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Mapa 11 Espaço sub-regional da soja

5 OS ESPAÇOS SUB-REGIONAIS DA APICULTURA

5.1 O processo de formação da sub-região

O território do semi-árido piauiense era marcado, antes da inserção da apicultura, pelo predomínio das atividades agrícolas de subsistência, tendo os trabalhadores rurais centrado sua produção no cultivo do feijão, do milho e de outras culturas alimentares, caraterizado pela expressiva participação da agricultura familiar. Após o avanço da apicultura no território, muitos agricultores se tornaram apicultores, aumentando de forma significativa, a renda da família com melhorias nas suas condições de vida.

A apicultura no Brasil é dividida em três períodos, conforme aponta Gonçalves (2006). O primeiro período refere-se à implantação da apicultura no País entre os anos de 1839 a 1955, período esse que antecede a chegada das abelhas africanas.56 O segundo período é da africanização dos apiários e das colônias na natureza, momento em que houve um aumento dos enxames africanos, continuando nos anos seguintes e com menos intensidade nos dias atuais. O terceiro período e que se estende aos dias atuais é marcado pela recuperação e expansão da apicultura brasileira, na década de 1970, que culminou com a realização do I Congresso Brasileiro de Apicultura.

No Piauí, na década de 1950, a produção de mel era de 4,0% da produção realizada no Nordeste, e de apenas 0,3% da produção nacional. A partir de 1957, torna-se fundamental a introdução das abelhas africanas, que se proliferaram intensamente, alterando as suas características, principalmente com as abelhas europeias (VILELA, 2000). Em 2000, a participação já era de 49,7% sobre a produção do Nordeste, e de 8,5% sobre a produção do Brasil (MENDES, 2003). O Gráfico 1, a seguir, apresenta a expansão da produção do Estado frente à região Nordeste.

Em 1990, a região Nordeste produzia 1,7 mil toneladas de mel, representando 11,0% da produção nacional. Em 2004, a região Nordeste alcançava a produção de 10,4 mil toneladas, representando 32,2% da produção brasileira, evidenciando um grande salto na produção na década de 1990. Os fatores de expansão da produção no Nordeste resultam da flora diversificada,57 do excesso de luminosidade média, altas temperaturas, e umidade relativa do ar em torno de 50%, fornecendo mais horas diurnas, com luminosidades que favorecem o aumento da produção das abelhas durante todo o dia (VILELA, 2000). Além desses fatores, existem as iniciativas quanto ao aumento dos investimentos em pesquisa, capacitação e assistência técnica, e das mudanças no mercado internacional com as restrições à China e à Argentina58 (PARREIRAS, 2007).

O aumento da produção melífera se sustenta na aceitação positiva desse produto no mercado internacional, favorecendo o setor de exportações, pois enquanto, em 1999, as exportações geravam US$ 120 mil, em 2003, houve um expressivo aumento das exportações, alcançando valores de US$ 45 milhões. No Piauí, em 2000, produziam-se 269 toneladas; e, já em 2004, produziam-se 21 mil toneladas, representando um aumento de 7.800%. Em 2005, o embargo da União Europeia ao mel brasileiro impôs necessidades da busca de novas estratégias a serem adotadas pelos apicultores (SEBRAE, 2006).

Essa expansão fez com que o Brasil ficasse em quinto lugar entre os países que mais exportam no mundo, perdendo apenas para a Argentina, China, Alemanha

57 É preciso frisar que as abelhas exercem uma função de grande importância como agentes de polinização.

Gráfico 1 – Produção do Mel de Abelha – Piauí em relação ao NE (em %) – 1950-2000. Fonte: Mendes (2003, p. 92).

e o México, respondendo, em 2004, por 4,9% de toda a exportação mundial (PARREIRAS, 2007).

A apicultura no Piauí59 ganhou maior dinâmica a partir de 1975, com a chegada ao Piauí dos Grupos Wenzel e Bende, provenientes do Estado de São Paulo, fazendo com que a produção predatória e restrita a um mercado menor fosse substituída por uma produção mais promissora, que visava um mercado consumidor mais amplo (BACELAR & SOUSA, 2001; VILELA, 2000).

Ao final da década de 1970, novas investidas são direcionadas a uma maior organização da produção melífera, com a criação da CEPA, em 1979, com a intenção de medir o potencial do Estado, e com a elaboração do PROAPI, em 1980, em busca de apoiar e capacitar os apicultores, além de um convênio com a SUDENE, vinculado ao Projeto Sertanejo, com o objetivo de investir em núcleos demonstrativos apícolas, além de novas parcerias e investidas, na tentativa de profissionalizar os apicultores que se estenderam até os primeiros anos da década de 1980 (VILELA, 2000).

Destaque-se, em 1982, a “elaboração do PROAPIS com três ações: a) inventário das principais plantas apícolas do Estado; b) treinamento e aprimoramento de técnicos e agricultores em apicultura; c) organização, implantação e orientação de Unidades de Demonstração Apícola” (VILELA, 2000, p.116).

Ainda, em meados, da década de 1980, novos atores sociais entram em cena. O projeto “Criar Abelhas, para melhorar a Vida” pela Diocese do município de Oeiras, visava fornecer a distribuição de material apícola para famílias ligadas às Comunidades Eclesiais de Base, como também houve um aumento no surgimento de cooperativas e associações, a exemplo da CAMPIL (VILELA, 2000).

Na década de 1990, são difundidas ações em diversos níveis (federal, estadual e municipal), além da articulação com novos atores sociais, a exemplo das ONGs (VILELA, 2000). Para este autor, o papel fundamental do Banco do Nordeste possibilitou as condições de financiamentos para as famílias produtoras. A atividade melífera de caráter profissional ocorreu “com a constituição, em 1993, de uma cooperativa, a CAMPIL, no município de Picos, passando a falsa ideia de que a apicultura já nasceu associativamente organizada” (VILELA, 2000, p. 148). Dos mais

58 As restrições à China ocorreram devido ao uso de antibióticos nas colmeias, e à Argentina em razão da existência de doenças em seus plantéis (PARREIRAS, 2007).

de 250 sócios, apenas pouco mais de 70 eram efetivos, levando em conta a adimplência e a fidelidade, para com a cooperativa, na destinação do produto.

Constituiu fator importante o expressivo aumento da produção, em 2001, quando o Piauí produzia 1.741.078 kg de mel, enquanto a região Nordeste produzia ao todo 3.799.504 kg de mel, revelando assim a expressiva participação da produção piauiense frente à região. Cabe, então, avaliar posteriormente os impactos no Piauí dessa nova articulação no sentido de dinamizar o setor.