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Capítulo 2. Comunicação e Aprendizagem, enquadramento teórico e novos cenários de mediação

2.4. As TIC no apoio aos processos de Aprendizagem

2.4.2. Panorama Nacional

No que respeita ao caso português, o momento de arranque da utilização dos audiovisuais no meio educativo situa-se no início da década de 60, com o aparecimento das primeiras medidas legislativas que procuram dinamizar o “ensino audiovisual”. Em concreto, destaca-se, em 1963, a criação do Centro de Pedagogia Audiovisual (CPA) e, em 1964, do Instituto de Meios Audiovisuais no Ensino (IMAVE)28 e da Telescola que, em 1968, passa a

designar-se “Ciclo Preparatório TV (CPTV)”29 (Duarte da Silva, 1998). Entre os anos 70 e 80, o

recurso às tecnologias no domínio educativo começa a afirmar-se, nomeadamente com a introdução do estudo da tecnologia educativa nos planos curriculares de formação de professores30 (op cit, 1998). Nesta fase, importa referir uma medida legislativa de especial

relevância: o Despacho 68/SEAM/84 que é indicado como sendo, no contexto português, o “primeiro documento oficial sobre a introdução do computador no ensino” e que nomeia um grupo de trabalho que, de acordo com Afonso (1993), tinha como objectivo o estudo e lançamento de estratégias de introdução das novas tecnologias e dos computadores nas escolas. É neste contexto que, em Novembro de 1984, se inicia, em Coimbra, uma experiência piloto que vem permitir que, em 1985, seja lançado o projecto MINERVA (Meios Informáticos Na Educação: Racionalizar, Valorizar, Actualizar)31, com o objectivo de introduzir os meios

informáticos no “ensino não superior” e de valorizar a formação de orientadores, formadores e

27

Publicado na “Atlantic Monthly” (em Julho de 1945).

28

Em 1969, o IMAVE passa a designar-se Instituto de Meios Audiovisuais na Educação e, em 1971, é substituído pelo Instituo de Tecnologia Educativa (ITE) (Duarte da Silva, 1998).

29

DL nº 46136 de 31 de Dezembro de 1964.

30

Especificamente, nas Universidades de Aveiro e do Minho.

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professores tanto para o ensino das tecnologias da informação, como para a sua utilização como “meios auxiliares de ensino” (Afonso, 1993). Inicialmente (entre 1985 e 1986), o projecto integrava cinco pólos – nas Universidades de Coimbra, Porto, Aveiro, Minho e Lisboa – mas foi-se alargando, ao longo dos anos, a outras Universidades do país e a Escolas Superiores de Educação, assim como ao Ensino Especial e ao Ensino Pré-Primário (em 1988) (op cit, 1993). Ainda nesta fase, em concreto entre 1987 e 1988, importa destacar os trabalhos da Reforma Educativa, especificamente os relatórios “Novas Tecnologias no Ensino e na Educação” e “Mass Media e a Escola” (Duarte da Silva, 1998).

No final dos anos 80, com a entrada em funcionamento da Universidade Aberta32 e com o

lançamento dos cursos de pós-graduação na área da Tecnologia Educativa (op cit) inicia-se uma fase crucial de lançamento de diferentes iniciativas e projectos que permitiram a consolidação da área de aplicação das tecnologias da informação e comunicação ao domínio educativo. Nos finais de 1996, é lançado o Programa Nónio-Século XXI, Programa de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação que enquadrou a criação dos Centros de Competência em Tecnologias de Informação e Comunicação. Estes centros tinham por objectivo a promoção da realização de estudos e investigação, assim como o desenvolvimento de projectos específicos nas escolas (Nónio ME, 2002). Entre 1997 e 2001, foram acreditados 27 Centros de Competência (com diferentes áreas temáticas e com sede em Departamentos Universitários, Escolas Superiores de Educação, Centros de Formação de Professores e outras Associações Científicas ligadas à área da Educação), tendo sido contemplados 430 projectos de Escola que envolveram cerca de 760 escolas do ensino pré-escolar e secundário (op cit). Importa ainda referir que esta iniciativa teve também como objectivo recuperar os ex-pólos MINERVA, já referidos, e dar continuidade à experiência que estes proporcionaram, entre 1985 e 1994, no ensino básico e secundário (op cit). Neste contexto, merece igualmente destaque o programa Internet nas Escolas, uma iniciativa do Ministério da Ciência e da Tecnologia, desenvolvido pela Unidade de Apoio à Rede Telemática Educativa (UARTE), em colaboração com a Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN). Este programa permitiu, entre outras acções e iniciativas, a instalação, a partir do ano lectivo 1997-98, de um computador multimédia com ligação à Internet nas bibliotecas de cerca de 1600 escolas públicas e privadas (inicialmente apenas do 2º e 3º ciclo) (Almeida d’Eça, 1998; POSI, 2004).

No contexto destas diferentes iniciativas é interessante analisar a forma como os recursos tecnológicos foram sendo distribuídos pelas escolas do país. A este propósito, consideram-se três relatórios, de 2001, 2002 e 2003, do Departamento de Avaliação, Prospectiva e Planeamento, do Ministério da Educação. Os dados e conclusões do relatório de 2001, sobre as condições e utilização dos equipamentos informáticos nas escolas, (“As

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A Universidade Aberta é criada em 1976 (DL nº 146 de 14/2/76), mas entra em funcionamento apenas em 1988 (Decreto-Lei nº444/88, de 2 de Dezembro). Em 1979, é criado o Instituto Português de Ensino a Distância (IPED). (Duarte da Silva: 1998).

Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas: Condições de Equipamento e Utilização”) revelam assimetrias, tanto no que respeita aos níveis de ensino como no que respeita à distribuição geográfica das escolas: verificam-se diferenças significativas na rácio alunos por computador, entre o Alentejo e Norte do país, assim como entre o 1º ciclo do ensino básico e os restantes ciclos. Estas assimetrias são também relatadas relativamente à existência de endereços de correio electrónico e páginas web: é nas escolas do 2º e 3º ciclo da área de Lisboa e do Algarve que se verificam as melhores condições de conectividade (ME, DAPP, 2001).

Já o relatório de 2002, relativo ao ano de 2001, com ênfase na utilização das TIC por parte dos docentes, indica que apesar da grande maioria dos docentes (88%) possuir computador pessoal, são os mais jovens e os que tiveram formação em TIC que mais usam o computador, no contexto educativo (Paiva, 2002).

O relatório de 2003 faz uma análise centrada nos alunos comparando os dados que haviam sido recolhidos em 2000. Este relatório revela que o número de computadores por aluno aumentou entre 2000 e 2003: em 2000, no 1º ciclo, existia um computador para 56 alunos, enquanto que, em 2003, já se contabiliza um computador para 27 alunos; já nos 2º e 3ºs ciclos, em 2000, existia um computador para 23 alunos, enquanto que em 2003, se verifica a existência de um computador para 16 alunos. O relatório revela ainda uma tendência para o incremento do número de famílias que dispõem de computador e ligação à Internet, apesar de se manter uma assimetria relativamente aos anos lectivos: as taxas mais elevadas de posse de computador e ligação à Internet situam-se nas famílias dos alunos dos anos lectivos mais elevados (Paiva, 2003).

Na procura de acompanhar e dar continuidade a estes estudos e estratégias de introdução das TIC nas escolas, importa referir a criação, em Agosto de 2000, do “Grupo Coordenador dos Programas de Introdução, Difusão e Formação em TIC", do Ministério da Educação. Este grupo teve como principal objectivo articular as diferentes iniciativas nesta área e elaborar um plano de acção nacional “TIC para a Educação” para o período de 2001-2006, conforme indicado no relatório “Estratégias para a acção, As TIC na educação” (ME, 2001). Deste plano, que dá continuidade aos objectivos lançados pelos Programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal (PRODEP III), destacam-se três ideias fundamentais: a da inclusão, com vista à promoção do acesso, por parte de todos os actores educativos, a equipamentos, recursos e conhecimentos em tecnologias da informação e comunicação; a da excelência, na procura de valorizar a qualidade dos produtos e processos; e a da colaboração e parceria, por forma a favorecer dinâmicas de projectos inter-institucionais (ME, 2001).

Efectivamente, é fundamental assegurar que a integração das TIC nas escolas é um processo efectivo, coordenado e alargado tanto aos diferentes níveis de ensino, como às diferentes áreas geográficas. Considera-se especialmente fundamental a integração de meios

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e recursos nas escolas do ensino básico e nas áreas geográficas mais distantes dos grandes centros populacionais, assim como o desenvolvimento de estratégias de formação e apoio a professores e famílias e de adaptação de recursos às especificidades sociais, culturais e educativas das comunidades e grupos.