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Depois dos principais problemas identificados e da análise de utilização de um equipamento multibanco, foi desenhado o instrumento.

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5. E STUDO 4 “B ARREIRAS E FACILITADORES NA PERSPECTIVA DOS ALUNOS UNIVERSITÁRIOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL ”

5.1.3. I DENTIFICAÇÃO DE TIPOS DE SERVIÇOS DE APOIO NO E NSINO

S

UPERIOR

Num artigo do início dos anos 2000 no Reino Unido é mencionada a importância de apoiar os estudantes nos custos financeiros adicionais pelas necessidades acrescidas no seu percurso académico (Holloway, 2001). Um dos estudantes participante no estudo afirma a sua revolta pela necessidade de os alunos com

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Royal National Institute for the Blind - organização inglesa sem fins lucrativos de apoio a pessoas com problemas de visão

deficiência visual necessitarem de despender mais dinheiro para poderem aceder ao mesmo nível de educação que os seus pares, em particular as tecnologias de apoio e à bibliografia de extensão às unidades curriculares em formatos acessíveis.

Holloway (2001) refere que, por outro lado, os alunos mencionam a sua dependência ou dos serviços de apoio das universidades ou de agências externas (associações de e para pessoas com deficiência) para questões como: financiamento, equipamento, postos de trabalho adaptados nas bibliotecas, adaptações à avaliação, acessibilidade, tutoria. Para além destas questões, outros estudos apontam para a importância da sinalética, o aumento da acessibilidade dos sites, e na aposta da sensibilização do corpo docente (Athanasios et al., 2009). Em 2004, um estudo similar realizado na Irlanda, menciona a importância dos financiamentos e equipamentos estarem disponíveis no inicio do ano lectivo e não apenas mais tarde, bem como em determinados casos a necessidade de ter ajudantes pessoais para permitir lidar com o volume de trabalho exigido neste nível de ensino (Shevlin et al., 2004). Mencionam, igualmente, que os estudantes dependem em grande parte da sua rede social para conseguirem suprimir os obstáculos que se colocam ao seu sucesso académico.

Opinião similar foi identificada em estudantes brasileiros que mencionaram muitas vezes existir um fosso temporal entre a necessidade dos materiais em formato acessíveis e sua entrega ao estudante (Mazzoni et al., 2004). Por outro lado, referem a falta de postos de trabalho acessíveis onde possam trabalhar na faculdade ou da possibilidade da lei brasileira financiar pessoas que façam as leituras que necessitam para aceder à informação em igualdade de oportunidades. No Canadá, uma equipa de investigadores refere igualmente o empréstimo de tecnologias informáticas aos alunos com deficiências como forma de aumentar a igualdade de oportunidades entre estudantes (Asuncion et al., 2004).

Num outro estudo brasileiro, envolvendo docentes foi referida a importância de orientação pedagógica para todos os elementos pertencentes à universidade sobre como lidar com os estudantes com deficiência visual (Delpino e Masini, 2004). Acrescentam também o ponto de vista dos alunos que mencionaram a importância de colegas e professores que os ajudaram no seu percurso académico, contudo o oposto também acontece quando outros professores e colegas não acreditam nas capacidades e direitos destes estudantes.

Evranidis e Skidmore (2004) realizaram uma abordagem mais socioeducativa dos apoios e procuram identificar diferenças na utilização dos apoios por estudantes com e sem necessidades educativas especiais e dividiram-nos em quatro grandes grupos: os serviços de apoio das universidades (e.g. computadores e apoio informático, bibliografia, locais de estudo individual e em grupo, acessibilidade física, …), o serviço de tutoria (e.g. designação de um tutor, orientação em tarefas académicas, apoio em questões pessoais, …), o apoio a aulas (e.g. materiais de apoio à leccionação em formato acessível, alternativas no processo de avaliação, apoio extra-aulas, …) e a qualidade do apoio emocional que os estudantes percepcionaram.

A importância dos serviços de transição entre o ensino secundário e a universidade foi mencionada por alguns estudantes na escolha dos cursos e instituições num estudo levado a cabo por Goode (2007), bem como a discussão sobre a decisão de informar antecipadamente os serviços de apoio da presença dos estudantes com necessidades educativas especiais.

Por outro lado, num estudo sobre a importância da existência de um serviço de apoio à transição do estudante com deficiência visual para o mercado de trabalho, revelaram a preparação para procurar oportunidades de emprego, treinando competências laborais identificadas como possíveis mais-valias, ou seja preparando um plano individualizado que o prepare para o mercado competitivo (Hutto e Thompson, 1995; McDonnall e Crudden, 2009).

Em Israel foi identificado como factor importante para os estudantes com deficiência visual do estudo terem o apoio de um tutor, em particular no caso dos estudantes das áreas mais ligadas à ciência, pela sua forte componente visual (Kowalsky e Fresko, 2002). Estes tutores ajudavam os estudantes na obtenção e leitura dos materiais de apoio bibliográficos das diferentes unidades curriculares, esclarecendo dúvidas sobre as exposições mais visuais das matérias, contudo a sua importância relativa acaba por estar dependente da interacção que se estabelece entre cada díade tutor-aluno.

Shaw, Mandaus e Banerjee (2009) salientam a importância de melhorar o acesso dos estudantes a níveis de educação superiores, uma vez que os níveis de empregabilidade e de rendimento dos estudantes com deficiência se aproximam, em média, dos valores alcançados pelos seus pares. Para tal, salientam a importância da disponibilidade de informação, desenvolvimento de capacidades de

independência do estudante e contactar com as instituições de ensino que pretende vir a frequentar com antecedência.

Já os norte-americanos consideram como principais estratégias para o sucesso dos estudantes com deficiência que frequentem o ensino superior a disponibilização de auxílio aos candidatos, a existência de sistemas de mentores, melhorar a comunicação entre os diferentes serviços que podem apoiar os estudantes no seu percurso académico, e apostar na formação sobre a legislação norte-americana sobre as pessoas com deficiência (ADA) a todas as pessoas que pertencem à comunidade institucional, incluindo professores, funcionários e administração (McKenzie, 2009).

A Unesco, num documento que pretende abranger todas as questões gerais da qualidade dos serviços no Ensino Superior a nível mundial, estabelece e reconhece como as principais funções dos serviços de apoio aos alunos com deficiência (Osfield e Junco, 2009):

- oferecer apoio directo a cada estudante com deficiência;

- defender os estudantes com deficiência sempre que os seus direitos não estejam assegurados;

- assegurar que a instituição de ensino superior cumpre todos os requisitos da legislação relativa ao acesso dos estudantes com deficiência ao ensino superior;

- providenciar o acesso a todos os programas, serviços e actividades da instituição;

- oferecer os apoios e as oportunidades para que os estudantes com deficiência possam competir em pé de igualdade com os seus colegas;

- aconselhar e auxiliar os estudantes na aquisição das tecnologias de apoio mais adequadas ao contexto educativo em questão;

- assegurar que todos os recursos apropriados estejam disponíveis aos estudantes quando destes necessitam (e.g. textos em braille, ampliados ou gravados, pessoas que lêem ou tiram apontamentos, adaptações à avaliação); - ajudar a instituição de ensino superior, incluindo os docentes, a oferecer o

apoio que os estudantes necessitam;

- periodicamente, identificar e eliminar barreiras físicas dos serviços e dos programas curriculares existentes nas universidades;

- servir de elemento de ligação entre os diferentes actores do processo educativo e de apoio ao estudante, dentro e fora da universidade;

- e, apoiar os estudantes nos momentos de transição quer para da escola para a universidade, quer da universidade para o mercado de trabalho.

Estes foram os estudos identificados na literatura sobre esta problemática e que ofereceram a base para a construção do instrumento criado especificamente para este estudo.

5.2.

D

ESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO

O método escolhido para alcançar o objectivo deste Estudo foi o da entrevista estruturada, que pelas suas características permitir responder aos problemas em questão ao mesmo tempo que facilita o tratamento da informação recolhida, face às entrevistas do tipo aberto.

Em relação à metodologia de construção e aplicação da entrevista estruturada foi dividida em várias fases:

- revisão da literatura para identificar as variáveis de estudo que deveriam fazer parte do instrumento para responder aos objectivos estabelecidos nesta investigação, tal como acabou de ser descrita;

- construção da entrevista estruturada, com base nos indicadores encontrados na revisão da literatura e na experiência dos investigadores, nomeadamente durante a realização do Estudo 1 e 3;

- criação de perguntas específicas para dois subgrupos da amostra: pessoas cegas e pessoas com baixa visão;

- validação do instrumento através de:

o a submissão do instrumento a um perito na área da educação e da deficiência visual (Professor Catedrático no Ensino Superior) para analisar o instrumento criado e efectuar as sugestões necessárias para o melhorar; o a aplicação da entrevista revista pelo perito a dois especialistas: para além

do seu currículo académico e profissional reuniam a experiência pessoal, decorrente dos seus problemas visuais, necessária para dar opinião especializada sobre o instrumento. Desta foram, para que a totalidade das perguntas, incluindo as específicas, fosse analisada um dos especialistas escolhido é da área da educação e psicologia e é uma pessoa cega; o segundo especialista seleccionado provem da área das tecnologias, em particular de sistemas de Internet, e é um individuo com baixa visão;

- com base nestas aplicações foram realizados pequenos ajustamentos na ordem das questões e na terminologia usada para facilitar a aplicação e compreensão do instrumento;

- construção de uma base de dados, em Microsoft Access 2007, com uma interface preparada para efeito de registo das respostas às questões do questionário. Este método permite recolher a informação para a base de dados durante a própria entrevista e minorar a existência de erros derivados da reinserção de dados aquando da passagem de dados para o programa informático de tratamento de dados estatísticos;

- construção de uma base de dados similar no software PASW Statistics 18 (release 18.0.1), para posterior importação dos dados e realização do respectivo tratamento estatístico.

A construção do formulário informatizado utilizado para a aplicação da entrevista teve em consideração que nem todas as questões ou respostas faziam sentido serem colocadas ou registadas a todos os participantes pela especificidade derivada do grau de deficiência do entrevistado. Ou seja, existiam questões ou respostas específicas no instrumento que deveriam ser seleccionadas pelo entrevistador no momento da aplicação, com base no grau de deficiência do participante.

Então, para auxiliar o entrevistador a colocar as questões e a registar as respostas obtidas de forma célere e eficiente, o formulário foi criado com uma interface que identificava através da cor todas as questões ou respostas específicas ao grau de deficiência dos participantes: questões apenas para os estudantes cegos ou as exclusivas para os alunos com baixa visão.

A entrevista estruturada foi desenvolvida em nove partes organizadas em três categorias: caracterização dos estudantes, do seu percurso académico no Ensino Superior e identificação dos serviços de apoio. Cada uma das partes tinha um número diferente de questões, que passaremos a descrever com algum detalhe.

Categoria 1 – Caracterização dos estudantes

Esta categoria era constituída apenas por uma parte, composta por 7 perguntas cujo objectivo foi identificar as características dos entrevistados, como sejam: género; grau de deficiência visual actual e da altura de estudante; idade; profissão; altura em que surgiu a deficiência; e, caracterização do percurso escolar até ao Ensino Superior.

Categoria 2 – Percurso académico no Ensino Superior