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(real) PREVIDÊNCIA FUTURA (hipotética)

“O INSS também é responsável pela concessão de benefícios com forte repercussão social. Atualmente, mais de 18 milhões de pessoas superam a linha de pobreza porque têm acesso a uma aposentadoria de R$ 200. Esse subsistema custa mais de R$ 14 bilhões, plenamente justificável por seu impacto social” (a).

“[...] instituir regimes de previdência complementar para capitalizar aposentadorias de seus servidores, cujos salários superem o teto pago pelo regime geral, do INSS” (d).

“[...] a necessidade de financiamento da previdência do setor público denuncia de forma inconteste a urgência de uma reforma capaz de criar regras mais justas e sustentáveis” (b).

“A sociedade brasileira terá a oportunidade de reduzir a desigualdade social e acelerar a retomada do crescimento econômico. [...]passará a tratar com maior igualdade os trabalhadores do setor público e do setor privado” (c).

“As diferenças de regras entre os dois sistemas previdenciários oneram de maneira desigual os recursos do Orçamento. [...] agrava ainda mais a desigualdade social no Brasil” (c).

“[...] a reforma permitirá à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios destinar [...] mais recursos a investimentos nas áreas sociais e de infra-estrutura [...]” (c).

A construção da imagem da Previdência pós-reforma caminha lado a lado com o desenvolvimento da argumentação no discurso governista. Permite que o governo expresse suas idéias sobre a Previdência e a sociedade que deseja construir e proporciona a construção de uma cadeia argumentativa que começa por criticar a Previdência atual e termina por enaltecer a Previdência depois de realizada a reforma.

A lógica da construção dessa cadeia argumentativa apresenta-se da seguinte forma:

a) 1º Pressuposto – A Previdência atual encontra-se em crise, onerando toda a sociedade e tornando injusta a contribuição previdenciária dos trabalhadores.

Ex: “Os dois sistemas, portanto, são subsidiados de forma desigual por toda a sociedade brasileira” (c).

b) 2º Pressuposto - A Previdência depois da reforma será equilibrada, justa e eficiente.

Ex: “[...] sistema sustentável, justo socialmente e direcionado para medidas que conferem segurança aos beneficiários” (a).

c) Logo - Precisamos fazer reforma para obtermos esta Previdência que queremos

Ex: “[...] queremos chegar a um regime que represente mudar com segurança, respeitando direitos e garantindo um futuro melhor” (a). Essas imagens antagônicas de ambas previdências, a real e a projetada, balizam a estrutura argumentativa do discurso governista que tem como cerne a colocação de que a Previdência Pública encontra-se em desequilíbrio e que a reforma vai equilibrá-la. Daí, a apresentação de uma Previdência frágil e problemática (com injustiças e desequilíbrios, sem viabilidade financeira) que contrasta com a imagem da Previdência projetada pelo governo (sustentável, justa e segura).

Outros pontos-chave na estrutura argumentativa do discurso governista são as questões da justiça social e da viabilidade financeira. Mencionadas ao longo dos textos, as idéias de promover justiça e viabilidade financeira ao sistema de Previdência reforçam a justificativa de mudança no sistema previdenciário.

Apesar de retratar o outro em seu discurso, o governo cede pouquíssimo espaço para a voz desse outro. Não há transposição de discurso relatado nem direto, nem indireto livre nos textos do site e nos autorais. As referências ao discurso do outro, geralmente quando se trata de um discurso crítico, são indiretas, pouco claras e permeadas de juízos de valor. Exemplos:

Quem postula uma posição de esquerda não pode ser contra a reforma da Previdência, já que ser de esquerda significa lutar pela justiça, pela igualdade e contra os privilégios. É incompatível definir- se de esquerda e defender um sistema previdenciário iníquo e injusto (GENOÍNO, Previdência: uma reforma justa e necessária, g). Uma visão de esquerda na Previdência não significa defender situações pré-estabelecidas, mas, ao contrário, enfrentar os desafios de construir o justo e o sustentável e liberar recursos públicos para que possamos construir um orçamento igualmente justo [...] (BERZOINI, c).

Há críticas graves e procedentes que terão por parte do Ministério da Previdência Social e da direção do INSS respostas objetivas e, quando necessário, duras (BERZOINI, a).

Os dois primeiros exemplos acima fazem referência a grupos de esquerda que criticam a reforma proposta pelo governo. A fala desses que “postulam uma posição de esquerda” é reproduzida de forma indireta no texto como sujeitos que se colocam “contra a reforma da Previdência” e em “defesa de situações pré-estabelecidas”. Nesta reprodução do discurso do outro estão implícitos processos como a seleção do que deve ser reproduzido, a interpretação dada a esse discurso e a forma de representação do mesmo; ainda estão implícitas as críticas que o governo tece a estes sujeitos e a suas falas.

Com “quem postula uma posição de esquerda” o presidente do Partido dos Trabalhadores questiona a real posição política do grupo a que se refere. Com “É incompatível definir-se de esquerda e defender um sistema previdenciário iníquo e injusto”, José Genoíno questiona ao mesmo tempo a posição ideológica desse outro sujeito e a defesa que ele faz, de uma Previdência “iníqua” e “injusta”.

O discurso governista se utiliza da voz do outro, em especial quando este outro é crítico ou antagônico das suas posições políticas e ideológicas, como uma forma de tecer críticas a este sujeito e ao seu discurso, de enfraquecer sua imagem, para, com isso, fortalecer a imagem do governo e suas idéias. Para tanto, reproduz trechos do discurso os quais interessa contra-argumentar e coloca aspectos da imagem desses sujeitos aos quais interessa criticar. A voz do outro aparece no discurso governista, portanto, com o intuito de reforçar o seu discurso, seja este outro concordando e apoiando as idéias e iniciativas do governo, seja criticando-as.

O PLP 9, um projeto de lei complementar que trata de parte da reforma da Previdência em discussão, foi transformado em dois enganosos fetiches. Para alguns, trata-se da própria reforma que dará justiça social e sustentabilidade orçamentária à Previdência do setor público. Para outros, expõe a prova cabal de que o atual governo apenas cumpre o roteiro definido por seus antecessores, mancomunados com banqueiros e organismos internacionais. A verdade, como de costume nesses casos, tem mais laços com a razão fria das letras do que com a emoção tendenciosa das vozes (BERZOINI, d).

O ministro da Previdência começa neste artigo falando de outros discursos, uns que apóiam, outros que criticam sua iniciativa de promover a reforma da previdência pelo projeto de lei (PLP 9). O texto divide as opiniões voltadas ao assunto em dois grupos:

a) os que apóiam - “Para alguns, trata-se da própria reforma que dará justiça social e sustentabilidade orçamentária à Previdência do setor público” (d);

b) os que criticam e são contra a reforma - “Para outros, expõe a prova cabal de que o atual governo apenas cumpre o roteiro definido por seus antecessores, mancomunados com banqueiros e organismos internacionais” (d).

Ao utilizar o termo “mancomunados”, o ministro ironiza a oposição que o critica. A ironia se completa com a frase seguinte: “A verdade, como de costume nesses casos, tem mais laços com a razão fria das letras do que com a emoção tendenciosa das vozes”, classificando seus críticos como emotivos e tendenciosos. O ministro coloca o governo e seus aliados do lado da razão e das letras, do lado da ordem, da racionalidade; enquanto que seus críticos são caracterizados como não tendo acesso a documentos e informações, como críticos sem fundamentação racional nem técnica, logo, como sujeitos pouco confiáveis e sem credibilidade. Dessa forma, o governo contribui para a construção de sua auto-imagem como sujeito responsável, preocupado com seu povo e capaz de cuidar dele (possui conhecimentos, informações e tem poder para isso, ou busca viabilizar os mecanismos para fazê-lo através de projetos aprovados pelo Congresso, por exemplo, como é o caso da mudança no sistema previdenciário). Ao mesmo tempo, o texto governista constrói uma imagem de seus críticos e opositores de sujeitos frágeis, desinformados, emocionalmente motivados, com visão retrógrada dos processos de mudança.

A percepção dessas imagens no discurso do governo contribui para o entendimento da construção do discurso sindical. É contra essas imagens geradas e esses argumentos estruturados que o discurso sindical se coloca ao longo de 2003, tentando desmistificar representações contidas no discurso governista, buscando derrubar seus argumentos. Ao mesmo tempo em que é influenciado, influência a fala do governo, numa troca constante que marca o desenvolvimento de ambos os discursos.

3.3. Análise dos textos dos jornais sindicais

O movimento sindical, por colocar-se contrário ao projeto de lei referente à Previdência Social, tenta convencer os trabalhadores e a sociedade, principalmente a opinião pública e parlamentares, a questionar e a rejeitar a reforma proposta. Nesse cenário de embate entre sujeitos sociais e seus interesses antagônicos a comunicação funciona como ferramenta-chave na disputa de idéias e opiniões. O discurso sindical adota tom crítico em relação ao projeto de reforma e, com o acirramento do embate, ao governo com vistas a vencer essa disputa, cujas implicações vão sendo reveladas no decorrer dos fatos e no refinamento da produção argumentativa.

3.3.1. Representações Sociais

Ao expor falas, discorrer idéias, explicitar concepções, a comunicação produzida pelo movimento sindical se utiliza de imagens que ela mesma constrói e que refletem como o movimento percebe a si e aos outros sujeitos sociais. Essas concepções não são neutras. São construídas em cima de valores e ideologias e refletem a maneira de ver o mundo e de relacionar-se com ele e revelam a forma como o sujeito se posiciona na sociedade. Para Serge Moscovici, as formas de representação ultrapassam uma mera caracterização:

[...] sistemas de classificação e de nomeação não são, simplesmente, meios de agradar e de rotular pessoas ou objetos considerados como entidades discretas. Seu objetivo principal é facilitar a interpretação de características, a compreensão de intenções e motivos subjacentes às ações das pessoas, na realidade, formar opiniões (MOSCOVICI, 2003, p.70).

Logo, essas formas de representações, presentes tanto no discurso