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ESTRUTURA POPULACIONAL DE DUAS ESPÉCIES LENHOSAS EM CERRADO NO TOPO DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO

PROJETOS FINAIS

ESTRUTURA POPULACIONAL DE DUAS ESPÉCIES LENHOSAS EM CERRADO NO TOPO DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO

Edivane Cardoso INTRODUÇÃO

Para realização de experimentos relacionados a diversidade e distribuição de espécies vegetais são necessários alguns estudos que mostrem a relação existente entre os indivíduos das espécies tratadas, principalmente em áreas de vegetação natural em equilíbrio. Para tais estudos são realizados levantamentos que envolvem variações na estrutura, relação entre as plantas, fases de vida das espécies e a forma como se distribuem na área. Tais estudos são de grande importância para o conhecimento da estrutura da vegetação, de forma que sejam adotadas práticas adequadas na recuperação, conservação e manejo da biodiversidade, além de colaborarem na escolha de espécies a serem utilizadas em projetos de recuperação de áreas degradadas.

Assim, o presente trabalho teve como objetivo determinar a estrutura populacional de quatro principais espécies lenhosas ocorrentes no topo da serra de Caldas Novas.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado de 11 a 13 de agosto de 2003, no topo da serra de Caldas Novas, Sudeste de Goiás (Figura 1) (Parque Estadual da Serra de Caldas Novas).

Segundo Radambrasil (1983), tal área situa-se em terreno Terciário detrito-laterítico, apresentando sedimentos arenosos e argilosos com níveis conglomeráticos, lateritas ferruginosas e/ou manganesíferas distribuídos em superfície de cimeira e correlativos de aplanamentos terciários.

Ainda, o relevo local é sustentado por rochas pré-cambrianas da formação Caldas Novas, constituída por quartzitos com estruturas de marcas de ondas e níveis silicosos, além de metarenitos, metassiltitos e ardósias.

A vegetação é caracterizada pela presença de flora predominantemente dicotiledôneas arbóreas, com tortuosidade, arbustivas e estrato herbáceo destacado, disposto sobre terreno bem drenado. O dossel é, geralmente, descontínuo, com cobertura arbórea variando de 30 a 50%. A vegetação é característica do tipo fisionômico “Cerrado Ralo”, descrita por Ribeiro & Walter (1998).

Foram estipuladas cinco áreas, eqüidistantes 1,0 km. Em cada uma área foram marcados cinco transectos de 100 metros, dispostos a cada 25 metros, cada um com 11 pontos a cada 10 m, dispostos perpendicularmente e a 10 m da margem direita da estrada de acesso ao mirante da Pousada do Rio Quente (Figura 2). As áreas estudadas situam-se entre altitudes que variam de 990 a 1046 m sobre relevo suave.

Em cada ponto foram estipulados quadrantes e, em cada um, foi verificada a presença das duas espécies lenhosas mais abundantes (Qualea parviflora Mart. -Vochysiaceae - e, Kielmeyera coriacea (Spreng.) Mart. - Clusiaceae), escolhidas a partir de levantamento fitossociológico que utilizou o método de ponto quadrante (Cotan & Curtis, 1956). Quando presentes na amostragem do ponto, os indivíduos deviam apresentar pelo menos 10 cm de circunferência a 30 cm da superfície do solo, assim sendo mensuradas suas circunferência e altura. Em caso de indivíduos com mais de um tronco ou ramificação à altura de medida de circunferência, foi considerado apenas o de maior circunferência. Os intervalos de altura e circunferência considerados foram determinados a partir de cálculo de algorítmo de Sturges (k=1+3,3*log n10), para cada espécie estudada.

1 2 3 4 5

Sede

Mirante da Pousada do Rio Quente Pousada do

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas

GO-130

Área Urbana Via não pavimentada Rodovia

Rede de drenagem

ESCALA:

CONVENÇÕES:

Curva de nível 900m

Coord. geográfica/UTM (SAD69)

5000m 752000

Data: Agosto de 2003

Desenho: Edivane Cardoso & Maria Inês C. Moreno

8021000

Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte de dados: coordenadas de GPS; curvas de nível estimadas no programa Surfer, versão 6.0; e imagem LandSat, bandas 5R,4G,3B -http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br.

Mirante da Pousada

do Rio Quente Sede do Parque

Estadual da

Serra de Caldas Novas 25m

10m 10m

10 0m

Estrada

Figura 2. Esquema de amostragem de uma das áreas estudadas no PESCAN-GO.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao todo, foram amostrados 145 indivíduos de Qualea parviflora. Os dados de estrutura da população indicam que 84,83% (123) dos indivíduos desta espécie apresentam-se no intervalo de altura (h) de 0,65 a 3,25 m (Figura 3-A), dos quais 58 representam o intervalo de 1,30 a 1,95 m, sendo que a maior altura amostrada foi de 6,0 m e a mínima foi de 0,6 m. A distribuição por intervalos de altura mostra que grande parte do número total de indivíduos desta espécie é constituída de indivíduos que apresentam as mais baixas estaturas (Figura 2-A) e que apenas um indivíduo representa a faixa de até 0,65 m de altura.

Quanto à circunferência, a maioria dos indivíduos de Q. parviflora amostrados fazem parte da classe de intervalos de circunferência de até 60,0 cm, com 95,17%

(138) dos indivíduos (Figura 3-B). O intervalo de circunferência com maior número de indivíduos é de 10,0 a 20,0 cm, que apresentou 67 indivíduos. A maior circunferência encontrada para a espécie foi de 89,0 cm. A distribuição dos indivíduos por intervalo de circunferência é bastante heterogênea, porém nota-se maior

concentração de indivíduos nos intervalos inferiores.

Kielmeyera coriacea apresentou 91 indivíduos, sendo que 68 deles (75,00%) apresentaram altura entre 0,9 e 3,6 m (Figura 4-A). Para esta espécie, a maior altura encontrada foi de 7,0 m e a mínima de 0,4 m. O intervalo compreendido de 0,9 a 1,8 m de altura apresentou o maior número de indivíduos (32). A espécie apresentou 81 indivíduos (89,01% dos indivíduos) com circunferência de até 35,0 cm (Figura 4-B). A classe de circunferência que apresentou maior número de indivíduos compreende o intervalo de até 17,0 cm. A circunferência máxima observada para a espécie foi de 62,5 cm.

Ambas espécies apresentaram distribuição de indivíduos, tanto para altura quanto para circunferência, do tipo chamado de "J" invertido, o que poderia indicar certa estabilidade nas populações.

Os valores de circunferência encontrados, os quais são mais indicados para análise de estrutura populacional, demonstram heterogeneidade na distribuição dos dados, talvez resultante da interferência do fogo detectada nas áreas estudadas e pela extensão entre as áreas amostradas.

Para as espécies estudadas, nota-se que o nível de ajuste da curva de tendência é sempre maior para circunferência do que para altura, sendo que para Q. parviflora o ajuste da linha de tendência é de 9,39%, enquanto que para circunferência do tronco o ajuste chega a 78,98% (Figura 3 - A e B).

O mesmo é observado para K. coriacea, sendo que para altura o ajuste é de 68,2% e para circunferência do tronco chega a 95,63% (Figura 4 - A e B). Tais variações corroboram com a informação de que os dados de altura são bem mais heterogeneamente distribuídos entre os intervalos considerados do que os dados de circunferência.

Para Fonseca (2001), o efeito de variação na estrutura vertical de uma população da espécie Aspidosperma polyneuron poderia ter se dado por inclusão de indivíduos adultos danificados em classes de altura inferiores, por jovens com lento ritmo de crescimento e por amostragens em microambientes de interior e borda da mata. Na área aqui estudada, podem haver indivíduos danificados quanto ao aspecto altura, principalmente devido ao fato de incidência de queimadas na área estudada, o que ocorrera no ano anterior.

Em relação às duas espécies aqui estudadas, tratam-se de vegetais com troncos de súber espessos, inclusive K. coriacea é bastante cortiçosa, o que lhes conferem proteção por isolamento térmico, considerável durante os eventos de queimadas ocorrentes. Assim, apenas os ramos mais jovens, que ainda não apresentam tal proteção e não faziam parte do nível de medida de circunferência, poderiam ter sido danificados e ocasionado interferência na medida de altura, levando assim a prevalência de indivíduos com altura reduzida e circunferências mais elevadas.

A curva de tendência exponencial, obtida a partir dos valores encontrados, indica que, em relação a medidas de circunferência do tronco, dados que melhor retratam a estrutura populacional, segundo Pedroni (1991), a curva de tendência é do tipo negativo, apresentando-se no formato

de “J” invertido, ou seja, a maioria dos indivíduos tendem a apresentar troncos com medidas de circunferência enquadrando-se nos intervalos de menores valores. Oliveira-Filho et al (1996) apontam que este tipo de distribuição (“J” invertido) indica que o ambiente está estável e que a população está sendo reposta via recrutamento e crescimento a partir dos indivíduos jovens.

De acordo com Botrel et al (2000), no caso de florestas tropicais, conhece-se que a área basal apresentam diferenças que variam com as condições de solo, água, luminosidade, e estádios de regeneração.

Ainda segundo estes mesmos autores, a deficiência de água e nutrientes do solo pode resultar em produtividade líquida reduzida e, assim, reduzir o desenvolvimento de árvores, o que poderia ser verificado por estudos de dinâmica, levando as populações a mudanças direcionais ou à manutenção. No caso das populações aqui estudadas, a luminosidade não seria limitante pois o dossel não é contínuo, assim, a maior quantidade de indivíduos aparentemente mais jovens poderia ser explicada pela incidência de fogo, competição interespecífica, com maior sucesso dos maiores indivíduos que, certamente, apresentam maior quantidade de superfícies fotossintetizantes e sistema radicular mais desenvolvido, ou ainda, devido a reduzidos níveis de nutrientes no ambiente, levando as populações a apresentarem muitos indivíduos aparentemente jovens, sendo esta última causa a mais provável, visto que, conforme Marques & Joly (2000), no período de um ano os indivíduos de uma dada população não alcançariam dimensões que alterassem as proporções entre classes de dimensões.

Na área estudada, a mortalidade de indivíduos jovens por incidência do fogo há um ano não seria reposta por recrutamento rápido no período a ponto dos indivíduos jovens alcançarem o critério de inclusão, assim descartando a possibilidade de que a última queimada seja o único agente atuante na mortalidade local.

De acordo com Andrade et al (2002), a concentração dos indivíduos nas primeiras classes de altura e circunferência sugerem também maior mortalidade de indivíduos jovens. Para as populações estudadas nessa pesquisa, as causas da mortalidade podem ter sido tanto por fatores bióticos quanto abióticos, tais como competição intraespecífica, ataque de predadores e parasitas a ponto de causarem sua morte, tanto quanto queimadas reincidentes ou deficiências hídricas e nutricionais pontuais e que chegassem a ponto de tornarem o meio impróprio à sobrevivência da espécie, o que é menos provável devido ao sucesso que estas espécies apresentam na região e à sazonalidade mantida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, L.A.Z., FELFILI, J.M.,

VIOLATTI, L. Fitossociologia de uma área de cerrado denso na RECOR-IBGE, Brasília-DF. Acta bot. bras. v. 16 n. 2, p. 225-240, 2002.

BOTREL, R.T., OLIVEIRA FILHO, A.T., RODRIGUES, L.A. & CURI, N.

Influência do solo e topografia sobre as variações da composição florística e estrutura da comunidade arbóreo-arbustiva de uma floresta estacional semidecidual em Ingaí, MG. Revista Brasil. Bot., v.25, n.2, p.195-213, 2002.

COTTAM, G. & CURTIS, J.I. The use of distance measures in phytosociological sampling. Ecology, v. 37, p. 451-460.

1956.

FONSECA, M.G. Aspectos demográficos de Aspidosperma polyneuron Muell.

Arg. (Apocynaceae) em dois fragmentos de floresta semidecídua no município de Campinas, SP.

Campinas: Unicamp, 2001. (Dissertação de mestrado). 104 p.

MARQUES, M.C.M. & JOLY, C.A.

Estrutura e dinâmica de uma população de Calophyllum brasiliense Camb. Em floresta higrófila do sudeste do Brasil.

Revista Brasil. Bot., v.23, n.1, p.107-112, 2000.

OLIVEIRA-FILHO, A.T.; CAMISÃO-NETO, A.A. & VOLPATO, M.M.L.

Structure and dispersion of four tree populations in an area of montane semideciduous forest in Southeastern Brazil. Biotropica, v. 28, n. 4b, p. 762-769. 1996.

PEDRONI, F. Aspectos da estrutura e dinâmica da comunidade arbórea na mata atlântica e planície de encosta em Picinguaba, Ubatuba, SP.

Campinas: Unicamp, 196p. (Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas). 2001.

RADAMBRASIL. Folha SE 22. Goiás:

geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de janeiro: Ministério das Minas e Energia, Secretaria Geral, 1983. v. 31, 768 p.

RIBEIRO, J. F. & WALTER, B. M. T.

Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In:

SANO, S. M. & ALMEIDA, S. P.

Cerrado: Ambiente e Flora. Planaltina:

EMBRAPA-CPAC, 1998. 556p. p. 87-166.

SILVA, L.M.B. & BARBOSA, D.C.A.

Crescimento e sobrevivência de Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan (Leguminosae), em uma área de Caatinga, Alagoinha, PE. Acta bot. bras. v.

14, n. 3, p. 251-261. 2000.

y = 16,764e-0,1436x R2 = 0,0939

0 10 20 30 40 50 60

0,0 -| 0,65 0,65 -| 1,30 1,30 -| 1,95 1,95 -| 2,60 2,60 -| 3,25 3,25 -| 3,90 3,90 -| 4,55 4,55 -| 5,20 5,20 -| 5,85 5,85 - 6,50

Intervalo de altura (m)

Número de indivíduos da categoria

y = 86,174e-0,5009x R2 = 0,7898

0 10 20 30 40 50 60 70

10,0 -| 20,0 20,0 -| 30,0 30,0 -| 40,0 40,0 -| 50,0 50,0 -| 60,0 60,0 -| 70,0 70,0 -| 80,0 80,0 - 90,0

Intervalo de circunferência (cm)

Número de indivíduos da categoria

Figura 3. Distribuição dos indivíduos de Qualea parviflora, por intervalos de altura (A) e circunferência do tronco (B), ocorrentes no PESCAN-GO.

A

B

y = 47,024e-0,4415x R2 = 0,682

0 10 20 30 40 50 60

0,0 -| 0,9 0,9 -| 1,8 1,8 -| 2,7 2,7 -| 3,6 3,6 -| 4,5 4,5 -| 5,4 5,4 -| 6,3 6,3 - 7,2

Intervalo de altura (m)

Número de indivíduos da categoria

y = 49,775e-0,4239x R2 = 0,9563

0 10 20 30 40 50 60 70

10,0 -| 17,0 14,0 -| 21,0 21,0 -| 28,0 28,0 -| 35,0 35,0 -| 42,0 42,0 -| 49,0 49,0 -| 56,0 56,0 - 63,0

Intervalo de circunferência (cm)

Número de indivíduos da categoria

Figura 4. Distribuição dos indivíduos de Kielmeyera coriacea, por intervalos de altura (A) e circunferência do tronco (B), ocorrentes no PESCAN-GO.

A

B

Síndrome de polinização e visitantes florais em uma espécie de Ruellia (Acanthaceae) no Parque Estadual da Serra de Caldas, GO

Emanuele Pomini INTRODUÇÃO

A maioria das flores visitadas por animais oferece pólen, néctar ou ambos como recursos a seus polinizadores (Begon et al, 1990). Além destes recursos, algumas plantas apresentam outras estratégias para atrair visitantes, como o período de antese, cor ou odor das flores e tamanho ou morfologia da corola. Síndrome de polinização é o conjunto de características morfológicas das flores que estariam adaptadas à polinização por vetores específicos de pólen (Alves et al, 2000).

Entre as espécies de plantas arbustivo-arbóreas do cerrado, o sistema de polinização predominante envolve flores não especializadas polinizadas por pequenos insetos (Santos, 2003).

Para a maioria das plantas, o tipo de agente polinizador é definido mais por seu tamanho e necessidade de forrageamento do que por interações específicas. Diversas plantas têm flores pequenas aparentemente polinizadas por insetos pequenos e generalistas de diferentes grupos, como moscas, abelhas e vespas (Oliveira &

Gibbs, 2002).

A família Acanthaceae possui 250 gêneros e cerca de 2.000 espécies, muito representadas nos trópicos e, em menor proporção, nas regiões temperadas (Barroso, 1986). Na América do Sul meridional o gênero Ruellia consta de cerca de 23 espécies que apresentam grande diversidade na morfologia floral, fato que é associado a um amplo espectro de polinizadores. As relações entre espécies de Ruellia e seus prováveis polinizadores têm sido inferidas, principalmente, a partir de características morfológicas, atribuindo-se-lhes síndrome de melitofilia, psicofilia, ornitofilia ou quiropterofilia (Sigrist &

Sazima, 2002).

O objetivo deste estudo foi apresentar alguns aspectos da morfologia e biologia floral de uma espécie de Ruellia

(Acanthaceae), bem como identificar seus visitantes florais.

Metodologia

O trabalho foi desenvolvido no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, com um agrupamento de Ruellia sp. presente ao longo da trilha da cascatinha. As observações foram realizadas no período da manhã, entre 6:30 e 11:30 horas, durante os dias 12, 13 e 14 de agosto de 2003, totalizando 15 horas de observações.

Informações sobre o hábito, morfologia das flores e ocorrência de visitantes florais das plantas foram registradas. O termo “visita” refere-se ao comportamento de determinados insetos que pousaram na flor, entraram no tubo da corola e coletaram recursos florais. O comportamento de se aproximar das flores e não coletar recursos foi denominado

“vistoria”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O agrupamento estudado era constituído de 8 indivíduos ao longo de uma faixa de 10 m. de largura e 40 m. de comprimento, próximo à mata de galeria. A espécie estudada tem hábito herbáceo; os indivíduos observados tinham altura média de 1,5±0,3 m. As folhas são simples, alternas, lisas, peninérveas, elíticas, agudas com bordo inteiro. Os indivíduos apresentavam em média 5,7±4,1 botões e 4,7±2,1 flores. As flores são pentâmeras, monopétalas, solitárias, pendentes e inseridas nas axilas das folhas por um pedúnculo de aproximadamente 8 mm. de comprimento. A corola é de coloração lilás, tubular com cerca de 50 mm. de comprimento; a entrada do tubo da corola tem formato elíptico-ovalado e mede cerca de 12 mm. de diâmetro. As anteras são didínamas, os grãos de pólen são brancos e as flores duram cerca de um dia. A antese ocorre ao amanhecer, por volta de 7:00 h, e

não foi percebido odor nas flores. Foi observado um grande número de flores predadas, o que possivelmente interfere no tempo de duração das flores. O néctar é produzido em pequena quantidade, e não foi possível coletá-lo para avaliar volume e concentração.

O agrupamento foi visitado por 3 gêneros de abelhas, Augochlora sp.

(Halictidae), Ceratina sp. (Anthophoridae) e uma espécie não foi identificada. Também foi observada vistoria por outras 2 espécies de abelhas não coletadas, caracterizando síndrome de melitofilia. As observações de campo sugerem que o principal recurso explorado seja o pólen, uma vez que a maioria dos insetos visitantes pousava no tubo da corola e permanecia na sua entrada, coletando pólen, sem buscar a região do nectário. O tipo de recurso explorado difere do encontrado por Sigrist & Sazima (2002), que estudaram plantas do mesmo gênero e observaram os mesmos gêneros de abelhas, entre outros, explorando néctar, ao invés de pólen.

Durante a visita, os insetos penetram no tubo da corola, onde entram em contato com os grãos de pólen, que é armazenado nas corbículas. O comportamento mais freqüente é o de visitar várias flores do mesmo indivíduo ou de indivíduos

próximos, e depois se afastar do local. Foi constatada maior visitação nas primeiras horas da manhã, entre 7 e 9:00 h. Isto pode estar relacionado à disponibilidade de recursos ou ao grau de atividade das abelhas, que em geral são sensíveis às variáveis ambientais e visitam menos flores com o aumento de temperatura.

Agradecimentos

Aos professores, monitores e colegas do Curso de Campo, em especial Laudicéa pela idéia e bibliografia no campo, Paulina pela companhia nas observações e Iubatã e Ernestino pela companhia e amizade; a Ubirazilda Rezende, Vali Pott e Arnildo Pott pela identificação da planta; a Fabrício

Oda pela identificação das abelhas e a Otávio Froehlich pela revisão do relatório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, D.M.; MISSIRIAN, G.L.B.; ROMERO, G.Q. & CORRÊA, M.M. 2000. Síndromes de polinização em ambientes perturbados e não-perturbados na fazenda Nhumirim. In: Ecologia do Pantanal: curso de campo 2000. J.C.C.

Santos, J.M. Longo, M.B. Silva, A.

Chiarello e E. Fisher (eds). FUFMS.

Campo Grande. 197 p.

BARROSO, G.M. 1986. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Viçosa, UFV.

Impr. Universitária. 326 p.

BEGON, M; HARPER, J.L.; TOWNSEND, C.R.

1990. Ecology: individuals, populations, and communities. 2nd ed. Blackwell Scientific Publications. 945 p.

OLIVEIRA, P.E. & GIBBS, P.E. 2002.

Pollination and Reproductive Biology in Cerrado Plant Communities. In: The cerrados of Brazil: ecology and natural history of neotropical savanna. P.S.

Oliveira & R.J. Marques (eds).

Columbia University Press, New York, 398 p.

SANTOS, M.L. 2003. Florística e biologia reprodutiva de espécies de Melastomataceae no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas e Parque Estadual dos Pirinéus, Goiás. Tese de Doutorado.

Universidade de Brasília. Brasília, DF.

167p.

SIGRIST, M.R. & SAZIMA, M. 2002. Ruellia brevifolia (Pohl) Ezcurra (Acanthaceae):

fenologia da floração, biologia da polinização e reprodução. Revista Brasil.

Bot. 25:35-42.

Efeito da vocalização de Glaucidium brasilianum Gmelin, 1788 (Strigiformes) no comportamento de aves do Cerrado.

Iubatã Paula de Faria Introdução

A ordem Strigiformes apresenta corujas distribuídas por todos os continentes, exceto Antártica, e tem sua origem provavelmente a partir do Velho Mundo (Sick 1997). No Brasil, existem cerca de 20 espécies de corujas, uma integrante da família Tytonidae e as demais pertencentes à família Strigidae (Sick 1997, Souza 1998). As adaptações dos pés e dos bicos às atividades de rapina, fazem que este grupo de predadores pertença à níveis tróficos de topo nas cadeias alimentares (Motta-Júnior 1996, Sick 1997). As corujas possuem uma dieta composta por insetos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos (Solheim 1984, Motta-Júnior e Talamoni 1996, Sick 1997, Jaksic et al. 1999, Love et al. 2000, Teixeira e Melo 2000, Lekunze et al. 2001, Rödel et al. 2002, Sergio et al. 2003).

A coruja caburé-ferrugem, Glaucidium brasilianum Gmelin, 1788 (Strigidae) ocorre do Arizona nos Estados Unidos à Argentina. No Brasil, tem ampla distribuição, ocorrendo na borda de mata, cerrado e arvoredos (Warming 1973, Sick 1997, Souza 1998). Esta espécie apresenta um pequeno porte (16,5 cm de comprimento e 63g de peso médio) e trata-se de um dos menores repretrata-sentantes da família (Sick 1997, Souza 1998). Com atividade diurna e noturna, esta espécie possui uma dieta composta por insetos, répteis, aves e mamíferos (Hilty e Brown 1986, Proudfoot e Beasom 1997, Sick 1997) e apresenta vocalização, série horizontal de 10 ou mais pios monótonos de frequência de 2,5 por segundo, que costuma irritar as aves (Hilty e Brown 1986, Sick 1997).

Em aves, a presença de predadores é responsável por alguns comportamentos de reação como, vigilância (Westcott e

Cockburn 1988, Alves e Cavalcanti 1996, South e Pruett-Jones 2000, Ragusa-Netto 2000), chamados de alarme, que servem como advertência inter e intraespecífica (Jansson 1981, Suhonen 1993, Rajala 2003) e interações agonísticas de defesa e ataque (Shields 1984, Winkler 1994, Matheus et al. 1996). Este estudo teve como objetivos:

verificar as espécies de aves do cerrado que apresentam algum comportamento de reação à vocalização diurna de Glaucidium brasilianum; caracterizar os comportamentos de reação e; comparar as espécies que reagem entre fitofisionomias distintas do cerrado.

Área de Estudo e Métodos

Este estudo foi conduzido no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – PESCAN, Goiás. O PESCAN localiza-se nos municípios de Caldas Novas e Rio Quente, possuindo uma área de 12315 ha. O Parque compreende o topo e as encostas da Serra de Caldas, sob a predominância de latossolos vermelhos e amarelos distróficos.

O clima é classificado como Aw, segundo Köppen (tropical chuvoso); as chuvas

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