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Articulações intra e inter-regionais do turismo

Mapa 11 Espaço sub-regional da soja

6 OS ESPAÇOS SUB-REGIONAIS DO TURISMO LITORÂNEO E ARQUEOLÓGICO

6.4 Articulações intra e inter-regionais do turismo

A atividade do turismo no litoral piauiense é caracterizada por uma fraca articulação intra-regional, haja vista que a capital do Estado, Teresina, se encontra a uma distância de aproximadamente 350 km, ocorrendo fluxo de turistas mais intenso nos meses de janeiro e julho. No entanto, existe significativa articulação de turistas provenientes de outros Estados e que se deslocam para o litoral piauiense em direção à Praia de Jericoacoara (CE), via Lençóis Maranhenses (MA), ocorrendo uma apropriação do território para fins turísticos, fato que contribui para dificultar políticas públicas direcionadas ao setor no Piauí.

No Estado do Piauí, o foco de maiores ações é, sem dúvida, a existência do Delta do Parnaíba. O acesso pelos turistas ao Delta acontece pelo Porto das Barcas, em Parnaíba, em direção a Ilha Grande, onde se localiza o Porto dos Tatus, e se concentram os barcos e lanchas que fazem os passeios.98 É o local de recepção dos barcos de pescadores que trazem, principalmente, o caranguejo coletado no mangue, e que será comercializado para o mercado. Por semana, são extraídas 35 mil cordas de caranguejos (cada corda contém quatro caranguejos), sendo que 90% destinam-se a cidade de Fortaleza e 10% ao mercado interno do Piauí.

Pode-se dizer que o obstáculo ao maior dinamismo da atividade turística refere-se à baixa frequência de turistas do próprio Estado do Piauí, e da região Nordeste. A baixa frequência se deve também à inexistência de voos domésticos para o Aeroporto de Parnaíba, além de uma intensa sazonalidade dos turistas que visitam o litoral. A maior frequência de turistas ocorre nos meses de janeiro e julho, com a presença significativa de turistas nacionais e de outros países, enquanto nos meses de fevereiro e agosto, a frequência é maior de turistas de outros países.99

98 Em baixa estação, sai apenas um barco por dia, enquanto em alta estação e feriados prolongados chegam a sair quatro barcos por dia. O passeio inicia-se às 9h da manhã e o retorno previsto para 15h, incluindo paradas para contemplar a natureza, banhos de mar, almoço e caranguejada no bar, com taxa estimada em R$ 50,00 por pessoa.

99 No momento atual, existe uma negociação com as empresas aéreas Gol, TAM e Azul, para que instalem vôos permanentes e domésticos em direção a Parnaíba.

O governo federal, em parceria com os governos estaduais e o apoio do SEBRAE, efetivou o Roteiro Turístico Integrado que envolve municípios dos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará, com o objetivo de estruturar a oferta turística, na intenção de aumentar o fluxo de turistas, bem como ampliar o tempo de permanência nesse roteiro. Ao todo são 12 municípios: Barreirinhas, Paulino Neves, Tutoia e Araióses, no Maranhão, situados nos Lençóis Maranhenses. Os municípios de Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia, no Piauí, situados no Delta do Parnaíba. E os municípios de Camocim, Barroquinha, Chaval e Jijoca de Jericoacoara que estão próximos a Jericoacoara, situados no Ceará.

Recentemente, foi criada a ADRS, com sede em Parnaíba, e que envolve 77 municípios que integram o roteiro integrado no Piauí, Maranhão e Ceará. Ressalte- se que está sendo construído o Projeto de Internacionalização do Turismo, com sede em Parnaíba, e deverá ser concluído até dezembro de 2010, contando com a participação do Prodetur e do Banco Mundial.

Assinale-se que é marcante, no litoral piauiense, a intensidade com que os investimentos estrangeiros estão adentrando pelo território. Conforme depoimento do secretário municipal de Turismo de Parnaíba, estão chegando investidores da Itália, da Espanha, de Portugal e da Suíça, em busca de investir no litoral. A busca intensa se deve ao fato de Parnaíba funcionar como uma sede para a entrada de turistas, mas também de poder concentrar muitos outros equipamentos e serviços no território que envolve os municípios do Piauí, Maranhão e Ceará. A maioria dos investimentos recentes está voltada para os setores de hotelaria, pousadas, resort e restaurantes. Outro campo de interesse é a chegada de investidores que desejam ocupar o espaço das agências de turismo, com a perspectiva de chegada de agências internacionais que possuem um raio de alcance muito maior do que aquelas que atuam no litoral. A Figura 22, a seguir, mostra a construção recente no litoral piauiense da eólica, em razão da presença de fortes ventos nas praias, favorecendo a instalação dessa nova forma de geração de energia.

Figura 22 – Produção Eólica no litoral piauiense. Fonte: Acervo Façanha (2009).

O Parque Nacional de Sete Cidades já se articula através do circuito de visitantes que se deslocam de Teresina, visitam o Parque, e se dirigem ao Delta do Parnaíba, além de receber visitantes oriundos do Estado do Ceará, que conhecem o Parque de Ubajara (CE) e se deslocam para o Parque de Sete Cidades (PI) (TELES, 2000). Em 1972, o Parque recebeu 4.100 visitantes, em 1976, passou para 7.200, e, em 1980, já atingia 16.356 visitantes, revelando expressivo crescimento na década de 1970 e no início da década de 1980.

A partir da década de 1980, houve aumento significativo no número de visitantes: 1985 com 13.882; 1990 com 25.514; 1995 com 22.590; 2000 com 16.512; 2005 com 17.437; 2007 com 21.332.100 Observe-se a Figura 23, a seguir, com as pinturas rupestres no Parque Nacional.

100 Estatística de Visitação do PN de Sete Cidades – período de 1980 a 2007 – Ministério do Meio Ambiente/Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, janeiro de 2008.

Figura 23 – Parque Nacional de Sete Cidades. Fonte: Acervo Façanha (2009).

Atualmente, há uma média de 30 mil visitantes por ano, sendo 8 mil de outros países. Do total de brasileiros que visitam o Parque, a maior parcela é dos Estados do Ceará, Maranhão, São Paulo, Rio de Janeiro e de Brasília. Em janeiro de 2009, do total de brasileiros que visitaram o Parque 1.830 visitantes são piauienses (46,26%), 459 maranhenses (11,60%), 397 cearenses (10,03%), 234 paulistanos (5,92%) e 193 paraenses (4,88%). O Parque apresenta-se, assim, como um potencial no campo educacional, haja vista ser frequente a presença de excursões de estudantes para a visitação como um momento de discussão da história, do patrimônio cultural e do meio ambiente no Estado.

No Parque da Serra da Capivara, a maior parte do acesso de visitantes acontece por Petrolina (PE), que conta com um aeroporto para pouso de aeronaves das empresas nacionais, cuja distância de São Raimundo Nonato, município mais próximo do Parque, é de 240 km, e que dispõe de melhor infraestrutura (TELES, 2000). O deslocamento entre Petrolina e São Raimundo Nonato ocorre por via terrestre em estradas de razoável estado de conservação.

Em São Raimundo Nonato, existe uma pequena pista de pouso que atendeu, por muitos anos, as necessidades de pesquisadores e turistas. Nos últimos anos, teve início uma reforma do aeroporto local que, através das ações do governo estadual, busca, com a concretização dessa obra, dinamizar a atividade turística. Destaque-se que é discurso recorrente, nos estudos e nas “falas” dos gestores do

Parque e de representantes dos governos estaduais e municipais, que a construção do aeroporto será o grande investimento para promover a redenção de fato do PNSC de um isolamento que já dura há décadas. Ao nível local, em São Raimundo Nonato, existe uma frágil base de apoio capaz de integrar e articular melhor os atores e agentes, bem como os próprios visitantes do PNSC. Na cidade, existe uma agência de viagem local, embora não possua expressão econômica nem espacial na organização dos fluxos turísticos, sendo superada pelas agências que estão concentradas em Teresina, Petrolina ou São Paulo (OLIVEIRA FILHO, 2007).

Assinale-se que somente a construção de um aeroporto com voos nacionais e internacionais não irá dinamizar sozinho o PNSC. Além do mais, existem outras propostas, como a construção de resort e de melhores acessos na parte interna do Parque, e a recorrente crítica à falta de apoio de governos. A Figura 24, a seguir, ilustra os extraordinários paredões com pinturas rupestres, ditados de infraestrutura.

Figura 24 – Parque Nacional da Serra da Capivara.

Fonte: Acervo Façanha (2009).

Percebeu-se, assim, que o ecoturismo que prepondera no PNSC é de configuração regional, mas ainda precisa de maior alcance de ação nacional ou internacional, em razão de diversos obstáculos de integração do território. É notório, segundo Oliveira Filho (2007, p. 151), que criação de uma Unidade de Conservação na região favoreceu a preservação e conservação dos recursos naturais; mas a realidade local que envolve o território do PNSC é geradora de uma “deficiência na

infraestrutura turística em Coronel José Dias e São Raimundo Nonato que implicou em entraves à efetividade sistemática da atividade de forma sustentável”.