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Depois dos principais problemas identificados e da análise de utilização de um equipamento multibanco, foi desenhado o instrumento.

2.6.2. A PRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS CADA HIPÓTESE EM ESTUDO

2.6.2.1. Categoria 1 – “Perfis dos utilizadores”

Para compreender melhor quais são os problemas de acesso a equipamentos com interfaces visuais é importante perceber que características têm as pessoas com

deficiência visual e que conseguem usar este tipo de dispositivos. Neste sentido, a primeira hipótese deste estudo relaciona-se com a identificação das características individuais dos participantes com deficiência visual que usam os terminais multibanco:

- Será que os indicadores de caracterização dos participantes com deficiência visual no estudo influenciam o ser utilizador dos serviços disponíveis nos terminais multibanco?

Esta categoria é constituída por 16 questões sobre características pessoais dos participantes, incluindo as de identificação (idade, género, escolaridade, profissão e grau de deficiência visual), os meios preferenciais de leitura e escrita (braille, meios áudio, ampliações e meios informáticos) e a realização de actividade do quotidiano (ir trabalhar, andar de táxi, andar de transportes públicos, ir às compras sozinho, realizar actividades físicas, ler jornais/livros/revistas e navegar na Internet).

Tal como se pode observar na Tabela 14, foram identificados 7 factores que parecem estar relacionados com o uso dos terminais multibanco, nomeadamente:

- o nível de escolaridade - os utilizadores dos multibanco parecem em média ter mais formação académica dos não utilizadores (U=344.5, Z=-3.509 e p=.000); por exemplo, entre os participantes que usam os terminais cerca de 42.7% passaram no ensino universitário, enquanto apenas 13.8% dos não utilizadores chegaram a este nível de ensino;

- a categoria profissional – as pessoas com deficiência visual que têm uma categoria profissional mais diferenciada tendem a ter um rácio superior de utilização do multibanco (U=282.5, Z=-3.246 e p=.001); designadamente as pessoas em cargos de especialistas têm um rácio de 4 utilizadores de multibanco para 1 não utilizador, enquanto no extremo oposto os desempregados têm um rácio de 1:5;

- a adequação da profissão com as habilitações literárias – quem conseguiu emcontrar um emprego mais adequado à sua formação académica também tem mais tendência a interagir com os terminais multibanco (Qui-Quadrado com aplicação com aplicação do teste de Fisher‟s com p=.000);

- os meios informáticos para ler e escrever – os utilizadores de meios informáticos tendem ser utilizadores mais frequentes dos terminais multibanco (Qui-Quadrado com aplicação com aplicação da correcção de continuidade de Yates: 5.606, p=.018);

- ir trabalhar fora de casa - a obrigação de sair de casa para ir trabalhar e a utilização do multibanco estão muito interligados; apenas duas pessoas que precisam de sair diariamente de casa não usavam os terminais (Qui-Quadrado com aplicação com aplicação da correcção de continuidade de Yates: 13.368, p=.000);

- ir às compras sozinho – as pessoas que vão às compras têm uma maior tendência em usar os terminais multibanco ou pelo menos o serviço multibanco nas lojas (Qui-Quadrado com aplicação com aplicação da correcção de continuidade de Yates: 5.921, p=.015);

- navegar na Internet – a última actividade onde foram identificadas relações com a utilização dos terminais multibanco foi o ser utilizador da Internet, o que já seria de esperar pela componente visual e tecnológica comuns a ambas as actividades (Qui-Quadrado com aplicação com aplicação da correcção de continuidade de Yates: 16.319, p=.000).

Tabela 14 - Identificação de relações entre as características dos participantes e serem utilizadores de terminais multibanco (N=74)

O resumo quanto à hipótese “Será que os indicadores de caracterização dos participantes com deficiência visual no estudo influenciam o ser utilizador dos serviços disponíveis nos terminais multibanco?” pode-se ler Tabela 15.

Da análise dos resultados desta tabela, pode-se verificar que a hipótese das diferenças das médias de idades entre grupos, bem como as hipóteses de não existirem diferenças entre as distribuições dos grupos de comparação para o género, o grau de deficiência visual, usar o braille, ou os meios áudio ou as ampliações, andar de transportes públicos, ler ou realizar actividades físicas foram rejeitadas.

Pelo contrário, não foram rejeitadas as hipóteses das diferenças das distribuições entre grupos quanto à escolaridade, à categoria profissional e a sua adequação com

Teste Mann-Whitney (U) Teste Qui-Quadrado:

Correcção de continuidade de Yates (CC) ou Teste de Fisher‟s (Fisher‟s)

Escolaridade U = 344.500 Z = -3.509 p = .000 Categoria profissional U = 282.500 Z = -3.246 p = .001 Adequação da profissão com as habilitações académicas Fisher‟s p = .008 Meios informáticos CC = 5.606 p = .018 Ir trabalhar fora de casa CC = 13.368 p = .000 Ir às compras sozinho CC = 5.921 p = .015 Navegar na Internet CC = 16.319 p = .000

as habilitações literárias, à utilização de meios informáticos para ler e escrever, ir trabalhar fora de casa, ir às compras sozinho e navegar na Internet.

Tabela 15 - Síntese dos itens de caracterização que foram rejeitados e não rejeitados da hipótese: “Será que os indicadores de caracterização dos participantes com deficiência visual no estudo influenciam o ser

utilizador dos serviços disponíveis nos terminais multibanco?”

Finalmente para identificar possíveis associações entre as características individuais e a probabilidade dos entrevistados poderem usar terminais multibanco foi realizada uma análise unifactorial aplicando modelo de regressão logística pelo método Enter (Tabela 16) e depois realizada uma análise multifactorial, sendo os modelos ajustados pelo método Forward: Conditional (Maroco, 2007).

Tabela 16 – Identificação das possíveis variáveis com poder preditor de utilização de terminais multibanco através da análise unifactorial da regressão logística pelo método Enter (p<.200)

Apenas foi identificado um modelo que, depois de ajustado, tem um poder de descriminação excepcional de acordo com teste de Homer e Lemeshow ao ter obtido no segundo passo um valor de igual a 2.941 com uma significância de .938 e 8 graus de liberdade. Das dez variáveis apenas quatro fizeram parte do modelo: a variável idade ( =2.159; =8.041; p=.005; OR=8.661;

Rejeitada Não rejeitada Idade

Escolaridade Género Grau de deficiência visual Categoria profissional Adequação da profissão com as habilitações académicas Braille Meios áudio Ampliações Meios informáticos Ir trabalhar fora de casa Andar de transportes públicos Ir às compras sozinho Realizar actividades físicas Ler jornais/livros/revistas Navegar na Internet

Covariáveis p-value Exp(B) Intervalo Confiança a 95% Idade .020 3.281 ]1.202;8.959[ Ter passado no ensino Superior .006 5.469 ]1.636;18.286[

Género .118 2.143 ].823;5.576[ Adequação da profissão com as habilitações .008 1.823 ]1.603;23.879[

Braille .034 2.850 ]1.080;7.522[ Meios informáticos .010 3.750 ]1.363;10.318[ Andar de transportes públicos .031 2.946 ]1.102;7.877[

IC=]1.948;38.511[), ter passado no Ensino Superior com ou sem sucesso ( =2.140; =7.692; p=.006; OR=8.500; IC=]1.873;38.572[), usar braille como meio de leitura e escrita ( =1.869; =6.395; p=.011; OR=6.485; IC=]1.523;27.616[) e ler regularmente ( = 1.772; = 6.609; p=.010; OR = 5.881; IC=]1.523; 22.706[) apresentaram um efeito estatístico significativo sobre a probabilidade logística de se poder estar na presença de um utilizador de terminal multibanco sendo uma pessoa cega. Existe portanto uma probabilidade oito vezes superior de uma pessoa mais nova vir a usar terminais multibanco, sete vezes superior se essa pessoa tiver passado no Ensino Superior, seis vezes se usar o braille ou for um leitor frequente.

Em síntese, existem características das pessoas com deficiência visual que parecem sugerir a sua predisposição para usar terminais multibanco que são: idade, nível académico, categoria profissional, adequação do emprego às suas habilitações, ser utilizador de braille e ler regularmente.