CAPÍTULO VI OBJETIVO E MÉTODO
VII. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Durante a análise dos discursos, foi percebido que o conteúdo de determinadas respostas fazia referência a questões abordadas em outras perguntas. Tal fato demonstrou a reciprocidade existente entre diferentes temas, e houve dificuldade para agrupá-las em categorias, pois o mesmo tema adequava-se a categorias diferentes.
Para organizar e facilitar a compreensão optou-se por apresentar os resultados por meio de quadros referentes a cada uma das perguntas direcionadoras, compostos pelos principais temas identificados e idéias centrais sintetizadas que surgiram na análise das questões. Alem disso, foi referenciado o ano correspondente ao discurso original, ou seja, ao período cronológico em que o diagnóstico foi realizado.
O DSC (Discurso do Sujeito Coletivo), que aparece em itálico e sem aspas, pois se refere a depoimentos coletivos e não sendo, portanto, citações. Justamente por isso, a transcrição também apresenta as marcas comuns da oralidade, tais como desvios de pronúncia, de aglutinação de palavras e de concordância de número e de gênero. O perfil resumido dos participantes está relacionado na Tabela 6. Os resultados foram agrupados em 6 categorias e desmembrados em subcategorias, para melhor apresentação e análise.
I. A doença
•••• O diagnóstico
•••• O impacto do diagnóstico
•••• Meios de acesso às informações sobre a doença •••• Aprendizado sobre a doença
•••• As restrições alimentares
II. Cuidador principal
•••• A decisão de ser cuidador •••• Adaptação ao papel
•••• A convivência diária com (RC)
•••• Dependência de (RC) em relação ao cuidador •••• Reações ao humor de (RC) •••• As tarefas diárias •••• Saúde do cuidador •••• Autoestima −−−− Valorização do cuidado −−−− Autonomia −−−− Realização pessoal
−−−− Sonhos para o futuro
III. Impacto financeiro
•••• Responsabilidade pela administração financeira •••• Gastos com remédios
•••• Habitação
IV. Rede social de apoio
•••• O papel da família no apoio ao cuidador
−−−− Convivência familiar −−−− Divisão de tarefas V. Recursos de enfrentamento •••• Apoio emocional •••• Apoio espiritual •••• A esperança do transplante
•••• Capacidade de “dar a volta por cima” •••• Lazer e convivência social
−−−− Atividades recreativas
VI. Relação entre a síndrome de burnout e cuidador principal
•••• Esgotamento emocional •••• Despersonalização •••• Realização profissional
TABELA 6 - Perfil das cuidadoras entrevistadas e respectivos pacientes renais crônicos
Dados do(a) Cuidador(a) Dados do(a) Paciente
A n o d o d ia g n ó st ic o Cuidador Id ad e Es co la ri d ad e Município (residência) Renda familiar mensal (salário mínimo de referência) Origem da falência renal *Gên er o Id ad e Profissão/ Remuneração G ra u d e p ar en te sc o
Palmira 53 Fundamental Ensino Barueri 2 Diabetes H 73 Aposentado Tio Paola 55 Superior Taboão da Serra 6 Hipertensão Arterial H 54 Vendedor / (Esposa é
aposentada) esposo 2003
Patricia 52 Fundamental Ensino (incompleto)
Embu-
Guaçu 1
Hipertensão Arterial e
Diabetes H 58 Ambulante esposo Selma 63 Analfabeta Barueri 3 Diabetes H 68 Aposentado esposo 2005
Silvia 53 Fundamental Ensino (incompleto)
São Paulo
(capital) 2 Diabetes H 53 Aposentado esposo
Tania 48 Ensino Médio Taboão da Serra 2 Hipertensão Arterial e
Diabetes M 50 Ajudante de Limpeza / (Auxílio- doença) irmã
Tereza 33 Ensino Médio Itapevi 2 Pielonefrite / Cálculos
Renais M 26
Vendedora / (Auxílio-
doença) irmã 2008
Tina 42 Fundamental Ensino Taboão da Serra 2 congênita Doença
no rim H 16
Estudante /
(Aposentado) filho * H = Homem / M = Mulher O público participante desta pesquisa foi composto por mulheres, com idade variável entre 33 e 63 anos, cuja renda familiar média é de 2,5 salários mínimos de referência, domiciliadas em municípios integrantes da região metropolitana de São Paulo cujo índice de pobreza, segundo o IBGE, gira em torno de 50% da população.
As participantes apresentam baixa escolaridade e a maioria delas deixou o trabalho profissional para cuidar de um familiar atingido pela doença renal crônica. No entanto, continuaram exercendo algum tipo de atividade informal para a complementação da renda. Todas dependem dos valores oferecidos por programas sociais, tais como o Bolsa-Família, e recebem aposentadoria ou auxílio-doença da Previdência Social.
Além do papel de cuidadora, também desempenham variados papéis dentro da família, indicando um aumento de responsabilidades e consequente aumento de energia adaptativa.
A Tabela 6 apresenta o predomínio das doenças como diabetes e hipertensão arterial, assim como da baixa escolaridade. Pode-se inferir que a soma desses dois fatores tenha contribuído para o desconhecimento das informações adequadas sobre as doenças e suas consequências, resultando na falência renal. Nota-se, também, maior número de pacientes do sexo masculino e que apresentam idade acima de 50 anos.
Nesta pesquisa, os critérios de inclusão consideraram os cuidadores com laços biológicos ou sociais, de ambos os sexos. Contudo, constatou-se que as famílias continuam assumindo os cuidados do paciente crônico, com o predomínio histórico das mulheres neste papel.
O predomínio de pacientes jovens no grupo diagnosticado em 2008 pode ser resultado de diagnósticos precoces e que só foram possíveis graças aos avanços da medicina, que proporcionam meios rápidos para identificação e tratamento da doença.
Durante a elaboração dessa análise, soube-se que o jovem de 16 anos conseguiu realizar o transplante renal e que a paciente de 26 anos preparava-se para realizá-lo.
VII.1 A doença
VII.1.1 O diagnóstico
Como foi saber que (RC) tem a doença renal crônica?
TEMA IDÉIA CENTRAL SÍNTESE ANO
A1 - (RC) poderia morrer amanhã
A2 - (RC) poderia morrer no dia seguinte 20
03
A3 - O diagnóstico provocou medo da morte de (RC) até hoje
A4 - Foi difícil porque no hospital as pessoas entram falando e morrem no dia seguinte A. O doente renal crônico morre
logo
A5 - Os órgãos de (RC) tinham parado e, aquilo era como se o mundo tivesse acabado
20
08
B1 - O diagnóstico provocou problemas no sistema nervoso e até hoje toma remédio controlado
B2 - O diagnóstico provocou tristeza 20
05
B3 - O impacto do diagnóstico só foi sentido quando (RC) foi para a UTI, foi difícil e provocou choque e tristeza.
B. O diagnóstico de (RC) provocou