Capítulo 4 - Artesanato de Barcelos
4.3. Artesanato
O artesanato como parte integrante da cultura barcelense é uma forma de expressão
inspirada nos mais variados temas, necessidades e formas do quotidiano e espelho de um
sentido criativo ímpar de uma comunidade artesanal muito forte decorrente da variedade
de artes e ofícios, dos quais se destaca pela sua importância a olaria. Efetivamente o
trabalho no barro ganhou tal relevância ao longo dos séculos que se tornou indissociável
da história, passada e presente, desta região e das suas tradições (CMBarcelos, 2017).
E se, de entre todas as artes tradicionais, a olaria tem lugar de destaque pela sua inegável
ligação à terra e ao homem, a olaria de Barcelos comprova e consolida essa importância,
não só pela quantidade e qualidade de peças produzidas, mas também pela importância
económica e social que esta atividade sempre teve ao longo dos tempos. Foi assim que se
construiu uma tradição regional, alicerçada na terra e moldada pelo talento dos homens e
mulheres que lhe dão forma. As louças de Barcelos, como vulgarmente são conhecidas
são um atributo de identidade que ao longo dos séculos difundiram e disseminaram o
nome deste concelho e promoveram a empregabilidade e sustento de centenas de famílias
que tinha nas artes do barro o seu sustento. Por esse país fora, nas feiras semanais, nas
feiras de ano, nas romarias, etc.…, o nome de Barcelos era difundido por esta gente
simples que calcorreava as praças das cidades a vender as louças, que transportavam a pé
ou em carro de bois, conferindo-lhe uma notoriedade que se prolongou no tempo como
uma marca de identidade de uma comunidade, de um território e de uma cidade, ao ponto
de o nome Barcelos, não mais se poder dissociar deste contexto socioeconómico
(CMBarcelos, 2017).
O figurado, produção subsidiária da olaria, era a designação adotada para as peças de
estatuária de expressão popular, produzidas na região de tradição oleira do atual concelho
de Barcelos, onde cabiam desde as pequenas peças modeladas integralmente à mão, até
às peças produzidas em pequenos moldes ou com técnicas mistas usadas nesta produção.
Pequenas peças que, inicialmente, ocupavam os espaços vazios dos fornos nas cozeduras
das peças de olaria, e que podemos associar aos brinquedos de antigamente, mas que
serviam paralelamente como forma de aproveitar o resto de barro e as cozeduras das
louças, para fazer mais umas peças para vender nas feiras e aumentar o rendimento
familiar. O que agora cabimentamos como “arte” outrora era a forma do povo sobreviver,
por isso, arte mais que ato criativo para os artesãos barcelenses e seus antepassados é um
ato cultural que passou de geração em geração como herança e identidade. E assim nasceu
uma produção que, pretendendo ser brinquedo, se revelou símbolo identitário de uma
região, fruto da capacidade única dos seus barristas de recriar o real, criando um
imaginário. Figurado, além de uma forma de expressar ao mundo o modo de pensar,
sentir, viver e evoluir de uma comunidade evidencia, ainda, a forma como os artesãos de
cada época representam o quotidiano do seu tempo. Foi a partir desta produção que se
criou o mais conhecido símbolo de Portugal e do concelho de Barcelos – O galo, também
ele embaixador do concelho e revelador de uma identidade histórica de um centro urbano
desde tempo imemorial ligado à peregrinação a São Tiago de Compostela
14
(CMBarcelos,
2017).
A riqueza do concelho não se fica pelas artes da olaria e figurado e alarga-se ao crivo de
Carreira, aos bordados, à tecelagem, aos trabalhos em madeiras e aos trabalhos em ferro,
e são estas artes que serão apresentadas nesta dissertação. Todas estas produções marcam
a identidade de um concelho com um contexto socioeconómico muito ligado à arte
popular, fruto de um saber enraizado na sociedade local e na relação desta com o meio.
Quando falamos de Barcelos, naturalmente o tema artesanato surge lembrando um
território de homens e mulheres simples que a partir das suas mãos e imaginação criaram
peças de grande valor cultural que marcaram o quotidiano de cada tempo e que hoje são
marcas de identidade deste concelho. Uma tradição que mais do que um ato de criação
foi ao longo do tempo um ato de necessidade e de sobrevivência, pois as famílias que não
possuíam terras tinham no trabalho manual e artesanal o seu sustento, fosse nas cerâmicas,
nas madeiras, nos ferros, no bordado ou na tecelagem. Um trabalho duro, feito quase
sempre sem meios, sem recursos, em condições precárias e em oficinas humildes, mas
com a inspiração e mestria do saber fazer que de geração em geração fez desta terra uma
terra de artesãos, e se é certo que a olaria e a cerâmica marcaram etnológica e socialmente
14 Santiago de Compostela é uma cidade e município no noroeste de Espanha. É capital da comunidade autónoma da Galiza e faz parte
da província da Corunha e da comarca de Santiago. É uma cidade internacionalmente famosa como um dos destinos de peregrinação
cristã mais importantes do mundo.
a história de Barcelos, as outras produções foram e são também elas marcas de identidade
deste vasto território. O artesanato é por isso, e por muito mais, património material e
imaterial ligado às produções artesanais de valor inestimável. É também uma forma de
arte popular e, especialmente, um item de identidade do território. Não pode por isso ser
olhado apenas como uma reserva ou herança do passado, e menos ainda, como uma
recordação desse mesmo passado, mas antes como um ativo que faz parte do presente, e
acima de tudo, como um vetor de identidade que deve ser transportado para o futuro como
bandeira de identidade e de diferenciação cultural no contexto cada vez mais globalizado
em que vivemos, podendo aproveitar esta arte de uma forma criativa, e assim crescer
como Barcelos, uma cidade criativa (CMBarcelos, 2017).
Para um melhor enquadramento e análise dos tipos de artesanatos existentes, são
apresentados de forma individual, sendo:
4.3.1. Olaria
Figura 6 - Olaria
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
A mais antiga e popular vertente artesanal conhecida em Barcelos. Por razões históricas,
reflete-se mais na zona nordeste do concelho de Barcelos, terras ricas em água e barro,
que desde muito cedo despertaram a cobiça do homem. A ligação desta atividade olárica
e cerâmica à tradicional e antiga feira semanal, da qual não pode ser dissociada,
engrandece ainda mais a importância histórica e cultural desta arte. É neste contexto que
formam o “berço” da identidade barrista destas gentes.
As louças de Barcelos, como vulgarmente são conhecidas são um atributo de identidade
que ao longo dos séculos difundiram e disseminaram o nome deste concelho e
promoveram a empregabilidade e sustento de centenas de famílias que tinha nas artes do
barro o seu sustento.
Por esse país fora, nas feiras semanais, nas feiras de ano, nas romarias, etc., o nome de
Barcelos era difundido por esta gente simples que calcorreava as praças das cidades a
vender as louças, que transportavam a pé ou em carro de bois, conferindo-lhe uma
notoriedade que se prolongou no tempo como uma marca de identidade de uma
comunidade, de um território e de uma cidade, ao ponto de o nome Barcelos, não mais se
poder dissociar deste contexto socioeconómico.
É atualmente uma produção certificada que se tem reinventado nas formas e conceitos,
face ao aparecimento de novos materiais e utensílios, mas mantendo a sua autenticidade
como arte identitária do concelho de Barcelos (CMBarcelos, 2017).
4.3.2. Figurado
Figura 7 - Figurado
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
O figurado Barcelense começou como atividade subsidiária da olaria, usando pequenas
porções de barro e ocupando os tempos livres. Eram criadas pequenas figuras
representando pessoas e animais, tendo unicamente função lúdica. Com o passar dos
tempos a produção do figurado aumentou e foi ganhando relevância e dinamização pelo
concelho inteiro, assumindo características especiais de cada autor. O figurado sai do
anonimato, assumindo-se como atividade artística e dando nome aos autores que
passaram a assinar as peças. A certa altura a criação das peças teve a influência da elite
cultural do Porto, fazendo com que fosse dada uma especial atenção, possibilitando a sua
divulgação generalizada à cultura portuguesa.
O figurado passa a representar quer o quotidiano, quer o imaginário religioso e fantástico
recortado de rituais e lendas de tradição oral da região, atribuindo um novo conceito de
utilidade a estas peças, agora feitas para prazer e desfrute dos que as compram,
maioritariamente turistas.
O projeto denominado por «Certificação do Figurado de Barcelos» não só pretendia
valorizar e qualificar a produção do mesmo, mas ainda pretendia dar uma garantia de
qualidade e genuinidade, levando ao conhecimento do público das histórias dos bonecos
e das gentes, tornando o figurado de Barcelos numa referência do artesanato Português.
Assim nasceu a produção do figurado barcelense, fruto da capacidade única dos seus
barristas de recriar o real, criando o imaginário.
O figurado sortido era a designação adotada para as peças de estatuária de expressão
popular, onde existiam desde as pequenas peças modeladas integralmente à mão, até às
peças produzidas em pequenos moldes, com técnicas mistas usadas nesta produção. Em
meados do século XX, a produção acompanhava o gosto do cliente e registava-se uma
inflação do trabalho a molde, muitas vezes cópias dos produtos de outras regiões, cujo
sucesso de venda, os oleiros observavam nas feiras, onde também vendiam (CMBarcelos,
2017).
4.3.3. Cestaria e vime
Figura 8 - Cestaria
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
Esta arte constitui um elemento indispensável para o conhecimento e fruição do
artesanato regional. Por todo o concelho encontramos ainda artesãos, que isoladamente,
ou em família, elaboram peças de cestaria, quer de cariz utilitário, quer com um arrojado
e inovador sentido decorativo. As peças mais comuns são os tradicionais cestos e cestas
com utilização várias, quer para as lides tradicionais da agricultura, quer para usos
domésticos e decorativos. Para além destas peças é de referenciar a produção de
abanadores e abanicos, entre outros enquadrados nos novos conceitos decorativos da
sociedade atual (CMBarcelos, 2017).
4.3.4. Madeira
Figura 9 - Madeira
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
A madeira é uma matéria-prima muito utilizada na produção de peças decorativas e
utilitárias, pelo que também em Barcelos existe uma série de artesãos que trabalham esta
matéria-prima de forma minuciosa e artística. As peças mais comuns são as miniaturas
em madeiras, as quais representam maioritariamente cenas de vida rural, e ainda os
brinquedos, como carros, piões, etc. Em termos de peças de maior dimensão,
produzem-se esproduzem-sencialmente, utensílios agrícolas, móveis rústicos e peças de caracter religioso.
Atualmente o “Galo” é também um ativo desta produção que de utilitária passou na sua
maioria decorativa, mas manteve a sua identidade, beleza e rusticidade (CMBarcelos,
2017).
4.3.5. Bordados de crivo
Figura 10 - Bordados
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
A arte de bordar e tecer é uma tradição, igualmente, enraizada no concelho de Barcelos,
em particular na freguesia de Carreira, tendo no conhecido “Bordado do Crivo de S.
Miguel da Carreira” uma tradição antiga, com características muito próprias que pelas
suas formas e minúcia se diferencia dos restantes bordados minhotos. Em Barcelos
existem ainda artesãos que tecem em teares tradicionais e bordam de forma tradicional
conservando saberes e técnicas que durante anos foram a base da economia de algumas
freguesias. Para além do bordado de crivo, as artesãs do concelho produzem também
outro tipo de artigos de elevada qualidade, ao gosto e feitio de cada um, nomeadamente
lenço dos namorados, os tapetes e almofadas de penas, sendo únicas em Portugal, os
tapetes de metidos e puxados, as toalhas entre muitos outros trabalhos de minúcia ligados
à arte de bordar e tecer (CMBarcelos, 2017).
4.3.6. Ferros e derivados
Figura 11 - Cobre
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
Este tipo de artesanato é muito apreciado pelo trabalho pormenorizado e variedade de
peças. O trabalho de matéria-prima, difícil por natureza, culmina em objetos de rara
beleza e imponência estética. À exceção de alguns utilitários a maioria das peças
produzidas são para efeitos decorativos, como por exemplo, os candelabros, os regadores,
as candeias, lampiões, entre outras. Uma das peças mais apreciadas pelo visitante são os
famosos “Galos de Barcelos” em ferro ou cobre (CMBarcelos, 2017).
4.3.7. Arte contemporân ea
Figura 12 - Arte contemporânea
Fonte: http://www.feiradebarcelos.com
Esta arte artesanal é a mais recente do qual se adequou às necessidades do artesanato, em
termos económicos e sociais. A variedade de peças e materiais utilizados é imensa, a
dificuldade é mesmo escolher o tipo de artesanato que mais agrada, pelo que para além
das outras artes artesanais, existe muito mais para oferecer. Esta arte transpõe o lado mais
criativo e infantil do artesanato, recriando várias peças de utilidade ou de decoração, do
qual são feitas através uma enorme diversidade de materiais, alguns deles reciclados,
como papel ou plástico, que juntamente com a criatividade são criadas peças magníficas
e únicas. São bons exemplos desta nova realidade, os chapéus em miniatura, as bolsas e
galos em couro, os trabalhos em tirela, entre muitos outros que demonstram a criatividade
barcelense (CMBarcelos, 2017).