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4 ANÁLISE E DISCUSSÕES

4.1 APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO

Na categoria apropriação do conhecimento, analisamos de que maneira as atividades presenciais e on-line voltadas para o contexto dos alunos da EJA desenvolvidas durante a pesquisa, proporcionaram a apropriação dos conhecimentos matemáticos (Apêndices E e F). No período de interação com o grupo observamos que os alunos, ao assistirem aos vídeos14 relacionados aos conteúdos abordados nas aulas de matemática, e ao realizarem pesquisas na internet, associaram os conhecimentos matemáticos a exemplos de acontecimentos e situações do seu dia a dia. Percebemos que os vídeos exibidos durante as aulas despertaram nos alunos uma visão crítica de situações do contexto onde eles estão inseridos. Alguns comentários de alunos que confirmam a nossa percepção:

“Na entrada da minha casa tem uma rampa muito doida, vou tentar medir para encontrar a inclinação correta, porque ela é muito curta e alta... deve ser por isso que ela tá errada, vou confirmar com o professor de Estruturas” (Sheila, aula de Trigonometria, recorte do caderno de campo, 15.06.2016).

14 https://www.youtube.com/watch?v=iYsPckVvh8E.

Figura 1 - Questões sobre o vídeo de Trigonometria

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2017)

As questões propostas aos alunos sobre a análise do vídeo (figura 1) revelaram como os alunos interpretaram o filme e perceberam a matemática nas cenas (outro exemplo no apêndice G).

Da mesma forma, ao abordarmos o conteúdo de Função Exponencial com a apresentação de vídeo, registramos durante a aula esse comentário da aluna com a colega ao lado.

“Na minha rua tem uma menina que deveria saber fazer contas, ela vive grávida e nem sabe quem é o pai... coloca os filhos no mundo e nem pensa que eles vão passar fome. Isso é um crescimento exponencial, porque ela não para de ter filhos (comentou com a colega ao lado)” (Laura, aula de Função Exponencial, recorte do caderno de campo, 17.08.2016).

A visão crítica demonstrada nos comentários das alunas, Sheila e Laura, revela que elas relacionaram a Matemática com circunstâncias de seu cotidiano. Elas perceberam que a Matemática não está distante do seu dia a dia, das coisas que as cercam e de diversas situações da vida. Segundo D’Ambrósio (2007), dialogando com (FREIRE, 1987), ensinar Matemática valorizando aspectos do meio onde vivem os alunos pode favorecer a construção do conhecimento. Nesse caso, ainda que os comentários dessas alunas tenham sido bem peculiares, eles representam a

demonstração do conhecimento que foi apreendido e construído por elas. Relacionar a Matemática ao cotidiano dos educandos é importante na apropriação do conhecimento e ela acontece quando valorizamos a cultura, o contexto dos alunos (D’AMBRÓSIO, 2007), quando desenvolvemos relações entre ação e reflexão por meio da experiência concreta (FEIRE, 2002).

O professor de matemática buscou estratégias de estímulo para a aprendizagem dos alunos desenvolvendo atividades presenciais e on-line. Nos momentos presenciais observamos que os alunos não tinham autonomia para resolver as atividades elaboradas pelo professor. Todos os desafios lançados por ele foram resolvidos em sala de aula, pois os alunos apresentavam dificuldades na interpretação das questões. Observamos que ao utilizarmos os recursos digitais na apresentação de conteúdos (Apêndices B, C e D), na pesquisa e em compartilhamento de atividades os alunos despertaram o interesse em ampliar seus conhecimentos por meio da internet.

Assim, ao trabalharmos na turma recursos como downloads de imagens e vídeos, salvar e anexar arquivos para enviá-los por e-mail, os alunos manifestaram interesse em acessar vídeo-aulas para complementar os conteúdos abordados nas aulas não só de Matemática como de outras disciplinas. A utilização das ferramentas digitais com o propósito de contextualizar os conteúdos matemáticos é o que Lévy (1998) considera como mediação digital, porque ela modifica as atividades cognitivas relacionadas à linguagem, a sensibilidade e a imaginação.

Esses aspectos dialogam com as pesquisas de Rovetta (2015) e Santana (2013) que destacam em seus estudos a interação proporcionada pela utilização dos ambientes virtuais e a possibilidade de integração de várias mídias, como apoio ou complemento à sala de aula.

Apresentamos a seguir, trechos de uma conversa informal com algumas alunas participantes da pesquisa antes do iniciar a aula de Matemática:

“Professora, a senhora me salvou na aula passada. Aprendi a procurar vídeos sobre aulas e encontrei uma aula de física que me ajudou muito na prova. Foi como se o meu professor de Física estivesse do meu lado em casa, me ajudando, porque eu parava o vídeo, repetia as partes que eu não entendia... isso me deu coragem até de perguntar ao meu professor a parte da matéria que eu não estava entendendo,

porque antes não sabia nem como fazer perguntas” (Joana, recorte do caderno de campo, 05.09.2016)

“Professora gostei muito da aula sobre como fazer download de vídeos, você poderia me ensinar a baixar músicas também? É que lá na igreja que eu frequento, eu sou a responsável pela equipe de música e preciso de músicas Gospel para colocar nos eventos” (Sheila, recorte do caderno de campo 05/09/2016)

O interesse das alunas em conhecer e utilizar as ferramentas digitais reforça a afirmação de Pierre Levy (2010), de que as aulas devem estar correlacionadas com o ciberespaço, podendo até nesse processo de construção do conhecimento, transpor os muros da escola, criando um ambiente educacional virtual. Um ambiente de troca, onde buscamos conhecer um pouco do universo dos alunos e assim trabalhar a matemática nos valendo de assuntos do interesse deles (no apêndice H temos o exemplo de uma atividade compartilhada online).

Consideramos que a apropriação de conhecimentos ocorre também quando buscamos novas informações, ou por almejarmos mudanças ou por buscarmos conhecer.

Desse modo, ela não acontece somente dentro da escola, mas também, nas relações familiares, pelos meios de comunicação, no meio social, internet, entre outros. Nesse processo todos conhecemos na medida em que compartilhamos experiências e de acordo com Lévy (2010), uma nova pedagogia favorece as diversas aprendizagens, coletivas ou personalizadas. D’Ambrósio (2007) complementa, dizendo que a educação é uma estratégia de estímulo ao desenvolvimento individual e coletivo.

Dessa forma, apoiados em Kenski (2010), podemos dizer que as tecnologias de comunicação e informação trouxeram mudanças significativas para a educação. Vídeos, programas educativos na televisão ou no computador, sites educacionais, softwares diferenciados transformaram a realidade da sala de aula tradicional (Apêndice N) e dinamizaram o espaço de ensino aprendizagem, onde anteriormente, predominava a lousa, o giz, e a voz do professor (KENSKI, 2010, p. 46).

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