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Apresentação dos dados a partir das notas de campo 1 Os níveis de participação

4 Supervisão: um processo interactivo

PARADIGMA INTERPRETATIVO

2. Apresentação dos dados a partir das notas de campo 1 Os níveis de participação

Não será demais referir que os seminários deste grupo de formação surgem como espaços privilegiados de relações interpessoais sustentadas por uma dinâmica não linear de interacções. Daí a importância da observação dos mesmos, registadas nas notas de campo. Por consequência, os seminários de formação assumem-se, por excelência, como espaços de socialização enquanto construção de identidades sociais e profissionais (Dubar, 1998). Neste contexto interactivo, as participações de cada um são preciosas na construção do saber, muito embora variem em grau e qualidade e dependam do poder e estatuto de quem as produz e interpreta.

Para uma análise mais sistematizada dos níveis de participação nos seminários de formação, apresentamos, seguidamente, alguns quadros e figuras que permitem ilustrar e esclarecer a frequência das interacções produzidas em seminário de formação.

S

F3 F1

83 Os quadros foram preenchidos a partir da leitura das notas de campo que, de uma forma bastante descritiva e detalhada, relatam os enunciados dos seminários observados. (cf notas de campo - anexos 10 ao 22)

Quadro 1 – Frequência das interacções em seminários de Francês

Percentagem das interacções nos seminários de Francês 54,2 19,2 10,6 16 Sf F1 F2 F3

Fig.9- Níveis de participação no seminário de Francês Quadro 2 – Frequência das interacções em seminários de Inglês

Percentagem das interacções nos seminários de Inglês 52,2 21,7 13,4 12,7 Si F1 F2 F3

Fig. 10- Níveis de participação nos seminários de Inglês

20/11/06 29/11/06 22/01/07 29/01/07 27/02/07 6/03/07 22/03/07 16/04/07 7/05/07 Tot % Sf 19 20 13 22 14 14 9 13 27 149 54,2 F1 5 6 4 10 3 5 5 7 8 53 19,2 F2 3 6 2 4 1 4 2 6 1 29 10,6 F3 4 7 4 7 2 5 0 4 11 44 16 tot 31 39 23 43 20 28 16 30 47 275 100 12/03/07 19/03/07 16/04/07 7/05/07 Total % Si 16 18 18 18 70 52,2 F1 3 11 5 10 29 21,7 F2 2 7 6 3 18 13,4 F3 3 7 5 2 17 12,7 Total 24 43 34 33 134 100

84 Contudo, convém referir que nem tudo o que é observável é de fácil registo. Nem sempre se consegue registar em notas de campo todos os elementos significativos que ocorrem simultaneamente diante de nós. Se alguns fenómenos podem passar despercebidos ao investigador também outros podem reter mais intensamente a sua atenção. Essencialmente no caso do nosso estudo, e tal como Bogdan e Bilken (1994) o prevêem na investigação educacional, as “estratégias qualitativas patentearam o modo como as expectativas se traduzem nas actividades, procedimentos e interacções diários.” (1994:49)

Neste estudo de caso, numa abordagem sistémica do grupo observado, a complexidade das interacções que se estabelecem em seminário colectivo parece ser simultaneamente a fonte e a riqueza de uma evolução identitária relevante ao nível da formação pessoal e profissional, tendo em conta a definição de interacção como todo o enunciado que, no seu contexto, é susceptível de criar um significado conjunto.

Por conseguinte, no registo da frequência do número de interacções em seminário, não nos debruçamos sobre causas ou efeitos dos enunciados mas antes encaramo-los como processos de construção de sentido conjunto numa perspectiva circunstancial. Temos consciência de que o que é dito ou expresso reporta-se apenas àquele momento e àquela situação. Porém, à medida que os seminários decorrem, e utilizando as expressões de Mercer (2001), a base cumulativa de conhecimento comum dilata e evolui, tomando o supervisor pedagógico a maior parte das vezes o papel de guia na construção desse conhecimento.

Se bem que a evolução na construção do conhecimento dependa da comunidade de aprendizagem como um todo, é interessante verificar que há nitidamente níveis de participação diferentes, atendendo ao número de interacções registadas. A discrepância verificada na frequência de interacções entre supervisores e formandos, como se pode verificar pelos níveis de frequência ilustrados nas figuras 9 e 10, poderá reflectir a discrepância dos papéis que desempenham dentro do grupo. Para a Escola de Palo Alto, todas as interacções comunicacionais são simétricas ou complementares com base na igualdade ou na diferença, respectivamente. De facto, segundo Paul Watzlawick (citado em Griffin, 2006:180), uma interacção simétrica baseia-se numa relação de igualdade de

85 poder enquanto uma interacção complementar se baseia em diferenças de poder. No entanto, nenhuma é por ele rotulada de boa ou de má uma vez que as relações interpessoais saudáveis possuem os dois tipos de comunicação - a simétrica e a complementar.

Ora, os quadros e figuras acima apresentados revelam que na comunicação efectuada nos seminários de formação entre os informantes há efectivamente relações de poder, controle e estatuto. Verificamos igualmente que o papel do Supervisor Pedagógico é central na interacção entre os membros desta comunidade de aprendizagem, sendo quem mais intervém. Na realidade, em ambos os seminários, de Francês e Inglês, os supervisores pedagógicos são aqueles que intervêm com mais frequência e maior regularidade.

Os quadros revelam somente dados quantitativos que dizem respeito à frequência de tomada de palavra com sentido e com intencionalidade específica por parte dos informantes, tal como explicitámos na noção de interacção. Aliás, se procedermos à leitura das notas de campo de forma integral e cuidada, verificamos que os supervisores pedagógicos se assumem efectivamente como os guias na construção de conhecimento pois moderam a discussão, facilitam a aprendizagem e gerem o conhecimento – ajudam na identificação de problemas, colocam várias alternativas aos problemas identificados, recomendam metodologias e práticas variadas, sugerem caminhos diversos, propõem soluções, acrescentam informação relevante para a construção do conhecimento, alertam para eventuais riscos, enfim, levam os formandos à (auto) descoberta de significados múltiplos tendo em conta o contexto em que se inserem. Para além desta dimensão teórica dos seminários, nomeadamente a nível pedagógico-didáctico, existe claramente uma preocupação no discurso dos supervisores pedagógicos no sentido de dar confiança ao formando, pô-lo à vontade na explanação das suas dúvidas ou ainda de o reforçar positivamente nas suas práticas diárias. O feedback, nas suas diversas formas, assume um papel quer de apoio quer de regulação. Enquadrando esta análise na terminologia da Escola de Palo Alto, podemos afirmar que a relação comunicacional presente neste núcleo de estágio se caracteriza pela complementaridade, pois há uma nítida diferenciação de papéis entre formadores e formandos. Já em relação ao grupo constituído pelos formandos, a relação

86 comunicacional parece ser caracterizada pela simetria, sendo que a F1 é a formanda que mais se destaca em termos de frequência e qualidade das interacções, apesar de tal facto não significar que esta se reconheça como líder do grupo, isto é, alguém que lute pelo poder ou destaque dentro do mesmo.

3. Leitura exploratória dos dados a partir das notas de campo e das