• Nenhum resultado encontrado

O poder de articulação da Sociedade Civil Organizada e o conceito de “Social Capital” a referendar a

1.1 A PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO COMO INSTRUMENTO IMPRESCINDÍVEL PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E

1.1.2 O poder de articulação da Sociedade Civil Organizada e o conceito de “Social Capital” a referendar a

Trata-se também de reconhecer a capacidade de articulação da sociedade civil, destacando-se, pontualmente, a responsabilidade social dos empreendedores, eis que num contexto de desigualdades econômicas e sociais, escassez de postos de trabalho e de desconfiança nas instituições públicas, erige-se como esperança de melhoria das condições da qualidade de vida da população uma rede de apoio não governamental. A este potencial de superação, os cientistas políticos denominam de “capital social”22. O termo “capital social” que contextualizou e mensurou a política de investimentos de organismos supranacionais. A propósito, salienta Silene de Morais Freitas:

Nos discursos do BID e do Banco Mundial, o apelo ao capital social surge num contexto das estratégias de desenvolvimento autossustentável e parece aludir à dimensão institucional e cultural (leis, normas, costumes) e a trama organizacional (rede de associações voluntárias, interações geradoras de confiança etc.), ou seja, as práticas que aludem à ideia de sociedade civil.23

Pela análise das publicações veiculadas pelo Banco Mundial percebe-se que o conceito de capital social agrega intercâmbio de esforços a integrar ações desenvolvidas no âmbito econômico, político e social, com vistas a dinamizar e potencializar as políticas de inclusão dos menos abastados, ainda que isso signifique certo distanciamento do poder público, para que a sociedade civil encontre caminhos de superação de suas mazelas. Em vez de mero assistencialismo ou da dependência econômica de programas governamentais insatisfatórios, o fomento de projetos autossustentáveis. Neste sentido, de acordo com as estratégias do Banco Mundial, para fortalecer e engajar as entidades que compõem a sociedade civil

22

O próprio Banco Mundial, resumidamente, explica o conceito Capital Social: “Social capital refers to the institutions, relationships, and norms that shape the quality and quantity of a society's social interactions. Increasing evidence shows that social cohesion is critical for societies to prosper economically and for development to be sustainable. Social capital is not just the sum of the institutions which underpin a society – it is the glue that holds them together.” Tradução livre: “O capital social refere-se às instituições, relações e normas que conformam a qualidade e a quantidade das interações sociais de uma sociedade. Evidência crescente de que a coesão social é fundamental para que as sociedades prosperem economicamente e para que o desenvolvimento seja sustentável. Capital social não é apenas a soma das instituições que sustentam uma sociedade - é a sinergia que as une. Disponível em http://www.worldbank.org/pt/country/brazil. Acesso em 15/04/2013, às 16:00.

23 FREITAS, Silene de Morais. Movimentos Sociais e Expressões Políticas da Sociedade Civil. In: Ferreira, Lier Pires (org.). Curso de Teoria Geral do Estado, Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, pág. 335.

organizada, propositadamente, não se conclamará, de início, a participação governamental. A perspectiva é que, proporcionalmente, as demandas antes fragmentadas se convertam em demandas qualificadas e que isso provoque uma gestão pública eficaz.

A sociedade civil, assim, remodelou e aperfeiçou a ideia de coordenação social, ao articular-se com o mercado e com o Estado. Se o relevante são políticas públicas de qualidade, são estrategicamente importantes canais institucionais de negociação entre atores coletivos e órgãos estatais, para que restem fortalecidos os mecanismos de monitoramento e controle social. Embora os eventuais aportes do Banco Mundial coincidam com projetos para a Sociedade Civil é preciso que tais projetos não se descuidem da racionalidade e eficiência do mercado, pois se percebe que referida instituição pauta sua agenda por uma lógica, preponderantemente, econômica, mesmo que tendente à despolitização. Tal estratégia visa ao fortalecimento da sociedade civil e se baseia na crença de que a sociedade civil melhor aparelhada poderá exigir mais do governo, o que reflexamente deverá melhorar a gestão do Estado.24

Após os breves apontamentos acima, diante da visceral presença das pessoas jurídicas na vida de todos, do lugar de destaque que ocupam nos variados setores da sociedade, da importância dos bens e serviços que, pontualmente, correspondem às necessidades do cotidiano, curial um sistema econômico que lhes proteja a autonomia, pois a proteção de tal norma-princípio projetará uma sociedade civil mais atuante, participativa, economicamente protagonista e capaz de promover justiça social.

A pessoa jurídica é, pelas razões do parágrafo anterior, inegável instrumento de promoção social, difusora natural de cultura e hábil à geração e distribuição da riqueza. Para tanto, a autonomia da pessoa jurídica deve ser potencializada como uma conquista dos tempos atuais, nos quais a abstração jurídica permitiu que a soma das pessoas ou de bens pudesse formar um ente fictício para capitanear o interesse de grupos, dos mais variados. Porém, se especificamente o interesse corresponder ao lucro, eis aí a sociedade, pessoa jurídica de fins lucrativos, distinta dos membros que a compõem.

O incentivo à atividade econômica em um grupo societário impõe dois desafios: a) a indispensável necessidade de limitação da responsabilidade individual dos sócios; e, b) o

24 CASABURI, Gabriel; RIGGIROZZI, Maria Pia; TUOZZO, Maria Fernanda. BMDs-sociedad civil: Luces y sombras de uma nueva relación.In: TUSSIE, Diana (compiladora). Luces y sombras de uma nueva relación. El BID, el BM y la Sociedade Civil. Argentina: Grupo Editorial, Flacso, 2000. Fonte: http://200.123.184.98/uploaded_files/Publicaciones/conclucionesfinales.pdf. Acesso em 15/04/2013, às 20:00.

convencimento à assunção de riscos em um quadro de administração exclusiva, muitas vezes, por apenas um dos membros da sociedade.

Frente às novas perspectivas legais e jurisprudenciais relativas à possibilidade de desconsideração da autonomia da pessoa jurídica, permitindo-se que as pessoas que constituem a sociedade empresarial (pessoa jurídica de direito privado com finalidade lucrativa, conforme apontamentos no desenvolver deste capítulo) também possam ser oneradas individualmente por dívidas dela, torna-se necessária a abordagem estrutural do tema, principalmente para investigar se a criação de hipóteses objetivas de aplicação do instituto e o proliferar atual da legalização da desconsideração da personalidade jurídica trazem mais benefícios ou malefícios ao operador do direito e aos destinatários da norma.

Sobretudo, sob a ótica da análise econômica do direito, de se investigar se é a desconsideração eficiente ou ineficiente; se impõe custos de transação que impedem a barganha e a autocomposição; ou se configura externalidade que propõe custos proporcionais ou compensáveis com seus benefícios. Estes alguns dos desafios que serão discutidos no decorrer deste trabalho.

1.2 A personificação como proteção e limite de responsabilidade das pessoas jurídicas (o