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O processo de produção e escolha do tema do projeto temático

6. Análise e discussão dos dados

6.2. Construção dos projetos temáticos de ciências

6.2.1. O processo de produção e escolha do tema do projeto temático

Foram formados cinco grupos para o desenvolvimento dos projetos e escolhidos os seguintes temas: (1) De onde vem a chuva?; (2) Ar: pertubação do equilíbrio; (3) Fusos horários: uma evolução marcada com o tempo; (4) Dia e noite: propagação da luz;

e (5) Captando luz. A escolha desses temas foi justamente a primeira etapa da produção do projeto.

Os alunos foram divididos em 5 grupos, com em média cinco alunos cada. A escolha do tema foi feita pelos próprios alunos. Após dividir os alunos em grupo, pedi para que discutissem entre si sobre o tema do projeto. No grupo 1, acompanhei o seguinte diálogo:

E aí, vamo falar sobre o que? (Marcos)

Sei lá, que tal sobre reciclagem? É mais fácil (Carla). Não, esse tema é batido, vamos escolher outro (Marcos). Que qui você acha professora? (Marcos)

Acho que vocês deveriam escolher um tema que não conhecem, assim teriam a oportunidade de ver (Professora).

É mesmo, viu? Vamos ver nos livros didáticos o que é que tem (Carla). Assistindo ao esse diálogo relatado, resolvi sugerir que escolhessem um tema, com o qual tivessem pouca familiaridade. Os alunos entreolharam-se como a dizer “como é que vamos sair dessa, agora”. Continuaram conversando até chegar a um consenso sobre que tema escolher.

Percebe-se neste primeiro diálogo que os alunos tendem a escolher temas que sejam mais fáceis, que estão de alguma forma dentro de sua “zona de conforto” e reconhecem isso. A fala de Carla denota uma insegurança de onde buscar inspiração para a escolha do tema. Sendo assim, recorre ao livro didático como fonte de consulta. É importante destacar que o procedimento da aluna, já demonstra uma tendência em se apoiar no livro didático.

No segundo grupo, os alunos resolveram sortear diversos temas. Resolvi intervir e perguntei:

E aí, como estamos? (Professora) As alunas do grupo riram e Eloísa respondeu:

Estamos escolhendo de uma forma “democrática”. Já discutimos e não deu certo (Eloísa).

E quais são as opções? (Professora)

É mesmo? Vocês já pensaram o que podem falar sobre eles? (Professora)

Não! Agente não escolheu o tema ainda (resposta em coro). Então vamos lá. É sorteio, né? Quem vai sortear (professora) Eu sorteio (Vanessa).

Vanessa tira um papel. Olha e faz uma cara de que não gostou.

Ah não. Fotossíntese é muito difícil. Como é que vamos explicar isso pra criança?

Eloísa intervém concordando.

É mesmo, então vamos tirar outro (Eloísa).

Ué, cadê a democracia? Assim não vale (Professora). Ah não, professora, esse é muito difícil! (Vanessa) Ué, então porque puseram ele aí? (Professora)

Então diz aí, professora, o que a senhora acha? (risos) (Rebeca).

Escolham um tema que vocês gostam que represente um desafio. Aí vocês poderão aprender (Professora).

Então vamos falar de energia solar. Sempre quis saber como é que funciona (Eloísa).

De forma geral, essas aulas mostraram que a escolha do tema para o projeto é sempre difícil e os alunos pedem que se intervenha e querem sugestões, mesmo que não as aceitem. Percebe-se implícita, a passividade a que esses alunos estão acostumados. Como observado em diversas oportunidades, reclamam por não serem chamados a fazer suas próprias escolhas, mas quando o são, delegam a outros a decisão. É interessante observar a forma como tentaram escolher o tema. Embora tenham optado pelo sorteio, esses alunos, no fundo, não o aceitavam, a cada sorteio alguém acabava sempre retrucando para defender a sua escolha pessoal.

Havia também alunos apáticos. Aqueles que se via folheando livros, revistas e projetos, com a esperança que de lá saltasse o tema que deveriam escolher. Perguntei como estavam, ao que me responderam não saber o que escolher. Perguntei sobre o que gostariam de aprender. Responderam que não sabiam. Sugeri que discutissem, mas que seria interessante que procurassem um tema desconhecido, que fosse instigante.

Não necessariamente. Se for um tema que vocês gostem, será legal fazer a pesquisa. Pensem bem, deve ter aí alguma coisa que vocês têm curiosidade de saber (Professora).

Quando me aproximei de outro grupo, o tema já havia sido escolhido: “Ar: perturbação do equilíbrio”. Perguntei sobre o critério de escolha. Responderam-me que desejavam trabalhar com um tema relacionado ao meio ambiente e, portanto, tratariam da poluição do ar. Comentei que tinham se decido muito rápido e uma delas justificou.

Eu já tinha estudado com a Luana em outra disciplina. A Camila e a Regina já tinham em mente um tema. Aí aceitamos a sugestão (Marisa). Isso mostra que a escolha foi feita por pura conveniência, afinal já tinham estudado o assunto. Tive, portanto, a impressão de que tinham escolhido o tema porque seria mais fácil.

Voltei ao primeiro grupo e perguntei se tinham escolhido o tema. Responderam que sim. E que seria sobre Fusos Horários. Perguntei ao grupo o porquê da escolha. Marcos disse que sonhava em ser piloto de avião. Que ficou pensando em montar uma história em que o piloto viajaria e teria que “fazer as contas dos fusos horários”. A partir daí, introduziria para as crianças os conceitos que envolvem o tema. Incentivei a idéia, disse para irem pensando na importância do assunto para o aprendizado das crianças e, assim, elaborar a justificativa do trabalho.

No segundo grupo, a escolha também estava feita. Falariam sobre energia solar e intitularam o projeto de “Captando Luz”. Perguntei o porquê da escolha. Vanessa disse que, de alguma forma, poderiam abordar questões ligadas à ecologia. Disse que a escolha era boa e que, então, começassem a montar da justificativa do projeto.

No terceiro grupo, com membros muito apáticos, os alunos escolheram o tema água por ser mais fácil. Disse ao grupo que o tema estava muito amplo e que deveriam delimitá-lo. Expliquei mais uma vez que o projeto visava auxiliá-los quanto ao entendimento do que é Ensino de Ciência e compreensão de Ciências. Disse também que o projeto subsidiaria a escrita das histórias infantis científicas e que não teriam outra oportunidade para tratar sobre esses temas em outra disciplina. Deixei-os para que restringissem o tema.

No quarto grupo, os alunos tinham escolhido o tema: “Dia e noite: propagação da luz”. Um dos alunos, Leonardo, estava inconformado, pois queria um tema que tivesse relação com cultura popular. Ele dizia que com esse tema poderia falar sobre mitos de “criaturas que aparecem à noite” e a partir daí montar a história infantil. Falei que não

haveria problemas, desde que relacionasse essas criaturas a concepções do senso comum e as confrontasse com concepções científicas. Dei como exemplo, que antes de Copérnico descobrir que a terra era redonda, os navegadores só iam até determinado trecho do oceano, pois acreditavam que se transpusessem os limites estabelecidos cairiam em um abismo, com monstros, pois acreditavam que a terra era plana. Certamente que para aquela época, havia todo um contexto cultural que justificava tal explicação. Caso tivessem escolhido esse tema, poderiam, por exemplo, falar dos avanços científicos que ocorrem depois de Copérnico, que conseqüências trouxeram para a humanidade, quais eram as concepções das pessoas naquela época, seu mitos etc. Leonardo concordou e me pareceu mais resignado com a decisão do grupo. Pedi para que começassem a trabalhar na justificativa do projeto.

Voltei ao terceiro grupo, o do tema água. Os alunos tinham chegado a um consenso e delimitaram o tema: “De onde vem a chuva?” Falei que a delimitação estava boa e que começassem a pensar na justificativa.