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4 ANÁLISE E DISCUSSÕES

4.2 INTERAÇÃO E COMUNICAÇÃO

A sociedade atual convive com os avanços das TICs, o que exigiu a modificação das qualificações profissionais e do modo como as pessoas vivem em seu cotidiano, como trabalham e se comunicam com outras pessoas e com o mundo (LÉVY, 1997). Entendemos que o uso de recursos como a internet e o blog enquanto ferramentas tecnológicas na EJA são possibilidades que valorizam a construção de ideias de forma dinâmica. O blog, por exemplo, pode auxiliar o ensino da Matemática, valendo-se da interação entre quem ensina e quem aprende. Assim como Lévy (2010), consideramos que o principal desafio da escola hoje é desenvolver uma cultura da colaboração que independe de estar no virtual ou no presencial.

Assim, na categoria interação e comunicação, analisamos a aproximação entre alunos, professor, escola, e de que maneira essas interações auxiliaram a construção de conhecimentos matemáticos pelos alunos pesquisados. As aproximações tornam o blog um canal de comunicação e colaboração entre os membros (professor e alunos), possibilitando que os conteúdos matemáticos abordados em sala de aula sejam compartilhados também no ambiente virtual. Pensando nessas aproximações que minimizam os problemas causados pela baixa frequência dos alunos da EJA, criamos o nosso blog de matemática (Apêndice I). Na proposta do nosso blog todos podiam postar assuntos relacionados à Matemática (curiosidadades, descobertas, dicas e dúvidas). Dessa forma, nossa expectativa inicial era de que os alunos tivessem liberdade e autonomia para a utilização desse ambiente virtual. O professor também utilizou o blog para postar questões e desafios sobre conteúdos que eram abordados nas aulas de matemática, no intuito de complementar esses momentos presencias no ambiente virtual (Apêndices J e L).

Na primeira atividade postada pelo professor (figura 2), observamos que os alunos tiveram uma reação positiva em relação à interação com a turma. Eles foram incentivados a executar as atividades postadas, entretanto a turma e o professor não

trocaram informações relacionadas ao conteúdo, conforme os comentários postados (figura 3).

Figura 2 - Atividade sobre Escala

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2017)

Figura 3 - Comentário de alunos no blog

Percebemos que os alunos mantinham a postura de acessar o blog apenas para visualização das atividades e desafios que eram postados pelo professor ou para alterar a aparência do blog. No entanto os comentários sobre as postagens do professor aconteciam nos encontros presenciais, quando as atividades e desafios eram corrigidos no quadro com a participação dos alunos.

Quando o professor perguntava por que eles não utilizavam o blog para fazer comentários sobre as atividades ou mesmo postar curiosidades sobre a Matemática, os alunos se queixavam da falta de tempo, alegando que as disciplinas técnicas do curso tinham uma sobrecarga de conteúdo, restando pouco tempo para se dedicar às demais disciplinas.

A partir dessa percepção, com base em Freire (1979, 2002), voltamos nossa atenção para o contexto do grupo pesquisado. Recorremos também aos estudos de Bairral (2012) que alerta para a importância de olhar a atividade e o contexto físico ou social onde esta se desenvolve. Procuramos entender e problematizar as necessidades dos alunos (FREIRE, 1987), a partir das observações das aulas e das interações com os alunos para planejarmos uma atividade que envolvesse outras disciplinas do curso de Edificações.

Em consonância com o estudo de Santana (2013), constatamos que, para a utilização do blog, seria necessário o engajamento, tanto do professor quanto do aluno. Esse “esforço” era necessário para que o ambiente virtual fosse, de fato, um espaço complementar ao ensino presencial.

Essa constatação nos levou a refletir sobre o alerta de Paulo Freire sobre a necessidade dos educadores criarem metodologias que permitam a construção do conhecimento pelos educandos por meio do diálogo. Assim, elaboramos um estudo de Geometria articulado ao curso de Edificações que se iniciava com a contextualização histórica e se estendia até as suas aplicações práticas na construção civil. Nesse estudo utilizamos os recursos digitais trabalhados com a turma durante a pesquisa e o blog para postar os trabalhos. A nossa preocupação com o contexto dos alunos foi fundamentada em Freire (2002), pois segundo esse educador, a construção de um conhecimento em parceria com o educando depende da relevância que o educador dá ao contexto social. Sobre isso, Bairral (2012)

também aponta a necessidade do professor refletir criticamente sobre a sua prática e buscar recursos que propiciem alternativas para um ensino que desenvolva a autonomia do aluno e que tenha como finalidade uma educação matemática inclusiva.

Sobre esse estudo dos conhecimentos geométricos a nossa proposta inicial foi preparar uma atividade que pudesse contribuir com outras disciplinas técnicas do curso conforme detalhado na figura 4.

Figura 4 - Estudo de Geometria aplicado à construção civil

Fonte: Elaborado pela autora (2017)

Esse trabalho foi uma oportunidade de interligar a Matemática a outras disciplinas do curso técnico, além de mostrar que ela é constituída de erros e acertos, pois se trata de uma construção humana.

TERÇA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2016 Estudo de Geometria aplicado à Construção Civil

Estas atividades serão realizados em grupo de 3 componentes 1ª Atividade: Valor = 3 pontos

Pesquisar sobre alguns Matemáticos famosos do passado (Tales de Mileto, Pitágoras, Erastóstenes, Platão e Euclides).

- Quem foi este matemático? Em que época viveu? Qual a sua importância na história da matemática?

Atenção: o grupo deverá preparar uma apresentação em Power Point para apresentar para a turma. Depois postar os slides no blog da turma.

2ª Atividade: Valor = 5 pontos

Planejar e construir uma maquete de uma casa com 100m e que tenha no quintal uma piscina no formato circular. Todo o terreno em 20m x 30m.

Obs: esta maquete poderá ser feita em Papel Cartão, Isopor, ou outro material conveniente. O projeto deverá ser feito em papel A3 (ver qual a escala mais conveniente) e poderá ser feito à mão (usando lápis) ou usando o Autocad.

Além do desenho da planta no papel A3, este projeto deverá prever os seguintes itens: a) Fundações:

- quantas fundações e com quais dimensões;

- a quantidade de concreto para encher cada fundação; b) As vigas sustentação:

- cálculo da quantidade de concreto para encher todas as vigas; c) A laje:

- cálculo da quantidade de concreto para encher a laje, sabendo que poderá ser premoldada ou no concreto armado;

d) As paredes:

- quantos metros quadrados de parede?

- Quantas lajotas de 20cm x 20cm serão necessárias?

- Quanto de tinta será necessário para a pintura de todas as paredes? (ver as especificações com o fabricante da tinta que será usada).

e) Os pisos (todo em revestimento cerâmico de porcelanato 60cm x 60cm): - qual a quantidade de revestimento cerâmico.

f) Caixa D’água:

- formato de cilindro e que tenha capacidade para 2.000 litros. Quais as medidas do Diâmetro e Altura da caixa?

Ao executar a atividade os alunos utilizaram os conhecimentos de informática para fazer pesquisas na Internet, fazendo download de vídeos e imagens, para montarem as apresentações em grupos, além de compartilharem informações on-line sobre o trabalho. Assim como Rovetta (2015), percebemos que o blog (enquanto ambiente virtual), utilizado para a montagem do trabalho, possibilitou a integração de várias mídias, fato que tornou a tarefa mais atrativa para os alunos.

Como citado anteriormente, a proposta inicial era bem ampla, mas, em virtude de eventos como a ocupação da escola pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e a greve geral dos trabalhadores que ocorreu em 2016, houve uma reorganização do planejamento no sentido de cumprir com as atividades do trabalho.

A partir da reorganização do planejamento, os alunos executaram apenas as pesquisas sobre os matemáticos famosos do passado e postaram no blog (Figuras 5 e 6). Entretanto, a culminância desse trabalho aconteceu no ambiente presencial, durante a aula no laboratório de informática, quando os grupos apresentaram os textos, as imagens e os vídeos que foram postados no blog. Essa atividade foi interativa, pois os alunos utilizaram os recursos do Google Drive para estabelecer uma comunicação on-line durante a realização do trabalho, antes de postarem no blog. Isso nos aproxima de Bairral (2007) quando diz que as interações proporcionadas pelo uso do blog de matemática contribuem para o aprendizado por meio da comunicação entre os alunos. Para Lévy (2000) quando as interações enriquecem ou modificam o modelo, o mundo virtual torna-se um condutor de inteligência e criação coletivas.

Figura 5 - Vídeo postado por aluno no blog

Fonte: Elaborado pela autora (2017)

Figura 6 - Pesquisa postada por aluno no blog

A metodologia utilizada nas aulas foi uma experiência diferente para essa turma. O comentário de um aluno após a apresentação mostra que as propostas de ensino para a EJA apresentam-se, em sua maioria, minimizadas aos conteúdos básicos de leitura, escrita e cálculos matemáticos e disciplinas técnicas, privando esse público do acesso mais amplo aos recursos digitais no processo de ensino- aprendizagem.

“Gostei desse jeito de estudar Matemática. Até que enfim alguém resolveu pensar em nós. Nunca, nenhum professor trouxe a turma pra ter aulas no laboratório de informática... só nas aulas específicas que a disciplina precisa usar o computador com algum programa. O problema é que sempre tem muita coisa pra fazer, daí não dá tempo de fazer nada” (Sebastião, recorte do caderno de campo, 05.12.2016). Consideramos que o uso de recursos tecnológicos em contextos educacionais podem ser utilizados como estratégia de ensino, além de proporcionar aos alunos a oportunidade de interação e comunicação entre pessoas favorecendo a construção de conhecimentos. Assim como o estudo de Rovetta (2015), verificamos que a pesquisa apresentou indicativos de que, quando é estabelecida uma conexão entre as interações dos alunos no ambiente virtual e as atividades desenvolvidas em sala de aula, a interação, a aprendizagem e o envolvimento dos alunos são satisfatórios. Da mesma forma, corroboramos com Alves (2015), e concluímos que o uso da mídia favorece a prática educativa, quando a orientação é focada para o uso consciente do meio virtual no intuito de incentivar a pesquisa e a sistematização de informações presentes na internet tendo em vista a construção do conhecimento.

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