• Nenhum resultado encontrado

ARBORÍCOLAS EM CAMPO SUJO E MATA DA SERRA DE CALDAS NOVAS

PROJETOS DE 1 DIA

ARBORÍCOLAS EM CAMPO SUJO E MATA DA SERRA DE CALDAS NOVAS

Maria Alice de Medeiros & Paulinia de Araujo Ribeiro INTRODUÇÃO

As formigas são organismos comuns tanto em termos de biomassa quanto em número de espécies. Além disso, estão presentes em todos os ambientes terrestres (Wilson, 1987). Espécies arbóreas podem nidificar em caules ocos de plantas, o que possibilita uma atividade intensa de patrulhamento nas folhas (Morais, 1980).

Formigas são organismos dominantes onde colônias individuais podem apresentar milhares de operárias.

Sua dominância numérica nos ambientes terrestres é combinada com uma ampla diversidade taxonômica e distribuição geográfica (Holldobler & Wilson, 1990 citado por Oliveira et al., 2002). Segundo Holldobler & Wilson (1990) o número de formigas que são recrutadas é proporcional ao tamanho e a qualidade do recurso. Na maioria das espécies de formigas, umas ou poucas operárias procuram os recursos solitariamente e, quando encontram voltam ao ninho e recrutam ou outras operárias para a coleta do alimento (Holldobler &

Wilson, 1990 citado por Oliveira et al., 2002).

OBJETIVOS

Identificar espécies de formigas arborícolas presentes em um campo sujo e em uma mata de galeria;

Verificar qual a similaridade existente entre espécies de formigas arborícolas nas duas áreas.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN-GO) em área de campo sujo e mata de galeria, próximo a trilha da Cascatinha. As áreas eram próximas com aproximadamente 200 m de distância uma da outra.

O primeiro transecto foi feito às 7:45 h e o segundo às 8:00 h. Em cada área foram dispostas 15 iscas aleatoriamente para captura de formigas, numa distância média entre os pontos de 3,00 m. As iscas foram feitas com sardinha e água e colocadas em papel toalha sobre as árvores a uma altura média de 1,00 m ± 1,30 m, durante uma hora. Após esse período as iscas foram recolhidas e armazenadas em sacos plásticos. Em laboratório o material foi triado e as formigas foram fixadas em álcool 70% e identificadas em nível de gênero.

Para as duas áreas, foi calculado o índice de Shannon-Weaver, o índice de similaridade e o teste t.

Caracterização da área

O campo sujo é caracterizado por apresentar fisionomia exclusivamente herbáceo-arbustivo, com arbustos e subarbustos esparsos cujas plantas, muitas vezes, são constituídas por indivíduos menos desenvolvidos das espécies arbóreas do cerrado sentido restrito (Ribeiro &

Walter, 1998). A mata de galeria consiste de uma vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno porte e córregos, formando corredores fechados (galerias) sobre o curso de água (Ribeiro & Walter, 1998, 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na área de campo sujo, nove pontos de coleta foram forrageados pelas formigas.

Na mata de galeria oito pontos foram forrageados. No campo sujo foram encontradas sete espécies de formigas arborícolas, sendo uma subfamília Dolichoderinae, três da subfamília Formicinae, duas da subfamília Mymicinae e uma da subfamília Pseudomyrcinae

(Tabela 1). Na mata de galeria, foram encontradas oito espécies, sendo quatro da subfamília Formicinae, três da subfamília Myrmicinae, uma Ponerinae. Apenas uma espécie, Camponotus sp.2 foi encontrada nas duas áreas (Tabela 2).

As formigas exploram o ambiente através de suas estratégias sociais. Em alguns casos, algumas espécies são mais agressivas que outras. Quando há um recurso a ser explorado é comum que as espécies mais agressivas evitem que outras cheguem perto, empregando estratégias de defesa. Nas amostragens do campo sujo espécies pouco agressivas como Camponotus sp e Zacryptoceres sp, foram encontradas juntas em quatro amostras. Por outro lado espécies mais territoriais como Azteca sp dificilmente são coletadas junto a outra espécie no recurso disponível (Medeiros, 1992).

O índice de Shannon-Weaver calculado para o campo sujo foi igual a 0,80 e para a mata de galeria foi 0,72. Nas duas áreas o índice de diversidade foi baixo.

Sabe-se que o número total de espécies encontradas num determinado ambiente varia de acordo com o tamanho da amostra.

O índice estudado enfatiza as espécies comuns. É possível que se a amostragem fosse maior o índice aumentasse, já que se trata de um ambiente preservado. O índice de similaridade encontrado foi baixo, apenas 13%. O valor encontrado para o teste t foi 0,05 (2), 371,74 = 1,967. Este resultado mostrou que a diversidade de formigas do campo sujo foi igual a da mata de galeria.

CONCLUSÃO

Os ambientes amostrados embora próximos, são diferentes quanto a cobertura vegetal e a maior parte das espécies de formigas arborícolas neles encontradas

foram diferentes, sendo a espécie de Camponotus sp. comum nas duas áreas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MEDEIROS, M.A. Ecologia de Azteca

chartifex e seu potencial como agente de controle biológico em plantações de cacau Ilhéus, BA. Dissertação de Mestrado. UNESP, Rio Claro, SP.

MORAIS, H.C.; 1980. Estrutura de uma comunidade de formigas arborícolas em vegetação de campo cerrado.

Dissertação de Mestrado. UNICAMP, Campinas, SP.

OLIVEIRA, P.S.; FREITAS, A.V.L.; DEL-CLARO, K. 2002. Ant foraging on plant foliage: Contrasting effects on the behavioral ecology of insect herbivores.

In: OLIVEIRA, P.S. & MARQUIS, R.J.

(Eds.) The cerrados of Brazil. Columbia University Press. New York.

RIBEIRO, J.F. & WALTER, B.M.T. 2001.

As matas de galeria no contexto do bioma Cerrado. In: Cerrado caracterização e recuperação de matas de galeria. J.F. RIBEIRO.; C.E.L. da FONSECA.; J.C. SOUZA-SILVA.

(Eds.). Embrapa-CPAC, Planaltina, DF.

RIBEIRO. J.F & WALTER, B.M.T. 1998.

Fitofisionomias do bioma Cerrado. In:

Cerrado ambiente e flora. S.M. Sano &

S.P. de Almeida. (Eds.). Embrapa-CPAC, Planaltina, DF.

WILSON, E.O. 1987. Causes of eclogical succes: the case of the ants. J. Anim.

Ecol. 56: 1.9.

ZAR, J.H. 1996. Biostatistical analysis. Ed.

3. Prentice Hall. New Jersey.

Tabela 1. Espécies de formigas arborícolas em campo sujo e a frequência nas amostras.

PESCAN, GO, agosto de 2003.

Espécie/Gênero Subfamília Frequência

Azteca sp. Dolichoderinae 1

Camponotus sp. Formicinae 4

Camponotus sp. Formicinae 1

Morfoespécie 1 Formicinae 1

Pseudomyrmex sp. Pseudomyrmicinae 1

Wasmannia sp Myrmicinae 2

Zacryptocerus sp. Myrmicinae 5

Tabela 1. Espécies de formigas arborícolas em mata de galeria e a frequência nas amostras.

PESCAN, GO, agosto de 2003.

Espécie/Gênero Subfamília Frequência

Camponotus sp. 2 Formicinae 2

Camponotus sp. 3 Formicinae 1

Camponotus sp. 4 Formicinae 1

Crematogaster sp. 1 Myrmicinae 2

Crematogaster sp. 2 Myrmicinae 3

Crematogaster sp. 3 Myrmicinae 1

Morfoespécie 2 Formicinae 1

Gnaptogenus sp. Ponerinae 1

I 1.8 DISTÂNCIA DE FUGA DE Tropidurus torquatus (Squamata) NO PARQUE ESTADUAL DE SERRA DE CALDAS NOVAS – GO

Pablo Sebastian Amaral & Raquel Ribeiro da Silva Introdução

A fauna de lagartos do Cerrado do Brasil, descrita por Vanzolini (1948), apresentava uma lista de 11 espécies identificadas em Pirassununga, estado de São Paulo, na periferia da distribuição do bioma.

Trabalhos pioneiros sugeriram que a herpetofauna do Cerrado possuia baixos níveis de diversidade de espécie e de endemismo. No entanto, Colli et al (2002), apresenta dados que revelam uma diversidade bastante elevada. Registros das três localidades mais amostradas do Brasil (Brasília - Distrito Federal, Minaçu - Goiás e Chapada dos Guimarães) sugerem que a diversidade local de lagartos está em torno de 25 espécies (Colli et al. 2002).

Muitas espécies de répteis e anfíbios do Cerrado têm sido descritas recentemente, mas muitas ainda aguardam estudos adequados. No momento, 47 espécies de lagartos têm registro de ocorrência no bioma Cerrado. Dentre estas espécies, algumas são típicas da Floresta Atlântica ou da Amazônia mas são encontradas freqüentemente ao longo das florestas de galeria no Cerrado. A maioria das espécies, incluindo as endêmicas, são lagartos de áreas abertas (Colli et al. 2002).

O bioma Cerrado apresenta duas estações bem definidas, uma seca e quente e outra fria e chuvosa e uma vegetação composta por um mosaico de fitofisionomias que varia de plantas herbáceas a uma vegetação arbórea densa nas matas de galeria. Estes dois aspectos afetam a ecologia da herpetofauna em geral, uma vez que estes animais são heliotérmicos. Existem ainda, espécies como Tropidurus torquatus adaptadas à atividade humana, que se aproveitam da ocupação humana para receber benefícios (Colli et al. 2002).

O objetivo deste trabalho foi relacionar a distância de fuga de Tropidurus

torquatus com as diferentes temperaturas do ambiente ao longo do dia.

Material e Métodos

Para tal estudo, definiu-se distância de fuga como a menor distância que o observador pode chegar do lagarto antes que este fuja, isto é, quando o indivíduo sai do local onde se encontra para longe do observador ou um abrigo.

O trabalho foi desenvolvido no dia 01 de agosto de 2003 na área da sede do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) – GO, município de Caldas Novas e rio Quente. Para as observações dos indivíduos, um transecto circular de aproximadamente 560 m, foi percorrido a cada 30 min, entre as 7h e 11h30min, por dois observadores a pé. Foram realizados 9 transectos, totalizando 5,04 km. Para cada meia hora, foram tomadas as temperaturas ambientais ao sol por meio de um pisicrômetro digital (Taylor modelo 5566).

Após a visualização dos animais, dados de identificação, tamanho aproximado (pequeno, médio ou grande) e distância de fuga, foram coletados.

A análise dos dados foi feita através de gráficos e a relação entre temperatura e número de indivíduos observados foi analisada por meio de regressão linear.

Resultados e Discussão

Foram encontrados 51 indivíduos, sendo que destes, 33 pertencem à espécie Tropidurus torquatus. Os indivíduos começaram a demonstrar atividade a partir das 7h30min, horário em que foi registrada a presença de um indivíduo, porém sem observação direta do mesmo. Os horários do dia em que foram encontrados mais indivíduos foram às 8h30min e 10h, sendo observados 9 indivíduos (Figura 1). Colli &

Oliveira (2000) descrevem, para o gênero Tropidurus, um comportamento heliófilo e

diurno, ativo no inicio da manhã e final da tarde. As temperaturas medidas no sol, entre 7h:00min e 11h:30min variaram de 28,06 a 45o C, com média de 34,91 ± 6,51, apresentando uma diminuição em torno das 9h30min (Figura 2).

Para as análises estatísticas, foram utilizados apenas os dados de Tropidurus torquatus. Os dados da distância de fuga e temperatura, e distância de fuga e horário das observações foram relacionados por meio da correlação de Spearman, apresentando correlação significativa em distância de fuga e horário (rs= 0.43, p = 0.02). No entanto, para distância de fuga e temperatura, não houve correlação significativa (rs = 0.24, p = 0.2). As relações entre o horário de coleta, temperatura e distância de fuga apresentaram apenas uma tendência ao aumento simultâneo (Figuras 3 e 4). No entanto, foi encontrada uma correlação positiva (R2 = 0,0415) e significativa (F = 6,67; p = 0,03) entre a temperatura e o numero de indivíduos (Figura 5). Essa relação pode ser explicada pelos padrões de atividade dessas espécies e pelas suas características ectotérmicas, uma vez que por dependerem do calor externo, tornam-se mais ativos à medida que a temperatura do ambiente se eleva, sendo assim mais facilmente encontrados.

Conclusões

De acordo com os dados coletados podemos notar que há uma relação, embora fraca, entre o numero de indivíduos e o aumento da temperatura, isso provavelmente se deve ao padrão de atividade dessas espécies. A relação entre distância de fuga e horário de observação também mostrou-se significativa. No entanto, essa relação não foi encontrada quanto à temperatura e a distância de fuga.

Referências

Colli G. R., Brastos, R. P. & Araujo, A. F.

B. 2002. The character and dynamics of the Cerrado herpetofauna. In: The cerrado of Brazil. Ecology and Narural History of a Neotropical Savanna. Oliveira, P. S. & Marquis, R.

J. (eds). Columbia University Press, Nova York. 223-241.

Colli, Guarino R. & Oliveira, Luiz E. 2000.

Guia de lagartos do Distrito Federal.

http.www.unb.br/ib/zoo/grcolli.

Vanzolini, P. E. 1948. Notas sobre os ofídios e lagartos da Cachoeira de Emas, no município de Pirassununga estado de São Paulo. Rev. Bras. Biol. 8:377-400

Figura 1. Relação entre hora do dia e numero de indivíduos de Tropidurus torquatus no PESCAN-GO, 2003

Figura 2. Relação entre a temperatura no sol e hora do dia no PESCAN-GO, 2003

0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00 35.00 40.00 45.00 50.00

07:00 07:30 08:00 08:30 09:00 09:30 10:00 10:30 11:00 11:30

H o ra d o d ia

Temperatura

0 2 4 6 8 1 0

0 7 :0 0 0 7 :3 0 0 8 :0 0 0 8 :3 0 0 9 :0 0 0 9 :3 0 1 0 :0 0 1 0 :3 0 1 1 :0 0 1 1 :3 0

H o ra d o d ia

Numero de indivíduos

Figura 3. Relação entre média da distância de fuga e hora do dia no PESCAN-GO, 2003

Figura 4. Relação entre média da distância de fuga e temperatura no PESCAN-GO, 2003 0

2 4 6 8 1 0 1 2

0 7 :0 0 0 8 :0 0 0 8 :3 0 0 9 :0 0 0 9 :3 0 1 0 :0 0 1 0 :3 0 1 1 :0 0 1 1 :3 0

H o ra d o d ia

Média distância

0 5 10 15

28.06 29.06 30.56 34.44 35.06 42.72 45.00

Temperatura

Média Distância

y = 1.7941x + 22.14 R

2

= 41.47%

0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 50.00

0 2 4 6 8 10