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4 Supervisão: um processo interactivo

Fig 4 – Componentes da teoria social da aprendizagem (adaptado de Wenger,

1. O estudo empírico

“O objectivo é captar uma fatia da vida”10

Este trabalho centra-se num estudo empírico que mais não pretende ser do que um olhar entre outros olhares. Enquanto estudo empírico, fundamenta-se na imersão subjectiva do investigador numa realidade escolar, efémera mas significativa, cujo enfoque de observação principal é um núcleo de formação inicial. Trata-se de um estudo de caso de índole exploratória pois pretende-se recolher a informação necessária para analisar e explorar diversas variáveis de entrada no sentido de compreender as relações interpessoais existentes num núcleo de estágio pedagógico e o modo como estas influenciam o desenvolvimento pessoal e profissional de cada um dos participantes.

Para Yin, um estudo de caso “é uma investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, principalmente quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos” (2001:32)

Não obstante, embora o objecto do estudo seja circunscrito, a abordagem do estudo de caso é sempre uma abordagem holística pois permite que todo o contexto onde ocorre a investigação tenha relevância na descrição e interpretação dos dados.

Yin relembra (1989:62) que esta metodologia do estudo de caso requer exigências intelectuais e emocionais por parte do investigador que outras estratégias metodológicas descuram. Lidar com a sensatez no relacionamento social durante o processo investigativo parece ser uma tarefa bastante árdua principalmente se pensarmos que o investigador deve integrar-se no meio sem se implicar totalmente, deve estabelecer uma relação empática com os seus informantes sem se tornar demasiado familiar, deve estar atento a tudo sem ser indiscreto. A este propósito, Yin enumera algumas competências que o investigador dos estudos de caso deve possuir:

67 “- uma pessoa que saiba fazer boas perguntas - e interpretar respostas.

- uma pessoa que seja um bom ouvinte e que não seja traído pelas suas próprias ideologias ou preconceitos.

- uma pessoa que seja adaptável e flexível, que consiga ver as situações inesperadas como oportunidades e não como ameaças.

- uma pessoa que deve ter uma boa capacidade de “agarrar” os aspectos que estão a ser estudados, quer se trate de um trabalho com uma orientação teórica ou política, ou mesmo num estudo exploratório. Esta capacidade reduz os dados relevantes e a informação toma proporções manejáveis.

- uma pessoa que não seja influenciada por preconceitos, incluindo os que derivam da teoria. Ou seja, uma pessoa que seja sensível e reaja a evidências contraditórias.” (1989:62-63)

Neste tipo de metodologia de investigação qualitativa, o papel do investigador é complexo e daí que seja imperativo ele ter consciência, logo de início, das vantagens e das limitações do tipo de estudo em que se envolve. Muitas das vezes é no final do seu trabalho que o investigador se sente mais preparado tecnicamente, facto este que o poderá motivar a proceder novas investigações ou ainda proceder a mudanças decorrentes da sua investigação.

2. A amostra

A amostra deste estudo de caso consiste num núcleo de Formação Inicial de Professores constituído por dois supervisores pedagógicos e três formandas, alunas inscritas no segundo e último ano do Ramo Educacional da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. O modelo de estágio em que se inserem encontra-se regulado pela Portaria nº1097/2005, de 21 de Outubro. As formandas (ou alunas – estagiárias) optaram no seu curso pela variante de Estudos Franceses e Ingleses pelo que, após um ano de frequência na parte curricular no âmbito das Ciências da Educação, participam uma vez por semana em seminários na Faculdade nas duas disciplinas ao

68 mesmo tempo que frequentam e intervêm na escola de 3º ciclo e ensino secundário onde foram colocadas. As três formandas têm idades compreendidas entre os vinte e quatro e vinte e cinco anos. Possuem as mesmas habilitações profissionais, embora a F1 seja bilingue (Francês e Português). Todas as formandas estão propositadamente deslocadas da sua localidade de residência habitual para efectuarem o seu estágio pedagógico. Apesar de nenhuma ter tido experiência profissional docente antes de frequentar este estágio pedagógico, todas as formandas já tiveram outras experiências de trabalho anteriores, nomeadamente no ramo do comércio. (cf anexo 6)

Os supervisores pedagógicos que fazem parte deste grupo de trabalho são profissionais experientes tanto na docência como na orientação pedagógica. São ambos professores do quadro efectivo da escola há mais de quinze anos, ambos têm a idade aproximada dos quarenta anos e constituem um casal.

A escola a que pertence este grupo de trabalho situa-se na área da Grande Lisboa, na margem sul do Tejo. É a única escola secundária existente na localidade. A zona circundante da escola é ainda bastante rural, se bem que existam pequenas indústrias espalhadas pelos arredores. Nesta escola, os supervisores pedagógicos (Sf e Si, assim denominados neste trabalho, respectivamente supervisores pedagógicos das disciplinas de Francês e de Inglês) abrem as suas aulas à presença das formandas ( F1, F2 e F3) e, para além disso, disponibilizam as suas turmas para que elas leccionem a disciplina, sempre sob a sua supervisão. Ambos os supervisores pedagógicos promovem a realização de seminários embora cada disciplina se reja por regulamentos distintos, definidos pelos respectivos Departamentos da Faculdade de Letras de Lisboa. Não há seminários com a presença de ambos os supervisores.

A investigação no terreno decorreu durante o ano lectivo de 2006/2007, mais concretamente entre os meses de Outubro e Maio. Neste período de tempo foram aplicadas cinco entrevistas, uma a cada um dos constituintes do núcleo de formação. Foram realizadas onze sessões de observação da participação dos seminários de Inglês e dos de Francês deste grupo de trabalho. Foram redigidas as respectivas notas de campo aquando das observações realizadas nos dias 20/11/06, 29/11/06, 22/01/07, 29/01/07, 27/02/07, 6/03/07, 12/03/07, 19/03/07, 22/03/07, 16/04/07 (duas sessões de observação) e 7/05/07 (duas sessões de observação). Apresentamos os referidos documentos em anexo.

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3. A investigação qualitativa e a abordagem metodológica

A abordagem metodológica que orienta um trabalho investigativo depende da temática abordada, do objecto de estudo e das linhas orientadoras do tipo de investigação. Esta dissertação reporta-se a um estudo exploratório cujo enfoque são os processos interactivos enquanto processos sociais de construção de saberes e de identidade profissional no âmbito da formação inicial de professores.

A metodologia qualitativa é concebida como um processo indutivo exploratório cujo quadro de análise do estudo vai “sendo progressivamente elaborado através de um incessante questionamento de dados. O esquema de análise efectua-se, por conseguinte, no decurso e no final da investigação.” (Poupart, 1981) Daí que se diga que a investigação qualitativa se interesse até mais pelos processos do que pelos resultados.

O investigador entra no campo de pesquisa munido de um projecto de investigação sustentado por um quadro conceptual adequado, a partir de uma revisão bibliográfica suficientemente extensa e abrangente. A revisão bibliográfica continua, contudo, como tarefa concomitante da investigação no terreno. O investigador adopta uma postura de “visitante” interessado que vê e ouve atentamente o que as pessoas dizem no sentido de descobrir o modo como elas interpretam o mundo (Griffin, 2006). O seu projecto de investigação é necessariamente aberto e flexível.

Deste modo, à luz de um paradigma interpretativo, privilegiamos as linhas orientadoras de um método qualitativo de investigação. Por consequência, para melhor compreender e interpretar significados de interacções em situações particulares e a sua evolução, procedeu-se a uma abordagem metodológica diversificada, mas complementar, imersa no mundo empírico.

70 Veja-se a seguinte figura: