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G4.3- SUCESSO REPRODUTIVO DE QUATRO ESPÉCIES DE ARECACEAE EM CERRADO, PARQUE ESTADUAL DE CALDAS

NOVAS, GO.

Ana Luiza Rios Caldas, Ana Paula de Oliveira, Edivane Cardoso, Pablo S.T. Amaral, Paulina Araújo Ribeiro

Orientação: Prof. Dr. John Hay Introdução

Silva et al. (1996) citam vários autores que afirmam que o sucesso reprodutivo de plantas pode ser influenciado por uma série de

fatores tais como falta de nutrientes (Lloyd, 1908; Stephenson, 1981), tamanho da planta (Weiner & Thomas, 1986), falta de pólen e ou polinizador (Vaughton, 1991; Stephenson, 1981), tamanho da inflorescência (James et al., 1994), morfologia da flor ou

inflorescência (Ramirez & Berry, 1995), localização do fruto (Wyatt, 1982), número de sementes (Janzen, 1979) e período de floração (James et al., 1994). Estes fatores poderiam influenciar a produção de botões/flores/frutos da planta.

A família Arecaceae é constituída por monocotiledôneas comumente conhecidas como palmeiras. É uma das maiores famílias de plantas do mundo e é bem caracterizada pela forma e aspecto. Distribuem-se principalmente nos trópicos, raramente chegando até áreas subtropicais. Suas formas de crescimento são diversas, além de

ocorrerem nos mais variados ambientes e ocuparem vários estratos das formações vegetais. Muitas vezes tem caule solitário e até mesmo caules subterrâneos (Ribeiro, 1999).

A taxa de reprodução é um importante elemento de história de vida que mostra a

"taxa" de indivíduos de diferentes idades em termos da quantidade de futuras produções de prole. Sementes têm baixa taxa de

reprodução, pois tem alta mortalidade após a reprodução (Crawley, 1997).

Os objetivos deste experimento foram (1) Avaliar o sucesso reprodutivo, entre as fases de floração e frutificação, de quatro espécies de palmeiras do Cerrado; (2) avaliar se a quantidade de frutos produzidos por espécie é semelhante entre os indivíduos de cada espécie; e, (3) verificar diferenças entre a quantidade de flores emitidas e a

quantidade de frutos que se desenvolvem.

Material e métodos Área de estudo:

O estudo foi realizado em área de cerrado no topo da serra do Parque Estadual de Caldas Novas, compreendendo duas áreas. A primeira localiza-se às margens de uma estrada de manutenção do parque, a cerca de 990m de altitude, entre as coordenadas 17o47´10,1" S e 48o40´10,2" W e 17o47'32,3"

S e 48o40´22,1" W. A segunda área foi utilizada para incrementação do número de amostras de S. petraea e situa-se à sua borda oeste, também às margens da estrada de manutenção.

Espécies estudadas:

As espécies de Arecaceae estudadas foram:

Syagrus flexuosa L. F., S. petraea (Mart.) Becc., Allagoptera leucocalyx (Mart.) O.

Kuntze e Butia capitata (Mart.) Beccari. Na área de estudo S. frexuosa e B. capitata apresentam caule lenhoso, enquanto que as demais são acaules.

A espécie Syagrus flexuosa (Mart.) Becc. é conhecida popularmente como

akumá, aricuri, arikury, coco-babão, coco-de-quaresma, coqueiro-do-campo e

palmito-do-campo. Pode ocorrer em cerradão, cerrado e mata. Floração de janeiro a abril e

frutificação com frutos jovens a partir de janeiro, com maturação por volta de setembro. Palmeira monóica geralmente medindo 1 a 2,5 m, raramente até 5 m. Flores com 1,5 a 2,5 cm de comprimento,

unissexuais, actinomorfas,

branco-amareladas, sésseis; flores masculinas apicais nos ramos da inflorescência; flores femininas basais nos ramos da inflorescência.

B. capitata tem como hatitat Cerrado sensu stricto. A floração pode ser de maio a junho e de outubro a novembro. Pode atingir 4,0 m de altura e seu caule é curto. Suas flores são amarelas e o fruto é carnoso, oval, de coloração amarela quando maduro, além de ser comestível (polpa) e bastante

aromático. As folhas são utilizadas na produção de vassoura (Silva, 1998).

Coleta de dados:

Foram realizadas coletas aleatórias de inflorescências ainda fechadas e infrutescências desenvolvidas. Para inflorescências, foram coletados dados relativos ao comprimento da raquis no intervalo com flores e do intervalo com apenas flores femininas, o número de flores femininas e a quantidade de flores

masculinas, sendo este último dado estimado para as inflorescências de B. capitata, pela contagem de número destas em 10 ramos da espiga. Para influtescência, foram obtidos dados relativos a quantidade de frutos desenvolvidos, quantidade de flores

femininas abortadas, comprimento da ráquis no intervalo com flores femininas, além do comprimento e largura de até 6 frutos, quando disponíveis (todos quando em menor número).

Resultados e discussão

Não foram encontradas inflorescências de Syagrus flexuosa, certamente devido ao fato da amostragem ter sido realizada após período de florescimento e ainda durante

processo de frutificação. Quanto às demais espécies, foram analisadas duas

inflorescências de Syagrus petrea (pequena freqüência da espécie), cinco inflorescências de Butia capitata e quatro de Alagoptera leucocalyx.

Para todas as espécies que apresentaram inflorescências para estudo, houve maior produção de flores femininas do que masculinas. Ao todo, foram contadas, ou estimadas, 268 flores masculinas e 9516 flores femininas de B. capitata, a qual apresentou a maior relação entre flores femininas e masculinas, com média de 53,6 flores masculinas por inflorescência e 1903 femininas. Para S. petrea, foram encontradas 49 flores masculinas e 168 femininas, com média de 24,5 flores masculinas e de 84 femininas por inflorescência,

respectivamente. A. leucocalyx apresentou total de 653 flores masculinas e 2684

femininas, portanto apresentando, em média, 163,3 flores masculinas e 671 femininas por inflorescência, respectivamente (Figura 1).

Nota-se que todas as espécies estudadas apresentam maior quantidade de flores femininas do que flores masculinas.

Com relação a frutos, foram

observadas 10 infrutescências de cada uma das espécies estudadas, com exceção de S.

petrea, da qual foram observadas apenas quatro, devido à menor quantidade

encontrada, provavelmente devido à pequena freqüência de indivíduos ou pela amostragem ter sido realizada após o período de

dispersão, do qual não se obteve informações.

Das espécies estudadas, Alagoptera leucocalyx apresentou a maior média de número de frutos (97,8 frutos por

infrutescência), enquanto que Syagrus petrea apresentou a menor média de frutos por infrutescência (6,0), e as demais

apresentaram quantidades intermediárias (Syagrus flexuosa 33,5 e Butia capitata -23,8) (Figura 2).

Apesar da maior quantidade de frutos, A. leucocalyx apresentou a segunda maior

taxa de aborto de frutos/flores. S. flexuosa apresentou a maior taxa de abortos (27,1%), enquanto que S. petrea e B.capitata

apresentaram, em média, 14,5 e 12,9% de aborto, respectivamente (Figura 2).

Apesar do maior número de frutos produzidos, A. leucocalyx apresentou as menores dimensões do fruto, a qual teve média de 10,5 cm de comprimento e 8,6 cm de diâmetro. S. flexuosa apresentou as maiores dimensões, a qual apresentou média de 35 cm de comprimento por 15,7 cm de diâmetro. As duas demais espécies apresentaram dimensões intermediárias, sendo que B.capitata apresentou média de 19,7 cm de comprimento por 15,0 cm de diâmetro e S. petrea apresentou 15,7 x 13,5 cm (Figura 2).

Nota-se que S. flexuosa investe na produção de frutos maiores e que devem conter maior quantidade de polpa para oferecer aos dispersores quando maduros, sendo portanto uma estratégia que deve compensar as perdas na produção. Com base nos dados referentes ao investimento das espécies em produção de flores e à quantidade de frutos que atingem o desenvolvimento máximo, quando comparado com as demais espécies estudadas, nota-se que S. petrea investe poucos recursos na produção de flores e também apresenta pequena produção de frutos, enquanto que A. leucocalyx produz muitas flores e frutos, porém de pequenas dimensões.

Conclusões

Conclui-se que espécies da família Arecaceae apresentam variações na produção de flores, tamanhos e sucesso no desenvolvimento de frutos. S. petrea produz poucas flores e também poucos frutos, enquanto que A.

leucocalyx apresenta muitas flores e muitos frutos, de pequenas dimensões, indicando

satisfatório sucesso na produção de frutos, porém investindo menor quantidade de material nesta produção. Ainda, apesar da ausência de inflorescências, foi observada espécie com frutos de grandes dimensões e, conseqüentemente, com boa oferta de material carnoso e reserva (S. flexuosa), direcionados à dispersão e garantia de fonte inicial de nutrientes para desenvolvimento após germinação.

Referências bibliográficas CRAWLEY, M.J. Life history and

environment. In: M.J. Crawley. Plant Ecology. Blackwell publishing. 2.ed.

1997. p. 73-131.

RIBEIRO, J.E.L.S.; HOPKINS, M.J.;

VICENTINI, A.; SOTHERS, C.A.;

COSTA, M.A.S.; BRITO, J.M.; SOUZA, M.A.D.; MARTINS, L.H.P.; LOHMAN, L.G.; ASSUNÇÃO, P.A.C.L.; PEREIRA, E.C.; SILVA, C.F.; MESQUITA, M.R. &

PROCÓPIO, L.C. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. Manaus: INPA, 1999. 816p.

SILVA, D.M.S.; HAY, J.D. & MORAIS, H.C. 1996. Sucesso reprodutivo de Byrsonima crassa (Malpighiaceae) após uma queimada em um cerrado de Brasília-DF. In: Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. MIRANDA.H.S.;

SAITO, C.H. & DIAS, B.F de.

(Orgs.).UnB. Brasília, DF.

SILVA, S.R. Plantas do Cerrado utilizadas pelas comunidades da região do Grande Sertão Veredas. Brasília: Funatura, 1998.

109p.

Figura 1. Número de flores masculinas e femininas produzidas por inflorescência para as espécies Butia capitata (Bc), Syagrus petraea (Sp) e Allagoptera leucocalyx (Al) em área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

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