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Mapa 11 Espaço sub-regional da soja

5 OS ESPAÇOS SUB-REGIONAIS DA APICULTURA

5.2 Os componentes da atividade apícola

A ampliação da atividade da apicultura possui uma base natural. A localização do Estado em uma faixa de influência da Floresta Amazônica, do Planalto Central e do semi-árido contribui para uma maior diversidade do quadro natural que propicia as condições ideais para a Apicultura. No caso do semi-árido e da presença da caatinga, no Piauí, o apicultor chega a obter cinco a seis colheitas de mel por ano, aumentando, sobremodo, a produtividade. Das atividades da produção melífera, destaca-se, além do mel, a produção de cera,60 pólen,61 própolis,62 geleia real63 e veneno.64 No âmbito da articulação do Piauí com a região Nordeste, é preciso destacar os principais produtos comercializados que são: o mel com própolis, os favos, o pólen e geleia real, alcançando os mercados consumidores do Ceará e Pernambuco, além do próprio consumo interno no Piauí. Em relação às outras regiões do País, além dos produtos supracitados, aparecem o própolis, o pólen in natura e a cera de abelha industrial com destino aos mercados do Pará, Tocantins, Amazonas, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo.

Um componente importante da produção melífera é a necessidade de uma base de natureza sustentável. Sob este aspecto, a atividade caminha na direção da produção do mel orgânico, tornando-se um elemento diferenciador no processo de comercialização e de conquista de novos mercados. Para ilustrar, é sabido que, no

59 As informações apresentadas sobre a Apicultura no Piauí baseiam-se nos trabalhos de Bacelar (2001), Perez et al. (2004).

60 Substância secretada por quatro pares de glândulas localizadas no abdômen das abelhas operárias, resultando em um produto de metabolização do mel.

61 É a célula sexual masculina das plantas superiores, e está relacionada à dieta das abelhas.

62 É uma substância produzida a partir de resinas vegetais, cera e pólen. Após o processo de mastigação e regurgitação pelas abelhas, a mistura toma a forma de uma pasta grossa e viscosa, com cheiro de bálsamo.

63 É o alimento secretado por glândulas da cabeça das abelhas operárias jovens.

território de Picos, existe cerca de 150 apicultores que possuem a certificação de mel orgânico concedida pela empresa holandesa Skal. Para a obtenção da certificação, é preciso cumprir alguns pré-requisitos, tais como: não utilizar agrotóxico na lavoura, não pintar as caixas das abelhas, não utilizar fonte de água contaminada, e não usar produtos artificiais na alimentação das abelhas, tais como açúcar e rapadura. Um fato valioso é o estímulo à adoção de políticas de incentivo à preservação do meio ambiente, com o plantio de árvores e reflorestamento de áreas degradadas, plantando espécies como leucena, algaroba, aroeira e cajueiro, fatores que contribuem para a geração de flores e alimentos para os apiários nos períodos mais críticos.65 Vale salientar que a atividade da apicultura exerce uma importante função no processo de polinização intensiva, realizada pelas abelhas do gênero Apis, favorecendo a manutenção da biodiversidade. As Figuras 8 e 9, a seguir, ilustram o ambiente em que ficam instalados apiários com a vegetação natural em seu entorno.

Figura 8 – Vegetação sombreada em Santana do Piauí. Fonte: Acervo Façanha (2009).

65 Informações extraídas da matéria “Apicultores têm prejuízo de US$ 2 milhões”, publicada no Jornal Meio Norte, 29 abr. 2007.

Figura 9 – Presença do Marmeleiro em Santana do Piauí. Fonte: Acervo Façanha (2009).

Em sua pesquisa, ao verificar a organização dos apicultores, Vilela (2000) identificou três grupos de produtores: pequenos, médios e grandes. Os pequenos produtores possuem até 150 colmeias, os médios de 150 a 1.500, e os grandes entre 1.500 a 2.500 colmeias, sendo que, no Piauí, a presença maior é de pequenos apicultores que agregam na atividade os membros das famílias, fazendo uso de contratação de mão-de-obra temporária, nos períodos de colheita de migração. Em relação aos médios e grandes produtores, ocorre a contratação de trabalhadores permanentes e temporários.

Outro componente da organização dos produtores apicultores é a expressiva participação do número de famílias. Vilela (2000) afirma que, em meados da década de 1990, existiam 9.375 famílias que trabalhavam na atividade. Conforme sua estimativa, em 1998, o número chegou a aproximadamente 18.000 famílias, fato bastante representativo na economia local. Vale, ainda, destacar a geração de empregos nos setores de fabricação de materiais e indumentárias utilizadas na produção do mel; além do que, em 1998, existiam “11 empresas, empregando diretamente 220 pessoas. Já a indústria de beneficiamento de mel tinha 39, com o emprego direto de 145 pessoas” (VILELA, 2000, p. 187).

É pertinente ressaltar as características econômicas e sociais mais significativas do processo de produção do mel no Estado. Em primeiro lugar,

destacam-se, aqui, os sistemas de exploração do mel no Piauí:

- Sistema de exploração fixa (80,8%) ocorre, geralmente, em zonas rurais e atinge a maioria de pequenos produtores no processo de produção.

- Sistema migratório66 (15,2%) envolve os empresários de maior porte do Estado, além de exigir um incremento maior de insumos na produção, pois vários produtores se deslocam para outras áreas do Estado, sendo que o município de Picos é a principal área receptora, além do que os apicultores se deslocam ou chegam dos Estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

- Sistema misto em que os apicultores utilizam os dois modelos, sendo pouco expressivo no Estado atingindo apenas 3,3% da produção. A Figura 10, a seguir, apresenta caixas de apiários no município de Santana do Piauí.

Figura 10 – Apiário sombreado com vegetação nativa em Santana do Piauí. Fonte: Acervo Façanha (2009).

66 “A apicultura migratória impõe custos mais altos que a fixa, principalmente, das despesas de deslocamento dos enxames para outras áreas e das relativas à mão-de-obra, tendo em vista a necessidade de os trabalhadores permanecerem longe do seu domicílio, manejando as colmeias, nestas áreas, até o fim das floradas” (VILELA, 2000, p.167).

A apicultura no Piauí está presente na maioria dos 224 municípios, como se pode ver na Tabela 1, a seguir, em que revela a produção de mel ocorrida nas microrregiões do Estado, em 2002, 2003 e 2005. Existe uma distribuição da produção de mel em várias microrregiões, mas que não revela uma produção uniforme e homogeneizante.

Tabela 1 - Produção (em Kg) por microrregiões – Piauí – 2002/2003/2005.

Microrregiões 2002 2003 2005

Baixo Parnaíba piauiense 142.945 117.835 108.835

Litoral piauiense 30.903 40.262 33.556

Teresina 9.220 9.610 7.310

Campo Maior 102.773 151.064 191.664

Médio Parnaíba piauiense 28.238 35.702 46.027

Valença do Piauí 141.711 188.135 226.970

Bertolínia 6.000 16.100 14.650

Floriano 34.300 44.400 79.138

Alto Médio Gurgueia 19.360 7.606 37.400

São Raimundo Nonato 135.871 295.613 768.413

Chapadas do Extremo Sul piauiense 458 509 280

Picos 504.146 816.931 902.655

Pio IX 240.942 268.481 354.752

Alto Médio Canindé 824.643 1.154.110 1.725.742

Fonte: IBGE.

Os dados revelam uma característica importante, ou seja, uma expressiva concentração da produção em três microrregiões: a microrregião do Alto Médio Canindé, com os municípios de Campo Grande do Piauí, Itainópolis e Jaicós; a microrregião de Picos com os municípios de Picos, Colônia do Piauí e Oeiras; e a microrregião de São Raimundo Nonato, com os municípios de São Raimundo Nonato, Várzea Branca e Coronel José Dias. Em 2005 a microrregião do Alto Médio Canindé produziu um total de 1.725.742 toneladas, superando a microrregião de Picos com uma produção de 902.655 toneladas. No entanto, a escolha de aprofundar a realidade da apicultura na cidade de Picos deve-se a expressiva concentração de cooperativas, de produtores privados, indústria, a Casa Apis entre outros, ressaltando a importância da cidade no comando da atividade apícola do Estado e do País.

Acrescente-se que, em 2007, Picos foi o município que mais produziu mel no País, com 447 toneladas, rendendo R$ 7,7 milhões ao Estado. É preciso ressaltar o forte componente endógeno, em razão de que a quase maioria é composta de produtores que comercializam a sua produção para os mercados nacional e internacional.

Os municípios que possuem Casa de Mel são: Acauã, Barro Duro, Caldeirão Grande, Campo Grande, Francisco Santos, Geminiano, Itainopólis, Jaicós, Marcolândia, Monsenhor Hipólito, Padre Marcos, Picos, Pimenteiras, Pio IX, Piracuruca, São João da Cana Brava, Simplício Mendes, Santana do Piauí e Valença. Na cidade de Picos, é notória a existência de maior concentração de atividades envolvidas com a apicultura, tornando-se um “polo” de difusão de pesquisas e tecnologias. Também concentra os principais estabelecimentos industriais do setor.

A apicultura no Brasil possui um componente exógeno de fundamental importância para a dinamização do setor. É uma atividade que tradicionalmente teve a sua produção voltada para o mercado externo, aumentando, no final do século XX, sua participação no mercado internacional. Vilela (2000, p. 193) enfatiza que o mercado do mel “é praticamente extralocal, revelando a necessidade de os produtores atentarem para aspectos como o atendimento às exigências da legislação sanitária, pagamento/isenção de tributos, mecanismos de transporte, obtenção de melhores preços e qualidade do produto comercializado”.

Entre os maiores países produtores de mel, destacam-se a China, a Argentina e os Estados Unidos. Em relação às exportações, os países que comandam esse setor do mercado em ordem de produção são: Argentina, China, México, Canadá, Alemanha, Hungria, Espanha, Turquia, e o Brasil, ocupando a nona posição nas exportações, em 2002, com 23,1 milhões de dólares, ultrapassando países como Vietnã, Austrália, Romênia, Índia, França, Itália entre outros. Ressalte-se que entre 2001 e 2003, o Brasil exportou, principalmente, para a Alemanha, os Estados Unidos, o Reino Unido, a Bélgica e a Espanha. O aumento das exportações a partir do ano de 2001 deve-se ao fato ao embargo ocorrido nas exportações chinesas de mel por volta de 2000, estimulando, assim, o mercado nacional com a exportação do mel e do própolis (SEBRAE AGRONEGÓCIO, 2006).

O aumento da produção brasileira, mais recente, aconteceu com a expansão da produção em Estados da região Nordeste, onde houve um aumento de 2.767 toneladas (65%) do aumento brasileiro de 4.244 toneladas, entre 1999 e 2002 (PEREZ et al., 2004). O Maranhão aumentou com expressivo crescimento, em quase 639,57%, mas foram os Estados do Ceará, com 852 toneladas, e o Piauí, com 635 toneladas, responsáveis pela dinâmica da apicultura no Nordeste e o aumento da região em âmbito nacional.

Uma questão merecedora de reflexão é sobre as exportações67 do setor da apicultura. O Piauí exporta,68 principalmente, a cera de abelha industrial, com um volume de 52.025kg, para os mercados dos países dos Estados Unidos (32,500kg) e da Bolívia (1.000kg) (BACELAR, 2001).69 Em 2005, o Brasil produziu 33.750 toneladas de mel, sendo que a maioria da produção foi produzida pelos Estados produtores do Rio Grande do Sul (7.428 toneladas), do Piauí (4.497 toneladas) e do Paraná (4.462 toneladas). No mesmo ano, os principais Estados exportadores foram o Piauí (285 ton/mês), Santa Catarina (229 ton/mês) e São Paulo (233 ton/mês).70 Em 2006, a União Europeia embargou o mel brasileiro, alegando o descumprimento do prazo de implantação das análises a serem feitas pelo Programa Nacional de Controle de Resíduos (PNCR). O aumento da produção resultou das exportações para o mercado externo devido ao incremento de vendas por parte dos Estados Unidos. O Brasil produziu em 2007, 34.747 toneladas de mel, tendo o Piauí alcançado o terceiro lugar na produção, com 3.483 toneladas, representando 10% da produção nacional, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul, com 21,2% do total, e o Paraná com 13,3% da produção nacional. Observe-se o Mapa 9, a seguir, onde estão espacializados os principais processos e os territórios de atuação dos agentes públicos e dos atores sociais no espaço sub-regional.

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Em 2002, registrou-se a primeira exportação de mel do Piauí para o exterior, realizada pela Associação dos Produtores de Simplício Mendes e região, com o apoio logístico do Banco Mundial e do Projeto de Combate à Pobreza Rural (PCPR) (MENDES, 2003).

68 Destaque para o Piauí no setor de exportações, como a MelNor Wenzel, a Associação dos Apicultores em Simplício Mendes e a Floramel.

69 Em âmbito mundial, destaque para a produção dos países da China, Argentina, Estados Unidos e Alemanha. Os EUA, além de produtores, são um dos maiores importadores mundiais. No Brasil, destaque para o Estado de São Paulo na condição de exportador. No Nordeste, foi notório o aumento da produção de mel no final do século XX e início do século XXI, pelos Estados do MA, CE e PI, enquanto a produção sulista apresentou uma estagnação (PEREZ et al., 2004).

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Revista Horizonte Geográfico, Banco do Brasil / Governo do Estado / Emater / Detran-PI e Sebrae- PI, n.113, out. 2007.