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Os sujeitos do estudo são os trabalhadores que, em um determinado momento histórico passado, que vivenciaram situações de risco que tiveram como desfecho, acidente de trabalho envolvendo sangue e/ou fluidos corporais, no exercício de suas ações, que os mantém com a herança do acidente. Por terem vivido o fato concreto e por fazerem conhecer as relações de trabalho que permearam tal acidente, possibilitam, com seu discurso, a percepção do conjunto de ações coletivas que vêm sendo desenvolvidas pelos trabalhadores do Hospital Universitário os quais propiciam ou não, a ocorrência de acidentes, ou seja, permitem, através de suas vivências e de suas concepções, a produção e reprodução da organização tecnológica do trabalho neste hospital, no que tange a acidentes e situações de risco.

A seleção dos trabalhadores, que participaram do estudo, foi baseada no seguinte critério: ter comunicado seu acidente de trabalho, envolvendo sangue e/ou fluidos corporais ao Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), no período de agosto de 1996 a agosto de 1998.

a trajetória percorrida por estes trabalhadores, o que permitiu uma maior compreensão, ou melhor, uma aproximação que levou à compreensão das situações que permeiam um acidente. Foi possível experienciar, com eles, um pouco dos sentimentos e das ações vivenciados naquele momento.

O período em questão coincide com minha trajetória no mestrado, momento em que se intensificou o interesse e a busca pela compreensão do processo de trabalho como estrutura de relações, organizações, capazes de conduzir à produção da saúde do trabalhador.

O total de trabalhadores que comunicaram seu acidente foram entrevistados, perfazendo um grupo de seis. Fazem parte de diferentes categorias profissionais. Não foram selecionados apenas trabalhadores da enfermagem, por configurar um pequeno contingente e por considerar que as demais categorias mantêm ações articuladas no e com o trabalhador da enfermagem. Seus significados auxiliam na compreensão do processo de trabalho em saúde como sendo multidisciplinar. Portanto, o grupo de sujeitos foi composto de enfermeiros, auxiliar de enfermagem, auxiliar de creche e higienização , técnico em laboratório.

Apesar de parecer, a princípio, um grupo pequeno, diante do número de trabalhadores que compõem a equipe multiprofissional do hospital, corresponde ao critério estabelecido de que houvesse o contato com o SCIH. Mais do que isso, corresponde à “população” que vivenciou o acidente

Outros trabalhadores de outras categorias, como médicos, alunos da graduação dos cursos de enfermagem e medicina, vivenciaram acidentes, porém sem contato com a referida comissão, o que não permitiu uma aproximação dos casos.

21 Auxiliares de creche são trabalhadores que desenvolvem ações voltadas à recreação dos pacientes/clientes e executam certos cuidados como auxílio à alimentação, troca de fraldas. Os auxiliares da higienização desenvolvem as ações de limpeza da instituição hospitalar.

Os trabalhadores selecionados foram convidados individualmente a participar deste estudo, e deles foi obtida a permissão para proceder à coleta de dados. A todos foi assegurada a não personalização como forma de garantir o anonimato. Os trabalhadores foram identificados, quando da utilização de seus relatos, como T (Trabalhador) T l, T2, T,3 T4, T5, T6, números esses, que seguem a seqüência de realização das entrevistas. A autorização dos trabalhadores para que fossem usados seus relatos, foi dada no início de cada entrevista. Existe uma relação de confiança entre os trabalhadores e a pesquisadora, confiança esta, que pode ter origem na convivência, bem como no interesse pelo tema em questão, visto estar diretamente ligado ao cotidiano destes trabalhadores. Outro aspecto ético, que cabe salientar, é a existência de um compromisso de minha parte para com a instituição, por ser o local onde desenvolvo minhas ações de trabalho e mais, por ser partícipe de sua construção. Existe o compromisso, também, com cada trabalhador que participou deste estudo e com os trabalhadores da saúde em geral.

Considera-se importante tecer algumas considerações sobre cada trabalhador e sua categoria profissional, bem como as articulações com o trabalho de enfermagem.

Sabe-se que existe uma interdependência entre as diferentes categorias que compõem a totalidade do processo de trabalho em saúde. Acredita-se que uma das que mais centraliza esta interdependência é a enfermagem, pois se constitui em atividade fim para a qual a maioria das demais categorias converge suas ações. Não se quer dizer, com isto, que a relação com a enfermagem é que se compõe na situação de risco. A situação é produzida ou não, no espaço/ambiente do trabalho.

Tl=Trabalhador da enfermagem, desenvolve suas atividades na unidade de clínica médica; por ocasião do acidente procurou o SCIH para alguns questionamentos que o incomodavam; suas ações são desenvolvidas na

assistência direta ao paciente.

T2=Trabalhador da enfermagem, atua no Serviço de Pronto Atendimento; procurou o SCIH imediatamente após o acidente para saber que conduta deveria adotar; trabalha na assistência direta ao paciente.

T3=Desenvolve ações diretamente ligadas aos pacientes; tem sua formação na área de educação e procura aplicar tais conhecimentos em prol de uma recuperação mais rápida e efetiva dos pacientes; sua relação com o serviço de enfermagem se estabelece exatamente neste ponto de investimento na recuperação e também pelo auxílio prestado em alguns cuidados aos pacientes; ao acidentar-se procurou o SCIH pelos mesmos motivos que, o T2.

T4=Atua na área de enfermagem, no Serviço de Pronto Atendimento, com ações que envolve a assistência ao paciente; juntamente com o colega que estava no momento do acidente (T2), procurou o SCIH, buscando saber a conduta a ser adotada.

T5=Trabalha como auxiliar do serviço de higienização; após o acidente e depois de ter passado por diversos setores do hospital para onde era encaminhado, veio ao SCIH com o objetivo de sanar dúvidas sobre o acidente. Tomar-se-ia extremamente difícil para a equipe de enfermagem, exercer suas ações sem o apoio deste setor, cujas ações encadeiam-se numa sincronia necessária à qualidade da assistência prestada.

T6=Realiza suas atividades como técnico de laboratório; foi encaminhado ao SCIH por colegas, devido apresentar efeitos colaterais importantes à medicação profilática. Apesar das ações deste trabalhador não estarem diretamente interligadas com a enfermagem, fazem parte das atividades da equipe multidisciplinar.

Apesar de atuarmos, tanto eu como os entrevistados, em uma mesma instituição, foi extremamente difícil o encontro com alguns colegas, mais especificamente com os trabalhadores T4, T5 e T6, estendendo o período de

coleta de dados.

Superando as dificuldades, os encontros aconteceram e, cada trabalhador, com seus significados de situação de risco e acidente de trabalho, tomou possível a realização deste estudo, através de seus relatos, de suas vivências passadas, que foram trazidas ao presente para fazer conhecer a organização tecnológica do trabalho.

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