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Concepções sobre Ciência, status da Ciência e Método Científico

6. Análise e discussão dos dados

6.1. Expectativas e concepções prévias dos alunos

6.1.6. Concepções sobre Ciência, status da Ciência e Método Científico

A partir de um segundo questionário (QB – Apêndice D), busquei fazer o levantamento das concepções prévias dos alunos sobre ciência, História e Filosofia da Ciência (HFC). Iniciei o questionário perguntando aos alunos se havia diferença entre ensinar e aprender Ciências e Língua Materna. A opinião entre eles se dividiu. Seis alunos afirmaram não haver diferença e os nove restantes disseram haver. Dentre os que disseram que não há diferença, ressalto algumas respostas.

Não poderíamos dizer “diferença” mas “semelhanças” entre as abordagens da ciência e da Língua Materna. As ciências dependem diretamente da Língua Materna e vice-versa (QB 1).

Acho que as duas aprendemos no dia-a-dia (QB 3).

É interessante notar que esses alunos interligam o ensino de Ciências e o ensino de Língua Materna, ao apontarem que ambos podem ser aprendidos no dia-a-dia. Mais que isso, eles não criam uma cisão entre Língua Materna e Ciências, relatando que são complementares.

Dos alunos que responderam que há diferenças, destaco as seguintes respostas: Talvez “diferença” não seria a palavra adequada, mas sim há um complemento de ensino-aprendizagem destas disciplinas. Aliás, a Língua

Materna é uma ciência e aprendendo esta, fica mais fácil decifrar os códigos sociais, geralmente representados na nossa língua (QB 4). Penso que ensinar qualquer assunto que seja deve-se seguir uma mesma linha de ensino. Porém em ciências, como uma matéria mais presente em nosso dia-a-dia, pode-se utilizar-se deste artifício para deixar o aprendizado mais interessante (QB 9).

Sim, pois possuímos um contato direto com a Língua Materna desde o nascimento, já com a ciência propriamente dita, só teremos contato na escola (no período escolar) (QB 11).

Sim, porque na disciplina de Língua Materna existe uma verdade absoluta o que não acontece com a Ciência e seus estudos (QB 12). O aluno 4 enquadra a Língua Materna como uma disciplina, logo depois como uma ciência, deixando claro que não entende bem o que seja ciência. Já aluno 9 começa dizendo que para qualquer assunto deve-se seguir uma mesma linha de ensino. Porém, volta atrás, conferindo ao Ensino de Ciências certo status ao afirmar que está mais presente em nosso dia-a-dia que a Língua Materna. Já aluno 11 tem uma opinião contrária ao do seu colega, ao dizer que todos têm contato com a Língua Materna desde o nascimento e que com a ciência somente no período escolar.

Destaco a citação do aluno 12 que não entende a ciência como apresentando “verdade absoluta”. Isso é de se estranhar, pois a literatura mostra que esse não é o tipo de conceito apresentado por alunos de pedagogia, que em geral defendem que a ciência é um aglomerado de fatos e verdades absolutas (ZIMMERMANN e EVANGELISTA, 2004). Talvez, mais estranho ainda seja que ele acredite que em Língua Materna há verdades absolutas. Há que se interpretar aqui, portanto, que este aluno deve ter se confundido.

Por outro lado, as respostas a esse questionário ainda mostraram que há alunos que tem visões mais realistas das duas disciplinas, entendendo que existem diferenças entre elas e que por isso, em alguns momentos, será preciso adotar posturas diferentes quanto ao seu ensino e aprendizagem.

Sim, existe diferença, a partir do princípio que são duas disciplinas distintas, que precisam de diferentes experiências e métodos. O que se pode levar em consideração é que enquanto ensina ciência está se fazendo uso da Língua Materna (QB 14).

É interessante notar o status que os alunos dão para a experimentação na ciência. Quando perguntados sobre o método científico e sobre sua caracterização, a maioria afirmou que o método científico, que muitos lembram ter aprendido na escola, é baseado na experimentação.

Sim, primeiro há a observação, o questionamento, as deduções e o teste, este deve ter os materiais que não serão modificados e os que serão (iguais) para que se faça a análise. Depois é feita a comprovação do que foi deduzido ou a experiência é refeita (QB 13).

O método científico, de uma maneira geral, foi caracterizado como um modelo de etapas rígidas a seguir, mas reconhecido, por alguns, como “positivista e sem criticidade”.

Método científico que aprendi na escola foi aquela de observar, anotar e pesquisar. O conhecimento pela observação e pesquisa. Bem positivista (e chato, sem criticidade também) (QB 4).

Os alunos que não souberam responder a questão e tinham dúvidas, arriscaram dizendo que de alguma forma o método científico envolvia experimentação.

No questionário há uma lista de disciplinas e é pedido que os alunos assinalassem as que consideravam científicas. A seguir é pedido que os alunos expliquem o critério adotado para classificar uma disciplina como científica ou não. É curioso notar que maioria dos alunos assinalam todas as disciplinas como científicas, incluindo-se astrologia, tecnologia e teologia. Afirmam que acreditam que todas elas são científicas, pelos mais diversos motivos.

Eu escolhi todas, pois eu não tenho o olhar positivista sobre ciência. (QB 4)

Na citação a seguir pode ser visto que o aluno dá à experimentação um grande status. No entanto, lembra-se da existência das ciências humanas e acaba percebendo a possibilidade de não existir experimentação nessa última.

Todas as opções descritas na questão 4 são disciplinas científicas pois possuem suas abordagens a fundamentação teórica e a experimentação. Há porém que citar que existem ciências humanas e exatas (QB 1).

A literatura nos mostra que até bem pouco era usual a idéia de que as teorias científicas são provadas (CHALMERS, 1999). No entanto, os filósofos contemporâneos da ciência já abandonaram essa idéia, mas que ainda persiste em alguns contextos como o da escola básica (MEDEIROS e BEZERRA FILHO, 2000). Esse tipo de idéia também foi encontrada entre esses alunos da pedagogia

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Acredito que todas têm teorias, e teorias que são comprovadas por seus teóricos (QB 3).

Curiosamente, um dos alunos que assinalou todas as alternativas, em sua justificativa, faz diferenciação entre as que são disciplinas científicas e as que não.

Eu escolhi baseada na idéia da experimentação e pesquisa. As que são possíveis de se fazer isso são científicas e as outras não (QB 12). Para alguns toda e qualquer disciplina é científica, ou seja, esses acabam apresentando um rasgo relativista, em que qualquer conhecimento pode ser considerado científico desde que contribua para a humanidade. Cabe aqui ressaltar que isso significa apenas um “lampejo” relativista, pois a literatura mostra que há incoerências nas visões de ciências de muitos (ZIMMERMANN, 2000). Em outras palavras, uma pessoa pode ser vista como relativista quando afirma que todo conhecimento é científico e, ao mesmo tempo, é indutivista por acreditar que o conhecimento científico é induzido da observação. Parece bastante correto interpretar que esse seja o caso de muitos dos alunos dessa turma de pedagogia, como se pode ver nas citações abaixo.

Todas são científicas, tudo baseia-se na ciência, ciência é conhecimento (QB 5).

Todas são científicas, meu critério é que todas elas contribuíram em algo para a sociedade (QB 8).

Essas respostas demonstram certa inconsistência em relação ao que os alunos entendem por ciência. Apesar de terem uma visão da natureza da ciência marcada fortemente por uma tradição indutivista, sobretudo quando se referem aos métodos científicos para a realização de uma pesquisa, acabam adotando uma postura oposta ao assinalarem todas as disciplinas.

Vale mencionar que a Biologia foi uma das únicas disciplinas assinalada por todos os alunos como científica, enquanto que Filosofia foi a menos assinalada, seguida pela Teologia por último veio a Astrologia.