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Mapa 11 Espaço sub-regional da soja

2 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL EM QUESTÃO

2.3 Globalização e inovação

As mudanças intensas e ampliadas no mundo nas décadas finais do século XX concomitantes ao avanço do processo de globalização, foram resultado da desintegração do bloco de países socialistas, da ampliação dos investimentos em industrialização em países periféricos e da elevação do padrão tecnológico em países localizados fora do eixo das regiões industrializadas de países desenvolvidos. Acompanhada das tentativas de regionalização do mundo está a questão da Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Sob este aspecto, Haesbaert (1991) discute a mudança de uma DIT tradicional ou horizontal que tratava as relações entre países através dos setores de atividades da economia como o Primário, o Secundário e o Terciário, para uma nova DIT, ou vertical pautada ao nível de domínio tecnológico. Essa nova DIT está relacionada com a diminuição do poder político-militar, econômico e cultural tradicional, e pelo aumento do domínio da tecnologia e da informação. O resultado é a existência de (des)níveis tecnológicos entre os Estados nacionais conforme aponta HAESBAERT (1991, p. 110-110):

a) aqueles que dominam a engenharia e a tecnologia de ponta, mais avançadas, com mão-de-obra altamente qualificada (os países centrais); b) aqueles em que predominam atividades produtivas padronizadas, como a fabricação qualificada que exige um nível intermediário de qualificação

profissional; c) aqueles que dominam a produção voltada basicamente para as etapas de execução e montagem de produtos, exigindo pouca ou nenhuma qualificação técnica da força de trabalho (caso na economia na maioria dos países periféricos).

Santo (1994) destaca, no processo de globalização, o meio técnico-científico- informacional; para ele significa a representação do espaço e do tempo. É esta a dimensão na qual se instalam as atividades hegemônicas constituídas por agentes hegemônicos da economia, da política, da cultura e da sociedade. É a força das temporalidades hegemônicas em contraposição às temporalidades não hegemônicas ou dos tempos lentos que surgem nos espaços hegemonizados. Mas quais as relações entre espaço e globalização? Santos (1994, p. 48) afirma que a análise dos espaços da globalização “constitui um paradigma para a compreensão dos diferentes aspectos da realidade contemporânea”, ressaltando que o espaço geográfico se caracteriza por três fatores: uma unidade técnica, uma convergência dos momentos e uma unicidade do motor. - Mas quais as características dos espaços globais? Para Santos (1994, p.50-51)? são:

- a transformação dos territórios nacionais em espaços nacionais da economia internacional;

- a exacerbação das especializações produtivas no nível do espaço; - a concentração da produção em unidades menores [...];

- a aceleração de todas as formas de circulação e seu papel crescente na regulação das atividades localizadas, com o fortalecimento da divisão territorial e da divisão social do trabalho [...];

- a produtividade espacial como dado na escolha das localizações; - o recorte horizontal e vertical dos territórios;

- o papel das organizações e os processos de regulação na constituição das regiões; e,

- a tensão crescente entre localidade e globalidade à proporção que avança o processo de globalização.

Uma questão importante da globalização é a difusão da ideia de esse processo ter um caráter homogeneizante em relação ao território. Segundo Araújo (2006, p. 15) sob o ponto de vista do território:

O processo de globalização, privilegia, não por acaso, determinadas escalas territoriais (a mundial e a local) e define essas prioridades a partir da sua lógica de funcionamento, ou melhor, da lógica de interesses dominantes – os interesses das grandes massas de capital, sediadas nos países mais ricos do mundo (Id. ibid.).

Por sua vez, Diniz (2001, p. 6) corrobora a opinião de Araújo e afirma que a globalização “é um processo contraditório, com resultados geográfica e socialmente diferenciados, tanto na forma como no conteúdo”. Para Diniz (2001, p. 6) “cada região ou localidade possui atributos e herança histórica próprios e inigualáveis, incluídos os meios físicos construídos, os quais condicionam a recriação de seu próprio espaço social”. Desta forma, a globalização é entendida de forma heterogênea e produz ações diferenciadas que estão em permanente mutação. Araújo (2007) enfatiza que, vindo da globalização os territórios são vistos como “palco de operação” dos agentes globais, colocando em evidência a tensão entre um processo homogeneizante versus as especificidades territoriais. Em contraponto, Araújo adverte que existe outro caminho: visualizar o território a partir das regiões, valorizando os atributos de cada lugar com suas especificidades, particularidades e diferenças, além de expressar as identidades locais.

Com a intensificação da globalização emerge com nova interpretação em relação às escalas territoriais, enaltecendo os extremos do global e do local, em detrimento de outros níveis escalares. Diniz (2001, p. 8) afirma que existe, “de um lado, a hiper-escala da circulação do capital e das informações; e, de outro, a hipo- escala da localidade, onde se estabelecem as relações de produção, a complementaridade e a governança, o que levou Swyngedouw (1997) a cunhar o termo ‘globalização`”. A globalização pode ser vista, também, por ser possuidora de uma “diversidade territorial” (HAESBAERT, 1999) e que se fundamenta com base na regionalização de duas formas: a) a produção de particularidades, do desigual (diferenças de grau); b) a produção de singularidades, do específico (diferenças de natureza).

Uma abordagem extremamente valiosa é a que se refere à dinâmica global- local. Uma primeira reflexão surge da intenção de superar a ideia da dimensão global como sinônimo de homogeneização e da dimensão local associada ou sinônimo de heterogeneização. As razões supracitadas se devem ao surgimento dos processos globais que se cristalizaram no local de diversas formas; enquanto outros processos germinados no local tiveram fortes impactos no espaço geográfico mundial com velocidades e intensidades diferenciadas. Assim, é fundamental que a dimensão local seja revalorizada como uma escala expressiva da diversidade territorial.

Haesbaert (1999) sinaliza para a compreensão de que o nível local pode ser visto de três ângulos: o primeiro, a partir dos processos gerais de heterogeneidade/diferenciação, estimulados pelas mudanças globais; o segundo, como instrumento de análise e que faz uso da escala geográfica de abordagem, com enfoque centrado nas relações sociais; e, por último, o terceiro, centrado como lugar e sendo visto pelo espaço em sua esfera cultural.

Entretanto, Araújo (2006, p. 16), ao referir-se à escala nacional, nesse contexto especificado entre o global e o local, afirma que a Nação é questionada por cima, pelos agentes globais que querem quebrar as antigas regulações, e, por baixo, pelos que fazem apologia aos localistas. “Como se vê, as duas escalas privilegiadas na era da globalização pelos que a comandam – os espaços global e local – tendem a questionar a escala nacional [...]”.

Mas a inovação é um componente importante - diretamente relacionada com algumas características da globalização - vista como um processo de fator diferencial para o funcionamento da economia das empresas, como parte da luta competitiva no mercado. Dessa forma, a inovação pode ser caracterizada por tratar- se de um processo econômico e que está contido em um “jogo” competitivo, por visar à expansão dos rendimentos e conquista de espaços no mercado, por ser um processo contínuo e endógeno à atividade produtora. Está assim relacionada com a necessidade intrínseca de busca do conhecimento e da aprendizagem (BARQUERO, 2001).

Segundo Barquero (2001, p. 147), a inovação “é um processo interativo liderado pelas empresas que tomam as decisões de investimento, mas que depende do conjunto de instituições ligadas à pesquisa (Universidade, Conselho Nacional de Pesquisas e demais centros e institutos tecnológicos)”. Cabe discutir as diferenças entre as políticas lineares e as políticas interativas definidas por Barquero (2001, p. 148).

As políticas lineares de inovação assumem a estratégia dominante de ser uma política de oferta e de seguir uma difusão hierárquica do conhecimento, objetivando assim favorecer a P&D em grandes empresas com apoio às inovações radicais e com alta tecnologia, difundindo assim o conhecimento incorporado em bens de capital. Assim, tais políticas utilizam como instrumento o financiamento público pontual e as subvenções e incentivos. No campo da organização e da gestão, adotam uma gestão centralizada, uma administração pública dos recursos e

de financiamento às empresas. Já nas políticas interativas usam uma estratégia baseada na política de demanda, orientada por uma abordagem, de baixo para cima, objetivando assim fomentar a aprendizagem nas empresas e organizações, bem como difundir o conhecimento através de redes de empresas locais, com vistas ao atendimento das necessidades das empresas. Os instrumentos efetivados nessas políticas estão voltados para a prestação de serviços nos setores tecnológicos e complementares. No campo da organização e da gestão adotam uma gestão com organizações intermediárias e voltadas à venda de serviços (BARQUERO, 2001, p. 148).

A discussão sobre inovação13 avança em relação ao debate acerca do desenvolvimento regional, atrelando os avanços na produção a necessidade de que sejam repensados os espaços regionais e locais. Como é possível se vê o processo de globalização, intensificado no final do século XX, foi seletivo e excludente em relação às regiões, ao tempo em que foi capaz de ampliar e integrar o mercado. No entanto, sobre as inovações, o processo continua baseado em “regiões ou localidades, as quais se tornam fator-chave e estratégico na competição” (DINIZ & GONÇALVES, 2005, p. 133), gerando um quadro de desigualdade e de intensa heterogeneidade regional.

- Mas qual o papel da inovação no desenvolvimento regional/local?

[...] Isso significa que a capacidade de atração de cada região ou localidade passa a depender, cada vez mais, do conjunto de elementos locais, naturais, econômicos, sociais, culturais e políticos, complementares ou sistêmicos, e da capacidade de superação de barreiras advindas da necessidade de cobrir vários custos: investimento produtivo, aquisição de conhecimento tecnológico, obtenção de experiência, superação de eventuais desvantagens locacionais e de erros [...] (DINIZ & GONÇALVES, 2005, p. 135).

É preciso observar que o processo de inovação traz inúmeros desafios às regiões ou localidades, pois é necessário um conjunto de elementos para que existam condições iniciais para o pleno desenvolvimento produtivo das empresas. Mas Diniz & Gonçalves (2005, p. 138) alertam para a preocupação de que “as experiências de sucesso ou fracasso não podem ser generalizadas, uma vez que cada experiência é única e não reproduzível, e cada território é diferente do outro

13

Sobre a relação entre clusters e inovação tecnológica, bem como uma reflexão comparativa entre a metodologia convencional e a metodologia dos clusters ver o trabalho de Correia (2006).

por seu conteúdo imaterial”. Daí as políticas públicas serem capazes de articular não só as políticas públicas às políticas regionais, mas também inseri-las no debate do desenvolvimento territorial e do entendimento dos espaços sub-regionais em formação e consolidados.