• Nenhum resultado encontrado

Diferença na composição da comunidade de Vertebrados no Córrego do Paredão (PESCAN GO)

Indivíduos

CALDAS NOVAS, CALDAS NOVAS – GO Maria Alice de Medeiros

I.2.8 Diferença na composição da comunidade de Vertebrados no Córrego do Paredão (PESCAN GO)

Adriana C. M. Fernandes & Raquel Silva Introdução

Entre um milhão de espécies animais descritas, 5% são vertebrados. Atualmente cerca de 10 espécies de tartarugas, 5 de crocodilos, 15 de amphisbaena, 47 de lagartos, 107 de cobras e 113 de anfíbios ocorrem no Bioma Cerrado. Destas espécies, algumas são típicas de Biomas de Floresta Atlântica e Amazônica, mas frequentemente ocorrem no Cerrado, em florestas de galeria (Colli et.al., 2002).

A coexistência de diversos grupos de vertebrados pode ser facilitado pela divergência ecológica, principalmente devido a organização social e distribuição espaço-temporal nas comunidades. Padrões de distribuição espacial de anuros são influenciados pelas interações bióticas e abióticas (principalmente umidade) que resultam na divisão de sítios reprodutivos entre espécies (Crump, 1974).

Os anfíbios anuros apresentam uma elevada diversidade em áreas tropicais, podendo ser aquáticos, terrestres, fossoriais, arbóreos ou combinações desses (Caldwell,1996).

Muitas espécies vivem sobre árvores e em diferentes substratos. A abundância e a riqueza de espécies tendem a aumentar com a diversidade de serrapilheira (Duarte, 1996).

A estrutura da comunidade de anuros tem sido estudada em cursos de ecologia de campo englobando aspectos de riqueza e distribuição de anuros (Bejar, 2000 ; Ramos, 2001); composição de espécies (Saco et al., 2000), distribuição (Rodrigues et al., 200) e dieta alimentar (Alves et al., 2000). Nosso objetivo foi inventariar a fauna de anuros (girinos e adultos) e peixes em um riacho, comparando a variação da composição em diferentes períodos do dia (manhã e noite).

Material e Métodos

O estudo foi realizado entre os dias 04 e 05 de agosto de 2003, respectivamente nos períodos noturno e diurno, em um riacho apresentando leito seco e poças d’água e áreas adjacentes com vegetação ciliar, localizados em um vale rochoso, com declividade acentuada.

Foram determinados sete sítios ao longo do riacho em um gradiente longitudinal de altitude com as seguintes características.

Em cada ponto, peixes e anfíbios, foram observados com relação à presença e ao grau de dominância das espécies. O grau de dominância determinado variou de 1 a 3, sendo o primeiro considerado raro, o segundo comum e o último dominante. Em alguns pontos do riacho e na mata foram coletados indivíduos para posterior identificação.

Foram tomadas também medidas de temperatura da água e profundidade no local de coleta. As espécies foram identificadas através da comparação com inventário realizado a priori na região (Lopes et al. 2002), devendo ser, posteriormente confirmada por especialista.

Os indivíduos de anuros adultos e girinos foram fotografados e devolvidos para o seu habitat original.

Resultados e Discussão

A temperatura da água variou de 15.5o C a 18.8oC no período noturno e de 16.6o C a 17.5oC, durante a manhã, não sendo um fator determinante na dominância das populações de girinos e peixes.

Foram encontrados 3 morfo-espécies de anuros adultos, uma de girino e uma espécie de peixe, Astyanax fasciatus. Houve diferença na dominância de peixes e anuros ao longo do riacho, nos pontos 1, 2 e 5 os peixes foram dominantes, enquanto os anuros foram dominantes nos pontos 3 e 6 (04. viii. 2003) durante a noite (Figura 1). A dominância dos peixes nesses pontos pode

estar relacionada com o volume de água e a disponibilidade de recurso, sendo que esses pontos apresentaram maior volume e grande quantidade de matéria orgânica de origem alóctone constituída, principalmente, de folhas (Tabela 1).

No período da manhã (05. viii. 2003) não houve diferença na população de peixes entre os períodos noturno e diurno. Em todos os pontos os girinos foram raros, sendo observado apenas um girino de coloração amarela no ponto 5 (Tabela 2).

Os girinos apresentam hábito noturno e por isso não foram observados durante o dia, indicando alterações na dominância dos girinos entre o dia e a noite, principalmente nos pontos 3 e 6.

As espécies de anuros adultos descritas neste trabalho, foram coletadas em dois ambientes distintos; duas na mata adjacente ao rio, no ponto 2, uma a 1m de altura de uma árvore, a outra às margens de um lago formado próximo ao paredão, no ponto 1. (Tabela 3.). Não foi possível a identificação dos anuros adultos e girino, por isso estes foram identificados em nível de morfo-espécie com descrição das principais características.

Descrição das Espécies Anuros

Sp. 1. Dorso rajado e de coloração de verde a marrom, ventre bege, textura rugosa, flancos mais claros que o corpo, membranas interdigitais bem desenvolvidas, pseudo-tímpano evidente, pupila de formato transversal. Indivíduos entre 5,1 e 5,4 cm de comprimento rostro-anal. Não existe diferença em tamanho entre os dedos das patas traseiras.

Sp.2. Espécie arborícola de dorso marrom rajado, ventre claro sem granulação ou liso, ausência de membranas interdigitais, quarto dedo das patas posteriores mais longo que os demais, pseudo-tímpano evidente. Comprimento rostro-anal: 2.1 cm.

Sp.3. Espécie arborícola com dorso de coloração castanho-avermelhada, ventre claro sem granulação ou liso, ausência de membranas interdigitais, quarto dedo das patas posteriores mais longo que os demais, pseudo-tímpano evidente. Indivíduo com comprimento rostro-anal de 3.0 cm.

Girino

Sp1. Girino de cor amarela com manchas escuras na cabeça e na cauda. Cauda com cerca de duas vezes o tamanho do corpo.

Boca localizada na região ventral da cabeça. Aparentemente, apresenta hábito noturno, não sendo visualizado durante o dia.

Referências Bibliográficas:

Alves, D.M. Raizer, P.A.A.C. Lacerda, A.C.R. & Santos, F.S. dos. 2000. Dieta de Leptodactylus podicipinus (Leptodactylidae) no Pantanal da Nhecolândia. 80-85p. In: Ecologia do Pantanal: curso de campo. Santos, J.C.C. dos; Longo, J.M.; Silva, M.B. da;

Chiarello, A. & Fischer, E.(eds). 197pp.

Bejar, M.E.P. 2000. Riqueza y distribución de anfibios anuros en km 41 (Amazoná Central) na epoca seca. VII Curso de Campo em Ecologia da Floresta Amazônica. INPA/Smithsonian Institution/Unicamp/ OTS.157-159p.

Caldwell, J.P. 1996. Diversity of amazonian anura: the role of systematics and phylogeny in identifing macroecological and evolutionary pattterns. 73-88p. In:

Neotropical biodiversity and conservation. Gibson, A. (ed.). Univ.

California,USA.

Colli, G.R., Bastos, R.P, & Araujo, A.F.B.

2002. The charater and dynamics of the Cerrado herpetofauna. 223-241p. In:

The cerrados of Brazil. Ecology and Natural History of a Neotropical Savanna. Oliveira, P.S.& Marquis,

R.J.(eds.). Columbia University, New York.398pp.

Crump, M.L. 1974. Reproductive strategies in a Tropical anuran community. Miscellaneous Publication of the Museum of Natural history.

Univ.Kansas. 61:1-68p.

Duarte, A.C. 1996. Distribuição da fauna de anuros e lagartos no gradiente Plató-igarapé. IV Curso de Campo em Ecologia da Floresta Amazônica.

INPA/Smithsonian Institution/Unicamp/

OTS. 299-303p.

Lopes, F.S.;Oliveira, F.R.; Consolaro, H.&

Rodin, P. 2002. Levantamento de anuros do Parque estadual da serra de Caldas Novas, GO (PESCAN). Métodos de Campo em Ecologia. Universidade de Brasília, Brasília.

Ramos, J.V.R. 2001. Riqueza e distribuição de anuros em baia da Fazenda Rio Negro, Pantanal da Nhecolândia.185-194p. In: Ecologia do Pantanal: curso de campo. Camargo,G.; Longo, S.Y.S;

Amaral, P.P. do; Santos ,M.C. dos &

Fischer, E.(orgs.) Oeste. Campo Grande, MS 236pp.

Rodrigues, D.J.; Almeida, M.T.; Fernandes, F.M. & Corrêa, M.M. 2000. Distribuição de anuros numa lagoa permanente, Pantanal da Nhecolândia. 36-39p. In:

Ecologia do Pantanal: curso de campo. Santos, J.C.C. dos; Longo, J.M.;

Silva, M.B. da; Chiarello, A. & Fischer, E.(eds). 197pp.

Saco, T.P.; Silva, M.B.Brito, J.M.de; Filho, J.A.S & Lima,A.C. 2000. Ocorrência de anuros e sauros em platô e baixio na reserva Ducke, Manaus – Amazonas.VI Curso de Campo em Ecologia da Floresta Amazônica.

INPA/Smithsonian Institution/Unicamp/

OTS.

Agradecimentos

Agradecemos aos colegas Pablo S. Amaral e Alexandre F.B. Araujo, pelo auxílio nas coletas e Maria Inês C. Moreno, pelo auxílio nas fotografias.

Tabela 1. Descrição dos sítios de amostragem ao longo do Riacho de Caldas (PESCAN, GO) no período de seca (04 e 05. viii. 2003).

Sítio de Coleta Descrição

Sítio 1 Água parada, tamanho do poço 5 x 4 m, 1,30m de profundidade máxima. Na área central, o substrato é constituído, principalmente, por pedras e seixos; na margem direita predomina o substrato constituído por areia fina. Presença de mata de galeria com pouca entrada de luz . Grande quantidade de folhas no leito, principalmente nas margens.

Sítio 2 Vazão reduzida formando um estreito lago de 1 x 30 m, constituída por seixos, com profundidade máxima de 0,5m, presença de grande número de folhas e pouca luminosidade.

Sítio 3 Pequeno poço sob substrato rochoso com sedimento fino e com profundidade máxima de 30cm, pouca quantidade de folhiço apenas na lâmina d’água.

Sítio 4 Pequeno poço (0.5x2m) situado em substrato rochoso, com profundidade máxima de 10–15 cm. Área com influência direta da luminosidade solar, aumentando a temperatura da água nas horas mais quentes do dia, sem folhiço sob o substrato.

Sítio 5 Volume de água reduzido formando um pequeno lago situado sobre substrato rochoso com pouco silte, tamanho de 0.5x2m e profundidade máxima variando entre 10–15 cm, grande entrada de luz.

Sítio 6 Pequeno lago (5 x 3 m); sedimento constituído por areia fina e silte situado sobre substrato rochoso e profundidade máxima de 1 m.

Presença de mata de galeria fechada permitindo pequena entrada de luz.

Sítio 7 Substrato rochoso constituído exclusivamente por seixos, tamanho de aproximadamente, 1,0 x 0,7 m e profundidade entre 30 – 40 cm; muito material alóctone com poucas horas de exposição solar direta.

Tabela 2 – Relação da dominância dos vertebrados encontrados no riacho do Paredão (PESCAN, GO), durante os períodos noturno e diurno.

Noite Manhã

Pontos

Peixe s

Girinos T. água (0C)

Prof. de coleta (cm)

Peixes Girinos T. água (0C)

Prof. de coleta (cm)

1 3* 2* 16.7 14.5 3 1 17.5 14.5

2 3 2 16.7 10.0 3 1 16.8 10.0

3 1* 3 17.7 30.0 1 1 17.0 30.0

4 1 3 17.5 15.0 1 1 17.2 15.0

5 3 2 15.5 44.0 3 1 16.9 44.0

6 3 2 18.8 50.0 3 1 16.6 50.0

7 1 1 17.8 20.0 1 1 16.9 20.0

*raro (1); comum (2) e dominante (3)

Tabela 3- Relação de espécies por ponto de coleta e sua descrição.

Espécie Ponto de Coleta Descrição do local de coleta

Sp.1. 2 Rochas e vegetação marginal do riacho

Sp.2. 4 Rochas na vegetação marginal

Sp.3 4 Árvore próxima ao lago

Figura 1 –Variação da dominância entre peixes e girinos no riacho do Paredão (PESCAN, GO) durante a noite em 04 de agosto de 2003.

0 1 2 3 4

1 2 3 4 5 6 7

Pontos de coleta

Dominância

Peixes Girinos

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas