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3. CADEIAS PRODUTIVAS PRODUTIVAS NA AGRICULTURA

3.3 Caracterização das cadeias produtivas

As cadeias produtivas são constituídas por um conjunto de atores sociais envolvidos em um processo produtivo, agindo de forma integrada e sistemática, tais como fornecedores de insumos, produtores, indústrias de processamento e transformação, além dos distribuidores (atacadistas e varejistas), dos consumidores finais e de agentes de suporte como empresas de transporte.

Para Castro et al. (2002), o enfoque de cadeia produtiva provou sua utilidade para organizar a análise e aumentar a compreensão dos complexos macroprocessos de produção bem como para se examinar o desempenho desses sistemas, determinar gargalos e oportunidades não exploradas.

Para Schultz (2001), o entendimento sobre cadeias produtivas contribui tanto para fornecer opções de políticas setoriais como também para oferecer ferramentas gerenciais que permitam às empresas operacionalizar ações conjuntas que aumentem o nível de coordenação e eficiência da cadeia. Já na concepção de Silva (2005), o conhecimento do funcionamento das cadeias produtivas possibilita a visualização da cadeia de forma integral, a identificação de potencialidades, a motivação para o estabelecimento de cooperação técnica, a identificação de elementos faltantes e, por fim, a certificação dos fatores condicionantes de competitividade em cada segmento. Outra razão para utilizar este termo é introduzir uma perspectiva a partir do consumidor final para todos os integrantes da cadeia. Os fluxos de uma cadeia do tipo agrícola, bem como os elementos constituintes e suas interações podem ser visualizadas na figura 06.

Pela ilustração, tem-se a compreensão do fluxo de atividades, na cadeia produtiva, de forma interconectada, considerando os fluxos de material (de montante à jusante) e os fluxos de capital que seguem do fim para o início da cadeia, ou seja,

partem do valor pago pelo consumidor final. A metodologia da figura considera a visão tradicional em que os sistemas agroindustriais e os negócios gerados por eles eram organizados em três partes : “antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira”. Esta visão é representada, na figura, pela sinalização das ligações entre propriedade agrícola e comércio atacadista.

Figura 06 - Modelo Geral de uma Cadeia Produtiva.

Fonte: CASTRO et al (2002).

Para Callado e Callado (2008), o segmento antes da porteira representa o ponto de origem para qualquer sistema agroindustrial e pode ser dividido em produção e disponibilização de insumos para o agronegócio e a prestação de serviços voltados para o agronegócio como a pesquisa, extensão rural, elaboração e análise de projetos agroindustriais, capacitação de recursos humanos, tecnologias da informação entre outros. Já o segmento dentro da porteira abrange as atividades produtivas propriamente ditas, representando distintas formas de exploração econômica dos fatores produtivos disponíveis para os diferentes sistemas agroindustriais.

O segmento depois da porteira abrange todas as atividades relacionadas à distribuição e comercialização dos produtos agroindustriais até que eles atinjam os consumidores finais. Alguns produtos são comercializados in natura e chegam ao varejo sem ter sofrido qualquer processo de transformação. Outros são processados, beneficiados e embalados antes da comercialização.

Ainda com relação à Figura 06, nota-se a existência de dois ambientes, externos à produção: o organizacional e o institucional. Silva (2005) explica que o ambiente

organizacional é estruturado por entidades na área de influência da cadeia produtiva, tais como agências de fiscalização ambiental, universidades, agências de créditos, centros de pesquisa e agências credenciadoras. Já o ambiente institucional refere-se ao conjunto de leis ambientais, trabalhistas, tributárias e comerciais, bem como as normas e padrões de comercialização. Em complemento, Schultz (2001) cita que tanto as instituições como as organizações, que caracterizam uma cadeia, possuem como objetivo dar suporte ao funcionamento de sistemas agroindustriais ou das cadeias produtivas, sendo importante a compreensão destes dois ambientes como forma de complementar o entendimento de como os agentes envolvidos nos processos produtivos atuam com relação ao mercado.

A integração e a coordenação sistemática do agronegócio, segundo Miele et al. (2011), tem como objetivo reduzir os riscos associados a variações no fornecimento ou na aquisição de matéria-prima em termos de quantidade e preço, atender às exigências de qualidade e prazo de entrega por parte dos compradores e consumidores, reduzir as oscilações de fornecimento e oscilações de renda agropecuária. Em suma, os elementos de uma cadeia produtiva agroindustrial devem fornecer:

leque de produtos finais, disponibilizados ao consumidor;

segmentos à montante (indústria de insumos à agropecuária) e à jusante da agropecuária (distribuidores atacadistas, varejistas e os consumidores);

transações entre esses diversos segmentos;

ambiente institucional e organizações de representação e apoio;

delimitação geográfica, buscando identificar a existência de diferenças regionais ou nacionais; e

delimitação no período de tempo;

Neste cenário, as cadeias permitem a integração de diversos atores, num determinado espaço e tempo, com limitações de recursos (financeiros, insumos, tecnologia) e que contam com o suporte de entidades para legislar sobre as atividades e regulamentar processos. Araújo (2005) aponta diversas informações relevantes que podem ser obtidas através da sistematização das relações entre os agentes:

efetuar a descrição de toda a cadeia;

reconhecer o papel da tecnologia na estruturação da cadeia; organizar estudos de integração;

analisar políticas para o agronegócio;

compreender a matriz insumo-produto para cada um dos produtos; analisar as estratégias das firmas e associações;

Nesse sentido, o planejamento estratégico deve contribuir para harmonizar as estratégias de cada agente, no sentido de aumentar a eficiência de uma cadeia, organizando suas relações de forma sistêmica. De acordo com o SEBRAE (2000), as relações entre os diversos atores demanda algum tipo de alinhamento vertical, seja na forma de contratos, alianças, integração entre empresas e a presença de cooperativas. Miele et al. (2011) denominam estas relações como sendo estruturas de mercado no agronegócio.

A formação de alianças e parcerias estratégicas pode ser uma alternativa interessante voltada para agregação de competências que possam gerar benefícios para todos os envolvidos, desde que os interesses estejam em comum acordo entre os agentes da cadeia produtiva. As estratégias dos mercados, bem como a subdivisão das cadeias podem ser sintetizadas na tabela 08.

Observa-se, pela tabela, a presença de três tipos de organizações na agropecuária, onde a participação de cooperativas e a integração na produção constituem ações de desenvolvimento e que promovem a melhoria das cadeias. Tais esforços contribuem para desenvolver a sustentabilidade na agricultura. Os investimentos resultam no esforço da EMBRAPA e das organizações de pesquisa, que se somaram às universidades e aos produtores.

Tabela 10: Caracterização dos segmentos que compõem uma cadeia produtiva. Segmento Setor Estrutura Tipos de Organizações Estratégias Insumos

Agrícolas Química-farmacêutica Oligopólios diferenciado e concentrado (compete em custos e inovações). Conglomerados multifuncionais diversificados e empresas regionais que atuam em nichos. Pacotes tecnológicos com incorporação de serviços e avanço da biotecnologia. metal- mecânica Genética e Nutrição

Agropecuária Agricultura Não-

oligopolístico Agricultura empresarial, patronal e familiar;cooperativas e participação marginal de agricultura de subsistência. Desde commodities até bens de especialidades com diversos níveis de diversificação e especialização. Pecuária

Segmento Setor Estrutura Tipos de Organizações Estratégias Agroindústria Processamento

Primário Oligopólios competitivos (em custos

Conglomerados

diversificados, empresas cooperativas regionais e inúmeras micro e pequenas empresas locais que atuam em nichos Produz bens commodities com diversos níveis de diversificação e especialização e formas de transação com produtores, integração da produção. Indústrias de Alimentos e Bebidas Processamento

secundário Oligopólios competitivos (em custos) e diferenciados (em marcas). Conglomerados diversificados, empresas cooperativas regionais e inúmeras micro e pequenas empresas locais que atuam em nichos. Produtos com valor agregado (processados, prontos para o consumo, embalados) que exploram a marca. Distribuição Atacado e

Varejo Oligopólios competitivos (em custos) e diferenciados (em marcas).

Conglomerados

multinacionais e nacionais, com empresas atuando em nichos, micro, pequenas e médias empresas e estruturas públicas. Marca com serviço ou baixo custo Serviços de Alimentação Não- oligopolístico

Inúmeras micro, pequenas e médias empresas, redes multinacionais

Fonte: Adaptado MIELE et al. (2011).

Como resultado do trabalho em conjunto de instituições ligadas ao agronegócio, tem-se o surgimento de novas culturas, novas técnicas de manejo e conservação, de irrigação e controle de pragas que foram sendo disponibilizadas aos agricultores, com vistas a melhorar a competitividade, dar sustentabilidade às cadeias de produção, operacionalizar os processos e estimular a produção. Para tanto, é essencial que as cadeias contem com suporte logístico, incluindo condições adequadas de armazenamento, estocagem, conservação, distribuição e transporte.