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Capítulo 1. Introdução

1.4. Apresentação das Questões de Investigação, Objectivos e Metodologia Geral do Trabalho

1.4.1. Questões de Investigação e Objectivos Gerais do estudo

A problemática do estudo das especificidades dos utilizadores e dos processos de flexibilização e adaptação do acesso, uso e participação, em ambientes distribuídos de comunicação e aprendizagem, constitui o principal foco temático deste trabalho. Genericamente, a investigação realizada teve por objectivo estudar estratégias e metodologias, baseadas em tecnologias de comunicação distribuídas, de apoio aos cidadãos com défice cognitivo. Neste contexto, identificaram-se as seguintes questões de investigação, cuja análise e discussão dos conceitos-chave e problemáticas estruturantes a estas associadas se encontram discutidos e contextualizados nos capítulos 2 e 3.

Qual a importância do estudo da heterogeneidade e especificidade dos públicos, no processo de desenvolvimento de soluções tecnológicas de apoio à comunicação e aprendizagem?

Como especificar e desenvolver modelos de ambientes distribuídos de aprendizagem para públicos específicos e quais as principais estratégias e metodologias de apoio à flexibilização e adaptação das soluções tecnológicas às especificidades e necessidades de grupos particulares de utilizadores?

Quais as implicações da utilização de ambientes distribuídos, de colaboração e construção partilhada, na optimização dos processos de comunicação, colaboração e aprendizagem de sujeitos com défice cognitivo, em particular de crianças portadoras de Trissomia 21?

Com a finalidade de discutir e analisar as questões de investigação acima referidas, e de construir um enquadramento operacional para explorar a temática deste trabalho e as problemáticas identificadas, definiram-se os seguintes objectivos gerais do estudo:

Investigar metodologias e estratégias de promoção da utilização transversal e adaptada das tecnologias de comunicação;

Estudar as dinâmicas de promoção da inclusão digital e de valorização dos processos de acesso, flexibilidade, adaptabilidade e participação alargada, no actual contexto da globalização das redes e aplicações de comunicação distribuída;

Discutir as implicações da inclusão digital na promoção dos processos de comunicação e aprendizagem dos sujeitos com défice cognitivo;

Investigar estratégias e metodologias de desenho e implementação de soluções centradas nas especificidades dos utilizadores;

Investigar um modelo conceptual para suportar um ambiente de comunicação e aprendizagem adaptado às especificidades de um grupo específico de utilizadores; Apresentar uma proposta de um ambiente de apoio à comunicação, participação e partilha de experiências, adaptado a sujeitos com necessidades especiais.

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Apresentação das Questões de Investigação, Objectivos e Metodologia Geral do Trabalho

1.4.2. Estudo de caso e objectivos específicos

Na procura de apresentar um cenário específico para discutir, explorar e operacionalizar os objectivos gerais atrás enunciados, realizou-se, para além de uma investigação teórica e conceptual de enquadramento do tema e suas problemáticas, um estudo de caso no qual se identificaram as crianças portadoras de Trissomia 21 como principal unidade de análise. Este estudo de caso (descrito no capítulo 4), desenhado em função do estudo e discussão das questões de investigação acima referidas, permitiu depurar os objectivos gerais inicialmente apresentados, construir um cenário concreto de exploração e análise das questões de investigação e, consequentemente, enunciar um conjunto de objectivos específicos do trabalho a realizar (Tabela 1).

Objectivos Específicos do Trabalho

1. Investigar novos paradigmas de intervenção, apoio, reabilitação e inclusão de sujeitos portadores de Trissomia 21 e novos paradigmas de interacção e colaboração em ambientes distribuídos on-line:

1.1. Estudar as potencialidades dos ambientes distribuídos em rede na optimização dos processos de comunicação, aprendizagem, colaboração, socialização e reabilitação de crianças com necessidades especiais;

1.2. Especificar e prototipar estratégias e modelos de promoção da construção partilhada de aprendizagens situadas e contextualizadas com as especificidades dos sujeitos e dos ambientes de uso.

2. Estudar e testar estratégias e modelos de aprendizagem distribuída e apoio remoto adaptadas a crianças portadoras de Trissomia 21, geograficamente dispersas:

2.1. Investigar estratégias de apoio à construção activa e partilhada de experiências de aprendizagem e ao estabelecimento de interacções síncronas em modelos de formação a distância;

2.2. Estudar metodologias e estratégias de suporte ao desenho e implementação de ambientes de colaboração on-line, flexíveis e adaptados às especificidades das crianças portadoras de Trissomia 21;

2.3. Especificar e prototipar metodologias de adequação das estratégias de interacção, comunicação, aprendizagem e colaboração às especificidades das crianças portadoras de Trissomia 21;

2.4. Especificar e prototipar um modelo de colaboração em grupo de apoio à comunicação, aprendizagem e participação de crianças portadoras de Trissomia 21.

3. Avaliar o protótipo desenvolvido e a sua adequação ao público final:

3.1. Investigar e implementar metodologias de avaliação e teste do protótipo desenvolvido;

3.2. Acompanhar e discutir as implicações e efeitos da utilização do ambiente on-line prototipado, nos processos de apoio e intervenção assegurados por familiares e técnicos/terapeutas;

3.3. Acompanhar e discutir as implicações e efeitos da utilização do ambiente on-line prototipado, nos processos de comunicação, interacção e aprendizagem de crianças portadoras de Trissomia 21.

1.4.3. Natureza flexível e ecológica da metodologia geral do trabalho

O estudo realizado teve por base uma metodologia geral de trabalho de natureza multi- dimensional, ecológica e flexível no sentido de, e tal como propõem Gómez e Cartea (1995), valorizar o estabelecimento de diálogos ampliados com a realidade e de observar e estudar tanto a complexidade dos fenómenos como as particularidades que estes incorporam. Foi neste sentido que se valorizou a análise dos contextos e dos ambientes naturais dos sujeitos, com especial ênfase nos cenários sociais e do domínio da interacção, numa perspectiva que sublinha a “situação como um todo ecossistémico do qual eles [os sujeitos] fazem parte” (Gómez, Cartea, 1995: 140). As orientações metodológicas foram, portanto, perspectivadas segundo uma óptica interaccionista de valorização da natureza aberta, dinâmica e relacional dos processos de estudo e investigação. Considerando a natureza das questões de investigação identificadas e a tipologia do estudo realizado, entendeu-se fundamental, e tal como propõe Carvalho (1995), guiar o trabalho segundo uma lógica de valorização do pluralismo e da diversidade, com ênfase no estudo dos processos de mudança, interdisciplinaridade e transversalidade dos campos em análise.

A investigação conduzida pode, portanto, caracterizar-se como uma investigação exploratória e flexível, tendo sido utilizadas diferentes técnicas complementares, de quadros disciplinares diversos, e diferentes processos metodológicos, de natureza quer qualitativa, quer quantitativa. No contexto deste cenário exploratório e misto, recorreu-se à triangulação metodológica de dados, na procura de realizar uma análise alargada e holística e de interrelacionar diferentes fontes de informação, e ainda à “triangulação de investigadores” (Rodrigues Pedro, 1999), nomeadamente pela integração, na equipa de desenvolvimento e avaliação do protótipo, de elementos de quadros disciplinares diversos, mas complementares (como psicólogos educacionais, designers e programadores). O processo de conceptualização, implementação e avaliação do protótipo foi, portanto, realizado no cenário de uma equipa interdisciplinar na qual participaram, de forma dinâmica e formativa, diferentes agentes e na procura de desenvolver um estudo situado na natureza multidisciplinar da realidade em estudo (Clancey, 1994; Wilson, 1995). Esta natureza interdisciplinar da equipa de trabalho permitiu constituir um cenário projectual de favorecimento de diálogos e interacções de natureza plural e diversificada, tendo contribuído para amplificar os meios e estratégias de estudo e análise aplicados na investigação realizada. A recolha quantitativa de dados (nomeadamente de dados relacionados com a utilização do protótipo desenvolvido) foi complementada com métodos qualitativos e exploratórios de recolha de informação (como a observação, a entrevista, a fotografia e a gravação vídeo) que foram sendo propostos e implementados no decorrer da investigação. Neste sentido, e tal como propõem Bodgan e Biklen (1994) no contexto da caracterização que apresentam da investigação de tipo qualitativo, o desenho da investigação foi evoluindo num processo indutivo e o quadro metodológico, ainda que planificado em

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detalhe, assumiu uma natureza flexível e de adaptação dinâmica às contingências que foram surgindo no decorrer do estudo realizado, resultantes das pistas fornecidas pelos dados que foram sendo recolhidos. Concomitantemente, valorizou-se o contacto com os ambientes naturais dos sujeitos, no sentido de realizar um estudo situado nos contextos dos indivíduos: a avaliação do protótipo desenvolvido foi realizada com a participação directa de crianças portadoras de Trissomia 21, técnicos que com estas trabalham e seus familiares, e nas instalações de instituições frequentadas periodicamente por estes sujeitos, na procura de valorizar a perspectiva dos participantes no estudo e de favorecer as dinâmicas e trocas pessoais entre a equipa de investigação e os diferentes intervenientes.

No Capítulo 4 apresentam-se detalhes relativos às técnicas e metodologias específicas utilizadas no estudo de caso, nomeadamente nas fases de conceptualização, especificação, desenho, prototipagem e teste do protótipo desenvolvido.