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Experiência do predador e eficiência de captura de modelos crípticos e aposemáticos

Número de flores masculina s

G.5.3. Experiência do predador e eficiência de captura de modelos crípticos e aposemáticos

Ana Luiza R. Caldas, Ana Paula de Oliveira, Edivane Cardoso, Pablo Sebastian T. Amaral, Paulina de Araújo Ribeiro

Orientador: Jader Marinho-Filho Introdução

A predação envolve interações de organismos que geram processos de seleção natural e, conseqüentemente, de evolução da comunidade. Pode-se esperar que as atividades dos predadores influenciem na evolução de suas presas e vice-versa. É sabido que animais adultos bem estabelecidos em certo território escapam bem da predação, enquanto que os que não têm território, ou são expostos ou feridos em lutas são muito mais freqüentemente predados (Begon et al, 1990).

Presas possuem variadas e complexas estratégias adaptativas para evitar seus predadores (Ricklefs, 1979). Animais palatáveis (sem defesas químicas contra predadores) são freqüentemente associados a comportamentos e padrões morfológicos de camuflagem. Os organismos que visualmente misturam-se ao seu substrato a fim de passarem despercebidos são chamados crípticos (Ricklefs, 1979). Por outro lado, animais impalatáveis freqüentemente parecem avisar seus predadores de sua toxicidade com padrões e cores brilhantes ou contrastantes (Begon, 1990). Este fenômeno é conhecido como aposematismo e, para que seja efetivado, o predador necessariamente terá que passar por um período de aprendizagem na qual as suas investidas nesse tipo de presa resultarão em reação aversiva (Alcock, 1988 apud Nascimento et al, 2001).

O aprendizado tem papel importante no sucesso de captura do predador, principalmente nos vertebrados com complexos sistemas nervosos, passando a

agir de modo a selecionar apenas as presas palatáveis. Com a experiência forma-se uma imagem de busca (ou captura) que inclui as espécies crípticas de presas, pois um objeto é sempre mais fácil de ser encontrado quando se tem uma forma e hábitos das presas pré-concebidos, resultando numa maior eficiência de captura (Ricklefs, 1996).

O objetivo deste trabalho foi verificar se a aquisição de experiência do predador aumenta seu sucesso de captura sobre modelos crípticos e aposemáticos.

Material e Métodos

O estudo de aprendizagem do predador foi realizado no dia 07 de agosto de 2003 na trilha da Cascatinha do Parque Estadual da Serra de Caldas – PESCAN, GO. Esta trilha foi escolhida por ter uma vegetação relativamente densa e permitir a simulação de procura de predadores pelas suas presas em uma ambiente heterogêneo.

Para simular as presas, foram confeccionadas larvas com formato vermiforme de massa de modelar, biodegradável e atóxica, 60 na cor verde para representar a presa críptica e 60 nas cores vermelho e preto para simular a aposemática.

As presas foram dispostas aleatoriamente sobre a vegetação periférica ao transecto da trilha, de 0,3 a 2,0 metros de altura em relação ao nível do solo e até 2,0 metros para cada lado da trilha.

Os constituintes do grupo (alunos) simularam o papel dos predadores, sendo visualmente orientados na procura das presas.

Cada predador procurou as presas ao longo do transecto por 10 minutos e coletou todas

as presas encontradas para contagem ao final do período. Após a contagem, as presas eram recolocadas aleatoriamente ao longo do transecto para manter a mesma disponibilidade de presas para cada predador.

Cada aluno percorreu o transecto três vezes, perfazendo um total de 15 contagens, a fim de avaliar o aprendizado ao longo das tentativas. A alta capacidade de aprendizagem do ser humano justifica que poucas repetições sejam feitas para simular a formação de imagem de busca feita por outros vertebrados (aves e mamíferos).

A hipótese testada foi a de que a experiência do predador, decorrente do tempo de aprendizagem, aumenta sua eficiência de predação. Esta hipótese foi testada estatisticamente por meio teste X2 para duas amostras independentes em duas hipóteses nulas:

H01 – Não há diferença nas taxas de predação entre predadores ingênuos (T1) e predadores experientes (T3).

H02 – Não há diferença significativa nas taxas de predação de modelos aposemáticos e crípticos.

Resultados e Discussão

De acordo com a análise dos dados, pode-se observar que houve diferença significativa entre os predadores ingênuos (t1) e experientes (t3) (com Z=3,3967 e p<<0,05), o que indica aprendizagem com a experiência (Figura 1). Da mesma forma, pode-se notar que houve diferença entre os modelos crípticos e aposemáticos (χ2 = 7,059 e p<

0,05), mostrando eficiência do predador em relação às presas palatáveis.

A quantidade de presas aposemáticas manteve-se praticamente constante ao longo das coletas, possivelmente pelo fato destas serem visíveis, não evidenciando a formação

da imagem de busca. Em contrapartida, o aprendizado auxiliou no encontro dos modelos crípticos (Figura 1). Esta tendência geral repetiu-se individualmente para predadores (Figura 2), onde pode-se observar constância na captura de modelos aposemáticos e melhoria na eficiência de captura para modelos crípticos.

Portanto pode-se concluir que os predadores visivelmente orientados, com capacidade de aprendizado, aumentaram a eficiência na captura de presas crípticas à medida que adquiriram experiência. Fazendo-se um paralelo com a natureza, o predador que necessita de capturar presas crípticas, possivelmente aperfeiçoa-se na formação de imagem de busca de suas presas de interesse e não se preocupa em buscar presas que já têm visibilidade acentuada. Uma vez que estas, possivelmente, são palatáveis e oferecem maior recompensa em relação às aposemáticas.

Referências Bibliográficas

BEGON, M.; HARPER, J.L. &

TOWNSEND, C.R. Ecology: individuals, populations, and communities. 2.ed.

Boston: Blackwell, 1990.

NASCIMENTO, A.; BRANT, A.; BORG, A.J. & KANEGAE, M. Aprendizagem de predadores e seleção entre lagartas crípticas e aposemáticas. In: Métodos de campo em ecologia: Relatórios. p.9-10 2001.

RICKLEFS, R.E. A economia da natureza.

3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 470 p.

0 20 40 60 80 100 120 140

t1 t2 t3

Repetições

Presas capturadas

Aposemáticas Crípticas

Figura 1. Total de presas aposemáticas e crípticas, capturadas em relação a cada uma das três repetições.

AnaLoo

0 5 10 15 20 25 30 35

t1 t2 t3

Repetições

Presas capturadas

Aposemáticas Crípticas

Paulina

0 5 10 15 20 25 30 35

t1 t2 t3

Repetições

Presas capturadas

Edivane

0 5 10 15 20 25 30 35

t1 t2 t3

Repetições

Presas capturadas

Ana Paula

0 5 10 15 20 25 30 35

t1 t2 t3

Repetições

Presas capturadas

Pablo

0 5 10 15 20 25 30 35

t1 t2 t3

Repetições

Presas capturadas

Figura 2. Quantidade de modelos de presas aposemáticas e crípticas, capturadas por cada aluno nas três repetições.

G6.1 Interação entre morcegos e plantas no Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, GO

Adriana Fernandes, Ben Hur Marimon-Junior, Emanuele Pomini, Laudicéia F. Lima e Raquel Ribeiro

Orientação: Prof. Dr. Jáder Marinho-Filho

Introdução

Características morfológicas de flores podem estar voltadas para a atração de vetores específicos de pólen, assim como diversas características de frutos podem estar relacionadas à dispersão por determinados agentes. O conjunto dessas características das plantas é chamado de síndrome de polinização e síndrome de dispersão (Alves et al. 2000). Pressões de seleção nas plantas conduziram a essas adaptações, as quais resultaram em maior eficiência na polinização e na dispersão (Pinheiro &

Ribeiro 2001). De forma recíproca, os morcegos adaptaram-se para um melhor desempenho de forrageamento, tornando-se fiéis agentes polinizadores e dispersores.

Plantas polinizadas por morcegos apresentam antese noturna, flores grandes com odor característico, coloração pouca conspícua (verde, amarelo-pálido ou branco), em forma de cálice ou tubular com estames dispostos em forma de pincel e capazes de armazenar grande quantidade de néctar (Crawley, 1997). Os morcegos polinizadores (nectarívoros) apresentam características morfológicas e comportamentais próprias para a exploração deste recurso, como olfato apurado, focinho comprido e língua longa, terminada em papilas filiforme que funcionam como pincel. São animais grandes, de vôo manobrável e capazes de pairar no ar para buscar seu alimento no interior da flor.

As plantas dispersadas por morcegos apresentam frutos carnosos, ricos em lipídios e localizados nas extremidades dos ramos,

pendentes ou caulicarpos, com coloração pouco conspícua e aroma característico (Crawley, 1997). Os morcegos dispersores (frugívoros) possuem um vôo menos manobrável, permitindo visitas rápidas que evitam predadores. Várias estratégias de fuga podem ser verificadas por estes animais, como o hábito noturno, o uso de corredores de vôo e alimentação distante da fonte de obtenção (pouso de alimentação). Estes animais apresentam uma taxa metabólica elevada, olfato apurado, atividade noturna e visão compensada por mecanismos de ecolocalização.

O objetivo do presente trabalho foi descrever as características de morcegos que mantêm interações com plantas e relacioná-las com características de plantas que apresentam síndrome de quiropterofilia e quiropterocoria.

Material e métodos

O estudo foi realizado na mata de galeria próxima à sede do Parque Estadual da Serra de Caldas, na noite do dia 08 de agosto de 2003. Foram escolhidos três pontos próximos ao Córrego Cascatinha: 1 – ao lado de um poço acima da queda d’água principal; 2 -após a queda d’água e 3 – a aproximadamente 100 metros de distância da cascata. Nestes locais foram colocadas as redes de espera para captura de morcegos, abertas após as 18:00 h e vistoriadas em intervalos de 30 minutos.

Após a captura, os morcegos foram identificados, observados quanto às suas características morfológicas ligadas ao tipo

de alimentação, sexados e acomodados em sacos de tecido. A etapa de captura foi encerrada por volta de 21:30 h, quando foram desarmadas as redes e feita uma vistoria dos locais próximos em busca de plantas que apresentassem características de quiropterofilia ou quiropterocoria. Na manhã seguinte, foi realizada nova busca pela trilha, a fim de se detectar mais plantas que possuíssem características de síndrome de dispersão ou polinização por morcegos.

Resultados e discussão

Foram capturados seis indivíduos pertencentes a três famílias e quatro espécies (Tabela 1), todos durante a primeira hora de espera, uma vez que a partir da segunda hora a atividade dos morcegos diminuiu em função da noite muito clara.

Foram examinados indivíduos das árvores Dipteryx alata (Leguminosae) e Cecropia pachystachia (Cecropiaceae), as quais apresentam características de quiropterocoria, compatíveis com as estruturas anatômicas da espécie Artibeus lituratus, tais como o grande porte do indivíduo, dimensões e formato do focinho e das asas. O exemplar de espécie Carollia perspicillata, também frugívoro, escapou antes de ser examinado. Nas proximidades do local de coleta foram encontrados vários frutos de D. alata com marcas de dentes compatíveis com A. lituratus, o que sugere um pouso de alimentação. Esta relação entre o morcegos e a planta é uma evidência de um processo co-evolutivo, onde a planta oferece uma recompensa sob a forma de frutos ricos em carbohidratos e o morcego retribui com a dispersão.

As espécies Bauhinia sp. (arbusto) e Caryocar brasiliense (árvore), encontradas nas proximidades do local de coleta, apresentaram características compatíveis com quiropterofilia, como flores claras nas extremidades dos ramos, odor acre característico e peças anatômicas em forma de cálice para oferecer néctar a morcegos nectarívoros como o Glossophaga soricina.

Este, por sua vez, possui focinho afilado, língua bastante longa e com papilas filiformes, adaptações estas necessárias para alcançar o néctar, além das asas curtas e com um formato que possibilita pairar ante a flor durante a coleta.

As demais espécies capturadas são insetívoras e, portanto, não mantém relação estreita com plantas.

Referências bibliográficas

Alves, D.M.; Missirian, G.L.B.; Romero G.Q. & Corrêa, M.M. 2000. Síndromes de polinização em ambientes perturbados e não perturbados na fazenda Nhumirim. In:

Ecologia do Pantanal: curso de campo 2000. J.C.C. Santos, J.M. Longo, M.B.

Silva, A. Chiarello & E. Fisher (Eds.) FUFMS, Campo Grande. 197 p.

Crawley, M. J. 1997. Plant ecology. 2nd ed.

Blackwell Science; Oxford. 717 p.

Pinheiro, F. & Ribeiro, J. F. 2001. Síndromes de dispersão de sementes em Matas de Galeria do Distrito Federal. In: Cerrado:

caracterização e recuperação de matas de galeria. J. F. Ribeiro, C. E. L. da Fonseca

& J.C. Souza-Silva (eds). EMRAPA-Cerrados, Planaltina. 899 p.

Tabela 1 – Número de indivíduos, espécies, hábito alimentar e família de morcegos capturados em uma mata de galeria no PESCAN

N Espécie Hábito alimentar Família

2 Artibeus lituratus 1 Carollia perspicilata

Frugívoro Frugívoro 1 Glossofaga saricina Nectarívoro

Phyllostomidae

1 Não identificada Insetívoro Molossideae

1 Eptesicus brasiliense Insetívoro Vespertilionidae

G 6.2. INFLUÊNCIA DE CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS NA