Proposições e medidas para utilização do aeroporto e adequação do APL

Conforme já discutido, após a análise constatou-se que as sugestões para providências a serem tomadas envolvem tanto o poder público, na da parte dos órgãos competentes vinculados ao planejamento e às operações aeroportuárias, como também o setor privado, no caso as companhias aéreas, empresas e produtores potenciais clientes da região. Principalmente, no que tange ao aumento da capacidade do aeroporto, é necessário a atuação conjunta dos setores público e privado, o que poderá contribuir para a geração de emprego, renda e novos mercados.

Após a interpretação dos dados e caracterização do atual aeroporto bem como das cadeias produtivas de Aracati, foi possível propor algumas ações para a região. Nesta perspectiva, as sugestões recaem sobre os cinco aspectos investigados na

pesquisa: custos, acessibilidade, segurança, infraestrutura de apoio e tempo de chegada ao cliente.

5.6.1 Quanto aos custos

Um dos principais fatores a serem levados em conta na decisão do transporte é a questão dos custos. Contudo, as principais cadeias produtivas da região, pesquisadas neste trabalho, não dispõem de dados e informações financeiras. Dessa forma, é necessário que as entidades e produtores participem de consultorias e capacitações direcionadas para o controle de custos de seus processos produtivos e passem a controlar financeiramente as operações da cadeia, conhecendo o fluxo de pedidos e monitorando o fluxo de informações, contribuindo, portanto, para estudos de viabilidade que serão elaborados pelas empresas aéreas.

Como o transporte até o cliente final é feito, em grande parte, pelos atravessadores, estes devem ser incluídos em estudos, de forma a que se possa estimar os custos de toda a cadeia. Em síntese, além dos trabalhos de orientação junto aos

agricultores, será necessário estudar e coletar dados sobre custos de fretes cobrados pelos atravessadores.

As consultorias e pesquisas relacionadas aos custos e valores de fretes permitirão a formação de indicadores financeiros para os produtores, e servirão de base para estudos de viabilidade que devem ser feitos pelas companhias aéreas. Os custos devem justificar a inclusão do transporte de cargas. Para tanto, as empresas aéreas devem estudar quais rotas poderão fazer, incluindo o Aeroporto de Aracati e mesclando serviços de transporte de passageiros e cargas. Nesta perspectiva, as companhias devem iniciar estudos e desenvolvimento de rotas, atendendo não somente o Aeroporto de Aracati, como também outros aeroportos regionais no Nordeste, avaliando a viabilidade de implantação de voos e serviços.

O desenvolvimento de rotas e estratégias de preços do frete aéreo deve considerar os preços praticados pelos modais que já transportam o caju e seus derivados. Assim, as companhias aéreas devem estruturar preços competitivos para transportar em território nacional, tendo como base a média de preços do rodoviário, e para exportação, analisar o frete marítimo. Somente com valores semelhantes é que se pode vislumbrar a utilização do Aeroporto de Aracati no escoamento das cargas geradas pelo APL.

Além disso, é importante que sejam realizadas ações, por parte do Governo, em favor das companhias regionais, sobretudo no que se refere às taxas e custos com combustível. Algumas medidas, subsidiadas pelo Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), estão previstas para os próximos anos, como os investimentos em aviação regional na expansão da infraestrutura, instalações físicas, equipamentos e viabilização de rotas de voos regionais. Contudo, a promoção de ações e incentivos fiscais, visando reduzir custos das companhias aéreas de menor porte, também poderá incentivar estas empresas a explorarem os mercados regionais, como o de Aracati.

Outra proposição que reflete nos custos do transporte é a identificação de todas as demandas por transporte de cargas da região. Neste trabalho, identificamos apenas as demandas do caju, mel e produtos derivados. No entanto, sabe-se que no entorno da região também existe produção e cultivo de pescados, lagosta, camarão e frutas, como o melão, manga, abacaxi, banana na região do Apodi, entre outras.

Dessa forma, um estudo acerca desta demanda deve identificar para quais regiões esses produtos são escoados, como são transportados, quais os fretes e quais equipamentos são necessários para viabilizar o transporte via modal aéreo. Munidos destas informações, as empresas e o governo poderão realizar investimentos para o transporte de cargas. Sugere-se que este último estudo faça parte do conjunto de pesquisas do Plano Aeroviário Estadual, previsto para ser realizado em 2014 nos principais aeroportos cearenses, e, a partir disto, os investimentos serão melhor direcionados.

5.6.2 Quanto à acessibilidade

O DER vem duplicando uma das principais vias de acesso ao litoral leste: a CE 040. Espera-se com esta obra facilitar o acesso ao aeroporto vinculando-o à sede do Município de Aracati.

Por outro lado, a dificuldade maior dos agricultores repousa nas rodovias vicinais e nas estradas de terra. Portanto, é importante que sejam destinados recursos orçamentários para investimentos na melhoria destes acessos, como também os acessos entre as comunidades produtoras. Tais investimentos resultarão na redução de tempo de deslocamento e movimentação de mercadorias entre os polos de produção, rodovias e aeroporto.

Outra ação sugerida refere-se ao acesso interno do aeroporto. Como os produtores pretendem expor seus produtos nos principais polos de entrada de turistas da região, é imprescindível que a Secretaria de Turismo aprove e viabilize um espaço no aeroporto para que os produtores possam expor e vender seus produtos. Como está prevista a disposição de um quiosque para comercialização de artigos de artesanato, a inclusão de um “Quiosque do Caju e do Mel” poderá abrir novos mercados para o APL. Por isso, sugere-se que as entidades tenham acesso ao aeroporto na forma de expositores.

Outra medida que pode ser empreendida pelas aglomerações produtivas é o planejamento e a participação em eventos nacionais do agronegócio, visando a promoção dos produtos do APL e a captação de novos clientes. Cabe às secretarias de Agricultura e Turismo firmarem parcerias com as cooperativas e associações para

divulgarem os produtos em eventos de grande porte que concentrem investidores, distribuidores e compradores, enfatizando o acesso à região por meio do aeroporto. 5.6.3. Quanto ao tempo de chegada ao cliente

Para garantir que os produtos cheguem com maior rapidez aos clientes do APL, faz-se necessário conhecer e identificar quais as “cidades-clientes” dos produtos da região. Por isso, recomenda-se que seja realizado um mapeamento das principais cidades a serem atendidas e que demandam produtos do APL. Este estudo deve ser disponibilizado para as empresas aéreas e transportadoras que atuarão no aeroporto, com vistas ao planejamento de rotas e atividades logísticas destas empresas.

5.6.4 Quanto à segurança e à infraestrutura de apoio ao embarque

A estrutura aeroportuária para cargas, em Aracati, não está prevista e dependerá de estudos de demanda, conforme já mencionado. Porém, antes mesmo da infraestrutura do aeroporto ser disponibilizada (como o terminal de cargas, com câmaras frigoríficas), as cadeias produtivas necessitam ampliar e melhorar sua infraestrutura, de modo a conferir uma maior segurança e qualidade dos produtos cultivados e processados na região.

Nesta perspectiva, devem ser revistos os mecanismos de acondicionamento, armazenamento e estocagem dos produtos. Recomenda-se que sejam desenvolvidas e construídas unidades de acondicionamento dos produtos in natura, com aquisição de equipamentos de refrigeração adequados, tanto para o caju quanto para o mel.

O recebimento e carregamento dos produtos poderiam ser centralizados em unidades localizadas segundo a estratégia de cada cooperativa. Algumas já possuem centros de recebimento de produção dos agricultores. Estes centros poderiam ser modernizados com registro informatizado da matéria-prima recebida, com profissionais para realizar a operação do carregamento e descarregamento, com o desenvolvimento de práticas de gestão, como o controle de perdas e reaproveitamento de resíduos, e com a ampliação da área coberta, evitando a exposição dos produtos ao sol. Tais investimentos poderiam ser viabilizados por programas ligados ao crédito rural e financiamentos concedidos aos pequenos agricultores, com supervisão de entidades de apoio e das lideranças de cada associação e cooperativa.

Além disso, as associações e cooperativas poderiam adequar seus processos produtivos às normas técnicas da cajucultura, preconizadas pela EMBRAPA. O desenvolvimento da inovação nos processos, com aquisição de caminhões refrigerados, poderia reduzir as perdas no transporte, conferindo maior tempo de vida aos produtos e, consequentemente, aumento da qualidade dos produtos in natura.

Outra sugestão para reduzir a ociosidade de voos turísticos fretados e reduzir o custo do assento por quilômetro transportado é a utilização de aeronaves do tipo Combi11 ou Full Pax. As aeronaves Combi9, ou mistas, são destinadas ao transporte tanto de passageiros quanto de cargas. Já as aeronaves do tipo Full Pax são destinadas para transportar passageiros, cujo deck interior é utilizado para bagagens e, na eventual sobra de espaço, pode ser preenchido com cargas. A utilização destes equipamentos, de forma estratégica, pode ser feita para distribuir os produtos processados, como castanhas, sucos e polpas que não exigem sofisticadas técnicas de manuseio e refrigeração, e contribuem para a utilização total do espaço nos aviões. Entre os modelos de aeronaves do tipo Combi e Full Pax estão os fabricados pela BOEING e pela FOCKER, compatíveis com a estrutura do Aeroporto de Aracati, após a homologação e ampliação.

Considerando todas as sugestões aqui apresentadas, espera-se que a análise forneça subsídios e orientações à tomada de decisão em investimentos para o transporte de cargas para o aeroporto estudado. No contexto atual, não está previsto a construção do terminal de cargas. Contudo, diante do interesse apresentado pelo APL, do potencial da região e da disponibilidade de espaço físico para ampliação e atendimento às cargas regionais, este trabalho apresenta um conjunto de medidas a serem adotadas pelos agentes do sistema de modo a orientar e ampliar o uso do aeroporto para o setor de cargas.

11 _{Nas aeronaves Combi, as cargas são transportadas tanto no andar inferior quanto no superior da} aeronave, separadas da ala de passageiros, que fica na parte da frente.