Capítulo 5 - Metodologia de investigação 5.1. Design de pesquisa e instrumento de recolha de dados «O estudo de caso qualitativo caracteriza-se pelo seu carácter descritivo, indutivo particular e a sua natureza heurística pode levar à compreensão do próprio estudo» (Merriam,1988). Segundo a mesma autora, «um estudo de caso é um estudo sobre um fenómeno específico tal como um programa, um acontecimento, uma pessoa, um processo, uma instituição ou um grupo social». (Ponte, 1994, p.3) A análise qualitativa de dados é um fenômeno recentemente retomado, que é caracterizado por ser um processo indutivo que tem como foco a fidelidade ao universo de vida cotidiana dos sujeitos, estando baseada nos mesmos pressupostos da chamada pesquisa qualitativa. Segundo André (1983) ela visa apreender o caráter multidimensional dos fenómenos em sua manifestação natural, bem como captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a compreensão do indivíduo no seu contexto. Atualmente vem-se discutindo muito a necessidade de requisitos básicos para levar a efeito uma análise qualitativa, e a maioria dos autores ligados ao tema considera que a experiência do pesquisador dentro da área, com a literatura pertinente e diferentes formas de analisar dados de entrevista seja uma condição "sine qua non " para que realize um estudo adequado, levando-se em copia que ele (pesquisador) é, na realidade, o seu próprio instrumento de trabalho (Joly Gouveia, 1984, citado por Alves e Silva, 1992). Esta metodologia, mais do que qualquer outra, levanta questões éticas, principalmente, devido à proximidade entre pesquisador e pesquisados. Ainda que a maioria dos pesquisadores (especialmente os sociólogos) dedique pouca atenção a essa questão, existe uma elaborada discussão — principalmente entre os antropólogos — que procura dar conta dos problemas decorrentes da relação de alteridade entre os dois polos na situação de pesquisa (Souza, 2004). Dilthey, autor de abordagem compreensiva, defendeu o método histórico-antropológico ao afirmar que os fenômenos humanos são apreendidos ao se integrar a representação, o sentimento e a vontade e inseri-los em uma perspetiva histórica (Amaral, 1987). Weber, outro representante desta abordagem, diferenciou a compreensão direta (objetiva) da compreensão indireta (subjetiva) e influenciou significativamente a fenomenologia do mundo social elaborada por Schutz (1972). Em suma, a abordagem qualitativa ou ideográfica parte da premissa de que a ação humana tem sempre um significado (subjetivo ou intersubjetivo) que não pode ser apreendido somente do ponto de vista quantitativo e objetivo. O significado subjetivo diz respeito ao que se passa na mente consciente ou inconsciente da pessoa (individualismo metodológico – o nível de análise é a pessoa) e o significado intersubjetivo se refere ao conjunto de regras e normas que favorecem o compartilhamento de crenças por grupos de pessoas inseridas em determinado contexto sócio cultural (holismo metodológico – o nível de análise é a estrutura e os sistemas). Se o pesquisador concorda com os princípios da abordagem nomotética seus esforços de investigação empírica, incluindo a escolha e uso de técnicas, serão congruentes com a crença de que os fenómenos psicológicos devem ser estudados do mesmo modo que os fenómenos físicos, com repercussões para os procedimentos de pesquisa a serem adotados: padronização, controle de variáveis e grau de distanciamento do pesquisador de seu objeto de estudo. A entrevista, neste caso, obedecerá a um roteiro estruturado, os entrevistadores se submetem a um treinamento para neutralizar as diferenças individuais e a análise dos resultados estará focada apenas nas respostas do entrevistado, ignorando que elas são, em grande parte, produto da interação que se estabelece entre entrevistador e entrevistado (Fraser & Gondim, 2004). 5.1.1. Entrevistas Como já referido, esta dissertação consiste num estudo de caso qualitativo, utilizando o método de entrevistas como ferramenta de estudo de mercado. A aposta neste tipo de analise recai no objetivo principal, consistindo numa análise real do mercado artesanal existente no território. Em forma de obter uma informação autêntica e pormenorizada, as entrevistas incidem na qualidade da clareza, exequibilidade e pertinência, em mercê de estruturar um laço entre o conhecimento e a realidade económica. Especializando a principal técnica de pesquisa apresentada nesta dissertação, a entrevista, foi feita uma investigação da literatura, em forma de conhecer um pouco mais o conceito. As “leituras e entrevistas exploratórias devem ajudar a constituir a problemática de investigação. As leituras dão um enquadramento às entrevistas exploratórias e estas esclarecem-nos quanto à pertinência desse enquadramento” A entrevista é considerada uma modalidade de interação entre duas ou mais pessoas. Trata-se de uma conversação dirigida a um propósito definido que não é a satisfação da conversação em si, pois esta última é mantida pelo próprio prazer de estabelecer contato sem ter o objetivo final de trocar informações, ou seja, diminuir as incertezas acerca do que o interlocutor diz (Haguete, 2001; Lodi, 1991). Dito de outro modo, a entrevista é uma forma de interação social que valoriza o uso da palavra, símbolo e signo privilegiados das relações humanas, por meio da qual os atores sociais constroem e procuram dar sentido à realidade que os cerca (Flick, 2002; Jovechlovitch & Bauer, 2002 citado por Fraser & Gondim, 2004). Deste modo, a entrevista dá voz ao interlocutor para que ele fale do que está acessível a sua mente no momento da interação com o entrevistador e em um processo de influência mútua produz um discurso compartilhado pelos dois atores: pesquisador e participante. Ao contrário, quando o foco de investigação é o comportamento humano, ou seja, a forma como as pessoas agem no cotidiano e não somente falam sobre ele, existem outras técnicas, tais como a observação participante e a observação sistemática que permitem melhor atender a estes objetivos. A observação participante é uma modalidade de observação bastante empregada em estudos de natureza antropológica e sociológica e que distingue da observação sistemática pelo fato de esta última defender o distanciamento entre o observador e o fenómeno a ser observado, assim como a objetividade da observação, garantida pela adoção de procedimentos rigorosos de registos. De maneira distinta, a observação participante parte da premissa de que a apreensão de um contexto social específico só pode ser concretizada se o observador puder imergir e se tornar um membro do grupo social investigado. Só então, poderá compreender a relação entre o cotidiano e os significados atribuídos por este grupo. Toda a técnica de pesquisa tem alcances e limites demarcados e, para que seus resultados sejam confiáveis, são necessários, além da coerência com o paradigma escolhido e com o objeto de estudo, o conhecimento e o domínio da técnica pelo pesquisador, o que é perfeitamente aplicável no caso da entrevista (Fraser & Gondim, 2004). No documento O marketing experencial como determinante na tomada de decisão do consumidor do turismo criativo: artesanato de Barcelos (páginas 68-71)