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5. ANÁLISE DO CASO EM ESTUDO

5.1. Apresentação dos Resultados

Nesta fase do nosso trabalho pretendemos dar a conhecer o que o proprietário da Por Vocação tem a dizer sobre este estudo respondendo às questões formuladas por nós e que aqui relembrámos:

 Primeira Questão - Quais são as estratégias de marketing e comunicação utilizadas pela Por Vocação?

 Segunda Questão - Quais os frutos obtidos pela empresa, no que diz respeito à obtenção de novos clientes, fidelização dos atuais, divulgação da mesma e aumento do volume de negócios, com a implementação da estratégia de marketing?

 Terceira Questão - Como é que a empresa pode inovar com a implementação da estratégia de marketing?

 Quarta Questão - É o papel de liderança interpessoal, do proprietário/ empreendedor fundamental para a implementação da estratégia de marketing? Quando questionado com a primeira pergunta, Pedro Caride começa por dizer:

“na Por Vocação acreditamos no estilo e acreditamos num guarda-roupa, a moda, hoje em dia cada vez é mais efémera”.

A Por Vocação tem instituída uma politica do que é o comércio de rua, o comércio tradicional, dando uma especial importância às montras, pois têm a noção que as pessoas que passeiam à noite vão para ver a montra sendo, assim, uma forma de chamar clientes ou de, simplesmente, ser conhecida por todos conseguindo chegar, pelo passa palavra, ao seu público-alvo. Pedro Caride afirma:

“ a intersecção daquilo que o mercado pode aceitar e aquilo que nós gostamos é normalmente aquilo que nós trazemos. Para nós, que acreditamos no comércio de rua, um dos fatores mais importantes e mais bonitos é a montra, o passeio

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pelas ruas para ver as montras é algo que nos agrada e a montra é o nosso postal ilustrado, é a nossa forma de comunicar com quem passa, com quem vem à noite ver a montra ou mesmo com aqueles que nem sequer entram. Recordo-me, por exemplo, de uma montra que fizemos para o dia dos namorados, em que nós de dentro andamos a pintar os lábios e a beijar a montra, a montra ficou toda beijada e tínhamos um batom dentro para quem quisesse entrar e fazer a mesma coisa, era digamos assim uma provocação e o que aconteceu foi que, um dia, chegamos e tínhamos a montra beijada, mas pelo lado de fora. Para nós isso é muito bonito, alguém que beija a montra mesmo podendo estar suja e fá-lo na mesma.

O proprietário da Por Vocação tem bem definida a estratégia a usar na sua loja, dando especial importância aos conteúdos que tem que gerar, à disposição da roupa na loja e à rotatividade desta disposição. Assim perante a estratégia a usar Pedro Caride argumenta: “hoje em dia uma loja que não consiga gerar conteúdos próprios não tem de ter razão de existir, pois é aí que as coisas acontecem, não só para as vendas como para a comunicação. A roupa na loja está disposta de uma maneira diferente do que se pode fazer online. Na loja o cliente vê basicamente 20% das peças enquanto que no online permite o movimento conseguindo mostrar a peça de várias formas, podendo sugerir e encontrar o cliente sempre que este desejar.”

Pedro Caride argumenta ainda que:

“a estratégia de diferenciação do produto que temos, sobre serviços que temos e sobre as marcas que temos e depois a partir do momento que temos esses conteúdos colocá-los no site e no blog e também enviá-los lá para fora. Uma loja que, hoje em dia, não cria conteúdos não tem razão de existir, porque a partir do momento em que somos uma loja multimarca e as marcas que temos existem também noutros sítios, o que é que nos diferencia? Muitas vezes costumo dar o exemplo da lota de Matosinhos, todos os restaurantes vão buscar o peixe à lota de Matosinhos, mas então porque é que alguns restaurantes levam €50 por uma refeição e outros €10? No meu ver, é a maneira como trabalham, e nós no nosso mercado temos de fazer o mesmo, se temos a mesma marca que outras lojas, temos de ter um fator diferenciador, a maneira como tiramos as fotos para

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colocar no site, como fazemos o stiling, como fazemos a escolha das próprias peças e a maneira como misturamos as peças dentro da loja.”

Continuando a refletir sobre as estratégias utilizadas, o proprietário da Por Vocação refere:

“Outra estratégia que fazemos é o de não colocar o produto na loja mal chegue uma nova coleção, ou seja, vamos filtrando. Por exemplo, os casacos de inverno são colocados logo em julho, o que à partida parece não fazer muito sentido, contudo, isso é feito porque é uma compra premeditada, o cliente no inverno passado apercebesse que precisa de comprar um casaco, então compra-o logo, gosta e faz logo a compra, mas não adianta pôr malhas porque ninguém compra malhas para meter na gaveta. Então nós vamos recebendo as coisas, mas não dizemos que as temos porque senão acabam por pedir para as mostrar, e vamos pondo e conforme vamos pondo vamos também mudando a loja, porque os clientes veem e é impossível darem o mesmo grau de atenção a tudo, perdem-se então, às vezes, vêm atrás das novidades, a loja está mudada e acabam por comprar uma peça que já está exposta há um mês mas julgam-na nova e acabam por a comprar por isso mesmo. Estar sempre a mudar a loja chama os clientes, que é o que pretendemos.”

Quando perguntamos se a comunicação “passa-palavra” é fundamental nas micro e pequenas empresas, em especial na sua loja, Pedro Caride diz:

“o passa palavra é fundamental para uma empresa com a dimensão como a nossa. Existem pessoas que conhecem a loja pela divulgação que há das nossas montras mas que nunca entraram na loja, e há outras que, pelo contrário, vieram numa primeira fase pela curiosidade de ver a montra, pelo cheiro que ouviram dizer que a loja tem, por o que ouviram dizer da disposição da loja e da modificação constante da mesma. O marketing one-to-one é essencial para que as micro e pequenas empresas possam subsistir.

Tendo em conta a segunda questão, que resumidamente pergunta se a empresa teve frutos com a implementação da estratégia de marketing, foram feitas algumas considerações.

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Como já foi referido a Por Vocação começou a viver não só da venda de roupa mas, também, da venda de serviços para outras empresas na elaboração de vídeos para promover as mesmas, o denominado marketing digital. Através deste serviço a loja começa a ser conhecida em diversos locais do mundo. Com a estratégia de marketing que a Por Vocação seguiu Pedro Caride é perentório:

“a partir do momento que começamos a fazer a diferenciação do produto e entramos assim no mundo online, começamos a ter outra visão do que era a venda, eu tinha uma experiência, em termos de venda de loja de 10, 11 anos e quando quis entrar no meio online fui atrás de alguém que me trouxesse esse

know how em termos de experiência e vi-me, desde logo, com um entrave aqui

em Portugal não havia ninguém que me pudesse fazer um site onde pudesse fazer a divulgação da minha loja e de tudo o que tinha na mesma. Apercebi-me que, lá fora (sobretudo nos países com mercados mais competitivos, como o Americano e o Inglês), estão a anos de distância do resto da Europa, em termos não só de apetência para comprar online como também dos parceiros para fazer um site online”.

A partir do momento que Pedro Caride pretende abrir as suas portas a novos mercados, fazendo a sua internacionalização encontrou, desde logo, impedimentos no que diz respeito à mão-de obra para o fazer, mas tal como diz, não desistiu e prosseguiu:

“apesar de ser muito difícil arranjar mão-de-obra que fizesse o que pretendíamos, decidi arriscar. No entanto, as coisas não correram como previsto e o que estava para ser feito em meio ano demorou cerca de dois anos, hoje em dia não crescemos tanto como devíamos estar a crescer, com o esforço que fazemos, com o trabalho que temos diariamente, porque o site não está preparado para ser lido por exemplo pelo Google, são uma serie de coisas que são fundamentais muitas coisas técnicas, software e programação. O site que era para nascer antes, nasce em meados de 2009.

Com a estratégia da venda online, tínhamos que nos preocupar com a estrutura física, logo fizeram-se obras, fizemos um estúdio de fotografia, um escritório para as pessoas conhecerem o online, com o stock muito bem exposto, saber o que há e o que não há, e ficamos com uma autonomia muito grande, temos a loja física e temos a capacidade de produzir conteúdos. Agora a nossa experiência é

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diferente, começamos a saber como fazer a nossa divulgação e hoje somos conhecidos em todo o mundo, o nosso mercado em termos online vai desde Portugal, onde por incrível que pareça temos apenas 2% das vendas, pensávamos que iriamos ter muito mais, mas pensamos que por termos a loja as pessoas prefiram ver a peça e comprar no imediato, mas temos clientes de todo o mundo, sendo aquele que lidera com uma percentagem de cerca de 30% os Estados Unidos, seguido com cerca de 23% O Reino Unido, Japão, Alemanha, França, Coreia Singapura e Canadá.”

Relativamente ao cerne da nossa questão Pedro Caride refere:

“Quando me fala se a estratégia trouxe algum benefício para a minha atividade comercial, e perante tudo o que foi feito até então, só posso responder que sim. Somos uma loja conhecida em todo o mundo, os clientes que temos ficam satisfeitos ao ver a loja online pois, mesmo não comprando podem ver as peças logo que são colocadas no mercado e, posteriormente ir comprá-las. Conseguimos naturalmente conquistar novos clientes sendo que hoje em dia, ultrapassamos fronteiras e somos conhecidos em todo o mundo, aumentando o nosso volume de negócios e aumentando, também, a notoriedade da Por Vocação, o que nos deixa, a mim e a todos os colaboradores que comigo trabalham, muito satisfeitos.”

Quando Pedro Caride nos referiu que vendia para o mercado Coreano, ficamos admirados, pois todos sabemos que a Coreia é um país complicado. Perguntamos se era fácil fazer as vendas para o país em questão e ficamos a saber que o nosso governo tem um acordo com o governo da Coreia em que os mesmos não pagam quaisquer portes de envio seja ele do que for. A empresa paga o IVA – Imposto Sobre o Valor Acrescentado, de uma venda intracomunitária mas os portes são grátis. Achamos curioso e, por isso, partilhamos aqui no nosso trabalho este facto.

Quando questionado com a terceira questão, que diz respeito à inovação da empresa através da implementação da estratégia de marketing, o proprietário proferiu algumas das formas de inovação da Por vocação.

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Relativamente à inovação pareceu-nos, pelo que vimos e pela conversa que tivemos, que a empresa aposta continuamente neste fator de diferenciação: Inovar, para Pedro Caride, é algo que tem de estar presente, especialmente quando quer estar presente no mercado como comércio de rua: “não inovar seria matar o negócio, não conseguiríamos estar presentes no mercado sem inovar.”

A empresa abriu as portas a novos mercados e hoje faz o marketing digital. As pessoas foram observando como estava estruturado o site da Por Vocação e perguntavam quem tinha realizado os vídeos das montras, quem tirava as fotos para colocar no site, ao qual Pedro Caride dizia ser ele e os seus colaboradores os responsáveis por tudo o que estava no site no blog, no fundo, em tudo a que a Por Vocação estava inserida. A admiração foi total:

“quando uma das marcas que temos à venda na nossa loja, BUTTERO, nos ter convidado a ir a Itália fazer um vídeo sobre a empresa. Fiquei surpreendido e contente ao verificar que o nosso trabalho era visto e que as pessoas gostavam do que viam.

Hoje em dia apercebemo-nos que a partir do momento que existe uma estrutura criada, um estúdio e uma fotógrafa, nós podemos fazer mais coisas. Logo, de uma forma espontânea. começámos a fotografar as marcas que tínhamos, algumas nem eram muito conhecidas mas começaram a sair lá fora, começamos a fazer o marketing digital das marcas que tínhamos. Hoje em dia querem trabalhar connosco, não tanto por aquilo que possamos comprar deles (porque muitas delas são marcas muito grandes e nós comprámos pouco comparativamente a outras lojas), mas devido aos clientes que lhes podemos trazer.”

Esta entrada, da Por Vocação, noutra realidade que não a da venda de roupa e acessórios começou sem que ninguém tenha procurado, mas pela forma como a implementação da estratégia foi feita. O rigor com que as fotografias eram colocadas no site, a forma, as peças que escolhiam levou a que tudo fosse acontecendo sem que ninguém tenha dado por isso. O marketing digital é uma realidade para a Por Vocação mas só para a divulgação da mesma. Pedro Caride não nega este mercado, mas refere que, por enquanto, é algo que apenas gostam de fazer.

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Pedro Caride vai mais longe e diz “com a loja online, com o blogue e o marketing digital, a loja deixa de o ser e passa a ser uma revista, ou seja, trouxe uma democracia que antes não existia, onde é possível crescer, como era com a loja de bairro.” (Figura 21).

Figura n.º 20 - Janela do Filme da Montra Buttero

Fonte: http://vimeo.com/11076841

Relativamente à quarta e última questão, que diz respeito ao papel de liderança interpessoal do proprietário ser ou não fundamental para a implementação da estratégia foram referidas algumas considerações.

Na opinião de Pedro Caride, hoje em dia, e pelo que tem oportunidade de observar no mundo, começa a ser complicado as pessoas terem apenas um emprego, sendo necessário existir uma cada vez maior flexibilidade. Na Por Vocação a situação não é diferente. Este dirigente está ao corrente de tudo o que acontece na sua organização fazendo regularmente reuniões com os seus colaboradores. Essas reuniões permitem, não só estar a par do que acontece quando ele eventualmente não está (por exemplo quando tem que se deslocar para ver uma coleção de uma determinada marca), mas também para fazer um género de brainstorming, no sentido de saber o que se pode mudar e porquê e o que se pode fazer de melhor para a satisfação do cliente, tendo

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sempre como o dirigente da Por Vocação tem com os seus colaboradores é ótima, vendo-se que os mesmos trabalham com vontade e com “amor à camisola”. Refletindo sobre isso, Pedro Caride refere:

“Estou muitas vezes fora de Portugal, mas vou com a sensação de que quem está na loja vai fazer o trabalho que eu faria, confio e sei que quando voltar os resultados são os que esperávamos. A implementação da estratégia de marketing foi delineada sempre com a colaboração de todos, caminhando sempre com o objetivo de tratar bem o cliente, tendo em conta que cada cliente é diferente e, por isso, tem de ser tratado de uma forma diferenciada, fazendo-o sentir bem e com vontade de voltar, fidelizando-o.

É importante numa empresa, numa microempresa como é o caso da minha, darmo-nos todos bem, sabermos qual o nosso papel dentro da empresa e conseguirmos desempenhá-lo de forma exemplar. Só assim se consegue ter um comércio de rua que está implementado há cerca de 15 anos.”

Ainda com Pedro Caride, perguntamos o que lhe parece ser o marketing empreendedor, e se as micro e pequenas empresas o fariam ao que ele responde:

“parece-me que será o marketing na sua maior/melhor dimensão. Aquele que pela combinação das várias áreas do marketing é capaz de ser por si só a força motriz de uma micro e pequena empresa ou a base de lançamento de uma nova empresa com a consequente criação de emprego e riqueza.

O marketing empreendedor tem de estar virado para a inovação focando-se nas necessidades de mercado. Normalmente e uma vez que é um marketing especificamente dirigido para as micro e pequenas empresas, a estratégia de nicho de mercado e o passa palavra são imprescindíveis para a evolução e sustentabilidade da empresa.

O marketing hoje em dia tem outra dimensão que não tinha quando eu me formei ou mesmo quando comecei com o meu negócio; no entanto, parece-me que muitas são as empresas que não reconhecem a importância que o conceito de marketing tem, tanto na sua forma tradicional como sendo o marketing empreendedor.”

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