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Ar: perturbação do equilíbrio – Marcos e as dúvidas de seus sonhos!

6. Análise e discussão dos dados

6.3. A produção das histórias infantis científicas

6.3.4. Ar: perturbação do equilíbrio – Marcos e as dúvidas de seus sonhos!

A quarta história infantil a ser analisada é a do grupo “Ar: perturbação do equilíbrio” que escreveu a história “Marcos e as dúvidas de seus sonhos!”

A história escrita pelo grupo traz como personagem principal Marcos, um menino curioso e preocupado com a preservação do meio ambiente. Quando assistia a uma reportagem na TV, sobre chuva ácida, é interrompido pela mãe para que fosse dormir. Vai para cama pensativo e acaba sonhando com o que acabara de ouvir.

A narrativa da história está muito bem construída. Apresenta uma trama envolvente e muito bem encadeada. O grupo foi muito criativo ao tratar de um tema científico contemporâneo, chuva ácida, associando-o a questões cotidianas do personagem principal da história e das crianças-leitoras.

A história não apresenta ilustrações que apóiem a narrativa ou os conteúdos científicos que vão surgem e, diferentemente das outras histórias analisadas, se utiliza de imagens não produzidas pelo grupo, mas imagens encontradas na internet, sendo, portanto, apenas decorativas.

Um dos grandes problemas dessa história é a redação, o texto é sofrível. Apesar de apresentar linguagem e vocabulário adequados para crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, o texto tem muitos erros de gramática e pontuação. Também apresenta problemas de acentuação gráfica, por exemplo, na palavra “esta”, sendo correto “está”. Existem frases mal escritas, como é o caso do trecho “(...) assunto que Marcos estava muito preocupado” (p. 2). Há parágrafos demasiadamente longos, que apresentam problemas de pontuação, como por exemplo, o que é apresentado na primeira página.

Marcos, menino levado, curioso e também muito preocupado, com assuntos referentes ao meio ambiente, estava assistindo televisão e vendo uma reportagem que dizia que na cidade em que ele morava,

havia o risco de cair uma chuva ácida. Porém, no meio da reportagem, a sua mãe o chamou (...).

Como mencionado, o texto apresenta problemas de pontuação. Destaco o trecho em que há um diálogo entre Marcos e sua mãe, na página um.

- Marcos vai dormir já esta na hora.

- Mãe espere um pouco, pois fiquei muito curioso sobre a reportagem que está passando, sobre chuva ácida, queria assistir.

O uso da vírgula após “Marcos” é obrigatório, por ser um vocativo. Ao final, o uso da exclamação é recomendável, pois indica ênfase ao que a mãe de Marcos está dizendo. Uma sugestão de redação seria: “Marcos, vá dormir. Já está na hora!”

Já na segunda oração, após “Mãe” há necessidade do uso de uma vírgula, pois também é um vocativo. Após a palavra “passando” não há vírgula, e após o termo “chuva ácida”, o indicado seria um ponto.

O trecho, “Sonhou [Marcos] que o sabão daqueles que sua avó fazia com óleo e soda cáustica, Marcos havia pegado um para tomar banho” (p. 1), não apresenta coerência. Talvez os alunos tivessem a intenção dizer que: “Marcos pegou um sabão para tomar banho. Um daqueles que sua avó fazia com óleo e soda cáustica”.

Essa história, como outras analisadas anteriormente, usa poucas imagens de apoio ao texto, e as apresentadas têm função decorativa. Certamente a leitura feita pela criança se tornaria mais agradável, se existissem mais ilustrações, uma vez que as imagens dão apoio à narrativa e, portanto, à compreensão do leitor.

Os conteúdos científicos apresentados ao longo da história não contêm problemas conceituais. No entanto, cabe apontar, novamente, que os alunos-autores apresentam muitos conceitos de uma só vez. O desenrolar “da parte científica” da história acontece quase que somente em um único e cansativo parágrafo e, assim, termina a explicação do que seja uma chuva ácida. Portanto, em um único parágrafo o grupo trata da origem da chuva ácida e de sua composição. Vejamos o parágrafo novamente, com atenção para os termos que serão, abaixo, escritos em negrito.

Chuva ácida é causada pelo enxofre proveniente das impurezas da queima de combustíveis fósseis e pelo nitrogênio do ar, que combina com o oxigênio para formar dióxido de enxofre e dióxido de nitrogênio. Estes se difundem pela atmosfera e reage com a água para formar ácido sulfúrico e ácido nítrico, que são solúveis na água.

No parágrafo acima há, nada mais nada menos que dezoito termos científicos que necessitariam algum tipo de explicação. Li no livro didático de Ensino Médio, “Química e Sociedade” (SANTOS, 2005), explicação bem mais simples do que a apresentada por esses alunos-autores.

A atmosfera não contém somente nuvens. Ela é composta por uma mistura de gases que contem, principalmente, nitrogênio e Oxigênio. Outro gás comum na atmosfera é o dióxido de carbono (CO2), também

conhecido como gás carbônico. Esse gás, produzido por plantas, animais e diversos fenômenos naturais, se dissolve em água formando o ácido carbônico (...) (p. 458).

Cabe lembrar que o livro didático, que apresenta a explicação acima, destina-se a alunos do Ensino Médio! Talvez os alunos-leitores, após ouvirem a explicação da professora saiam da aula com mais dúvidas do que entraram. Isso não é tão ruim assim,

afinal esses alunos-autores estão aprendendo. E aqui se aprendeu que os conceitos científicos devem ser apresentados lentamente e um a um.

Acredito que se o grupo tivesse desmembrado esse parágrafo, em pequenos trechos, facilitaria o entendimento das crianças e exploração dos conceitos envolvidos, já que o problema da chuva ácida é bastante sério. O grupo poderia, inclusive, ter apelado para as brincadeiras de infância se aproximando desses leitores e contextualizando. Será que nunca gostaram de brincar na chuva? De abrir a boca para beber a chuva? O grupo poderia ter introduzido a explicação de forma mais simples, com ajuda de uma ilustração.

Cabe destacar, que o grupo chama atenção, para diferentes aspectos que envolvem a preservação ambiental e o primeiro deles é inserido ainda na primeira página. Sonhou que o sabão daqueles que sua avó fazia com óleo e soda cáustica (...) (p. 1).

Embora o grupo não deixe explícito, ao mencionar que a avó de Marcos reutiliza o óleo que sobra na cozinha para fazer sabão, com óleo “queimado” e soda cáustica, a passagem se refere à reciclagem de óleos já utilizados.

Na página três, após uma frase bastante dúbia, por não estar bem redigida, o diálogo entre a professora e Marcos serve para chamar atenção do leitor para os problemas ambientais, provocados por chuvas ácidas, que podem cair em locais distantes de onde foram produzidas, tornando-se um problema mesmo para quem mora longe das indústrias.

O texto da página três tem aspectos bem interessantes. Nota-se que, ao mesmo tempo em que denuncia uma forma egoísta de pensar, que em alguns casos acontece por ignorância, explica que é preciso haver uma conscientização sobre a poluição, pois problema é muito maior e, portanto, não tem fronteiras.

Professora, como na minha cidade não há indústrias, problema é de quem polui (sic).

Não, Marcos. O problema é nosso, pois a poluição que as indústrias emitem afeta áreas muito distantes e precisamos conscientizar as pessoas do mal que poluição do ar pode causar.

Ainda na página três, os alunos chamam a atenção para os prejuízos que a poluição pode causar aos seres humanos e, em específico, aqueles provocados pela chuva ácida.

A poluição pode trazer grandes prejuízos para os seres humanos, no caso, se ocorresse uma chuva ácida, poderia acabar com hortaliças, devastar florestas, acabar com objetos que fossem feitos de metais, acabar com animais que vivem na água, etc. (sic).

Em seguida, com uma pergunta, os alunos tentam levar os leitores a pensarem em uma solução para o problema. Ao inserirem a pergunta retórica no texto “Mas, o que podemos fazer para diminuir a poluição do ar?”, convidam os leitores a buscarem soluções para os problemas anteriormente apontados. Posso aqui interpretar que isso demonstra que os futuros pedagogos perceberam a importância de lançar perguntas para a aprendizagem.

Após estimularem os leitores à reflexão, o grupo lista uma série de medidas que podem ser feitas. Há neste momento uma aproximação entre o que o leitor pode fazer de efetivo e a preservação do meio ambiente.

(...) plantar árvores, usar o transporte coletivo e não fazer queimadas. Dessa forma nós estaremos contribuindo para a diminuição da poluição do ar, conseqüentemente a degradações do meio ambiente.

Cabe apontar que ao final da sugestão, os alunos utilizam a palavra degradações, ao invés de preservação. Acredito se confundiram.

6.3.5. Fusos Horários: uma evolução marcada com o tempo – Paulo e Silas