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Capítulo 3 - Marketing experiencial e cocriação

3.1. Evolução do conceito de marketing

O marketing é, atualmente, um dos conceitos mais importantes no mundo empresarial.

No entanto, trata-se de uma área com uma complexidade enorme, devido à sua enorme

abrangência e à sua ligação direta com os consumidores que têm vindo a alterar os seus

comportamentos, pelo que ao longo dos anos a sua definição tem sofrido várias alterações.

São vários os autores que se debruçaram sobre este assunto e que têm procurado definir

o conceito de marketing, tendo em conta as realidades de cada época. Uma das definições

oficiais mais importantes do conceito de marketing é a da AMA

9

, que refere que

marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar,

distribuir e transacionar ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros,

e para a sociedade em geral (Rownd & Heath, 2008).

O marketing deve então começar por analisar quais são as necessidades dos consumidores

que não estão a ser satisfeitas e procurar que essas lacunas sejam ultrapassadas, a partir

da inserção no mercado de produtos e/ou serviços que proporcionem satisfação nos

consumidores. Assim, ao oferecerem o que os clientes procuram e desejam, as empresas

vão-se destacando no mercado e adquirindo um melhor posicionamento no mesmo. Nesta

definição está referenciada uma das principais características do marketing da atualidade:

a preocupação com os consumidores. Este aspeto é considerado a base do marketing das

empresas, uma vez que o objetivo fundamental das organizações consiste na satisfação

das necessidades e desejos dos consumidores. Mas nem sempre o marketing teve as suas

atenções voltadas para os consumidores, este aspeto tem vindo a surgir ao longo dos anos,

a passo com as novas tecnologias que influenciam cada vez mais, de forma indireta ou

direta, a nossa sociedade e a forma como esta é gerida (Pratas, 2013, p.17).

Desde há muitos e largos anos que o homem sente a necessidade de vender aquilo que

produz, as trocas comerciais são uma constante desde dos nossos antepassados. No

entanto, foi a partir da revolução industrial, iniciada em Inglaterra, na segunda metade do

século XVIII, e expandida para a Europa e América do Norte, no século XIX, que se

deram as grandes transformações a nível económico e sociais. Segundo Caetano,

Portugal, Cruz, Diniz e Matos (2011, p.48), “no século XIX e no início do século XX a

indústria floresce emergindo novos modelos de fabricação e novos conceitos de

abordagem ao problema da produção, fruto dos desenvolvimentos de inovação técnica e

9 AMA American Marketing Association

de novos procedimentos industriais que se vão realizando”, ou seja, estas alterações

impulsionaram o desenvolvimento drástico na área da indústria, aumentado a produção

de bens e alterando a forma de consumo. Estes factos históricos que levaram a

transformações importantes na maneira de agir dos consumidores e na forma como as

empresas encaravam os produtos e a sua produção, contribuíram para que, no início do

século XX, vários estudiosos se começassem a concentrar de forma mais precisa nesta

área, surgindo assim as primeiras tentativas para definir o conceito de marketing (citado

por Pratas, 2013, p.19).

Caetano e Rasquilha (2010, p. 9), referem que “a disciplina de marketing, tal como a

conhecemos, não nasceu de um dia para o outro. Passou por uma evolução clara, onde se

podem distinguir três grandes fases histórias: fase da produção, fase das vendas e fase do

marketing”. Segundo estes autores, a fase da produção começou nos anos 20, tinha como

pressuposto que os consumidores estavam principalmente interessados na existência dos

produtos de fácil acesso e a preços baixos, sem se preocuparem com os seus atributos.

Quanto às empresas, o seu principal objetivo era produzir com elevada eficiência, a baixos

custos e de forma massiva para que se pudessem expandir no mercado. O primeiro

exemplo desta forma de produção em massa foi desenvolvido por Henry Ford, quando

inventou o famoso modelo Ford T e o produziu em grande escala, colocando-o à venda a

preços baixos e acessíveis a todos. Pode-se dizer então que estávamos numa época em

que o consumidor era completamente ignorado pelas empresas, já que estas davam

primazia à existência dos produtos em grandes quantidades, sem se preocuparem com a

diferenciação dos mesmos, o que levava à total ausência de concorrência entre as

empresas. Estávamos então perante um fenómeno em que a oferta era muito maior do que

a procura, e o marketing servia apenas como recurso para aperfeiçoar a linha de produção

(Pratas, 2013, p.23).

Kotler (2013) considera ainda a existência de uma fase intermédia entre a da produção e

a das vendas, a fase do produto. Segundo este autor antes da entrada na era das vendas,

as empresas concentradas na produção dos seus produtos, procuraram criar e produzir

produtos de qualidade superior, melhorando-os e inovando-os constantemente: “o

conceito de produto assume que os consumidores favorecerão aqueles produtos que

oferecem mais qualidade, desempenho ou características inovadoras. Empresas

orientadas para o produto focam sua energia em fazer produtos superiores,

melhorando-os ao longo do tempo”.

A segunda fase referida por Caetano e Rasquilha (2010), centraliza-se nas vendas e

ocorreu entre os anos 30 e 50, época caraterizada pela Grande Depressão de 1929 que só

terminou com a II guerra mundial. Nesta altura instalou-se uma grande desarticulação na

Europa, tanto a nível político, social como económico. Por conseguinte surgiu uma

grande crise na economia o que levou à falência das técnicas de gestão das empresas

utilizadas até à data. Começou-se a verificar que a procura não estava a permitir que as

empresas fizessem o escoamento dos produtos que estavam em stocks e que outrora

tinham sido produzidos em massa. Por outro lado, o ambiente de guerra em que se vivia

fez com que os consumidores tivessem menos poder de compra, pelo que começaram a

valorizar os atributos dos produtos oferecidos, procurando os de melhor qualidade e

desempenho e os mais inovadores. Assim, surgiu a concorrência entre as empresas, que

começavam a preocupar-se em desenvolver técnicas para persuadir, de forma agressiva,

os consumidores a comprarem em grandes quantidades os seus produtos para poderem

escoar os seus stocks. No entanto, continuavam a não valorizar as necessidades e

interesses dos consumidores (Pratas, 2013, p. 25).

Helfer e Orsoni (1996, p. 27) referem que se começou a entrar numa nova era, em que as

vendas predominavam em detrimento da produção que se tinha verificado até então. Nesta

época o marketing servia como recurso para desenvolver estratégias para as empresas

atingirem os consumidores, influenciando-os na venda dos seus produtos. Talvez esta

época tenha influenciado o pensamento erróneo da atualidade, em que muitos

consumidores comuns consideram que o marketing significa vender.

Para Caetano e Rasquilha (2010, pp. 10-11), a terceira fase, a do marketing, surgiu pós

anos 50, aquando do fim da segunda guerra mundial. “O crescimento industrial, o

regresso das tropas, o aumento da taxa de natalidade e o panorama industrial, económico

e social otimista verificado no início da década” foram alguns dos motivos que levaram

a alterações nos hábitos de consumo da população que começaram a ter novamente poder

de compra. Desta forma as empresas começaram novamente a respirar de alívio e a

responder a esta nova conjuntura social, política e económica, olhando para os

consumidores de uma forma diferente. Começa-se então a assumir que o sucesso das

empresas depende da forma como estas encaram as necessidades e desejos dos

consumidores e este facto irá influenciar a sua posição em relação à concorrência. Por

outro lado, os industriais começam a consciencializar-se que melhor do que vender um

só produto a um cliente, é conquistar a sua atenção para a marca, ou seja, fidelizar o

cliente.

A concorrência torna-se cada vez maior e, para as empresas conseguirem sobreviver num

mercado mais competitivo, devem centralizar todos os seus esforços no consumidor, já

que “o conceito de marketing assume que a chave para atingir as metas organizacionais

consiste em ser mais eficaz do que os concorrentes para integrar as atividades de

marketing, satisfazendo, assim, as necessidades e desejos dos mercados-alvo” (Kotler &

Armstrong, 2013).

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