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As consequências na sociedade e no meio ambiente

Mapa 11 Espaço sub-regional da soja

5 OS ESPAÇOS SUB-REGIONAIS DA APICULTURA

5.5 As consequências na sociedade e no meio ambiente

Em 2008,84 os apicultores realizaram manifestações nas estradas do Estado do Piauí, levantando uma série de críticas quanto à gestão da atividade melífera e aos programas em andamento, em razão da ausência de respostas as quatro ações ajuizadas pelos apicultores do município de Picos à Procuradoria da República. Observe-se a relação das reivindicações:

- Um pedido de liberação imediata de recursos para socorrer os produtores da região melífera dos Estados do Piauí, Ceará, Maranhão e Pará, que, em razão de crises no setor, ficam desamparados. Daí a luta para a criação de um tipo de Seguro Apícola para os momentos difíceis do setor no mercado. - A necessidade de ações que promovam maior descentralização da apicultura no Piauí, criando assim condições mais eficazes e práticas de viabilização do setor, a exemplo da necessidade de ampliação de, no mínimo, cinco novas unidades de Casa de Mel.

- A obtenção de melhores condições de crédito junto aos Bancos, fazendo com que o agente financeiro possibilite a obtenção de crédito com menos burocracia, bem como fornecer mecanismos que resolvam a situação dos apicultores inadimplentes junto aos agentes credores, pois, em algumas situações, o preço do produto está defasado, além da ausência de

compradores. Comentam, ainda, a necessidade de que sejam melhoradas as “condições desumanas de trabalho”.

- As entidades cobram da Justiça investigação sobre “quem está tendo privilégios, onde e como estão sendo aplicados recursos federais da apicultura do Estado” (O DIA, 2008, p. 3), como também exigem maior fiscalização da aplicação dos recursos federais, estaduais e das organizações civis envolvidas nos projetos.

- Uma reivindicação importante foi o pedido de Auditoria da Casa Apis, como forma de verificar como está ocorrendo a gestão da entidade.

Um aspecto possível de verificar foi que as empresas privadas compram o mel diretamente dos produtores, ofertando preços melhores e pagamentos à vista, fato que provoca um conflito entre os produtores e as cooperativas ou a Casa Apis, já que os produtores, em razão das necessidades de mercado e comercialização, são induzidos a vender sua produção para a iniciativa privada, causando uma ingerência do arranjo produtivo.

Em relação a Casa Apis existe uma tensão na condução da gestão interna entre os setores que fazem parte da atividade apícola, pois existe uma reação dos grandes produtores em relação à inclusão de novos pequenos apicultores, e criticam o governo pelo apoio dado aos pequenos. Ocorre, de fato, um conflito entre os grandes e pequenos produtores, e que deve ser revisto, haja vista que as disputas internas verificadas, em especial, entre a gestão da Casa Apis e algumas cooperativas, impõem obstáculos na efetivação da atividade no território.

É sabido que a apicultura, por ser uma atividade alicerçada nas características ambientais contidas no território piauiense, é tida como um modelo de atividade econômica geradora de emprego e renda, atingindo uma parcela da população menos assistida, e que, através da atividade, consegue inserir-se no mercado e apresentar melhores indicadores sociais de vida. Em 1998, a atividade envolvia aproximadamente 72.000 empregos diretos, sendo parte significativa de caráter temporário, posto que 220 pessoas estão vinculadas diretamente ao sistema de exploração (BACELAR, 2001).

Sobre a inserção do mel na vida das famílias do semi-árido piauiense, Vilela (2000, p. 180) relata que “culturas tradicionais tiveram baixas significativas de seus

preços na década de 1990, enquanto o mel de abelha teve o preço pago ao produtor elevado em mais de 30% na primeira metade da mesma década, contrastando a tendência declinante da maioria das referidas culturas, como milho, feijão, arroz e algodão”. Mas existem inúmeros problemas na gestão dos projetos de apicultura, a exemplo das dificuldades de pagamento dos empréstimos, nos períodos em que não ocorre a produção de mel, agravando as condições de vida dos apicultores e impondo a necessidade de novos arranjos institucionais de apoio a atividade apícola.

A expansão do setor apícola está apoiado em bases naturais, possibilitando ao Piauí a exploração do mel orgânico, obtendo, assim, algumas vantagens competitivas no mercado. Outro fator considerado favorável à produção do mel piauiense (VILELA, 2000, p. 165) é que as abelhas apresentam poucos problemas de doenças; isso se deve “em função da carga genética das africanizadas, muito resistentes às patologias mais comuns nas abelhas europeias [...], tornando desnecessários os medicamentos, principalmente antibióticos e acaricidas, muito usados em grande parte dos países produtores”. No entanto, é preciso maior atenção às Casa de Mel e aos apiários, devido à falta de infraestrutura aos apicultores, e pela falta de recursos para a conservação e a aquisição de novas caixas, haja vista a deterioração dos equipamentos, além dos constantes roubos (das caixas), e dos problemas de higiene no trabalho cotidiano.

No entanto, existem problemas ambientais na produção com o uso de práticas inadequadas,85 a exemplo da utilização excessiva de fumaça nas colmeias, para “amansar” as abelhas e facilitar a colheita, acarretando o acúmulo de resíduos de fuligem. Outro problema refere-se aos constantes desmatamentos da flora apícola, que está sendo substituída pela cultura do caju, o que acarreta alterações no ecossistema necessário à produção melífera. Outro problema frequente é o uso de herbicidas na vegetação nativa, para combater a expansão de algumas espécies, o que acarreta a contaminação dos apiários; daí a fiscalização exigir uma distância de 3 km do apiário até as áreas que fazem usos dos herbicidas.

Recentemente, os apicultores enfrentaram uma nova realidade nos assentamentos voltados à produção apícola em relação à legislação ambiental,

85 Vilela (2000, p. 145) propõe a adoção de práticas de manejo associadas a uma política de reflorestamento, além da realização de um zoneamento apibotânico que seja capaz de determinar

orientada pelo IBAMA, na qual os apicultores que possuem entre 10 e 15 caixas devem destinar 20% da área para a preservação, o que põe desafios na organização produtiva, como também constitui instrumento legal de promoção da manutenção da sustentabilidade da apicultura.

- Mas como fica a relação entre a atividade apícola nos espaços sub-regionais da apicultura e o desenvolvimento territorial?

Os espaços sub-regionais da apicultura está constituído de uma eficácia social, apoiado no estímulo de iniciativas locais que usam sua capacidade como um instrumento importante de transformação social (SEN, 2000). A prática dessa atividade integra de forma articulada  apesar da existência de alguns obstáculos - as dimensões de um desenvolvimento como capacidade (LOPES, 2005), pois as ações são resultados de uma matriz apoiada na promoção de uma “segurança protetora” que amplia e reforça a condição dos produtores da atividade melífera.

É inegável que a apicultura produzida nesse espaço sub-regional apresenta- se constituída de um componente de sustentabilidade de extremo valor, pois sua viabilização, enquanto produção, é baseada em uma preocupação constante com a construção da sustentabilidade, a exemplo das etapas de produção do mel, com a inserção de um monitoramento que visa ao rastreamento da abelha como etapa fundamental para a certificação do mel orgânico, que ocorrem através de metas a serem cumpridas de forma descentralizada e envolvida com a construção de arranjos institucionais que integram os diversos agentes e atores sociais.

O movimento exógeno da dinâmica desse espaço sub-regional refere-se a um importante mercado exportador da atividade apícola, que, através de diversas articulações viabiliza a exportação para os mercados dos Estados Unidos e da Europa em maior escala e volume. Os agentes mais dinâmicos dessa atividade,

como os exportadores privados, participam da realização de feiras internacionais como forma de poder acompanhar as mudanças advindas, e adquirem máquinas e equipamentos modernos na busca de inovações do setor.

No entanto, um aspecto de fundamental valor é a realização de poder comercializar a sua produção, através do comércio justo e ambientalmente sustentável, em que são incorporadas parcerias diversas, que se traduzem em uma experiência de cooperação e de liberdade, em relação aos produtores apícolas de

a capacidade de suporte desses ecossistemas, aprofundando, assim, o conhecimento das características botânicas das espécies nativas.

uma região semi-árida que transborda exemplos positivos de uma articulação entre o local e mundial.

O movimento endógeno é, sem dúvida, o alicerce do avanço da atividade apícola nesse espaço sub-regional, posto que se articula bem com a dimensão exógena, além de ser portadora de uma base territorial que valoriza a diversidade ambiental e as características contidas no semi-árido piauiense. A existência de um espaço sub-regional, com um forte componente endógeno, se traduz na articulação entre o arranjo político, social e cultural, capaz de ampliar as relações de cooperação e de construir laços de solidariedade que reforçam por uma extensa rede de relações sociais e políticas emancipadoras.

O desenvolvimento territorial no espaço sub-regional, visto em Picos, apresenta alguns pontos de estrangulamentos. Na esfera institucional, é possível visualizar algumas ações contraditórias, reveladoras de conflitos existentes entre os atores sociais, principalmente entre cooperativas de grande e pequeno porte, além do jogo de poder que as cooperativas tentam impor, em busca de um mercado mais ampliado, para a comercialização de sua produção frente as forças das empresas e dos agentes privados. Na esfera política, o entrave está baseado na existência da falta de integração entre atores sociais e da necessidade de ampliação nos níveis de “empoderamento” das lideranças e dos produtores apícolas. Na esfera social, ocorrem momentos de quebra, por parte dos apicultores, de continuidade de ações e da inclusão, de forma mais intensa, dos preceitos de construção de uma gestão compartilhada e reguladora dos recursos naturais existentes no território.

No entanto, os espaços sub-regionais da apicultura são uma expressão de sucesso de um conjunto de ações e práticas positivas no território. É uma atividade que possui coesão social e territorial entre os diversos municípios que participam da produção apícola, atuando e agindo dentro de uma rede de ações integradas, e de forma a promover melhores resultados da atividade, em uma visão multidimensional, e de sentimento de grupo. Além da coesão entre os agentes públicos e os atores sociais envolvidos, é visível a presença marcante de sinergias locais, pois essa atividade está enraizada no semi-árido piauiense, apoiada em uma articulação com a atuação de instituições, de governos, em diversas dimensões, de cooperativas, de associações de produtores, da Igreja, entre outros parceiros que legitimam a construção de um território sustentável e de caráter regionalista.

O desenvolvimento territorial, analisado a partir da apicultura, é construído por uma governança de bases locais na qual interagem as cooperativas, os agentes públicos em suas diversas escalas e os agentes privados, de forma que existe uma representação democrática alicerçada na cooperação e na capacitação.

Não obstante a existência de alguns estrangulamentos nos níveis de participação da sociedade, é pertinente destacar que existe uma organização social muito integrada e de eficácia social, que possui as condições de se articular aos mercados mais dinâmicos em suas diversas escalas de ação. As cooperações, as parcerias e as alianças existentes no território são mais expressivas que os conflitos e os entraves existentes nos espaços sub-regionais.

6 OS ESPAÇOS SUB-REGIONAIS DO TURISMO LITORÂNEO E