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Esgotamento emocional

CAPÍTULO VI OBJETIVO E MÉTODO

C. Tem amigos da igreja

VII.6 Relação existente entre a síndrome de burnout e cuidador principal Para verificar a existência dos sintomas da síndrome de burnout no

VII.6.1 Esgotamento emocional

Nesta dimensão, há a hiperidentificação com quem deve ser ajudado, havendo excesso de dedicação, pois se considera que as necessidades do doente têm precedência sobre as próprias. Além desse aspecto,verifica-se que o foco da atenção da cuidadora é colocado inteiramente na saúde do renal crônico, pois ela passa a considerar que não pode ficar doente porque, na falta de seus cuidados, não haveria quem cuidasse do paciente renal crônico. Soma-se a este fato o aparente aumento do instinto de preservação da vida do outro, e um rebaixamento dessa preservação em si quando declara:

Esse ano que passou, mesmo, eu não fui nenhuma vez no médico, entendeu? Eu tenho que fazer exame de rotina. Como mulher, eu tenho que fazer mamografia. Mas eu me sinto bem! Não estou com nenhum problema. O que eu não posso é “cair” doente. Se eu “cair” doente, vai ser a coisa pior e eu não quero! Mesmo porque, eu falei: “Eu não posso ficar doente nem entrar em depressão, nem nada!”. Porque, como é que eu vou ajudar (RC) doente?

Sintomas de grande cansaço físico e irritabilidade também caracterizam o esgotamento emocional e a existência de conflitos familiares. A grande dificuldade no relacionamento com o renal crônico e a desvalorização do cuidado por parte do enfermo fez com que a cuidadora prosseguisse no desempenho de seu papel, mesmo sabendo que “vai chegar uma hora que eu não vou aguentar, né?”. Nesse

contexto, a solidão experimentada pela cuidadora tornou-se explícita ao dizer: “Eu não tenho ninguém... Tem vez que eu falo sozinha!”.

No caso da cuidadora que exerce atividade profissional fora de casa, há o peso da dupla jornada de trabalho, pois além de carregar a responsabilidade de ser a principal cuidadora do enfermo, ela ainda deve enfrentar a sobrecarga existente na rotina de dona de casa, que invade sábados e domingos, mostrando que não há tempo adequado para descanso e reestruturação tanto física quanto emocional. Sua declaração é simples e conhecida da realidade social brasileira: “o trabalho de dona de casa nunca aparece”, e dela infere-se que não há, por parte de outros integrantes da família, um reconhecimento e valorização do trabalho da cuidadora, ou seja, a validação desse papel na família.

A dificuldade de controlar a rigorosa dieta alimentar que o enfermo renal crônico precisa manter é apontada como fonte de estresse pela cuidadora, independentemente do tempo em que o diagnóstico tenha sido feito. Quando o enfermo não adere ao tratamento, os conflitos entre a cuidadora e o doente são constantes. As tentativas de controle sobre a alimentação geram revolta no enfermo, que prefere comer o que sente vontade, colocando assim a própria vida em risco, do que se submeter à dieta que aumenta sua sobrevida, pois a restrição de líquidos evita que o ganho de peso dificulte a diálise e a ingestão de alimentos proibidos, traz sérias consequências à saúde do renal crônico.

VII.6.2 Despersonalização

Na despersonalização, pequenos obstáculos configuram-se como insuperáveis, são acompanhados pela sensação de fracasso, marcam essa dimensão e são encontrados no convívio com as restrições físicas (dores constantes, ingestão de remédios a toda hora), com as restrições sociais (não pode viajar porque precisa dialisar em dias alternados) e com a ameaça da proximidade gradativa da morte do enfermo devido ao quadro evolutivo da doença crônica. Isso faz com que a cuidadora considere-se de “pés e mãos atados” diante de uma doença renal crônica que “é uma doença que não tem o que fazer”,

além de crer na fatalidade do destino e de que “o que tem que acontecer ninguém vai desviar”.

Outro sintoma característico da despersonalização é a apreensão em relação ao futuro que se apresentou com a possibilidade da perda do enfermo, pela morte, causando angústia na cuidadora:

Vê do jeito que (RC) era e vê na situação que tava... Porque agora, com a doença de (RC) a gente não sabe o que vai acontecer! Você não sabe quantos anos que (RC) vai viver... [seus olhos se enchem de lágrimas] Se é um... Se é dois... Se é dez, né? Então, eu acho que não dá pra falar sobre futuro...

Nessa fase, é frequente o aparecimento de doenças psicossomáticas, geradas pelo estresse, como resultado do grande investimento físico e emocional nas tarefas do cuidado, provocando o aparecimento de patologias orgânicas na cuidadora que, além dos cuidados que precisa ter com o renal crônico, também se vê obrigada a olhar para si, a se cuidar. As patologias encontradas com maior frequência foram as alterações do sistema nervoso e aumento da pressão arterial.

Há também prejuízos nas relações familiares, pois quem exerce o papel de cuidador há mais de 3 anos não conta com auxílio da família na divisão das tarefas. Tal fato permite que se infira que a passagem do tempo promove uma “acomodação” dos familiares, com o fato de haver alguém que, oficialmente, encarrega-se de todas as demandas do cuidado.

Outro sintoma característico dessa dimensão é a indiferença emotiva em relação ao sofrimento do outro. Tal indiferença favorece um distanciamento defensivo que, neste caso, é verificado quando a crença de que Deus é justo faz com que a cuidadora justifique a cegueira e a impotência sexual do renal crônico enquanto resultado da “justiça Divina”, ou seja, ela crê que Ele foi justo com ela ao aplicar, merecidamente, punições físicas ao enfermo, e isso é considerado positivo em sua vida.

Na análise do DSC, não houve relato de que a cuidadora tivesse exagerado na própria alimentação e no uso de drogas, tais como a nicotina, a cafeína e o álcool.

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