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Aqui estamos adotando o conceito de dependência química formulado por

internamento pós-alta clínica e as principais dificuldades de acesso a rede de proteção

9 Aqui estamos adotando o conceito de dependência química formulado por

Selma Frossard Costa, segundo a qual “a dependência química abarca o uso de todos os tipos de substâncias psicoativas (SPA); ou seja, qualquer droga que altera o comportamento e que possa causar dependência: álcool, maconha, cocaína, crack, dentre outras.” ([20--], p. 4).

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[...] acredito que pela questão do alcoolismo. Problemas de relacionamento com a família, com os filhos que dizem que ‘ele não foi um bom pai’ [...] nós apresentamos a família a possibilidade desse paciente realizar um tratamento com relação ao álcool, que seria muito importante [...] O maior problema é que a família não que receber o paciente, por causa do problema do álcool, e problemas de âmbito pessoal. (A.S-3). O contexto social interfere muito, a situação econômica, o alcoolismo que afasta muito a família [...] (A.S-4).

Esses depoimentos revelam que, em caso de dependên- cia química, a alta hospitalar não pode ser concretizada sem a garantia de um efetivo acompanhamento da saúde mental desses usuários, seja qual for o problema de saúde que motivou o internamento. Além disso, 100% das entrevistadas respon- deram que nos casos acompanhados, os usuários viviam em situação de rua antes do internamento. Fazendo uma vincu- lação entre os diversos determinantes, as respostas das entre- vistadas, permitem inferir que a condição de morador de rua dos usuários está diretamente relacionada com o uso abusivo de álcool, um dos principais componentes relacionados à perda ou rompimento dos vínculos familiares.

O rompimento dos vínculos familiares está presente nas respostas de 100% das entrevistadas, como questão muito importante durante todo o processo de acompanhamento, mas se torna crucial no momento da alta. Pois, as possibilidades de reinserção na família esbarram em uma série de conflitos familiares acentuados pela questão do alcoolismo. Daí a impor- tância de continuidade da assistência integral, que além do acesso ao tratamento de saúde no plano da assistência médica,

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seja garantido demais direitos sociais básicos, destacando-se aí, principalmente, as responsabilidades do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Entretanto, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e o SUAS inclui com público usuário, cidadãos vincula- dos a grupos que estão em situação de vulnerabilidades como, por exemplo, fragilidade de vínculos de afetividade e uso de substâncias psicoativas – entre outros. Em outros termos sele- ciona seus usuários não apenas pelo risco, mas principalmente pela faixa de renda. Atualmente, ¼ do Salário mínimo nacional.

Constitui público usuário da política de assistência social, cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnera- bilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda

ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento

e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem resultan- te de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos (BRASIL, 2005, p. 33).

Observe-se que a PNAS define que as famílias e indiví- duos que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco pelo uso de substâncias psicoativas – entre outros que fazem parte do seu público usuário – “são passíveis de proteção social especial” (COSTA, 2010, p. 8).

Constata-se que a dependência do álcool provoca situa- ções em que familiares passam a não querer/poder acolher seus entes enfermos em nenhuma hipótese, assim sendo já é uma realidade que se coloca muito antes da internação e,

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consequentemente, do momento da alta. No entanto, conforme Costa (2010), as questões sociais que interferem no processo- -saúde doença, só se torna um problema institucional do SUS, no momento da alta hospitalar.

Constatamos com os parentes que se recusaram a acolhê- -lo, tanto durante o período da internação como no período pós alta hospitalar do paciente, alegaram não querer reatar qualquer vínculo com o paciente, relataram ter dado várias chances para ele, mas ele sempre voltava para o uso do álcool e a morar nas ruas (A.S 1).

O rompimento dos vínculos familiares em decorrência do alcoolismo ganha destaque nas falas das entrevistadas. Essa realidade demonstra que o enfrentamento a esse problema cada vez mais comum nas famílias brasileiras, perpassa ações sobre os diversos setores, e pressupõe a articulação de diver- sos serviços. Inclusive, os serviços preventivos e educativos. Isso é também pensar em articulação de políticas sociais e aces- so à rede de proteção social, já que os danos da dependência do álcool – assim como de outras substâncias psicoativas, tais como o crack, têm impactos mais devastadores em contextos de desigualdades sociais tão profundas, como é o caso do Brasil e, portanto, em Natal (RN), capital do Estado do RN.

A dimensão e a complexidade do problema colocam em alerta até mesmo os pequenos municípios, demandando do poder público e da sociedade em geral respostas mais abrangentes, que combinem ações nas esferas da segurança pública, da saúde, da assistência social, da educação, dentre outras, em

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um plano nacionalmente articulado [...] (FERREIRA; CRUS; MATIAS, 2015, p. 5).

Conforme já mostramos, a própria PNAS aponta em que medida a perda ou a fragilidades dos vínculos afetivos, assim como a dependência de substâncias psicoativas, expõem as pessoas às situações de vulnerabilidade e risco social. Nesse sentido, enfatizamos a importância de as políticas seto- riais serem trabalhadas articuladamente no enfrentamento deste grave problema de saúde pública.

A palavra rede pressupõe a interligação entre algo. Nesse sentido, a rede proteção social é construída a partir de políticas e instituições que trabalham articuladamente para garantir a segurança social dos cidadãos. Aqui, discorreremos acerca das instituições e serviços citados, que nas palavras das assistentes sociais entrevistadas, de alguma forma são acionadas e, por vezes, atendem as solicitações feitas pelos assistentes sociais. Portanto, foram consideradas integrantes da rede de proteção social em Natal (RN):

• Centro de Referência Especializado para População de Rua (CENTRO POP).

• Ministério Público.

• Programa de Acessibilidade Especial Porta a Porta (PRAE).

• Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS).

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• Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). • Centro de Referência Especializado de Assistência

Social (CREAS). • Albergue Municipal.

• Centro de Atenção Psicossocial (CAPs AD). • Programa Saúde da Família (PSF).

Os serviços, acimas relacionados, integrantes da rede de proteção social do município de Natal/RN, as quais foram mais acionadas nas tentativas de agilizar a alta hospitalar de pessoas que perderam os vínculos familiares e não têm onde morar, aparecem citados nas respostas das assistentes sociais entrevistadas na seguinte proporção: