alunos e vou ajudando eles. O diálogo entre professor e aluno é crucial. Pra mim, o ponto crucial do aprendizado é o diálogo. Então, assim, se eu não conseguir que esse aluno tenha uma liberdade comigo de opinar e questionar numa sequência, numa ideia não faz sentido eu ta em sala de aula. [PVII.10]

Os discursos evidenciam que há professores que demonstram um embasamento sobre as perspectivas da aprendizagem, pois um deles afirma que é necessário ir para a ação para que o comportamento seja modificado e tenha de fato um aprendizado significativo. Ele tem o intuito de levar o aluno a interagir com os assuntos passados em sala de aula, o que remete a relação teoria e prática que ainda é percebida de maneira distante na aprendizagem, sendo necessário desenvolver métodos participativos para aproximá-las, interligando as situações reais compartilhadas pelos alunos com os aspectos conceituais trazidos pelos educadores (KING; HEUER, 2009).

Para outro professor, é fundamental estimular a capacidade de pensar ideias, adaptá- las ao ambiente e isso ocorre quando o aluno participa mais ativamente em sala de aula. Essa mesma linha de entendimento é observada pelo relato de PVII.10 quando afirma que o ponto central do aprendizado é o diálogo, inclusive para uma melhor relação entre professor e aluno. Ele enfatiza o sentido da permissividade que o professor deve propiciar ao aluno para que ele opine em sala sobre o que está sendo estudado. Nesse sentido, Gabriel (2008) comenta que a aprendizagem transformadora é uma representação de uma aprendizagem que prevê formas de pensar e agir que mais se aproximam do ambiente atual. Por isso, a importância do aluno em saber contextualizar e adaptar as ideias ao ambiente. Então, é necessário conduzir o processo de aprendizagem para o que é significativo na vida dos estudantes, como argumenta Knowles (1975), pois a aprendizagem deve convergir numa nova visão de mundo a partir do que foi apreendido (CRANTON, 2006). Porém, reflete-se até que ponto o aluno é suficientemente maduro para perceber o que é significativo para sua aprendizagem e se estão interessados em participar efetivamente de um processo de aprendizagem capazes de transformar suas perspectivas de significado.

Para tanto, a aprendizagem se torna emancipatória na medida em que relaciona a aprendizagem com a ação, como indica a fala de PIV.8, em que o aluno aprende efetivamente quando coloca na prática. É com esse enfoque que os estudos da aprendizagem em ação são encaminhadas para o âmbito do ensino, por visualizar a aprendizagem atrelada à prática, com situações ou problemas que os alunos devem tomar uma decisão para solucioná-los, pois será isso que se espera deles enquanto administradores. Revans (1998) incentiva o aluno a desenvolver uma mentalidade exploratória para buscar novos conhecimentos e significados. Desse modo, Marquardt (1999) reforça que a aprendizagem em ação incide sobre os problemas em tempo real, o que permite mesclar melhor a teoria com a prática, uma vez que torna os assuntos mais aplicáveis para os estudantes.

Entretanto, vale salientar que muitos estudiosos têm identificado que a proliferação da aprendizagem em ação tem resultado em uma aplicabilidade errônea, pois envolve apenas a ação (CHO; EGAN, 2010). Por isso, as estratégias de ensino devem articular a ação com a reflexão para que a aprendizagem seja realmente efetiva e transformadora para os participantes envolvidos nesse processo de aprendizagem. Porém, para esse êxito é imprescindível que cada um tenha clareza do seu papel dentro desse processo. E um dos professores questiona esse papel do aluno em se comprometer com a aprendizagem deles.

Eles estão errados em muitas coisas, não que os professores estão certos em todas as coisas obviamente e eu digo a eles para que nunca percam o direito de vocês. (...) Eles reclamam que foi decoreba e tal e eu digo a eles quem é aquele aluno que

chega na hora certa da aula e sai só no final, vem todas as aulas e estuda semanalmente e que vem tirar dúvidas comigo que levante as mãos e ai ninguém levanta as mãos. Eles não fazem nem o deles e vem cobrar de mim. Eu não sou dono da verdade não, mas eu tenho certeza que se eles fizerem isso conseguem ter um bom rendimento. São alunos que não estão disciplinados em estudar. É difícil a pessoa dar aula, mas as condições adversas em sala de aula é a mesma para aluno e professor e se eu cumpro, eles também são capazes, só tem que ser disciplinados como tem alguns que são, mas boa parte não leva a sério. [PIX.22]

Essa falta de responsabilidade do aluno em se comprometer com a sua própria formação profissional impede o desenvolvimento de uma aprendizagem construtivista no ensino, assim como dificulta os professores executar estratégias de ensino em ação já que leva em consideração o aluno como adulto maduro. Porém, esse aluno não tem apresentado um nível de maturidade consistente e isso impacta na implementação de métodos condizentes com os pressupostos da aprendizagem em ação. O discurso abaixo ratifica essa falha no papel do aluno, pois além dele ter seus direitos, como diz a fala acima, ele também tem que se comprometer com os seus deveres.

Infelizmente, pela imaturidade dos alunos e pela falta de ética deles, hoje o professor tem que lidar com uma escolha, ele forma uma parte da turma bem e a outra parte ele literalmente sabe que possivelmente está aprovando alunos sem

qualificação. (...) Não é a toa que o pessoal joga no mercado ai um monte de aluno

que não sabe coisa nenhuma. [PV.13]

Assim, o discurso do professor pesquisado indica a existência de docentes aque aprovam estudantes sem qualificação, sem a preparação adequada para atuar no mercado de trabalho, mas é uma escolha que ele acaba tendo que tomar devido às ineficiências dos envolvidos no processo de aprendizagem. Nesse caso, por conta mesmo do desinteresse do discente, o educador questiona até a postura ética desses alunos, que focalizam a sua atenção nas notas, em um aprendizado quantitativo, não conduzindo a um novo conhecimento e, consequentemente, chega ao mercado com pouca formação educacional e baixo desenvolvimento de competências necessárias para sua atuação profissional, sendo apenas mais um ―jogado no mercado‖. Esse termo é uma conotação que o professor entrevistado se refere ao aluno no término do curso ser mais um candidato, por vezes, sem a qualificação necessária, a disputar uma vaga de emprego em um mercado de trabalho altamente competitivo.

Outros professores não estão preocupados com esses fatores. Eles pensam em cumprir o seu papel, que é apenas técnico e individualizado como se esse papel não sofresse influências dos demais papéis assumidos pelos outros atores envolvidos nesse processo de ensino-aprendizagem. Porém, é interessante que no discurso de um dos professores é revelado

um posicionamento diferente tomado por docentes quando atuam em instituição pública e quando trabalham em universidade privada em relação à visão de aprendizagem.

Na boa, eu não estou preocupado com isso não. Eu dou minha aula e vou embora. Na universidade pública eu não estou preocupado não. Talvez na universidade

particular o enfoque seja outro. (...) Eu tenho que estar preocupado sim se o cara

está aprendendo, eu tenho que facilitar a aprendizagem do aluno. Eu tenho que, muitas vezes, fazer aquilo que o aluno gostaria que eu fizesse, falar aquilo que ele gostaria que eu falasse. É uma relação meio desigual. E é assim porque a universidade te pressiona, senão você vai ser demitido. É mais ou menos essa visão. Na universidade pública não. Na universidade privada eu mantenho um nível de aula que o aluno tenha condições de acompanhar. Na universidade pública eu

determino o nível que deve ser dado e quem quiser tem que acompanhar, senão ele

sai. [PVI.6]

O professor pesquisado mostra que a forma como ele conduz a aprendizagem do aluno depende de qual tipo de instituição de ensino ele trabalha. Nesse caso, questiona-se o papel do professor nessa conduta moral sobre a aprendizagem, pois quando é na universidade particular ele facilita a aprendizagem devido à pressão que ele sofre por parte da universidade já que não tem estabilidade do emprego. Por sua vez, quando é na instituição pública em virtude do seu emprego estável ele age de forma independente do aluno estar aprendendo ou não. Isso se aproxima no modelo educacional tradicional, na qual o professor estabelece uma barreira contra o aluno como forma de manter a superioridade, supondo-se que ele é o único a gerar conhecimento e o aluno é incapaz de tal feito, como citam Mintzberg e Gosling (2003).

Essa atitude denota um sentimento de medo de ser demitido referente à universidade privada e já na pública denota um sentimento de poder. Ambas as características atrapalham o desenvolvimento de uma aprendizagem focada na educação de adultos voltada à transformação das perspectivas de significado. Necessita-se de um maior autodirecionamento também dos docentes para que, de certa maneira, a visão de mundo deles relacionada à aprendizagem seja convergida para uma perspectiva construtivista, introduzindo os elementos da aprendizagem em ação nas suas estratégias de ensino para que se busque alcançar com mais efetividade a aprendizagem dos alunos, de tal forma que também sirva para o engrandecimento do próprio professor que se insere nesse processo de aprendizagem.

Portanto, alguns fatores tornam-se empecilhos para o bom andamento do processo de ensino-aprendizagem. Um deles já foi dito por alguns professores entrevistados, que é a questão da imaturidade do aluno. A seguir discutem-se como eles visualizam mais atentamente para o interesse dos alunos pelos assuntos e como eles enxergam os alunos ingressantes à universidade, uma vez que as metodologias andragógicas defendem que o aluno universitário é adulto e espera-se que ele seja maduro.