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Depois dos principais problemas identificados e da análise de utilização de um equipamento multibanco, foi desenhado o instrumento.

2.6.1. C ARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Neste estudo foram entrevistados 74 indivíduos com deficiência visual com idades compreendidas entre os 21 e os 63 anos, sendo a média de idades cerca de 41

anos; cerca de 60% eram pessoas cegas e as restantes com baixa visão (Tabela 5 e Figura 3).

Tabela 5 – Divisão da amostra pelo grau de deficiência visual e pelo género (N=74).

Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre a idade média dos participantes e o grau de deficiência visual: no momento da entrevista os participantes cegos tinham a idade média aproximada de 45 anos, sendo a dos participantes com baixa visão mais novos, com um valor médio de cerca de 36 anos (significância encontrada com o teste de Mann-Whitney: U= 355, Z=– 3.361 e p=.001).

Figura 3 – Histograma de idades

A profissão dos participantes do estudo foi organizada em 16 categorias (ver Tabela 6), destacando-se a dos telefonistas, que representam cerca de 22% dos profissionais em actividade (sendo a grande maioria, 93.75%, cegos). A segunda maior categoria foi a do professor representado cerca de 15% da amostra.

N=74 % Grau de deficiência visual Baixa Visão 30 40.5%

Cego 44 59.5% Género Mulher 30 40.5% Homem 44 59.5%

Nesta classificação foram adicionadas 3 categorias relativas ao tipo de actividade, que apesar de não serem profissões, estão relacionadas com este tema: estudante, reformado e desempregado.

Tabela 6 – Profissão ou tipo de actividade, por grau de deficiência visual e género dos participantes (N=74)

Com o objectivo de clarificar a adequação da situação laboral com o nível académico dos indivíduos foi criada, a posteriori, uma categoria que inclui a classificação de cada membro da amostra com base na comparação entre a profissão dos participantes e as suas habilitações académicas (consultar Tabela 7).

Tabela 7 – Nível de adequação da profissão às habilitações literárias, por grau de deficiência visual actual e género dos participantes (N=74)

Pode-se afirmar que a grande maioria (77%) dos entrevistados está colocado ou abaixo das suas habilitações ou nem está empregado. Ou seja cerca de 18% dos participantes tinha um emprego compatível com as suas habilitações literárias. Apenas 5.5% tinha como ocupação principal o estudo e verificou-se que a taxa de 16.44% de desemprego dos participantes foi muito superior aos valores

Baixa visão Cego

Total

% total das respostas Mulher Homem Mulher Homem

Telefonista 1 0 3 12 16 21,9% Professor 2 2 4 3 11 15,1% Administração pública 2 1 1 1 5 6,9%

Músico 0 1 0 2 3 4,1%

Animador de rádio 0 1 1 1 3 4,1% Auxiliar de acção educativa 2 0 1 0 3 4,1% Empregado fabril 1 2 0 0 3 4,1%

Psicólogo 1 0 0 1 2 2,7%

Cauteleiro 0 0 0 1 1 1,4%

Ajudante de cozinha 1 0 0 0 1 1,4% Ajudante lavandaria 1 0 0 0 1 1,4% Auxiliar de acção médica 1 0 0 0 1 1,4%

Engenheiro 0 0 0 1 1 1,4% Gestor 0 1 0 0 1 1,4% Massagista 0 0 0 1 1 1,4% Médico 0 1 0 0 1 1,4% Estudante 1 2 1 0 4 5,5% Desempregado 3 2 2 5 12 16,4% Aposentado 0 1 0 2 3 4,1% Não responde 0 0 1 0 1 -

Baixa Visão Cego

Total % Mulher Homem Mulher Homem

Emprego adequado às habilitações literárias 5 1 0 7 13 17,8% Emprego abaixo das habilitações literárias 7 9 10 18 44 60,3% Desempregado 3 2 2 5 12 16,4% Estudante 1 2 1 0 4 5,5%

encontrados na taxa de desemprego em Portugal em igual período que foi de 7.6% em 2005 (INE, 2010). É interessante verificar que fazendo a associação com as habilitações académicas nenhum dos desempregados frequentou ou concluiu um curso de nível universitário.

Partindo das profissões foi criada igualmente outra divisão com o objectivo de compreender melhor a influência destas na utilização de equipamentos como os terminais multibanco. Esta divisão foi realizada com base nos grandes grupos profissionais da “Classificação Nacional das Profissões” organizados por níveis de exigência de formação académica. Como nem todos os grupos estavam representados nesta amostra do Estudo 1 foram apenas criadas três categorias profissionais, tal como se pode observar na Tabela 8.

Tabela 8 – Categoria profissional, por grau de deficiência visual actual e género dos participantes que trabalham ou deveriam estar a trabalhar (N=66)

Neste estudo a maioria dos participantes ou está desempregada, ou é trabalhador não qualificado, operário ou pessoal administrativo, não chegando a um terço os profissionais especialistas (ou seja aqueles postos de trabalho que implicam uma formação académica de nível superior).

Nesta amostra pouco mais de um quarto tinha o ensino básico obrigatório (consoante a idade dos participantes o número de anos de escolaridade obrigatória variava entre 4, 6 e 9) e cerca de 34% passou no Ensino Superior (Tabela 9).

Tabela 9 – Maior nível de escolaridade alcançado pelos participantes por grau de deficiência visual e género (N=74)

Baixa Visão Cego

Total % Mulher Homem Mulher Homem

Desempregados 3 2 2 5 12 18.2% Trabalhadores não qualificados 6 0 4 13 23 34.8% Operários ou Pessoal administrativo 3 4 2 3 12 18.2% Especialistas 3 5 4 7 19 28.8%

Baixa visão Cego

Mulher Homem Mulher Homem Total %

4º ano 2 0 2 1 5 6.8%

6º ano 0 2 0 6 8 10.8%

9º ano 4 1 0 3 8 10.8%

12º ano 7 4 5 12 28 37.8% Frequência Ensino Superior 0 2 0 3 5 6.8%

Licenciatura 3 4 6 5 18 24.3%

Cruzando as variáveis categoria profissional e nível de escolaridade foi encontrada uma forte correlação entre as profissões mais especializadas e os níveis superiores de educação (com aplicação do coeficiente de correlação de Spearman com um valor de .798 e um p de .000 em 66 elementos da amostra).Quanto aos meios de leitura e escrita foram dadas quatro opções de escolha e de uma forma geral os participante afirma recorrer a diferentes meios de comunicação em simultâneo, tal como pode ser visto na Tabela 10, sendo os meios informáticos referido por quase todos, seguido dos meios áudio e do braille, sendo a utilização dos meios de ampliação restrita às pessoas com baixa visão.

Tabela 10 – Meios de leitura e escrita por grau de deficiência visual e género e total percentual de cada meio em função do número de elementos da amostra (N=74)

Em relação aos meios de leitura e escrita 67,6% dos entrevistados afirmaram usar no seu dia-a-dia utilizar mais do que um meio, sendo as combinações mais frequentes (Tabela 11): 43.2% usavam os meios informáticos, o braille e o áudio; 31.1% os meios informáticos e as ampliações; 18.8% só áudio e 6.8% os meios informáticos, o áudio e as ampliações. Ou seja, 38 % usam 3 meios de leitura e escrita, 32.4% apenas usam um meio e 29.6% usam 2 meios diferentes e nenhum dos participantes usa uma combinação de todos os meios. É de realçar que 3 pessoas não seleccionaram nenhuma dos meios, nem acrescentaram outros (muito provavelmente devido ao facto dos seus problemas visuais lhes permitirem realizar a leitura sem recorrer a outros meios, como por exemplo ter visão tubular).

Tabela 11 – Utilização pelos participantes de diferentes combinações de meios de leitura e escrita no seu dia-a-dia (N=74)

Quando à frequência com que os participantes do Estudo 1 mencionam fazer regularmente actividades ligadas quer a leitura e escrita ou ao nível de

Baixa Visão Cego

Total % do N

Mulher Homem Mulher Homem

Braille 1 1 13 22 37 50.0% Meios Áudio 4 4 12 21 41 55.4% Ampliações 13 6 0 0 19 25.7% Meios informáticos 9 11 12 17 49 66.2%

Baixa Visão Cego

Total % do N

Mulher Homem Mulher Homem

Utilização de 0 meios 1 0 0 2 3 4.1% Utilização apenas de 1 meio 7 7 1 8 23 31.1%

Utilização de 2 meios 5 6 2 8 21 28.4% Utilização de 3 meios 3 1 11 12 27 36.5% Utilização de todos os meios 0 0 0 0 0 0.0%

independência a grande maioria refere que habitualmente vê televisão e quase metade realiza actividades domésticas. Ler e navegar na Internet já são actividades que nem todos os participantes realiza regularmente.

Para realizarem actividades fora de casa metade utiliza transportes públicos regularmente para se deslocar, todavia para irem às compras a grande maioria só com companhia. Por último, a maioria têm uma vida do tipo sedentária não realizando regularmente actividades físicas e/ou desportivas (Tabela 12).

Tabela 12 – Frequência de realização de actividades quotidianas por grau de deficiência visual e género e total percentual de cada meio em função do número de elementos da amostra (N=74)

Em relação à utilização dos terminais multibanco, cerca de 60% dos entrevistados são utilizadores, e os restantes 40% nunca tentaram usar ou acabaram por desistir de usar este serviço (ver Tabela 13).

Tabela 13 – Frequência de utilização do multibanco por grau de deficiência visual e género e total percentual de cada meio em função do número de elementos da amostra (N=74)

Em seguida serão apresentadas as diferentes relações existentes entre estas características e o sentido de respostas dos participantes em relação às dificuldades encontradas na utilização de terminais multibanco.

Baixa visão Cego

Mulher Homem Mulher Homem Total % do N

Ver televisão sim 15 13 10 26 64 86.5% às vezes 0 0 2 3 5 6.8% Realizar actividades domésticas sim 15 6 9 6 36 48.6% às vezes 0 4 4 6 14 18.9% Ler sim 9 6 5 10 30 40.5% às vezes 5 1 7 9 22 29.7% Navegar na Internet sim 3 8 5 10 26 35.1% às vezes 3 1 3 0 7 9.5% Andar de transportes

públicos

sim 8 7 8 14 37 50.0% às vezes 3 0 2 5 10 13.5% Ir às compras sozinho sim 9 2 4 6 21 28.4% às vezes 2 5 5 14 26 35.1% Realizar actividades físicas sim 1 6 2 4 13 17.6% às vezes 1 1 4 4 10 13.5%

Baixa visão Cego

Mulher Homem Mulher Homem Total % do N

Nunca usou multibanco 6 0 3 10 19 25.7% Experimentou, mas desistiu 4 2 2 2 10 13.5% Usa o multibanco regularmente 6 12 9 18 45 60.8%