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2.5 AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

2.5.1 MÉTODO DE CASOS

A aprendizagem em ação se insere nas metodologias construtivistas de aprendizagem, pois englobam a ação, a reflexão e a colaboração por parte do estudante e são situadas em um contexto autêntico de aprendizagem, essencial para estabelecer uma visão complexa e interdisciplinar dos problemas organizacionais no processo de formação em Administração. Dessa forma, Corey (1998) constata que não basta aprender apenas o conhecimento que é

transmitido, mas também os conhecimentos prévios e as experiências que tanto professores quanto alunos trazem consigo para dentro desse processo de aprendizagem.

Para Corey (1998), essa visão construtivista leva ao compartilhamento dessas experiências e o método de caso se torna válido por permitir que os participantes utilizem e compartilhem suas experiências para discutir alternativas de soluções de problemas e para a tomada de decisão. Contudo, vale salientar que as experiências individuais podem tanto contribuir nas discussões como também bloquear novos conhecimentos, se tornando um obstáculo no encaminhamento das mudanças nas formas de pensar e agir, dificultando a aprendizagem transformadora.

Na transposição dos obstáculos epistemológicos reside um fundamento em comum entre a aprendizagem em ação e o método de caso: aluno deve ter uma postura ativa, construindo, por meio da reflexão sobre suas próprias experiências e dos relacionamentos com o meio e com os outros, suas interpretações que são negociadas a partir de significados e valores, por intermédio do diálogo para construir novos conhecimentos e promover o desenvolvimento de competências (BACHELARD, 1996).

A conceituação do método de casos tem frequentemente sido confundida com o método de estudo de caso. Este último se enquadra como uma abordagem utilizada na pesquisa para investigar fenômenos organizacionais. Na análise de Cesar (2005), a principal diferença entre o método do estudo de caso, enquanto escolha metodológica, e o método de casos, enquanto escolha pedagógica, esteja na análise dos dados coletados, pois no método de caso, enquanto instrumento didático, não se pretende chegar a conclusões teóricas que representem avanço científico, mas sim desenvolver questões que levem o aluno a tomar decisões para a ação considerando o cenário proposto no caso.

Em princípio, é bom deixar claro que um caso não é uma situação fictícia, também não é um exercício que apresente dados organizacionais, não é uma mera descrição de uma situação e nem um material a ser usado como ilustração. Segundo Erskine et al (1981 apud CESAR, 2005), um caso é a descrição de uma situação administrativa recente, comumente envolvendo uma decisão ou problema. Normalmente é escrito sob o ponto de vista daquele que está envolvido com a decisão e permite aos estudantes acompanhar os passos de quem tomou a decisão e analisar o processo, decidindo se o analisaria sob enfoques diferentes ou se enveredaria por outros caminhos no processo de tomada de decisão.

Em outras palavras, Cesar (2005) afirma que um caso complexo pode ser construído de modo a apresentar situações reais que possibilitem aos alunos desenvolver análises, discussões e que tomem decisões finais quanto ao tipo de ações que deveriam ser

desenvolvidas se estivessem atuando em uma situação profissional. Ainda ressalta-se que o caso didático deve propiciar o estabelecimento de conexão entre a experiência do profisional envolvido na situação e a teoria que embasa a sua resolução.

Para Hammond (2002), os casos ajudam a aperfeiçoar as habilidades analíticas dos alunos, uma vez que deve apresentar provas quantitativas e qualitativas para apoiar as suas recomendações. Em discussões de casos, os professores desafiam os seus alunos a defenderem seus argumentos e análises para aprimorar tanto a sua capacidade de resolução de problemas como a sua capacidade de pensar e raciocinar com rigor.

Diferente dos métodos tradicionais, o método de casos para o ensino exorta o aluno a se envolver, assumindo um papel mais ativo no processo de aprendizagem. Assim, contribui para aumentar a motivação para aprender, essencial para o sucesso do curso (MACHADO; CALLADO, 2008). Portanto, os métodos de caso se configuram como uma estratégia de ensino difundida nos cursos de Administração que objetiva a análise de situações reais do contexto organizacional para conduzir os alunos a uma mobilização de recursos e saberes em um processo de tomada de decisão. Assim, possibilita aos alunos a vivência de experiências pessoais que servem para desencadear o processo de reflexão e compreensão do mundo real.

Nesse sentido, Silva e Mello (2004) complementam que a construção de método de casos para o ensino, importantes como estratégias de ensino, é a análise de uma situação em profundidade, na qual o docente deve auxiliar as equipes na avaliação dos critérios de seleção da organização, principalmente, quanto à relevância para a instituição e para as disciplinas do curso. Assim, Cesar (2005) destaca que uma das vantagens do método de casos é que no decorrer do plano de ensino o professor pode ir trabalhando o mesmo caso aprofundando cada vez mais o nível de análise do mesmo, de forma que os alunos possam entrar em contato com as possíveis implicações de suas decisões na medida em que conheçam mais as questões teóricas que subsidiem a resolução do caso. E isso propicia que os alunos desenvolvam atitudes e comportamentos que lhes serão exigidos futuramente em situações profissionais.

Corey (1998) aponta alguns fatores determinantes para o êxito da aprendizagem no método de caso, que são:

- Descoberta

- Habilidade de investigação - Prática contínua

- Contraste e comparação - Envolvimento e motivação

O aprendizado pela descoberta se origina do esforço analítico do estudante em filtrar dados úteis dos inúteis, de interpretar e encontrar um significado no conjunto de fatos que compõe o caso. Em contrapartida, a descoberta também ocorre no momento em que o aluno percebe que valores, princípios e modo de pensar sobre certas situações variam consideravelmente conforme a base ou formação intelectual de experiência de cada participante. Como resultado, os alunos são conduzidos a examinarem novamente seus próprios conceitos, reconstruindo seu conhecimento (COREY, 1998).

Corey (1998) afirma que a habilidade de investigação visa o desenvolvimento de habilidades de pensar e de perceber evidências obscuras, usando-as criteriosamente na resolução de problemas. Já o aprendizado por meio da prática contínua de resolução de casos possibilita sedimentar certos hábitos de pensamento, formas de visualizar problemas, desenvolver habilidades de análise e proposição de ações. Ele comenta que o fator contraste e

comparação é a essência do aprendizado indutivo envolvido no método de casos, analisando

as peculiaridades de cada situação, servindo para salientar um senso de descoberta. Por último, acredita-se que o envolvimento e motivação sejam frutos da forma como são transmitidas as informações, alinhado a uma didática construtivista para o processo de produção do conhecimento.

Nessa perspectiva, Schwandt (1994) conclui que o conhecimento é resultante das interações entre o sujeito com o meio, em que o processo de aprendizagem se desencadeia a partir da necessidade do conflito e da inquietação desse sujeito. Assim, um dos grandes benefícios pedagógicos do método de casos está na sua capacidade de gerar um alto grau de envolvimento do aluno no processo de aprendizagem, que vem a se refletir no aumento do desempenho em sala de aula, na medida em que ele se sente mais motivado.

Salienta-se que, existem disciplinas para as quais o método de casos não é a escolha didática recomendada. Cada professor deve fazer uma análise do conteúdo de sua disciplina para verificar a adequabilidade da utilização de casos, assim como da inserção dos mesmos no plano de aula. Além disso, a utilização do método de casos na maioria das universidades brasileiras ainda não é uma maneira usual de ensino até mesmo pelo perfil dos professores que ainda tem dificuldades em trabalharem com materiais de ensino não muito estruturados, como também pela realidade brasileira, cujas salas de aulas possuem um grande quantitativo de alunos, dificultando a condução das discussões e também as disparidades existentes entre os alunos em relação às questões socioeconômicas (CESAR, 2005). Sendo assim, há a necessidade de um processo de sensibilização tanto com os professores quanto com os alunos para a inserção desse tipo de estratégia de ensino, considerando o contexto social.

Na visão de Schon (2000), nas escolas de Administração, a prática reflexiva pode ser exercitada por meio dos métodos de caso. Os professores hábeis na aplicação desse método conhecem diversas maneiras de utilizá-lo com esse propósito, que inclui desde a compreensão das interdependências entre os diferentes conteúdos abordados ao longo da disciplina até a conexão dos referenciais teóricos com a realidade prática dos estudantes.

Sendo assim, um dos grandes desafios atuais da educação na área de administração envolve o desenvolvimento da capacidade reflexiva, e os casos de ensino podem se configurar como uma estratégia capaz de promover a reflexão direcionada para a integração efetiva entre teoria e prática. Além disso, Machado e Callado (2008) atenta para o elo entre teoria e prática, na qual se torna uma visão míope do processo de aprendizagem afirmar que a prática dissociada da teoria seja o melhor meio para gerar conhecimento científico. A disciplina tem que estar associada à teoria que fundamenta as discussões, devendo-se posicionar de forma independente do método, servindo como um conhecimento de base, pois é ela que propiciará ao aluno problematizar as situações. Estes autores concluem que a percepção perspicaz do problema é que deflagará o raciocínio e a investigação científica. Machado e Callado (2008, p. 9) ressalvam que:

de modo diferente, o conhecimento a ser produzido pelo método de caso será o conhecimento do uso corrente na vida ordinária, o do senso comum, o qual ainda que seja importante, na medida em que não se consegue definir e controlar tudo cientificamente, não satisfaz o que se espera do produto final da aprendizagem. Portanto, é importante que os docentes tenham conhecimento de como utilizar métodos de caso como estratégia de ensino que venham a agregar no aprendizado dos alunos por meio da relação entre os conhecimentos teóricos e científicos com os conhecimentos práticos e vivenciais. Só assim pode-se levar o aluno ao pensamento crítico e sistêmico, capazes de resolver melhor os problemas que poderão lidar enquanto futuros profissionais do âmbito gerencial.