• Nenhum resultado encontrado

(e, portanto, da confiança) obtido pelo grupo dominante por causa de sua posição e de

3.3.2 Verbos introdutores de opinião

Verbos introdutores de opinião27 também emitem juízo de valor,

influenciando a representação social dos sujeitos, no caso dos sujeitos cujas falas são explicitadas no texto principalmente por meio da transcrição de discurso direto.

Tomando os verbos que introduzem opiniões nos tipos de discurso considerados, nota-se que eles têm várias formas de agir. Em primeiro lugar agem diretamente sobre o discurso relatado; em segundo lugar atuam sobre a compreensão desse discurso e, em terceiro, podem ser eles próprios o relato da forma como o discurso relatado atuou ou deve atuar (MARCUSCHI, 1991, p.83).

Analisando-se duas matérias do InformAndes do mês de janeiro, é possível entender como esse jornal se utiliza dos verbos de opinião, e apontar como isso influencia a construção das imagens dos sujeitos sociais nos textos. A seguir, são analisados verbos introdutores de opinião de matérias dentro do contexto textual em que foram escritas, sem perder de vista o contexto sócio-político de fundo.

A semântica dos verbos introdutores de opiniões não pode ser feita à margem dos contextos de enunciação e fora das condições de produção do discurso como tal. Isto significa que toda informação é produzida dentro de algum sistema que não ignora a si próprio, veiculando implicitamente uma interpretação qualquer. Somente

27 Verbos introdutores de opinião são aqueles que introduzem a fala de um personagem, uma opinião (disse, falou, exclamou, pontuou, analisou, respondeu, concluiu, rebateu, argumentou, sussurrou, gritou, ironizou). O conceito aqui utilizado é extraído do texto de Luis Antônio Marcuschi, Ação dos verbos introdutores de opinião, no qual observa: “A idéia central é que os verbos agem seletivamente sobre os conteúdos dando-lhes uma intencionalidade interpretativa com características ideológicas. Com isso mostra-se que a atividade jornalística não é apenas expositiva, mas analítica e interpretativa” (1991, p.74).

uma análise mais detalhada poderá fornecer uma resposta segura, mas é possível que órgãos de imprensa se caracterizem ideologicamente já pela forma de relatarem as opiniões dos políticos (MARCUSCHI, 1991, p.78).

Matéria: Para o Andes-SN Berzoini afirma que reforma não está definida (InformAndes, jan 2003, p.6)

Tabela 3 - Para o Andes-SN Berzoini afirma que reforma não está definida

Frases com verbos introdutórios Localização e sujeito

Inicialmente o ministro reafirmou a disposição [...] Ele entende que [...]

Berzoini fez uma exposição da situação dando ênfase [...] descartando [...]

[...] Berzoini afirmou que [...] [...] segundo ele, [...]

Afirmou, também, que [...], disse.

Mesmo assim, Berzoini explicou que "[...] ", disse, citando como uma possível alternativa [...]

três primeiros parágrafos

ministro da Previdência, Ricardo Berzoini

Os diretores do Sindicato Nacional relataram ao ministro [...]

Eles explicaram [...]

[... deixaram explícito que essa reforma [...] "[...) "

4º parágrafo

representantes do Andes

Berzoini concordou em tese, mas afirmou que [...] 4º parágrafo

ministro da Previdência Por fim, os diretores do Andes-SN expressaram a

posição do Sindicato O Andes-SN reafirmou [...]

último parágrafo

falas dos representantes e do próprio sindicato

Fonte: Informandes, p.6, março 2003.

Os verbos escolhidos para introduzir falas do ministro (reafirmar, dar ênfase, afirmar, descartar) transmitem força e firmeza, conferindo às suas falas um tratamento de discurso oficial. Segundo Marcuschi, verbos

como declarar, afirmar, comunicar são indicadores de posições oficiais e afirmações positivas. Por sua vez, os verbos “dizer”, “explicar”, “citar” e “concordar” também usados nas falas do ministro, transmitem menos força, ao mesmo tempo em que demonstram que seu sujeito, o ministro, em diálogo com outro sujeito social (os sindicalistas), busca construir seus argumentos. O verbo “concordar” indica inclusive uma convergência de opinião entre os sujeitos.

O discurso dos sindicalistas é precedido de verbos que ressaltam a força dos argumentos (relatar, explicar, deixar explícito, expressar, reafirmar), emprestando ao movimento uma imagem de força e credibilidade. O verbo “reafirmar” aparecendo duas vezes e o “afirmar”, três, tanto em falas do ministro quanto dos sindicalistas, indicam um discurso conflituoso e em disputa, onde os sujeitos tentam demarcar suas posições e retomar positivamente seus discursos.

A utilização dos mesmos verbos introdutores de opinião para o ministro e para os sindicalistas (expressar, reafirmar, relatar, explicar, deixar explícito) confere peso semelhante a ambos os sujeitos sociais. Pode-se dizer que há um movimento no texto sindical, indicado pela utilização desses verbos, de equiparar os representantes sindicais a figuras do governo no que diz respeito a reconhecimento de influência social e de discurso de poder. O efeito de sentido que isso gera pode-se traduzir na construção de uma representação social onde ambos os sujeitos estão no mesmo patamar de poder social.

Matéria: Governo não assume retirada do PLP 9/99 (InformAndes, mar 2003, p.3)

Tabela 4 - Governo não assume retirada do PLP 9/99

Frases com verbos introdutórios Localização e sujeito

Representantes do SPF reafirmaram [...] 1º parágrafo

representantes do serviço público federal Os dirigentes sindicais enfatizaram [...]

deixaram claro [...] reafirmam [...]

2º parágrafo

representantes do serviço público federal O ministro reiterou a posição [...]

afirmando que (...) 3º parágrafo

ministro da Previdência [...] os representantes dos servidores

questionaram 3º parágrafo

representantes do serviço público federal Berzoini respondeu

[...] Berzoini, irritado, respondeu [...] [...] esquivou argumentando [...]

4º parágrafo

ministro da Previdência Berzoini disse que [...] 5º parágrafo

ministro da Previdência Os representantes dos servidores, no

entanto, ressaltaram [...]

5º parágrafo

representantes dos servidores “[...]”, afirmou o presidente do Andes-SN,

Luiz Carlos Lucas último parágrafo (6º) presidente do Andes Ato contra o PLP 9/99

Os servidores solicitaram aos deputados

[...] último parágrafo (3º) servidores públicos Os parlamentares enalteceram o

movimento [...] que consideraram [...] Último parágrafo (3º) deputados federais Fonte: Informandes, p.3, mar 2003.

Essa matéria “Governo não assume retirada do PLP 9/99” é quase toda formada por falas e opiniões dos personagens em discurso indireto. Apenas o primeiro e os dois penúltimos parágrafos, com informações factuais, não possuem discurso relatado. Os demais parágrafos versam sobre pontos de vista relacionados à reforma da Previdência e, para isso, usam declarações dos personagens durante reunião, sendo que o sexto parágrafo finaliza com discurso relatado direto.

A intensa presença de verbos introdutores de opinião traz pontos de vista que se contrapõem, formando uma sucessão de argumentos. Os servidores públicos federais “reafirmam”, “enfatizam”, “deixam claro”, “questionam”, “ressaltam”, “afirmam”. São verbos fortes introdutores de opinião, que, de acordo com Marcuschi, expressam afirmações positivas e retomada de discurso.

No caso do ministro, os primeiros verbos introdutores de opinião são dominadores: reiterar e afirmar. No meio da matéria, contudo, os verbos utilizados para introduzir suas falas passam a ser: responder, esquivar argumentando, dizer. São verbos fracos que tendem a refletir, no contexto analisado, uma postura defensiva e acuada por parte do ministro.

A matéria, embora possua uma estrutura argumentativa com dois pontos de vista praticamente antagônicos, reflete um efeito de sentido com predomínio da voz do discurso sindical que se sobrepõe ao discurso do governo. A conclusão final do texto, embora não esteja explicitada, pende para o ponto de vista dos servidores públicos.

Além do emprego dos verbos introdutores de opinião com força maior para os servidores, o texto termina com falas dos sindicalistas. No quinto parágrafo, entra fala dos representantes dos servidores, com discurso relatado indireto (“Os representantes dos servidores, no entanto,

ressaltaram...”), e no último, fala do presidente do Andes em discurso relatado direto. As falas do ministro, num sentido oposto, tornam-se escassas e apoiadas por verbos introdutores fracos (responder, esquivar, dizer).

É possível observar, por meio da análise dessas duas matérias, como o sindicato, ao mesmo tempo em que reconhece o poder social e hierárquico do Poder Executivo representado na figura do ministro, tenta amenizar sua força. Por outro lado, procura valorizar o sujeito social sindicato, utilizando verbos introdutores de opinião fortes e terminando a matéria com a voz do movimento (transcrita em discurso relatado direto ou indireto), numa clara oposição de forças em que o movimento dos trabalhadores sai ganhando. Demarca, assim, seu espaço na sociedade; disputa o poder hegemônico.