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2. ELEMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS PARA A FUNDAMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM ECONOMIAS ATRASADAS

2.4. A Compreensão Schumpeteriana do Atraso Econômico

2.4.3. Aprendizagem: o elemento essencial do Catching up no nível da firma

capital (tomado no sentido marxiano) pela posse desses recursos e das capacitações que lhes correspondem, vale dizer, as firmas se distinguem entre si por suas bases de binômios recursos-capacitações referentes a recursos26.

2.4.3. Aprendizagem: o elemento essencial do Catching up no nível da firma

Dois outros conceitos que se tornam chave no âmbito desse debate têm impactos importantes na compreensão da especificidade do desenvolvimento retardatário: os de ―conhecimento tácito‖ (tacitness, o qual será empregado doravante, em detrimento do possível anglicismo ―tacitidade‖) e de aprendizagem.

O conceito de tacitness, malgrado de uso difundido, foi objeto de investigações da psicologia cognitiva e mesmo da filosofia, pela mão de pensadores como Hayek e Michel Polanyi. Grosso modo, esse debate tem por problemática ―como os seres humanos aprendem‖ e, em Hayek mais evidentemente, como a sociedade amplia seu estoque de conhecimento a partir de experiências individuais particulares. É notável a interface desse campo de questões com o das capacitações empresariais, com as firmas em posição análoga à dos indivíduos (a despeito do problema adicional de como as firmas se relacionam com os conhecimentos detidos pelos indivíduos que constituem seus recursos humanos).

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Embora não nos diga respeito, a notável aproximação da literatura sobre recursos/capacitações com as teorias de administração de empresas, em particular sobre estratégia (presente em Porter e, em menor grau, em Chandler), gerou áreas de contato que extravasam significativamente o tema da capacidade tecnológica. Não surpreendentemente, isso lança luz sobre as diversas formas de obter e preservar quase-rendas, não necessariamente tecnológicas ou tendo por base condutas inovativas. Ver, por exemplo, Teece; Pisano (1996); Teece (1992); Intakumnerd; Virasa (2004); Barney (1986) in Foss 2004. Intakumnerd e Virasa, em particular, discutem o problema da ótica das firmas latecomers.

A tacitness opõe-se ao conhecimento dito formal na empresa, o qual compreende blueprints de equipamentos inovadores, os diversos tipos de treinamento, a educação formal, a transferência de tecnologia, o estudo de patentes e assim por diante. É tácito, portanto, o conhecimento não codificado, mesmo que em forma simples, o qual pode ser, por exemplo, objeto de uma conversa entre dois trabalhadores, na qual são explicitadas ―regras de bolso‖. A tacitness envolve uma importância decisiva da prática e, ademais, uma reflexão própria, interna, por assim dizer, a qual acessa níveis de compreensão difusos e em boa medida deveras não expressáveis linguisticamente. Por essas características, o conhecimento tácito não pode ser vendido facilmente: sua transação mercantil envolveria custos de transação proibitivos27. Por outro lado, quanto mais tacitness houver em uma tecnologia produtiva, mais custoso é alterá-la, em especial no sentido de aprimorá-la pelo uso de ciência e de metodologia científica.

A presença de tacitness funciona como uma barreira competitiva formidável para as empresas, evidentemente, ao mesmo tempo em que tende a trancá-las na base de recursos-capacitações herdadas. Portanto, a tacitness surge como uma limitadora relevante da capacidade de absorção de conhecimento, i.e., de aprendizagem. Curiosamente, originalmente, o conceito de aprendizagem sugeria uma relação bastante próxima entre produzir/investir e aprender, por intermédio das noções de learning by doing e learning by using, devidas, salvo erro, a Kenneth Arrow. Seu objetivo, de fato, era evidenciar que os rendimentos marginais decrescentes dos fatores de produção ―clássicos‖ – terra, capital físico e trabalho – eram contra-arrestados não apenas pela presença de economias de escala, mas também devido à aprendizagem inerente ao próprio ato de produzir e de investir. Embora a formulação original do learning by doing não necessariamente excluísse outras possibilidades de aprendizagem, dir-se-ia que grande parte do aprendizado tecnológico não decorrente do caráter de bem público do conhecimento podia ser

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Nelson traça interessante analogia entre as rotinas e as habilidades. As habilidades de um trabalhador poderiam ser indiretamente objeto de troca mercantil, na medida em que as habilidades individuais só fazem sentido nos marcos de um conjunto complexo de rotinas, mas, fora de seu contexto original, essa habilidade pode significar, no mais das vezes, muito pouco. Observamos, contudo, que do ponto de vista de sua característica de ―espantosas‖, as habilidadesse assemelham mais às capacitações, as quais, embora plasmadas em rotinas, são antes qualificações de desempenho dessas, as quais podem inclusive ser pouco conhecidas das empresas (vale dizer, freqüentemente as empresas desconhecem suas capacitações ou

assimilado imediatamente pelas atividades corriqueiras de produzir e investir. Nessa formulação, a aprendizagem pode ser tratada como um spill-over da produção.

Naturalmente, esse tipo de aprendizagem tinha por objeto conhecimentos tácitos, cuja apreensão também não era possível através do mercado. Contudo, o motivo para tanto é o fato de o learning by doing se constituir em uma externalidade, tendo por objeto um tipo de conhecimento absorvível de forma passiva e livre de incerteza. Cognitivamente, o learning by doing não difere muito da aprendizagem individual de andar sobre duas pernas, falar, reproduzir símbolos gráficos para a escrita, manejar talheres ou andar de bicicleta: muito raramente a insistência prática não trará resultados, em que pese o fato de erros serem praticamente inevitáveis, e que é impossível chegar a qualquer resultado sem a persistência prática. Vale dizer, o learning aparecia como o processo, mais ou menos automático (embora obviamente implique algum ―esforço‖), de absorção da dimensão tácita da tecnologia e, sem dúvida, mantém, ao se pensar no indivíduo isolado que aprende, afinidade relevante com a construção de habilidades.

Desde o problema do catching up de economias atrasadas, o desenvolvimento das firmas retardatárias não sofreria nenhum óbice pela presença desse tipo de tacitness, o qual, na verdade, corroborava a força da vantagem de seguidor gerschenkroniana. Tudo muda se passamos a dizer que parte importante da aprendizagem é custosa e não pode ser objeto de troca mercantil (haja vista seu custo de transação). É justamente esse o ponto decisivo da contribuição especificamente schumpeteriana ao debate sobre o catching up28: a aprendizagem é custosa e não pode ser comprada. Duas grandes vertentes, não antagônicas dividem-se quanto às barreiras à aprendizagem empresarial.

A primeira delas é justamente a que destaca que a tacitness excede em muito o conhecimento obtido simplesmente pela prática passiva e repetitiva do ato de produzir. Entretanto, isso não significa que o esforço consciente seja capaz de reverter a defasagem na capacidade competitiva de uma firma vis-à-vis outra. Ao se negar, limitar ou diferenciar o alcance do learning by doing, quer-se dizer que a

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Alguns autores schmpeterianos sustentam debater o problema das firmas retardatárias, porém, de fato discutem a questão da competitividade – e não apenas tecnológica, em algumas versões – das firmas em geral, já que não faltam firmas com elevado nível de capacitações em países atrasados e há uma infinidade de firmas com pouca capacitação em países desenvolvidos.

tacitness pode permanecer como uma parte do conhecimento que na verdade não é nunca aprendido, por exemplo, porque – focando a firma individual – ―as capacitações não são reprodutíveis‖ 29

. Na verdade, podem até ser, mas a custos exorbitantes para a firma ―seguidora‖, de forma que terá de se contentar com margens de lucro sistematicamente menores, mudar de setor ou quebrar. De qualquer forma, a tacitness pode aparecer, como caso polar, como barreira absoluta na literatura bainiana, uma vez que implica a inacessibilidade completa a um recurso capaz de gerar ganhos monopólicos.

A relação entre tacitness e capacitação tecnológica não é perfeitamente direta, mas certamente é positiva. Dir-se-ia que o domínio do conhecimento tácito é um tipo formidável de capacitação tecnológica, mesmo que não esteja vinculado a recursos tangíveis da firma (caso em que a tacitness aparece como uma barreira absoluta, como visto). Assim, uma forma adequada de defini-la é ―saber que se sabe fazer alguma coisa (tácita) de forma raramente conseguida por outrem‖. De qualquer modo, a desvinculação com a base de recursos específica da firma constituiria uma ―forma intermediária‖ de efeito da tacitness sobre a competitividade.

Nos casos intermediários, a tacitness que excede o learning by doing funciona como medida da dificuldade (mas não como barreira absoluta) do emparelhamento competitivo e, portanto, do catching up. Não obstante, mesmo aí a literatura schumpeteriana sugere a presença de elementos fortemente estruturais atuando, pois a vantagem de seguidor é tênue e efêmera (limitada pela importância do learning by doing) e o processo de imitação não possui atalhos. Uma firma ―late- comer‖ podeaprender e desenvolver capacitações, mas as razões para crer que o fará em ritmo superior ao das firmas que já estão firmemente estabelecidas são, na melhor das hipóteses, limitadas a estágios muito iniciais, incapazes de per si de ameaçarem significativamente o gap competitivo que as separa. Ao contrário, a existência da vantagem baseada em capacitações adquiridas e na exploração de

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Ainda que o tempo seja fundamental para o acúmulo de capacitações, obviamente não o é em uma relação funcional fixa, vale dizer: é possível que algumas capacitações, relevantes para certos resultados competitivos, possam ser absorvidas em menos tempo por uma firma do que por outra. Sem embargo, o ponto fundamental é que o aprendizado de dimensões tácitas de determinadas capacidades competitivas está severamente constrangida, de forma que varia dentro de uma banda estreita. Assim, mesmo que uma firma consiga absorver a capacidade ―x‖, em um período mais curto que outra, o fato de ambas serem menos antigas que uma terceira firma coloca-as em desvantagem porque o processo de aprendizagem não é linear; de forma que o acervo de erros desta última pode ser fonte de vantagens significativas para acessar a capacidade ―y‖, decisiva em outro

recursos específicos à firma líder facilita o aprofundamento dessa vantagem, atuando de forma análoga à que a divisão internacional do trabalho reforça especilaizações relativas regressivas das economias periféricas. Consequentemente, se a competitividade é o elemento essencial de dinamismo das firmas e o microfundamento indispensável do crescimento macroeconômico solidamente fundado, os países menos desenvolvidos podem crescer, e muito, mas não há nada que indique que disponham de alguma vantagem inerente para fazê-lo em ritmo superior ao dos países avançados por longos períodos.

Durante algum tempo, paradoxalamente, os estudos sobre aprendizagem criticaram a limitação da hipótese do learning by doing, apontando tanto para a limitação desse processo, quanto para a necessidade de o mesmo ser completado pelo conhecimento e pelo aprendizado mais formal, conhecimento este ―externo‖ à firma. Essa constitui a segunda forma de complementação da aprendizagem passiva destacada pelos schumpeterianos.

Obviamente, a noção de que o conhecimento e a tecnologia são externos às firmas é coetânea à de função de produção.Mais além, a exogeneidade e o caráter de bem público são fundamentais para a obtenção de equilíbrios com concorrência perfeita nos modelos neoclássicos de crescimento originais. Sem embargo, a percepção de que uma parcela significativa da aprendizagem requer o acesso a conhecimentos externos, entre os schumpeterianos não requer nem exogeneidade forte (isto é, parte do conhecimento pode ser gerada internamente ou depender de fatores internos para ser absorvida), nem que esse conhecimento possa ser exaustivamente classificado como bem público, em particular porque as empresas podem ter pouco interesse em absorvê-lo ou, mesmo tendo interesse, não deterem meios adequados para fazê-lo. De fato, é aí que reside o nó górdio da questão da aprendizagem e do aumento das capacitações das empresas: o que explica as diferenças de incentivo e de capacidade para acessá-lo?

O aspecto externo e formal da aprendizagem remete, para além das considerações iniciais quanto à relação entre inovação e ciência, ao que acabou vulgarizado como ―economia baseada no conhecimento‖. A noção de que o conhecimento é um insumo produtivo ou mesmo um fator de produção peculiar (por

exemplo, sujeito a rendimentos marginais crescentes) e com propriedades essenciais para se compreender a expansão da economia a longo prazo, vincula-se na verdade à percepção de que há uma interconexão e que tipos de conhecimento distintos são intercambiáveis entre si. Em poucas palavras, o conhecimento pode ser acumulado também fora da firma e o conhecimento relevante para a firma (entendido como fonte abstrata de toda inovação) pode ser em medida importante gerado fora desta – mediante acumulação de capital humano via formação escolar, por exemplo.

De fato, durante algum tempo os estudos sobre aprendizagem criticaram a limitação da hipótese do learning by doing, apontando tanto que esse processo é bastante limitado como que precisa ser completado pelo recurso ao conhecimento e ao aprendizado mais formal. Em particular, Martim Bell, fundador da tradição de estudos das chamadas firmas latecomers, tinha como hipótese decisiva que essas firmas se diferenciavam quanto à sua capacidade de catching up na medida em que fossem capazes de recorrer a fontes externas de conhecimento, ou seja, que fossem capazes de learning by non doing. Para Sanjaya Lall, no mesmo sentido, a superação do gap tecnológico pode ser feita por esforços até certo ponto aferíveis e, portanto, gerenciáveis, dependendo essencialmente da passagem do know-how para o know-why – ou seja, da superação da aprendizagem tácita (identificada, neste caso, com o learning by doing) para a aplicação consciente e eventualmente científica30 de conhecimentos não inteiramente práticos (adquiridos por intermédio de ―learning by non doing‖). Em menor grau, mas no mesmo sentido, Kim utiliza-se da noção de aptidão tecnológica para abordar a passagem da condição de tomadoras ou adaptadoras de tecnologia das firmas de um país em relação às de outro, processo cuja lógica passa pela explicitação e sistematização de conhecimentos ―escondidos‖ nos produtos e nos blueprints adquiridos às últimas.

Todavia, é nos trabalhos de Cohen e Levinthal (1989 e 1990) que há uma formulação mais rigorosa e bastante abrangente da tensão entre tacitness e

30 NELSON 1990 faz considerações interessantes quanto à crítica de que a ―ciência da computação‖ e a ―engenharia química‖

não são ciências: do ponto de vista de sua importância para a aceleração da aprendizagem, baseada em observação, sistematização e em formalização, assemelham-se essencialmente do conhecimento científico. Quanto à dicotomia know how vs

aplicação científica e da sua relação com a aprendizagem, por intermédio do conceito de ―capacidade absortiva‖ (absorptive capacity).

Tal capacidade aparece imediatamente como a faculdade que cada empresa tem de utilizar-se de conhecimento gerado externamente a si para acelerar sua aprendizagem e sua inovatitividade. Ela é determinada ―geneticamente‖: certas empresas, pelo tipo de recursos específicos que detêm, por um espectro de decisões estratégicas que adotaram no passado ou, mais provavelmente, por uma combinação de ambos, possuem maior capacidade absortiva que outras. Isso lhes proporciona uma vantagem competitiva essencial (de fato, pode-se dizer que é o cerne da competitividade empresarial para Cohen), além de potencialmente duradoura, uma vez que permite ―absorver‖ não apenas conhecimentos envolvidos nos bens ofertados por seus competidores, por meio de engenharia reversa (conhecimento, portanto, externo à firma mas ―interno à indústria‖), por exemplo, mas também de acessar conhecimento formal e científico, o qual é mais próximo do conceito de bem público e, portanto, exógeno ao setor produtivo como um todo.

Sem embargo, nem toda capacidade absortiva é herdada (e, assim, funcionalmente análoga às vantagens comparativas naturais neoclássicas). Para Cohen e Levinthal, as atividades de P&D, compreendidas em sentido lato, podem expandir decisivamente a capacidade absortiva das empresas, de forma que a P&D é em si aprendizagem, mas, mais além, é um acréscimo à capacidade de aprender da firma, uma vez que essas atividades trazem sempre um elemento de codificação, de compreensão do conhecimento a partir desde os recursos, as estratégias, as habilidades e rotinas de cada empresa. Para os autores, mesmo o conhecimento acadêmico, expresso em linguagem maximamente codificada, precisa ser compreendido à luz dos recursos e dos problemas e desafios tecnológicos com que a firma se defronta, de forma que a P&D em medida importante serve para tornar comunicável o código das capacitações tecnológicas baseadas em tacitness, com o tipo de linguagem formalizada necessária à aplicação do método cientifico.Vale dizer: a P&D é também a atividade de explicitação da tacitness tal que permite a formulação de ―questões tecnológicas‖ claras – típicas dos paradigmas tecnológicos de Dosi.

É de especial interesse para se pensar a firma latecomer tentar compreender mais detidamente a relação entre P&D e capacidade absortiva. Como visto, esta última é em parte decorrência daquela e, em parte, herdada, não podendo ser afetada pelas decisões que a firma toma quando já estabelecida. Porém, isso não é tudo: a capacidade absortiva previamente existente define, em grau variável (setor a setor, por exemplo), o custo de oportunidade de se executar P&D, grosso modo, negativamente, ou seja, quanto maior a capacidade absortiva da empresa, menor a relação custo/benefício de se gastar com P&D, coeteris paribus. Em poucas palavras: é mais vantajoso para a firma que possui mais capacidade absortiva relativamente a suas concorrentes investir em P&D do que a que possui pouca capacidade absortiva.

Embora formulado como modelo geral, o conceito de capacidade absortiva detém diversas características desejáveis para dar conta do problema da aprendizagem tecnológica em firmas latecomers. Em primeiro lugar, implica que há algo de genético na capacidade de aprender das firmas, inscrita em suas capacitações acopladas a seus recursos específicos, de forma que o aprendizado aparece estaticamente como pressuposto mas também como resultado da capacidade absortiva (dir-se-ia que há um elemento inerente a cada empresa em sua capacidade absortiva, elemento, contudo, que pode variar de acordo com as demais características). Em segundo lugar, explicita que a oferta de conhecimento como externalidade é captável pelas empresas diferentemente, conforme o setor industrial em que atuam, mas também conforme o esforço de P&D, em especial interno, que praticam. Em terceiro, cada firma é decisivamente afetada pelo modo com que as outras competem. Assim, se as concorrentes executarem muito P&D, ao mesmo tempo que a pressionam a uma conduta mais criativa, aumentam, através da imitação e da engenharia reversa, a chance de sucesso de esforços desse tipo. Finalmente, delimita o binômio apropriabilidade versus oportunidade (embora essas variáveis não apareçam explicitadas no seu modelo de equilíbrio) como decisivo para condicionar o padrão competitivo setorial como um todo quanto à importância (e ao tipo, quanto à sua maior ou menor dose derecurso à ciência formal, pode-se acrescentar) da P&D para aumentar sua capacidade absortiva.

Além disso, o conceito de capacidade absortiva lança luz sobre a dicotomia tácito versus formal ao postular que ambos os tipos de conhecimentos envolvem esforços próprios, internos à empresa, que, embora claramente distintos entre si – haja vista que a P&D engloba atividades que tanto partem da experiência pura para a sistematização consciente, como da pesquisa pura para a criação de artefatos físicos – e terceirizáveis apenas a custos proibitivos, estão em parte significativa potencialmente sob sua governança. Esses esforços são considerados em relação às expectativas de lucro que permitem, dados os esforços das empresas concorrentes, o grau de adequação (targeting) do conhecimento formal disponível e a capacidade absortiva da empresa já existente. Embora esteja claro que sempre há algo de herdado nessa capacidade (e, coerentemente, no custo de acessar conhecimento não dominado), em uma ampla faixa a atividade de P&D permite avanços marginais relevantes nessa busca.

Uma empresa que possua relevantes capacitações tecnológicas reveladas baseadas em conhecimento predominantemente tácito, embora tendo acumulado aprendizagem e, nessa medida, capacidade absortiva, terá pouco estímulo para executar P&D, a menos que perceba uma aceleração na criação de conhecimento potencialmente relevante para a competitividade na indústria em que se situa. Vale dizer, uma elevada capacidade absortiva não decorre apenas do domínio de conhecimento tácito, mas, entre duas empresas concorrentes, sendo tudo o mais semelhante, aquela que detiver maior capacitação tecnológica tende a se beneficiar mais de um esforço tecnológico baseado em P&D, mesmo que essa capacitação esteja muito pouco decodificada. Embora possa ser verossímil que uma empresa detentora de elevado nível de capacitações baseadas em tacitness possa se ver em dificuldade de expressar mais formalmente seu estoque de conhecimento, principalmente em face de um vigoroso ―choque de oferta‖ de conhecimento externo (propício a inovações mais radicais que incrementais); no entanto, via de regra, tratando-se de uma mesma indústria, ela possui vantagens significativas sobre suas