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4 ANÁLISE E DISCUSSÕES

4.3 CULTURA DIGITAL DOS SUJEITOS

Atualmente, as tecnologias digitais estão presentes nas escolas e podem ser usadas como instrumentos pedagógicos. Os professores que fazem uso desses recursos buscam favorecer o aprendizado e estimular o aluno a estudar, uma vez que esses instrumentos já fazem parte do cotidiano dos estudantes. Na EJA, além das dificuldades encontradas pelos alunos que, geralmente, não dispõem de recursos tecnológicos em casa ou que ainda não se apropriaram dessas tecnologias,

há outras exclusões que se transformam em obstáculos para o aluno da EJA. Entre essas dificuldades está o acesso a cultura digitalizada. Esse contexto próprio da EJA evidencia que o contato dos alunos com os recursos digitais, voltados para ensino e a aprendizagem ainda é limitado, mesmo nos dias de hoje.

Atentos a essa limitação, na categoria cultura digital analisamos os aspectos observados durante o estudo e que revelam características próprias do grupo pesquisado relacionadas à utilização das tecnologias digitais, quer seja no cotidiano dos alunos, quer seja no contexto escolar.

Durante o estudo observamos que os alunos não tinham iniciativa quanto à utilização das tecnologias digitais e usavam o blog, na maioria das vezes, apenas para acessar as atividades e os desafios15 postados pelo professor para serem feitos em casa. Diante desse cenário nos valemos do questionário aplicado para verificar se os alunos tinham dificuldades de acesso a internet. Constatamos que cinco alunos, dos nove participantes da pesquisa, acessavam a web de casa e os outros quatro acessavam da escola, do trabalho ou de outros lugares.

Verificamos também com que frequência o grupo utilizava os ambientes virtuais para se comunicar com outras pessoas. As respostas evidenciaram que os alunos não tinham o hábito de utilizar os ambientes virtuais para se informar. Consideramos que essa característica estava associada ao contexto sociocultural dos participantes que eram jovens e adultos oriundos de camadas mais carentes da população, e já inseridos de alguma forma no contexto de trabalho, sendo que alguns estavam desempregados. Assim constatamos que, apesar dos recursos digitais estarem presentes no cotidiano em que esses sujeitos estavam inseridos, como o trabalho, a escola e o ambiente familiar, o seu uso ainda era pequeno. Em nossas interações com o grupo pesquisado pudemos fazer os seguintes registros:

“Minha internet é muito lenta, desanimo de usar em casa” (Sheila, recorte do caderno de campo, 08.06.2016)

“Eu tenho internet, mas ela sai do ar toda hora” (Sebastião, recorte do caderno de campo, 08.06.2016)

“Acho que eu perco muito tempo quando uso a internet em casa.” (Laura, recorte do caderno de campo, 08.06.2016)

“Eu tenho internet no celular e em casa, mas é muito lenta. A do celular Só na wi-fi, porque meu pacote não tem internet” (Maurício, recorte do caderno de campo, 08.06.2016)

“Eu divido a internet com meu irmão casado que mora na casa de cima, por isso ela é meio lenta, mas dá pra usar” (Pedro, recorte do caderno de campo, 08.06.2016) “Minha internet é boa, mas uso pouco porque não tenho tempo” (Joana, recorte do caderno de campo, 08.06.2016)

Não podemos deixar de colocar que a escola também aparece como parte do ambiente dos alunos, disponibilizando oito laboratórios de Informática e biblioteca que possui um espaço reservado aos alunos com vinte computadores. No entanto, observamos que esses laboratórios não eram utilizados com frequência pelos professores da EJA durante as aulas e nem mesmo os alunos eram incentivados a utilizarem os computadores da biblioteca que são disponibilizados para o uso dos alunos em pesquisas ou trabalhos escolares. Mas, devemos considerar que muitos educadores não têm habilidades para utilizar as tecnologias impossibilitando o seu uso no preparo das aulas.

Observamos que esses fatores contribuíram para a caracterização da cultura digital dos sujeitos dessa pesquisa, cultura essa que se refletiu na utilização dos recursos digitais durante o estudo, pois algumas atividades compartilhadas com a turma não foram respondidas (Apêndices G e H).

Por outro lado, mesmo diante de um quadro como esse, não podemos ignorar o uso dos recursos tecnológicos no processo de ensino-aprendizagem da EJA, sob pena de oferecer uma formação limitada ao jovem ou adulto que se encontra em processo de formação. Desconsiderar o uso dos recursos tecnológicos na EJA significa privar os alunos de conhecimentos necessários para o exercício da autonomia do indivíduo, fundamental à prática cidadã (FREIRE, 2002).

Segundo Bairral (2012), a informática educativa clama por mudanças qualitativas em função das diferentes tecnologias que compõem o cotidiano dos alunos, portanto jovens e adultos não podem ser privados de um contexto de formação que contém

inovações tecnológicas. Em se tratando da Cultura Digital, é preciso ainda oferecer condições de acesso ininterrupto à internet nos espaços escolares para professores e alunos, assim como o Ifes – Campus Vitória oferece. O alerta de Bairral (2012) nos remete à reflexão sobre a aprendizagem do aluno da EJA, que segundo Freire (2007), deve ser ampla de forma que ele possa ler o mundo e, ao ler o mundo, transformá-lo. Excluídos do mundo digital, esses jovens e adultos serão privados da utilização das tecnologias e também da participação para a transformação social. Afinal, o uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber (LÉVY, 2010, p. 174).

Dessa forma, consideramos que o ensino na EJA deve ter como meta um ensino onde os alunos possam apropriar-se destes conhecimentos e obter mais chances no processo de interação. Ao interagir com o mundo virtual, os alunos o exploram e o atualizam simultaneamente (LÈVY, 1999, p. 69).

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