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3. CADEIAS PRODUTIVAS PRODUTIVAS NA AGRICULTURA

3.6 Arranjos Produtivos Locais

O fenômeno da concentração de empresas e produtores de insumos em áreas geográficas específicas não é recente. Diversos cientistas políticos, sociólogos, economistas e professores têm se interessado no estudo dos impactos econômicos com a formação de arranjos de produção. Santana (2005) declara que diversos profissionais tem se dedicado a analisar a economia em espaços geográficos estabelecidos. O espaço territorial deixou de ser visto apenas como um suporte para localização de fatores produtivos, assumindo papel ativo na formação dos mecanismos de retorno crescente que explicam o desenvolvimento.

Nesse contexto, a literatura propõe diferentes denominações para o fenômeno. Brochado et al. (2004) citam as denominações mais comuns como sendo os “clusters”, “sistemas industriais localizados”, “distritos industriais”, e “sistemas produtivos locais”. Amaral Filho et al. (2004) declara que, no Brasil, por uma questão de adaptação, a nomenclatura vem sendo denominada de Arranjo Produtivo Local.

Percebida a vantagem, em termos de desenvolvimento, da reunião de diversas empresas, atuando num mesmo território, foram mobilizados diversos agentes públicos e privados para a disseminação de políticas, focando grupos produtivos. Dessa forma, tornou-se comum a atuação e intervenção público-privada em potenciais regiões na formação de APL’s.

Um APL pode ser caracterizado por concentrações geográficas de organizações setorialmente especializadas (com ênfase nas micro e pequenas empresas), onde a produção de um bem ou serviço tende a ocorrer em meio a sólidas relações entre estas empresas. Ou seja, parte-se do princípio do cooperativismo entre os aglomerados e demais atores.

A definição empregada pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP, 2007) sobre os APL`s caracteriza-os como sendo um conjunto de atores econômicos, políticos e sociais localizados numa mesma região, desenvolvendo atividades produtivas especializadas em um determinado setor e apresentando vínculos expressivos de produção, cooperação, interação e aprendizagem. Nesse ambiente deve ser encontrado, conforme Santana (2005):

Serviços especializados de apoio à produção, à comercialização e ao desenvolvimento de inovações tecnológicas, que podem ser de produto, processo e gestão (reengenharia, logística, estudo de mercado, marketing, organização produtiva e social).

Redes de instituições públicas e privadas que dão sustentabilidade às ações dos agentes, no que se refere à formação de mão-de-obra, regulação de base legal das empresas, desenvolvimento e difusão de tecnologia apropriada. Podem ser universidades, instituições de pesquisa, empresas de consultoria, órgãos públicos e organizações privadas e não governamentais.

Identidades socioculturais, relacionadas ao histórico comum dos membros da sociedade local, visando trabalhar lideranças comunitárias, políticas e sindicais, e gerar um ambiente de solidariedade e confiança mútua.

A identificação destes grupos com atividades econômicas semelhantes pode gerar condições propícias para a propagação de econômicas externas de escala e a realização de rendimentos crescentes (AMARAL FILHO et al., 2004).

3.6.1 Identificação de aglomerações produtivas

Diversas entidades tem se detido na identificação das aglomerações, alvos de políticas de incentivo e desenvolvimento. A tabela 12 elenca algumas metodologias adotadas por entidades atuantes no estado do Espírito Santo, identificando arranjos

produtivos potenciais. Observa-se que as principais características relacionam a capacidade de cooperação à possibilidade de desenvolvimento, seja econômico, com o incremento de exportações e dinamização de economias estagnadas, como também desenvolvimento social, na geração de emprego e renda.

Tabela 12 – Metodologia de identificação de APL’s para elaboração de políticas. Entidade/Ano Objetivo Aspectos considerados Coordenação de Ciência

e Tecnologia vinculada à Secretaria Estadual de Planejamento, (2002).

Seleção de APLs para

enquadramento junto ao grupo de Gestão Compartilhada (MCT, FINEP, CNPq);

Importância econômica para a região e potencial para alavancar o desenvolvimento regional; Oportunidade de geração de emprego e renda; Dinamização de regiões estagnadas; Impacto na Balança de pagamentos, através do incremento de exportações; Diminuir disparidades inter e

intrarregionais;

Dinamização do Arranjo através da utilização de Ciência e Tecnologia;

Entidade/Ano Objetivo Aspectos considerados SEBRAE (2003 a 2007). Promover a inserção das

empresas no mercado e a promoção do protagonismo local;

Aglomeração de empresas de micro e pequenos negócios; Produção de produtos que

apresentam características de homogeneidade;

Capacidade de contribuição para o aumento das exportações ou na substituição das exportações; Potencialidades de mercado e a capacidade de geração de emprego e renda; Núcleo Estadual de

Apoio aos APLs do Espírito Santo (2006).

Fomentar as demandas dos APLs locais, analisar suas propostas e promover

articulações institucionais com vistas ao apoio demandado;

Concentração Setorial de empreendimento no território; Relevante impacto econômico-

social;

Cooperação entre os atores participantes do arranjo; Existência de mecanismos de

governança; Fonte: Adaptado VILLASCHI e FELIPE, 2010.

Outro fator comum a todas as abordagens citadas na tabela é a aglomeração de empresas e produtores que cooperam entre si. A FIESP (2007), em seu manual de atuação em APL’s, ressalta que as aglomerações só constituirão Arranjos Produtivos, se efetivamente realizarem ações conjuntas. Estas ações potencializam as externalidades

gerando um ambiente propício para que os arranjos se tornem competitivos. Para a FIESP (2007), investigar APL’s envolve o questionamento de alguns aspectos:

Empresas da localidade interessadas em se envolver em ações coletivas; Grau de mobilização de empresas interessadas em projetos da região que

atuam;

Existência de elos na cadeia produtiva e nível de governança entre os elos da cadeia;

Existência de instituições de apoio e suporte;

Órgãos de representação e interlocução das empresas no local;

Nesta perspectiva, para que um APL proporcione o desenvolvimento local, abrangendo e difundindo conhecimentos e especialidades na produção, é necessária uma estrutura mínima de gestão integrada para que o arranjo seja dinâmico e dotado de competitividade nas cadeias produtivas que o compõem. Além da formação e estruturação do capital humano, do suporte de tecnologias, a infraestrutura de produção e de comercialização deve ser adequada ao modelo de negócio. Nesse sentido, incluem- se a infraestrutura produtiva e comercial em operação, envolvendo estradas, equipamentos de transportes, portos, aeroportos e estruturas de armazenamento bem como unidades de processamento e distribuição.

3.6.2 Contexto atual dos arranjos produtivos

A realidade dos APL`s do Brasil nem sempre incorpora todos os elementos apresentados no item anterior. Santana (2005) aponta que a grande maioria assume características de arranjos informais, compostos de micro e pequenas empresas agroindustriais, operando com nível tecnológico muito abaixo do praticado por indústrias inovadoras, baixa capacidade de gestão, mão-de-obra de baixo nível de qualificação, baixo grau de organização social, infraestrutura de comercialização precária e produção de commodities, boa parte com baixo valor agregado. Um estudo realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), vinculado ao projeto Competir (criado, em 1996, com o objetivo de mobilizar o desenvolvimento de cadeias produtivas) aponta os principais estágios de evolução dos APL`s, os quais estão descritos na Tabela 13.

Diversos esforços são empreendidos para desenvolver os arranjos produtivos, como o próprio Projeto Competir do SENAI, a forte atuação do SEBRAE, e os esforços empreendidos pela Federação das Indústrias em diversos estados. Pode-se citar, também, a atuação do Governo Federal que, a partir de 2006, passou a organizar o tema APL através de algumas medidas: (i) incorporação do tema no âmbito do Plano Plurianual 2004-2007, por meio do Programa 0419 - Desenvolvimento de Micro, Pequenas e Médias Empresas; e (ii) através da instituição do Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais que contribuiu para a formação de Núcleos Estaduais de Arranjos Produtivos Locais (NE/APL`s).

Tabela 13 – Estágios Evolutivos de Arranjos Produtivos Locais.

APL Emergente Surgido naturalmente; Algumas empresas de apoio ao produto principal; Baixo nível de interação;

Pouca especialização.

APL Crescendo Novas empresas de fornecimento e prestação de serviços; Especialização crescente;

Cooperação crescente, competição forte.

APL Maduro Terceirização de atividades não estratégicas; Fusões e surgimento de poucas novas empresas; Cooperação estável.

APL Especializado Especialização alta;

Competitividade e competência alta;

APL Decadente Número decrescente de empresas; Numero decrescente de funcionários; Nenhuma Cooperação.

Fonte: SENAI (2008).

Somando-se a estes esforços, devem ser estruturadas políticas de suporte e desenvolvimento de infraestrutura, por meio de intervenções públicas. Para Rosseto (1998 apud MARTINS, 2005), os benefícios da localização concentrada, além de proporcionarem a partilha de recursos e a adaptação conjunta ao meio-ambiente produtivo, permite a redução dos custos com transportes e a criação de infraestrutura neste setor.

No Brasil, espera-se, com o PNLT, reduzir a concentração do modal rodoviário em termos de escoamento da produção agrícola. A busca pela intermodalidade e pelo aproveitamento máximo da capacidade dos aeroportos pode contribuir para o desenvolvimento de arranjos produtivos. Atualmente, na indústria, existem equipamentos que traduzem bem esta ideia: os aeroportos de Campinas e São José dos Campos, que recebem o suporte logístico de importantes rodovias paulistas, são utilizados para atender municípios de alto potencial em termos de arranjos industriais

(produção em São Paulo) e regiões de desenvolvimento econômico (Vale do Paraíba), como também beneficiam empresas atuantes no mercado internacional (como Embraer e General Motors, entre outras). O Aeroporto de Confins trouxe o conceito de aeroporto industrial e seu modelo reforça a tendência de aeroportos atuarem, sistematicamente, com o transporte de passageiros e cargas.

A implementação deste modelo de uso aeroportuário, no tocante ao transporte de produtos agrícolas, é complexa. Nesse sentido, cabe analisar o papel e a viabilidade dos aeroportos regionais como potenciais equipamentos macrologísticos no escoamento da produção, medindo sua eficiência e o seu papel estratégico na região em que estão instalados. Além disso, cabe empregar ferramentas que auxiliem na identificação do potencial agrícola em termos de distribuição por modal aéreo, investigando a demanda potencial (produtores da agricultura familiar, pequenas indústrias de processamento etc.) por meio de técnicas de apoio à tomada de decisão. Alinhando-se as necessidades de transporte das aglomerações produtivas à infraestrutura aeroportuária ofertada, o desenvolvimento e a competitividade regional poderão ser estimulados.