• Nenhum resultado encontrado

Contexto histórico da Previdência Social no Brasil

Historicamente no Brasil, as primeiras manifestações de seguridade surgiram com a iniciativa privada, seguindo-se de uma intervenção crescente do Estado. Com a primeira consti- tuição, em 1824, foi preconizado à criação dos socorros públicos, e apenas em 1835 foi criado o Montepio Geral dos Servidores do Estado. Ainda no Século XIX surgiram os socorros mútuos e as políticas sem Estado voltadas para minimizar os efeitos do já perverso capitalismo, que segundo Araújo (2008, p. 28) “as associações de socorros mútuos ganharam força, desde então, foram consideradas aptas para a reabilitação moral das classes trabalhadoras, desenvolvendo nelas o sentimento de previdência”. Mas é nas primeiras décadas do Século XX, com a ampliação econômica, a criação das primeiras indústrias e

114

a organização dos trabalhadores, provocando o agravamento da questão social, que o governo passou a responder algumas reivindicações da classe trabalhadora a fim de amortizar os movimentos dos trabalhadores.

Assim, após inúmeras reivindicações da classe traba- lhadora, foi criado o primeiro marco de institucionalização da Previdência, por meio do “sistema de Caixas de Aposentadorias e Pensões sob a égide do Estado, durante o governo de Getúlio Vargas – Lei Eloy Chaves, Dec. Nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923” (ARAÚJO, 2008, p. 28), que era financiada por empregadores e empregados. Foi essa lei que garantia a aposentadoria dos ferroviários e assegurava a inatividade desses funcionários. Ainda segundo a autora, deu-se nos anos seguintes a criação de diversas Caixas de Aposentadoria e Pensão – CAPs para cate- gorias distintas de trabalhadores. Surge então a aposentadoria, seguindo o exemplo de outros países, em resposta aos proble- mas sociais que se apresentavam à época e vinculavam-se às questões relacionadas ao envelhecimento do trabalhador que por meio dos movimentos operários lutavam por melhores condições de vida e trabalho.

No decorrer da década de 30, com o fortalecimento do sindicalismo e da classe média urbana, o governo efetiva avan- ços na legislação trabalhista e previdenciária, como resposta às reivindicações que questionavam a estrutura da sociedade capitalista e a exploração dos trabalhadores (ARAÚJO, 2008, p. 41), institucionalizando os Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs. O Estado assume a gestão das instituições separadamente por categoria profissional, trazendo nos textos das constituições de 1934 e 1937 alguns indícios de proteção à velhice, estabelecendo o seguro de velhice para o trabalhador, sob a forma de direitos trabalhistas e de Previdência Social.

115

Com relação aos servidores públicos, na década de 40, foram introduzidas modificações legais e institucionais com o Decreto-Lei nº 2.865, de 12 de dezembro de 1940, que dispõe sobre a organização e funcionamento do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado – IPASE. (Araújo, 2008, p. 43). Desde então, como se refere Haddad (1993, p. 18) “velhice e aposentadoria passaram a estar associadas. O direito à aposentadoria – que inclui a velhice subsidiada e o direito de descanso no fim da vida – tornou-se uma extensão do direito universal do trabalho”.

A partir de 1945, com o fim do Estado Novo, inicia-se no Brasil uma fase democrática que dura até o golpe militar de 1964. Nesse período, influenciado pelo período do pós-guerra, pelo Relatório de Beveridge (1942) — cujos pressupostos alteram o conceito de cidadania — e, principalmente, pelo aumento da demanda previdenciária e da participação política dos traba- lhadores, houve uma nova mudança no modelo previdenciário. Em 1960, com a promulgação da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), foram uniformizadas as contribui- ções e os planos de previdência com extensão aos empregadores e autônomos em geral, o que veio a se consolidar em 1966, com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), unificando a estrutura dos IAPs. Inicia-se a discussão sobre o papel da política de previdência social, com proposta de mudan- ça do modelo de seguro social para o modelo de seguridade, caracterizado pela universalização dos direitos e ampliação da cidadania. Na segunda metade dessa década, inicia-se uma importante transição demográfica, caracterizada pela queda das taxas de mortalidade e fecundidade.

Permeando esse contexto, a população cresce prepa- rando-se para o trabalho e necessita dele para garantir a sua

116

sustentabilidade e de sua família, pois a única mercadoria que lhe pertence é a força de trabalho que é vendida ao capitalista em troca do salário. As determinações do capital, as neces- sidades humanas, associadas a esse desenvolvimento sócio- -histórico constituem um processo permanente de luta por direitos. Na citação a seguir, a autora ratifica o entendimento sobre aposentadoria, como uma conquista do trabalhador em exercer o seu direito à cessação das suas atividades laborais e passar a usufruir do benefício da aposentadoria como um direito efetivamente conquistado. Assim vejamos:

A aposentadoria, que é um direito e não uma imposição, nada mais é do que o momento em que o trabalhador pode cessar a venda de sua força de trabalho. Nada impede, pois, o uso de sua capacidade de trabalho, mas ela significa que o aposentado não está mais obrigatoriamente impelido à sua venda. Em outros termos, ele pode se liberar do constrangimento da subordi- nação imediata e direta ao capital. Se o fizer, deixa de ser um concorrente no mercado de trabalho; passa a fazer jus a uma parcela da renda nacional, para a qual, em geral, contribuiu ao longo da vida, salvo raras exceções (FONTES, 2010, p. 56).

Nesse sentido, Fontes (2010) consolida a aposentadoria como um direito adquirido pelo trabalhador, desde que cumpri- dos todos os requisitos exigidos para a solicitação e, consequen- temente, ter a efetivação do ato de aposentação a que tem direito, visto que contribuiu ao longo da sua carreira profissional.

Em 1974, com a ampliação do universo de pessoas que passavam a receber benefícios do sistema, decorrência natural

117

do envelhecimento gradativo da população4, ocorreram as

primeiras preocupações das consequências fiscais, somadas ao avanço do conceito de seguridade social (saúde, assistência e previdência), criando-se, então, o Ministério de Previdência e Assistência Social. Assim, a criação desse ministério foi um novo marco na evolução da previdência social brasileira. Em meados dos anos 70 com a crise mundial, consequência do esgotamento do modelo de industrialização, essa crise desencadeia o final do “milagre brasileiro”, fruto da perda do dinamismo da economia. Desse modo, a situação recessiva vai refletir nas finanças previ- denciárias, dando início à crise financeira de 1980, caracteri- zada pela desaceleração das receitas em um momento político de transição à democracia.

Esse processo intensifica-se na década de 1980, ganha corpo a mobilização da sociedade civil, resultante da aglutina- ção do novo sindicalismo e dos movimentos reivindicatórios urbanos. É importante destacar a participação deste ator polí- tico – aposentados organizados na Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas a partir de 1985 – já que esse foi um fenômeno novo e de grande importância nas negociações trava- das no âmbito da Assembleia Nacional Constituinte, em defesa do valor dos benefícios e do controle social na Previdência.

4 A constatação da questão do envelhecimento no Brasil é de extrema rele-

vância, pois existe a estimativa do IBGE, que em 2020 o número de indivíduos com idade acima de 60 anos poderá chegar a 32 milhões em nosso país. Fato esse que segundo a Organização Mundial de Saúde até 2025, o Brasil será a sexta maior população mundial de idosos. Essas projeções do percentual de idosos colocam a sociedade brasileira diante de um enorme desafio: o de proporcionar garantias efetivas para essa população.

118