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INFLORESCÊNCIA DE VOCHYSIA ELLIPTICA MART. EM ÁREA DE CERRADO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS,

GO

Ana Luiza Rios Caldas, Ana Paula de Oliveira, Edivane Cardoso, Pablo S.T. Amaral, Paulinia Araujo Ribeiro

Orientação: Profa. Dra. Helena Castanheira Morais

Introdução

Segundo Begon et al. (1990), os nectários estão presentes nas partes vegetativas das plantas em pelo menos 39 famílias e em muitas comunidades no mundo todo. Estes mesmos autores afirmam que enquanto os nectários nas flores são facilmente interpretados como atrativos para polinizadores, o papel dos nectários extra florais nas partes vegetativas não é bem conhecido. Eles claramente atraem formigas, algumas vezes em vasto número, mas existe uma controvérsia entre os "protecionistas"

(formigas visitando os nectários protegem as plantas de herbívoros), e os

"exploracionistas" (as formigas protegem os herbívoros cujos exudatos são consumidos por elas).

O sucesso ecológico de formigas é atribuído ao modo de vida social, abundância no local e diversidade de adaptações (Wilson, 1987 apud Oliveira et al., 2002). Muitos fatores contribuem para a ubiqüidade de formigas na folhagem de plantas do Cerrado, entre eles, o fato dos caules de muitas plantas serem ocos (Oliveira et al., 2002).

O alimento é um fator importante na distribuição de insetos, devido principalmente à especificidade alimentar de muitos insetos, existindo também, por outro lado, insetos inespecíficos, com maior disponibilidade de distribuição. A abundância dos insetos está, dessa forma, na dependência do maior ou menor suprimento de alimentos (Silveira Neto et al., 1976).

O presente trabalho teve como objetivo identificar que tipo de recurso é fornecido a espécies de formigas que freqüentam inflorescências de Vochysia elliptica Mart (Vochysiaceae) no final do período de floração, tendo assim menor quantidade de néctar, em uma área de cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

Material e Métodos

O estudo foi realizado em agosto de 2003, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, nas imediações do Mirante da Pousada de Rio Quente. Foram observados, aleatoriamente, 30 indivíduos de Vochisia elliptica.

A família Vochysiaceae é caracterizada pelo hábito arbóreo ou arbustivo. As inflorescências possuem nectário floral na extremidade de uma forma de esporão, ou calcar (Ribeiro et al, 1999).

Na área estudada foi observado que a maioria das inflorescências já haviam sido abertas por polinizadores (final do período de floração).

Em cada indivíduo foi observada a presença de formigas nas inflorescências.

Nos casos positivos, foi determinado o estágio de maturação da inflorescência (nova ou velha), além da morfo-espécie e comportamento das formigas a fim de investigar a sua fonte de alimento (néctar da flor, exudato ou mesmo outros insetos, no caso de formigas predadoras).

Após a observação descrita, com inflorescências dos ramos freqüentados por formigas foram coletados para triagem em

laboratório. Cada amostra foi observada em lupa para determinar a espécie de formiga e das outras espécies de insetos e outros artrópodos presentes e que apresentavam alguma associação com formigas.

Resultados e Discussão

Dos 30 indivíduos observados, 24 tiveram formigas. Destes, 17 apresentaram inflorescências velhas e 7 inflorescências novas. As espécies de formigas encontradas foram: Camponotus sp1, Camponotus sp2, Camponotus sp3 e Ectatomma sp. Foram encontradas homópteros, além de larvas de lepdópteros e de coleópteros (Tabela 1).

Camponotus sp2 foi a espécie que ocorreu com maior freqüência nos indivíduos amostrados, tendo sido observada no calcar da flor (nectário floral) e em presença de homópteros que excretam exudatos, dos quais se alimentam. No geral, todas as espécies de formigas foram encontradas em inflorescências velhas, provavelmente devido ao período final de floração em V. elliptica.

Dos indivíduos nos quais foram observadas espécies de formigas, 83% apresentaram apenas uma espécie. Nos 17% restantes, ocorreram duas espécies de formigas associadas, sendo: Camponotus sp1 e Camponotus sp3, em apenas um indivíduo, e Camponotus sp2 e Ectatomma, em três indivíduos.

Em sete amostras não foram encontradas outras espécies de insetos associáveis às formigas, sugerindo que sua presença seria devido à disponibilidade de néctar na inflorescência.

Foi observada a presença de homópteros e larvas de lepdópteros (Riodinidae) e de coleópteros, sendo os homópteros mais frequentes (Tabela 1). Os homópteros encontrados liberam exudatos para algumas espécies de formigas, recebendo proteção das mesmas, enquanto que as larvas não parecem lhes servir como recurso alimentar (Helena C. Morais, comunicação pessoal). Nesse contexto, os

resultados sugerem que as formigas exploram os recursos da planta, como o néctar, além de se alimentarem dos exudatos liberados por essas espécies de homópteros, mas não protegem a planta contra o ataque de herbívoros.

Conclusão

Diante dos resultados apresentados, é possível concluir que várias espécies de insetos, tais como formigas, homópteros e larvas de lepdópteros e coleópteros, estão explorando os recursos alimentares oferecidos pelas inflorescências de V.

elliptica. Além disso, ocorrem diversas espécies de formigas, predadoras como Ectatomma e onívoras como Camponotus, que estão explorando os recursos da planta, uma vez que estas espécies parecem não lhes oferecer proteção contra herbívoros.

Referências Bibliográficas

BEGON, M.; HARPER, J.L. & TOWSEND, C.R. 1990. Ecology: Individuals and communities. Blackwell Scientific Publications: London, 945 p.

OLIVEIRA, P.S.; FREITAS, A.V.L. & DEL-CLARO, K. 2002. Ant foraging on plant foliage: contrasting effects. In: The Cerrados of Brazil. OLIVEIRA, P.S. &

MARQUIS, R. (eds.). Columbia University Press, New York, pp. 287-305.

RIBEIRO, J.E.L. da S.; HOPKINS, M.J.G.;

VICENTINI, A.; SOTHERS, C.A.;

COSTA, M.A.S.; BRITO, J.M.; SOUZA, M.A.D.; MARTINS, L.H.P.; LOHMANN, L.G.; ASSUNÇÃO, P.A.C.L.; PEREIRA, E.C.; SILVA, C.F. & MESQUITA, M.R.;

PROCÓPIO, L.C. 1999. Flora da reserva Ducke: guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Manaus: INPA. 816 p.

SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O.

BARDIN, D. & VILLA NOVA, N.A.

1976. Manual de ecologia dos insetos.

Editora Agronômica Ceres, São Paulo, 419 p.

Tabela 1. Espécies de formigas e outros insetos encontrados em inflorescências de Vochysia elliptica, em área de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas, GO. n = número de inflorescências das associações encontradas.

Inflorescência Espécie Freqüência de

ocorrência Nova Velha Homoptera (n) Outros

Camponotus sp 1 8 1 7 Afídeos (6)

Homoptera/ morfo sp (2)

Larva Riodinidae (1)

Camponotus sp 2 11 5 6

Afídeos (6)

Homoptera/ morfo sp (1)

Membracídeo (1)

Larva de Coleoptera

Camponotus sp 3 5 1 4 Afídeos (2)

Homoptera/ morfo sp

(1)

-Ectatomma 3 2 1 Afídeo (1) Vespa parasita de

Afídeo (1)

G 4.1 -Comportamento Territorial de Tropidurus torquatus (Squamata:

Tropiduridae) no PESCAN

Adriana Fernandes, Ben Hur Marimon Junior, Emanuele Pomini, Laudicéa F. Lima e Raquel Ribeiro

Orientador: Alexandre F.B. Araujo Introdução

Os lagartos do gênero Tropidurus são diurnos, abundantes e amplamente distribuídos no Brasil, com espécies ocorrendo na floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, e Mata Atlântica (Araújo, 1987).

No cerrado do Brasil Central, várias especies de Tropidurus co-ocorrem em grupos de dois a quatro indivíduos, mesmo em habitats homogêneos e abertos, como afloramentos rochosos (Rodrigues, 1987). Neste caso, apresentam comportamento territorialista, dada a homogeneidade deste tipo de ambiente, (Carpenter, 1977).

As espécies de Tropidurus que habitam áreas rochosas no cerrado do PESCAN devem apresentar o comportamento territorialista característico, com emissão dos sinais característicos de alerta e comunicação, tais como o balançar de cabeça, o levantar de cauda pela fêmea e/ou o ataque a outros indivíduos para a defesa do território (Carpenter, 1977).

O objetivo deste trabalho é verificar o comportamento de Tropidurus torquatus com a presença de outro indivíduo macho ou fêmea na área de sua residência através da oferta de marionetes vivas.

Metodologia

Foi investigado o comportamento territorial de Tropidurus torquatus comparando tipo, frequência e tempo empregado em posturas agrressivas e não agressivas de lagartos residentes durante a manipulação

experimental de invasores intraespecíficos.

O experimento foi conduzido em uma área de cerrado sensu stricto no PESCAN,

GO, próximo à sede do parque, durante o período de seca (agosto 2003). A maior parte do parque é representada pelo cerrado s.s e por campo rupestre em áreas de afloramentos rochosos. Os dados foram coletados no dia 4 de agosto de 2003, no período entre 9:00 e 12:00h, onde os indivíduos adultos

apresentam maior atividade. Foram considerados adultos lagartos com

comprimento rostro-anal superior a 60 mm.

Para simular a invasão, os lagartos residentes (focais) foram expostos a outro indivíduo adulto (marionete), preso a uma vara de pesca através de um de fio dental.

Para a captura da marionete foi utilizada uma vara de pesca munida de uma laçada na extremidade.

Após a exposição do invasor ao residente, este era, sempre que possível, capturado, identificado, sexado, medido e solto novamente. Foram tomadas as medidas de peso e comprimento rostro.

Foram descritas as posturas relacionadas com a comunicação entre o indivíduo focal e a marionete, tendo sido escolhidas para análise as posturas mais importantes. Os comportamentos procurados foram flexões; flexões de cabeça; perseguir;

morder; montar; arquear a cauda; arquear a coluna; levantar a cauda; ficar imóvel; lamber a pedra; lamber outro lagarto; saltar; fugir, entre outros. Estas situações foram criadas para observar e medir a semelhança e intensidade dos comportamentos que sugerem efeitos de competição intraespecífica.

A hipótese de diferença entre as posturas de comportamentos com a exposição

de machos e fêmeas foram testadas através de um teste χ2 em nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão

Foram observados 12 lagartos, sendo que para 66% deles (8 inds) foi oferecido a marionete fêmea e para o restante foi oferecido apenas o macho, simulando uma invasão de sítio de residência.

O peso dos lagartos variou de 6 a 75 g, sendo o macho marionete o indivíduo com maior peso e comprimento rostro-anal (Tabela 1), o que pode ter influenciado na resposta dos indivíduos focais. Houve uma correlação positiva (r2 = 0.7969) entre o comprimento rostro-anal e o peso dos lagartos, sendo esta uma relação direta, ou seja, a medida que o animal cresce há um aumento de peso (Figura 1), indicando que indivíduos maiores e mais fortes podem apresentar um melhor potencial de defesa de território, intimidando lagartos menores.

Não houve diferença significativa entre o comportamento dos indivíduos focais quando oferecidos macho e fêmea (Exato de Fisher = 1,00). Todos os indivíduos

apresentaram comportamento territorial (Tabela 2).

A primeira reação dos indivíduos focais com a presença das marionetes foi o reconhecimento do indivíduo invasor através da emissão do sinal de balançar lateralmente ou verticalmente a cabeça. Esse

reconhecimento foi seguido de uma outra resposta, a de ficar ou a de fugir. O indivíduo focal que foge com a presença do marionete pode ser interpretado como uma fuga ao acaso ou como intimidação em relação ao invasor.

No caso do indivíduo focal

permanecer, dois tipos de respostas podem ser esperadas: (1) a de ficar imóvel tolerando a presença do invasor ou (2) atacar. Todos os lagartos focais que não fugiram no primeiro

contato com a marionete, não demonstraram comportamento de ataque, talvez devido ao tamanho superior do macho que pode ter influenciado na resposta de ataque do lagarto (intimidação). O mesmo comportamento foi observado quando a marionete fêmea era oferecida aos lagartos residentes. No entanto, no território de um lagarto macho podem coexistir mais de uma fêmea, o que poderia justificar a tolerância dos residentes à presença da fêmea invasora.

Conclusão

Os lagartos Tropidurus torquatus residentes no Parque de Caldas Novas, próximo ao alojamento, apresentam comportamento territorialista, emitindo sinais de balançar a cabeça lateral e verticalmente e fugir, não demonstrando sinais de ataque ao invasor macho ou fêmea. A resposta dos indivíduos residentes à presença de um invasor pode estar relacionada ao sexo, ao tamanho, ou ainda, ao comportamento do invasor.

Referências

Araujo, A. F. B., 1987. Comportamento alimentar dos lagartos: o caso dos Tropidurus do grupo torquatus da Serra de Carajás, Pará (Sauria: Iguanidae). Encont.

An. Etol. V: 203-234.

Carpenter, C.C., 1977. The agressive displays of three species of south american iguanid lizards of the genus Tropidurus.

Herpetologica 33: 285-289.

Rodrigues, M. T., 1987. Sistemática, ecologia e zoogeografia dos Tropidurus do grupo torquatus ao Sul do Rio Amazonas (Sauridae, Iguanidae). Arq. Zoo: 31: 105-230.

Tabela 1. Medidas morfométricas de lagartos Tropidurus torquatus do PESCAN – GO.

Indivíduo Rostro-anal Peso (g)

Fêmea Marionete 68 14

Macho Marionete 120 75

Residente 1 (F) 53.7 6

Residente 2 (M) 82 11

Residente 3 67 21.5

Residente 4 (F) 76 16.5

Tabela 2 – Tipo de comportamento apresentado por indivíduos de Tropidurus na presença de marionetes macho e fêmea, simulando a invasão de sua área de vida.

Comportamento Marionetes Territorial Neutro

Fêmea 8 0

Macho 3 0

Figura 1. Regressão linear do comprimento rostro-anal e do peso dos Tropidurus torquatus encontrados no PESCAN, GO.

0 20 40 60 80 100 120 140

0 10 20 30 40 50 60 70

Peso (g)

Compr. Rostro-anal (mm) Y = -46.46X + 0.8878

R2= 0.7969

G 4.2. DISTRIBUIÇÃO DE Wunderlichia mirabilis Riedel & Baker (ASTERACEAE) EM GRADIENTE ALTITUDINAL NO PARQUE