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Ariano Suassuna falador: O palco-picadeiro

1. AS BASES NACIONAIS

1.1 ARIANO SUASSUNA

1.1.3 Ariano Suassuna falador: O palco-picadeiro

Muitos são os escritores latino-americanos cuja atuação política e envolvimento social margeia, permanentemente, ou até interferem em seu fazer literário. Euclides será talvez a figura paradigmática do cidadão-escritor, do brasileiro que, assaltado pela realidade do Brasil autêntico, que em sua visão pulsava no arraial de Canudos em meio a uma guerra fratricida e

absurda, motivada pelo desconhecimento e pelo distanciamento entre o litoral e o sertão, resolve dedicar-se à reparação do equívoco. Ele o fará em sua atuação no cenário político-intelectual do país oficial, onde sua voz é escutada. Mas o fará principalmente através da escrita de um livro reparador, Os sertões, que expressa de forma magnífica o dilaceramento do intelectual de formação erudita que, deparando-se com a revelação dos seus equívocos, compromete- se com o desvelamento da verdade. Uma verdade que ele logo perceberia mais audível nas entrelinhas de um texto de manufatura literária. ―O escritor se sobrepôs ao jornalista, ao engenheiro e ao intelectual republicano de formação positivista e assim, o seu desejo de ‗historiar‘ fidedignamente os fatos, cederia passo, ao longo da gestação do livro publicado em 1902, às exigências estéticas de um projeto literário‖. (CARDOSO SALLES, 2001, p. 53). Euclides comandaria sua pena e redimensionaria sua proposta até transformá-la em uma das nossas maiores obras.

Ariano Suassuna é um homem visceralmente vinculado à tradição popular de sua cultura. Radical - segundo ele, porque alguém tinha que ser - em defesa da cultura nacional e regional e combatente incansável da cultura de massa. Além de escritor, é também advogado por formação e, segundo ele, por vocação professor universitário de estética, literatura e cultura. Seus interesses intelectuais o transformaram em conhecedor das teorias filosóficas, sociológicas e antropológicas que, juntamente com sua verve literária regem sua produção acadêmica e ficcional. Com essa bagagem às costas, Suassuna investe-se do papel de ativo intelectual do século XX, para atender ao projeto, longamente acalentado, de articular, através da arte, da sua literatura em particular, um projeto de resgate e revalorização da identidade nacional. Reveste-se, ora, das atribuições de artista à moda de um jogral medieval extraviado, ponte entre-mundos, no intuito de ajustar as vozes populares de ontem e de hoje, afinando-as aos acordes da literatura erudita. Não descuida, no entanto, como escritor contemporâneo, de questões da atualidade, tanto de ordem política como social.

Na área da cultura, essas questões extrapolam o âmbito literário e abarcam as preocupações e cuidados com o conjunto do patrimônio histórico material e imaterial do país. Como intelectual contemporâneo, comprometido com as políticas culturais da atualidade e particularmente com as de sua

região, exerce sua militância nas mais variadas áreas. Suassuna teve colunas em jornais de circulação nacional, um quadro semanal na televisão de Recife, viaja pelo país dando suas ―aulas-espetáculos‖, participa de recitais de violeiros, cavalgadas, como as de São José de Belmonte em comemoração anual à festa de Pedra do Reino, grava cds e dvds e autoriza a transposição de suas peças de teatro e de seu romance para a linguagem televisiva, veículo de comunicação de massa, sem que isso iniba sua crítica a ela.

Como ativista cultural, além de criar o Movimento Armorial, nunca esteve distante de disputas, discussões e embates ideológicos. De 1967 a 1973 integrou como membro fundador o Conselho Federal de Cultura. Em 1969 assume a direção do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco e começa a articular o Movimento Armorial, lançado oficialmente em Recife dois anos depois. Nos anos de 1973 e 1975 cria a Orquestra Armorial e o Balé Armorial do Nordeste, respectivamente. Aceitou o cargo de Secretário de Cultura do estado de Pernambuco, em duas gestões: em 1995, durante o governo de Miguel Arraes e, recentemente, em 2007, na gestão do atual governador Eduardo Campos, neto de Arraes, função que pretende desempenhar até o término deste governo. Só o apelo de uma pasta como a da cultura, que merecia toda a sua atenção e dedicação, tornou possível o ingresso de Ariano Suassuna na política, condição que anos antes havia recusado, ao negar-se a compor a chapa de Luis Inácio Lula da Silva, candidato à presidência da República, como seu vice, contra Fernando Collor de Melo.

Para Suassuna, essas possibilidades de desenvolver políticas culturais que sejam efetivas no desenvolvimento de projetos e no combate à massificação representam uma extensão de sua atuação no âmbito da produção literária, musical e plástica. Seu trabalho em prol da cultura em geral e da cultura popular, particularmente, vem sendo reconhecido, muito especialmente nos últimos anos, desde sua primeira gestão à frente da Secretaria de Cultura de Pernambuco.

Sabe-se, no entanto, que embora empreenda, em outros âmbitos, essa luta pela dignificação da cultura nacional, sua ação política será sempre passível de discordâncias e dissensões. Assim, será em sua obra literária, fundamentalmente, onde essa batalha será vencida. O seu diálogo mais

possível, aquele em que, ao invés de vestir-se, o escritor se desveste para dele participar, será o que ele mantém com seu leitor de ontem, de hoje e de amanhã, através de sua obra ficcional. Tem sido fundamentalmente através de sua poesia, de seu romance e de seu teatro que Suassuna encontra o meio mais perene de dar conta da proposta de ―transposição das fontes populares rurais ao mundo urbano letrado‖ (VASSALO, 2000, p. 149), ou seja, de alcançar sua proposta ‖armorial‖ que, com nota particular, obtida através de circunstâncias locais, expressa o universal. Na poesia sua alma dilui e compartilha uma dor ancestral, popular e individual; em seu teatro, os temas candentes do homem se descortinam sob o céu aberto da pequena Taperoá aos olhos do mundo; seu romance, seu mundo-romance, reúne todas as pulsões de vida e morte, de dor, alegria e êxtase.

Suassuna é um sedutor, que busca dar conta de sua demanda, e de fazê-lo da maneira mais duradoura. Como pregoeiro, anuncia em alta e viva voz ao que vem, porque entende que, para estabelecer uma relação dialógica e, portanto, eficaz, com o outro, é fundamental obter dele sua participação. Dialogando com o leitor, ele cobra dele sua atenção e o incumbe da missão de decodificar essa demanda, de acompanhá-lo nela (tal como o anônimo

Lazarillo de Tormes, em meados do século XVI, exigiu de seu leitor) e de

decifrar o que nela haverá de cifração, tanto na linguagem e temas que propõe, como, mais profundamente, em sua estrutura abismal, equivalente em dimensão à importância e à dificuldade da busca.

1.1.3.1 A intervenção permanente: a obra inacabada

―... fico sempre com essa sensação de ter feito uma obra que poderia fazer melhor – e começo tudo de novo.‖

Ariano Suassuna

Uma obra inacabada não necessariamente significa uma obra sem final. O sentido de inacabado na obra de Ariano Suassuna corresponde à proposta de circularidade, retomada continua e renovação como acontecem na

Natureza. O Romance d‟A Pedra do Reino deveria ter sua continuidade em O Rei degolado e esse n‘As Infâncias de Quaderna e, assim por diante, até a conclusão da extensa obra que uma vez o escritor se propôs escrever e que continua ainda encantada no reino das possibilidades da ficção. A vitalidade e inquietação do homem continuam pulsando em sua obra e transformando seus propósitos. Suassuna se nega a dar por concluído um romance, uma poesia ou uma peça de teatro simplesmente porque já foi publicado, lida ou encenada. Os ajustes estão na ordem das suas possibilidades e de sua resolução. Uma obra publicada é apenas uma obra publicada, com inúmeras maneiras ainda de reinventar-se para o mesmo público ou para outro.

Quando escreveu Noturno, sua estreia literária, Ariano tinha um propósito, que com um pouco mais de vivência, se acomodou de maneira diversa, nos mesmos versos feitos novos. Para um autor que leu tanto, o diálogo é sempre uma possibilidade aberta, e, a forma de mantê-lo, também. Suas peças, que têm matrizes textuais no romanceiro popular, via cordel, mamulengo, circo e cantorias e no teatro clássico greco-latino, teatro ibérico medieval profano e religioso, commedia dell‟arte, teatro barroco espanhol,

comédia brasileira, são, com muita frequência, reescritas. Não raro, acabam compondo um núcleo ou ato de outra peça maior, como aconteceu com o entremez Torturas de um coração que passa a ser, alguns anos depois de sua encenação, a base do primeiro ato de outra de suas peças, A Pena e a Lei. Essas transformações não descaracterizam, no entanto, a proposta teatral de Suassuna. A Pena e a Lei, mesmo sendo teatro destinado a atores, mantêm as características do teatro de bonecos, introduzindo, ainda, diferentes ritmos musicais nordestinos, assim a peça em três atos cobre uma dimensão tão próxima à narrativa popular quanto o era o entremez para mamulengos original.

Seus personagens, e não apenas seus tipos, também são móveis e podem aparecer em mais de uma peça, migrar de um texto para outro, com os mesmos nomes, ou, às vezes, com nomes diversos. Assim João Grilo passeia dos folhetos de cordel para a Taperoá de Suassuna e dali até o céu da Compadecida. Afonso Gostoso de Torturas de um Coração se transforma no caminhoneiro Pedro de A Pena e a Lei. João Grilo canta o poeminha musical Canário Pardo, do romanceiro popular para invocar a presença de Nossa Senhora, em seu julgamento. Também provêm da tradição oral, via cordel, as

situações de embuste, tais como as do enterro do cachorro, do animal que defecava dinheiro e da gaita mágica que ressuscita, conforme comentários de Ligia Vassalo (2000, p. 155). O Auto... também lança mão de outros recursos e empréstimos, o Gran Teatro del Mundo, de Calderón de la Barca, é nele retomado fragmentária e parodicamente, como indica Vassalo, reiterando a circularidade de temas e a constante proximidade, na obra de Suassuna, entre regional e universal.

Essa mobilidade, esse movimento que o autor concede a suas obras (e a si mesmo), característico de seu fazer literário vem também dos inúmeros recursos que faz aos mais variados processos textuais. Também ele mostra-se fino tecelão, quando maneja com destreza os fios da intertextualidade, da intercontextualidade, da extratextualidade, da transtextualidade, da metatextualidade e da hipertextualidade20 formando uma trama rica e variada no seio de sua obra e entre esta e a literatura universal.

Portanto, essa vocação para o inacabado, seu traçado de movimento circular, a fresta que o escritor deixa entreaberta em suas obras, que, como rabos de lagartixa, amputados, voltam a crescer, não comprometem a coerência no conjunto de sua produção. Seu teatro, sua poesia, seu romance e suas iluminogravuras, mesmo quando tingidos do que parece - antigo clássico ou estrangeiro - estão consubstanciados no que de popular uma arte nacional deve ter. Esta é a essência de sua proposta estética, chamada por ele armorial.

Como artista emergido do Brasil oficial, contaminado por uma ideologia e estética do que chama de ―Brasil ideal‖, em prol do reconhecimento da arte popular Suassuna entende ser necessário desdobrar-se e acrescentar ao seu processo de construção literária, sua atuação política, sua voz de intelectual no cenário cultural do país. Assim, sua imagem de homo politicus enrosca-se à de homo scriptor em uma combinação tão circular e complementar como aquela que caracteriza os recursos à intra e à intertextualidade já mencionados. Seu exercício intelectual não se restringe ao ato da escritura ficcional. Ariano Suassuna empreende uma trajetória cujo

20

Os processos textuais referidos estão aqui compreendidos segundo a proposta de Horácio Dídimo em seu livro Ficções Lobatianas. Dona Aranha e as seis aranhinhas no Sitio do

destino é o começo e o começo é o ponto de chegada. Busca as raízes populares ancestrais e atuais necessárias à criação de sua arte erudita de modo que essa seja capaz de expressar nossa identidade, e assim, no conjunto de suas particularidades, éticas e estéticas, possa ser capaz de nos contar, para nós mesmos e para o resto do mundo.

1.1.3.2 O exercício da cidadania e as ficcionalidades possíveis: uma sina do escritor latino-americano?

Em seu ensaio Vargas Llosa e o romance possível da América

Latina a escritora Angela Gutiérrez trançava (como disse seu prefaciador

Wander Melo Miranda, ―com artes de fina tecedeira‖) os pontos de enlace entre o ‗fazedor de estórias‘ e o ‗fazedor de história‘ Mario Vargas Llosa (MIRANDA, 1996, p. 9), entre os vieses de ―falador‖ e ―fabulador‖ do escritor peruano. Para isso, ela apoiava-se em uma análise que, mutatis mutandi, poderia ser aplicável a muitos escritores latino-americanos, Homeros tribais, que com seus olhares estrábicos mantêm um olho no que lhes é próprio, enquanto o outro se extravia, espichado além do mar, em busca da alteridade. Essa metáfora do olhar estrábico também se aplica bem a Ariano Suassuna. No entanto, quando o olhar que se estrabiza e se extravia perscruta as terras de além-mar, busca o que, sendo alteridade, é também, ou principalmente, raiz, ou seja, é também próprio. Sua busca vai ao encontro das raízes de elementos que, só mais tarde, devidamente sincretizados, se fizeram efetivamente nossos.

Talvez, ao se valer de uma analogia ainda pertencente ao texto de Angela Gutiérrez, seja possível afirmar que Suassuna, cioso de sua condição de intelectual do século XX, comprometido com as suas raízes e com os destinos da arte e da cultura no nosso país, sente-se dominado por uma sina que o obriga a contar. Seria a sua uma função análoga a do kenkitsatatsirira vargalhosiano do livro El hablador (1987), citado por Gutiérrez, cuja missão vital é percorrer os caminhos que separam seu povo, dividido em pequenos clãs, para falar-lhe e contar-lhe a uns sobre os outros e ainda sobre outros mais. Evita com isso que se esqueça de quem são ou do que devem fazer para

seguir sendo-o. Os integrantes de uma tribo amazônica nômade, os machiguengas, vivem dispersos em pequenos grupos e seu elo é justamente esse contador de nome curioso. Creem que a existência do mundo depende deles, do fato de se deslocarem permanentemente, pois acreditam que ao se estabelecerem sedentariamente em alguma parte, o sol deixará de nascer. Da mesma forma, sua existência como povo e seu ethos enquanto coletividade depende da história e das estórias que lhes conta o kenkitsatatsirira. A imagem é perfeita: a vocação de contador de Ariano Suassuna, que não se limita às suas criações literárias, parece ser para ele a própria extensão da vida, ou a vida mesma.

Quem sabe essa vocação para a palavra, em seu mais farto desembocar, essa inclinação natural para o transbordamento e esse desejo totalizador que transparece na obra de ambos, não haja nascido já com Ariano Suassuna e com Vargas Llosa? Pode ser, porém, que tenham sido despertados depois, por efeito de suas leituras. Ambos foram, desde suas infâncias, leitores vorazes; por circunstâncias diversas foram privados, muito cedo, da presença do pai a quem buscaram nos heróis das histórias que liam. Muito já se disse de como essa ausência e essa busca repercutiram em Ariano e em sua obra. Para Vargas Llosa que, ironicamente, ao recuperar o pai, iria perdê-lo de forma ainda mais definitiva21, o mundo só podia dar-se de maneira

completa através da palavra, do imaginário. Por isso, ao substituir a busca do pai pela busca da pátria, Vargas Llosa passou a percorrer, através de seus textos, uma geografia mítica que permanentemente roçava na geografia de sua própria vida, até entregar-se inteiramente a uma história que, alheia a essa geografia literária anterior, revelou-se, ao final, tão sua como qualquer uma daquelas sobre as quais já havia escrito. Ela traria pedaços dele e de sua história pessoal, ampliados pela metáfora da escrita possível na América Latina. A literatura é sempre seu mapa e Vargas Llosa chega a Canudos e à guerra ali ocorrida no final do século XIX, através de Euclides, cujo livro Os

sertões, era para ele uma ―manual de latino-americanismo‖ (GUTIÉRREZ, 1996, p. 179), uma de suas grandes experiências de leitura.

21 Durante sua infância, Vargas Llosa, afastado do Perú, foi levado a crer que o pai militar havia

morrido em serviço. Com a volta deste e o reatamento do casamento com sua mãe, a família retorna a Lima, onde o menino, decepcionado com a personalidade autoritária e violenta do pai, perde a imagem positiva que tivera dele durante anos.

Sobre a relação do escritor peruano com Os sertões, Angela Gutiérrez assevera que, ao reescrever o episódio de Canudos, ficcionalizado em seu La guerra del fin del mundo, ele se revela ―como um intelectual hispano-americano do final do século XX‖, que ―reconstrói ficcionalmente um fato histórico, brasileiro, do final do século XIX, com o instrumental literário e ideológico que seu tempo e sua formação lhe facultam‖. (GUTIÉRREZ, 1996, p. 179-180). Isso é o que faz Ariano Suassuna, que, apesar de seu envolvimento com a obra magistral de Euclides, à qual se filia medularmente, não se deixará cegar pelo seu encantamento e, embora reconheça, no sonho do escritor fluminense o seu próprio, sente-se compelido a não simplesmente honrar suas cinzas, mas a ―empunhar sua chama e tentar levá-la adiante‖. (SUASSUNA, 2008, p. 244). Isso significa revisar o que para o autor de Os sertões era muito recente e duro demais para ser visto em sua totalidade. Suassuna, que entende a denúncia da obra de Euclides, vê também nela a pregação de uma modernização à moda da Rua do Ouvidor e do Brasil real. E será esse erro do autor de Os sertões que Suassuna tenta não repetir em sua obra. Sobre isso ele afirmaria em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras:

Não me coloco hipocritamente fora do Brasil oficial, nem se trata de nos opormos à verdadeira modernidade. Trata-se de recriar as instituições do Brasil oficial de acordo com a verdade do Brasil real. Assim, lembro apenas que, como fez Euclydes da Cunha, sempre que nos descobrirmos no caminho do erro e do processo histórico oficial, devemos obrigar-nos a um exame de consciência [...] rigoroso. Euclydes da Cunha – deformado pela Rua do Ouvidor e pelo Palácio [...] – partiu de São Paulo para o Nordeste como um cruzado da República positivista e da Cidade [...] para ajudar a destruir aquilo que, para ele, era ameaça, barbárie e fanatismo sertanejo [...] mesmo ofuscado, ao se ver diante do Povo brasileiro real, pôde tomar seu lado – e o grande livro que é Os sertões resultou do choque experimentado ante aquele Brasil brutal mas verdadeiro, que ele via por primeira vez e que amou com seu sangue e com seu coração, se bem que nunca o tenha compreendido inteiramente com sua cabeça, meio deformada pela falsa Ciência européia que o Brasil oficial venerava.(SUASSUNA, 2008, p. 247-248).

Será então tomado pela admiração, mas orientado pela luz e sombra dos que o precederam, que busca o caminho para o seu país, seguindo a ―chama iluminadora daquela que foi e continua a ser a obra fundamental para o

entendimento do Brasil‖. (SUASSUNA, 2008, p. 248). No entanto, para isso, ele engorda a sua palavra ampliando-a para além do texto literário em suas atuações políticas, seus pronunciamentos, suas entrevistas e suas aulas- espetáculos, exercendo as possibilidades que sua fama, enquanto fabulador lhe concedeu. Exercita-se assim, tal como o escritor peruano o fez, como um intelectual atuante de seu tempo. Dito isso, poder-se-ia afirmar que, além da influência de Euclides, o escritor paraibano e Mario Vargas Llosa têm um traço mais em comum: ambos reinventaram suas imagens públicas e transitam no mundo real movidos pelo empenho de cumprir uma sina que, ampliada pela contemporaneidade do viés ―falador‖ de ambos, talvez só possa ser plena e indelevelmente cumprida, no universo da ficção, portanto, enquanto fabuladores que são.

Para Ariano Suassuna, tão enraizado em sua terra e ligado a sua