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Apresentação e tratamento de dados

Paulo Osório António Cassange

PORTUGUESE AND KIMBUNDU: HISTORY AND LEXICAL VARIATION

3. ESTUDO EMPÍRICO

3.1. Apresentação e tratamento de dados

Identificação

Sexo: Masculino 100 Sexo Feminino 50

Idades Amostra (Frequência) 18-20 15 21-30 35 31-40 45 41-50 50 51-70 ---- Acima de 70 anos 5

Identidade Linguística

Como aprendeu a falar kimbundu?

Frequência Percentagem

Na Família 100 66,67

Na Sociedade 28 18,67

Na Escola 22 14,67

Total 150 100,00

O inquérito mostrou que a maior parte dos falantes ambundu aprendeu a falar kimbundu na sociedade. Parte-se do pressuposto de que a comunidade é uma escola efetiva, uma vez que, por causa do espetro colonial, a família e a escola legaram o ensino da língua à sociedade. Assim, o contacto entre o kimbundu e o português efetiva-se com naturalidade, não tendo o falante ambundu opções de distinção.

Em termos gerais, que acha mais complexo?

Frequência Percentagem

Português 75 50,00

Kimbundu 75 50,00

Total 150 100,00

Apesar de ser a língua dos nativos, o kimbundu é sentido como uma língua complexa, quiçá pelo facto de não ser objeto de escolarização. Ainda assim, as dificuldades em português são visíveis, quer na oralidade, quer na escrita (cf. Gaspar, Osório & Pereira, 2012). Acresce o facto que muitos falantes não se relacionam bem, nem com uma língua, nem com a outra e, por tal motivo, assistimos à criação de termos facilitadores (vocábulos híbridos), provocando muita variação lexical.

196 Paulo Osório, António Cassange

Qual o grau de dificuldade?

Frequência Percentagem Dificuldade Oral (Kimbundu) 75 33,33 Dificuldade Escrita (Kimbundu) 75 33,33 Dificuldade Oral (Português) 25 16.67 Dificuldade Escrita (Português) 25 16.67 Total 150 100.00

As dificuldades sentidas pelos falantes equivalem-se em ambas as línguas, quer na oralidade, quer na escrita. Alguns inquiridos mostraram que fazem a realização oral, utilizando, muitas vezes, o mesmo sistema fonológico, pelo que nem sempre são totalmente compreendidos pelos falantes.

Quando ensina, quem mostra mais interesse em aprender kimbundu?

Frequência Percentagem Crianças 22 14,67 Jovens 32 21,33 Adultos 96 64,00 Total 150 100,00

Os adultos interessam-se mais em conhecer o kimbundu por razões identitárias, culturais ou outras. O facto de lhes ter sido vedado um ensino formal da língua faz com que, agora, se interessem por aprendê-la, mormente motivados por campanhas para o resgate de valores culturais angolanos.

Funcionamento da Língua

Com os falantes ambundu, comunica mais em:

Frequência Percentagem

Kimbundu 75 50,00

Português 75 50,00

Total 150 100.00

Em princípio e pelos dados recolhidos, observamos que os falantes se entendem em ambas as línguas, até mesmo quando criam neologismos, sendo, inclusive, capazes de colocar palavras das duas línguas na mesma construção frásica. A frequência comunicativa em falantes bilingues ocorre de forma simultânea e, muitas vezes, inconsciente, pois, com muita naturalidade, comunicam nos dois sistemas linguísticos, como se se tratasse de apenas um só.

Porquê?

Frequência Percentagem

É mais bonito 89 59,33

Tem mais aceitação 34 22,67

Força de hábito 27 18,00

Total 150 100,00

Nas regiões ambundu, existem outros grupos etnolinguísticos que não se inibem em dialogar nas suas línguas. Este hábito entre o ambundu é menos frequente, pois o ambundu tinha falares eruditos e populares. A preocupação em se exprimir na língua portuguesa sempre foi tida como um padrão de maior aceitabilidade social. No contacto com outros grupos bantu, os ambundu mudam de paradigma: alienam-se, resignam-se e equilibram a estatística na utilização das línguas, algo não comum entre os ambundu, já que forçam o uso do português e desistem, não raro, do uso do kimbundu.

198 Paulo Osório, António Cassange

Quando a conversa é em português, usa expressões em kimbundu?

Frequência Percentagem Usa expressões em

kimbundu 105 70,00

Não usa expressões em kimbundu

45 30,00

Total 150 100,00

Os dados ilustram ser usual a utilização simultânea das duas línguas: “bilinguismo funcional”. A convivência entre ambas as línguas não afasta os falantes e a metalinguagem surge apenas em falantes de outras zonas linguísticas que não a dos ambundu. Nota-se que entre os profissionais, a responsabilidade do uso vernáculo dos dois sistemas linguísticos é vista de forma comum. Tal questão pode dever-se ao facto de não se poder balizar as fronteiras gramaticais de ambas as línguas, fruto do convívio recíproco. É bem natural, no meio de frases, incorporarem-se palavras de uma ou outra língua, sem necessidade de tradução.

Se sim, porquê?

Frequência Percentagem

É mais bonito 75 50,00

Não tem tradução em

Português 75 50,00

Total 150 100,00

As razões invocadas anteriormente, uma vez mais, são reiteradas. Como se sente ao ouvir falantes a misturar ambas as línguas?

Frequência Percentagem

Feliz 100 66,67

Triste 50 33,33

Os inquiridos sugerem que o uso dos dois sistemas linguísticos não os incomoda. Contudo, os mais insatisfeitos sugerem que se autonomizem as duas línguas, a fim de que cada uma ocupe o seu próprio lugar no quadro linguístico nacional e até mesmo internacional.

Já usou palavras em português e terminando-as em kimbundu? (ex: zungar)

Frequência Percentagem

Usou 83 55,33

Não usou 67 44,67

Total 150 100,00

A maior parte dos inquiridos alega ter recorrido aos dois registos linguísticos para comunicar.

O que mais aprecia no kimbundu? Frequência Percentagem Verbos 37.5 25,00 Nomes 37.5 25,00 Pronomes 37.5 25,00 Interjeições 37.5 25,00 Total 150 100,00

O que mais o dificulta na língua portuguesa?

Frequência Percentagem Verbos 0 0,00 Nomes 0 0,00 Pronomes 0 0,00 Tudo 150 100,00 Total 150 100,00

200 Paulo Osório, António Cassange

Há um conhecimento generalizado dos elementos gramaticais do português. Realçamos, todavia, o facto de existir muita dificuldade na assimilação da norma do PE, predominando a preferência pela oralidade (Mingas, 2000).

Sabe-se que a antroponímia joga um papel distinto na vida dos homens. Muitos dos nomes ambundu, expressos em kimbundu, são banalizados e, por vezes, até ridicularizados. Há registos de que vários ambundu rasuravam os seus dados em cédulas, como pretexto de uma fuga ao nome, ou requeriam novos assentos, por causa da depreciação pública, da onomástica representativa do nome e dos insultos de que padeciam na hora da tradução para a língua portuguesa. Alguns exemplos: Adão Camauindu: pessoa com bichos nos pés; António Mangumbala: crânio saliente; cabeçudo; Bartolomeu Tarimba: alpendre para loiça; Conceição Maculu: hemorroidas; Joana Choeta: pessoa com nádegas espalmadas; Joaquim Cabolamassu: dentes podres; Lourenço Quifussa: sujo; Major Cafudissa: ralhete; Maria Sambuâmbua: despassarada; Martins Sonhi: envorgonhado; Sampaio Dixinda: ranho; Teixeira Kiwoa: burro.

Os funcionários dos serviços públicos atendem em kimbundu?

Frequência Percentagem

Atendem em Kimbundu 0 0,00

Não atendem em Kimbundu 150 100,00

Às vezes atendem em

Kimbundu 0 0,00

Total 150 100,00

Os nativos das regiões inquiridas não utilizam o kimbundu como meio de comunicação no funcionalismo público, pois julgam ser pejorativo falar kimbundu no local de trabalho.

Em que espaços se usa mais o kimbundu?

Frequência Percentagem

Nas Empresas 5 3,33

Nas Igrejas 100 66,67

Nas Ruas 45 30,00