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CAPÍTULO I – ELLEN G WHITE EM CONTEXTO

2.4 Ambiente Religioso

2.4.1 As ameaças à liberdade religiosa

Em meados de 1863, os Estados Unidos estavam em plena Guerra Civil e já se contabilizavam prejuízos de inúmeras naturezas, tais como perdas de vidas humanas e de recursos financeiros. A essa altura da guerra, eram crescentes e conhecidas as derrotas que os exércitos da União vinham sofrendo em desfavor das forças confederadas do Sul. As intensas e sangrentas perdas de vida humana aumentaram e se tornaram uma preocupação notória para políticos, empresários e religiosos da época.

Para os políticos, era evidente que a derrota do Norte levaria à desintegração da União, o que, por sua vez, levaria posteriormente os estados desintegrados a serem facilmente subjugados pelos impérios que ainda praticavam o colonialismo, como a Inglaterra, a Espanha e a França. Para os empresários, o assunto se resumia à preocupação de se evitar a qualquer custo a volta dos altos tributos, o que a contragosto certamente ocorreria no caso de qualquer novo tipo de colonialismo a que viessem estar sujeitos no caso de enfraquecimento político e militar da Nação. Sobrou para os religiosos a tarefa de explicar qual a razão da potencial ruína que ameaçava a Nação.

A convicção da eleição dos Estados Unidos como povo escolhido de Deus, pensamento que sem dúvida havia influenciado grandemente para sua prosperidade, ainda era

351 FRASER, Alwyn. Australia En La Década de 1890. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 263-282, traz um relato do ambiente social, político e econômico da Austrália nos anos em que Ellen White lá residiu.

muito forte devido às raízes religiosas da Nação. Por isso, diante da decadência em que se viam e do potencial fracasso ao qual estavam sujeitos, buscou-se na religião a resposta para tal condição, esperando nela encontrar, ao mesmo tempo, a causa da dificuldade enfrentada e a solução para se evitar o insucesso da pretensa escolha divina.

Fortemente ainda marcados pelos intensos episódios de reavivamentos religiosos que ocorreram durante o século, um grupo de pastores reunidos em Xênia, Estado de Ohio, em fevereiro de 1863 logo se ocupou em dar a resposta tão esperada pela sociedade. Afirmaram eles que a guerra e a consequente decadência generalizada pela qual a Nação vinha passando era resultado da corrupção moral da sociedade, a qual de maneira geral havia abandonado expressamente a lei moral de Deus. Afirmavam categoricamente que “o Governo havia falhado em não reconhecer a autoridade de Jesus Cristo e não fazer cumprir sua lei moral”352. E logo apontaram a imigração e as novas religiosidades como principais agravantes da referida falha governamental:

Para muitos protestantes, os Estados Unidos estavam dando as costas para Deus. Católicos, judeus, agnósticos e ateus estavam emigrando para os Estados Unidos em cifras assombrosas. Novas denominações, incluindo os mórmons e os adventistas do sétimo dia, estavam arrebanhando membros das principais igrejas. Além disso, o protestantismo nacional se viu ameaçado pelo modernismo e secularismo.353

Para esses religiosos, que se constituíam de pastores representantes de onze importantes denominações protestantes da época, a única maneira de apaziguar o juízo de Deus, que já estava caindo sobre a Nação com perspectiva de piora, seria o seu povo voltar a observar a lei moral divina354. Segundo eles, esse retorno à lei, dado o grau de corrupção moral da sociedade, exigiria atitudes mais duras dos governantes, que deveriam inclusive impor um retorno à obediência aos mandamentos divinos expressamente negligenciados. Essa proposta foi logo aceita e também praticada dali em diante por muitos estadistas e religiosos

352 PETTIBONE, Dennis. La Cuestión de La Ley Dominical. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 135, com tradução própria.

353 Ibid., p. 136, com tradução própria.

354 Ibid., p. 136, registra: “Esses outros protestantes criam, da mesma forma que os Reformadores nacionais, que

a aprovação e a execução de uma estrita legislação dominical era o melhor caminho para se evitar o juízo divino”. (tradução própria)

de todos os lugares da Nação, e seu discurso motivou inúmeras atitudes político-religiosas discriminatórias e preconceituosas que se estenderam para além do século XIX355.

Com base nos preceitos morais, sobre os quais se dizia que o povo norte-americano deveria obediência incondicional se necessário até forçada, estava a questão da guarda do dia de descanso semanal, que, de acordo com a convicção católica e maioria protestante, dizia respeito ao domingo, o primeiro dia da semana. Na contramão direta de tal pensamento, de matriz essencialmente religiosa, estavam basicamente três grupos: os judeus, os adventistas dosétimo dia e os batistas do sétimo dia. E de maneira indireta estavam contrários os budistas e islamitas, que, embora em quantidade menos expressiva, também discordavam de imposições quanto ao dia de guarda religiosa356. O primeiro grupo se opunha por crer que o sábado (sétimo dia da semana), conforme preceituado pelas Escrituras Sagradas (Torah, no caso dos Judeus, e a Bíblia, no caso dos cristãos protestantes adventistas e batistas do sétimo dia), era o único dia de guarda legítimo para ser observado. Já o segundo grupo se opunha ora pelo fato de ser contrário a qualquer forma de intolerância (era o caso dos budistas), ora pelo fato de ter seu próprio dia semanal de guarda (era o caso dos islamitas quanto à sexta-feira, dia que não coincidia nem com o sábado nem com o domingo).

Não demorou muito para que tais diferenças de crenças quanto ao dia de guarda, até então aceitas em solo norte-americano, dessem lugar à intolerância declarada quanto a qualquer postura que fosse distinta daquela praticada pela maioria. Embora a controvérsia fosse de matriz essencialmente religiosa, ganhou força no forte ativismo político e econômico cujas forças sociais aderiram incondicionalmente à causa. O que se veria logo depois seria a demonstração da perigosa força perseguidora e opressora decorrente da intolerância, que no contexto sociocultural norte-americano foi alimentada pela confusa relação entre a Igreja e o Estado, a qual somente mais tarde lograria uma separação mais nítida, embora ainda relativa357. Para se ter uma ideia a que ponto chegara o envolvimento do Estado na questão da guarda do domingo, historiadores relatam que, até mesmo em atividades públicas como os

355 PETTIBONE, Dennis. La Cuestión de La Ley Dominical. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 135, esclarece que “Mesmo quando a Guerra Civil havia terminado e o Norte havia saído vencedor, manteve-se a convicção de que Jeová estava desgostoso com os Estados Unidos. Os reformadores nacionais continuaram advertindo, ao menos durante as três décadas seguintes, que o juízo divino pendia sobre os Estados Unidos da América”. (tradução própria)

356 Ibid., p. 142.

357 SEPÚLVEDA, Ciro. Elena G. de White: Lo Que No Se Contó. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación

transportes ferroviários, em “Todos os domingos era costume celebrar serviços religiosos em um dos vagões”358.

A par de outras medidas de alcance moral, tais como leis de proibição de bebidas alcoólicas, fechamentos de cantinas359, campanhas de higiene e cuidados com a saúde, dentre outras, os governos municipais e estaduais impuseram leis dominicais que forçavam a guarda do primeiro dia da semana pelas razões já mencionadas. Há relatos360 de que tais legislações chegaram a ser realidade nos Estados de Arkansas, Tennessee, Illinois, Massachusetts, Maine, Michigan, Geórgia, Maryland, Pensilvânia, Texas, Califórnia, Rhode Island, Nova Iorque, Washington, Ohio, Nuevo México, Connecticut, Vermont, Missouri e Louisiana.

Essas leis foram o estopim que desencadeou nas três últimas décadas do século XIX uma nova onda de preconceito e intolerância religiosa ainda mais intensa do que a anterior. Se antes a sociedade praticava a intolerância contra os católicos que contavam com números não expressivos de fiéis, o que ocorreu principalmente no decorrer da década de 1840, a intolerância mirava agora para todos, de qualquer segmento ou denominação, que não concordassem com a questão dominical:

O preconceito religioso era forte dentro do movimento pró-lei dominical. As principais pessoas, organizações e periódicos que apoiavam a legislação dominical demonstraram uma violenta e enérgica oposição ao mormonismo, catolicismo, ateísmo e agnosticismo. Alguns partidários do movimento dominical também revelaram uma forte aversão pelos adventistas do sétimo dia e os batistas do sétimo dia.361

O conflito não era mais de protestantes contra católicos, mas de guardadores do domingo contra qualquer pessoa ou grupo que direta ou indiretamente não se sujeitasse à observância inquestionável da guarda de tal dia da semana, conforme determinado por leis civis de cunho religioso. Chegou-se a afirmar: “nenhuma outra religião exceto o cristianismo [...] é compatível com a existência da liberdade humana e as instituições republicanas”362. E

358 BUTLER II, Randall R. Viajando En Tren, 1869-1890. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 81, com tradução própria.

359 PETTIBONE, Dennis. La Cuestión de La Ley Dominical. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 132.

360 Ibid., p. 133-134 e 141.

361 Ibid., p. 141, com tradução própria.

362 PETTIBONE, Dennis. La Cuestión de La Ley Dominical. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 141, com tradução própria.

mesmo sendo questionada a legalidade de tais posturas e das imposições trazidas pelas novas leis, as exigências acabavam legitimadas socialmente pelas cortes de justiça, que consideravam as leis dominicais constitucionais, validando os preconceitos e intolerâncias decorrentes da aplicação de seus conteúdos363.

As medidas punitivas contra os transgressores do domingo variavam de acordo com a previsão da lei, a natureza da acusação e o entendimento dos juízes. As penas podiam ser aplicadas de forma individual ou coletiva364, e incluíam advertência, multa365, confisco de bens366, prisão e trabalhos forçados367, sendo aplicadas após processamentos que, em muitos casos, eram realizados de maneira muito próxima aos moldes da inquisição368. Historiadores relatam que em determinado momento chegou-se a propor que as leis dominicais adotassem também, como medida punitiva, a hipótese de expulsão definitiva do transgressor do Estado369 onde residia, não importando se ele se tratasse de um nacional ou estrangeiro. Durante o período de vigência dessas leis, mesmo existindo em alguns momentos e em alguns lugares a previsão de exceção de sua obrigatoriedade para os adventistas, essas eram frequentemente violadas e a prática perseguidora prevalecia370.

Há registros de que “algumas vezes as leis dominicais eram utilizadas como um instrumento de revanche pessoal”371. O mero preconceito dava causa a que muitos adventistas do sétimo dia fossem processados e sentenciados em Estados que nem sequer tinham

363Ibid., p, 139, registra que, “com exceção de uma decisão revogada pela Suprema Corte da Califórnia, as

cortes de justiça desta época foram unânimes em declarar que a legislação dominical era constitucional”. (tradução própria)

364 Ibid., p. 131, informa caso em que “14 membros da pequena congregação adventista foram sentenciados por

„ofensas‟”. (tradução própria)

365 Ibid., p. 131, pontua que os acusados de transgressão do domingo eram submetidos a trabalhos forçados

juntamente com outros presos condenados por crimes graves tais como tentativa de homicídio, embriaguez e fuga.

366 Ibid., p. 132, fala de confisco e leilão de bens em hastas públicas.

367 Ibid., p. 128, pontua que, juntamente às multas, os acusados tinham de pagar também custas judiciais para o

Governo e honorários advocatícios para quem os defendia das supostas transgressões.

368 Ibid., p. 132, relata que por vezes “as autoridades planejaram levar a cabo o julgamento praticamente da

mesma forma em que se realizavam as audiências do grande júri. Um pai foi chamado a testemunhar contra seus filhos. Os filhos – um deles de apenas dez anos de idade – foram chamados a testemunhar contra seus pais, e os irmãos eram intimados a prestar declaração um contra o outro”. (tradução própria)

369 Ibid., p. 133, informa que os proponentes de tais projetos “alegavam que seus eleitores „estavam cansados‟

dos adventistas e sugeriam que fossem expulsos do Estado, já que „não representariam uma perda de importância‟”. (tradução própria)

370 Ibid., p. 133-134, registra que penas eram aplicadas mesmo nos Estados de Massachusetts, Maine e

Michigan, “apesar da lei de isenção dominical estar em vigência nesse Estado”. (tradução própria)

371PETTIBONE, Dennis. La Cuestión de La Ley Dominical. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 143, com tradução própria.

aprovado as referidas leis. Eram permanentemente acusados de violar o domingo como dia de guarda obrigatório e de ofender a crença dos vizinhos quanto à guarda do referido dia. Muitos foram presos várias vezes e foram levados à ruína financeira em razão das altas multas às quais eram sujeitos372. Outros, por serem pobres e não terem como pagá-las, morreram nas prisões que eram ambientes degradantes, insalubres e altamente nocivos à saúde humana373. O registro histórico adiante dá uma ideia mais clara dos fatos:

Entre 1885 e 1896, mais de 100 adventistas do sétimo dia foram processados nos Estados Unidos pela mesma razão. Pagaram 2.269,69 dólares a título de multas e custas judiciais, passaram 1.438 dias na prisão e realizaram trabalhos forçados durante 455 dias. Uma grande proporção dessas condenações ocorreu no Sul e nos estados de fronteira, especialmente Tennessee e Arkansas. Já desde princípios de 1879 e até o final de 1892, os adventistas do sétimo dia que viviam nos arredores de Springville, Tennessee, eram presos por violações da lei dominical.374

Pelo fato de as primeiras leis dominicais serem de âmbito municipal e estadual, seus textos variavam de um normativo para outro, e muitas vezes a alternância dos governos locais e regionais era acompanhada de mudança e até revogação das citadas normas. Tal realidade logo motivou um clamor social por uma lei dominical nacional que finalmente resolvesse em definitivo a questão. Foi assim que, em 1879, começou-se um forte movimento de ativismo político e social em favor de uma lei nacional que impusesse em definitivo a guarda do domingo.

Os Reformadores Nacionais “[...] consideravam que a legislação dominical era essencial, posto que o dia de repouso era parte da lei de Deus. A aprovação de uma lei dominical nacional seria particularmente importante, segundo criam, porque tal legislação significaria „o reconhecimento da soberania divina por parte da Nação‟”375. À frente de tal campanha estavam presbiterianos, metodistas, batistas e congregacionalistas de várias frentes,

372 Ibid., p. 128, registra o caso de um fazendeiro que “o jurado o declarou culpado e o multou em 75 dólares

mais os gastos judiciais – uma quantia exorbitante para um homem de sua posição econômica. Antes da execução da sentença, King foi preso mais uma vez [...]”. (tradução própria)

373 Ibid., p. 130, registra o caso de Parker, um adventista que “se negou a pagar a multa e demais custas, que

somavam 69,81 dólares. Cria que pagar esse dinheiro seria, de fato, reconhecer a imparcialidade da sentença. Em troca, escolheu passar 280 dias preso. A decisão lhe custou a vida, posto que morreu de malária, enfermidade que contraiu nas infectadas celas da prisão”. (tradução própria)

374Ibid., p. 129, com tradução própria.

375PETTIBONE, Dennis. La Cuestión de La Ley Dominical. In: LAND, Gary y Otros. El Mundo de Elena G. de

White. 1. ed. Flórida (Buenos Aires): Asociación Casa Editora Sudamericana, 1995, p. 136, com tradução própria.

grupos esses que já vinham liderando o conflito desde seu início376. Mas a questão não foi tão simples de ser resolvida, principalmente em razão da resistência de judeus, hindus e islâmicos que mantinham forte influência no âmbito econômico, o que impediu que o projeto fosse aprovado. Outras duas tentativas foram feitas em 1888 e em 1893, e ambas também não lograram o êxito esperado pelos partidários do domingo.

Em meio a tais conflitos de liberdade e outras complexidades religiosas de seu tempo, Ellen White protestou fortemente contra a intolerância religiosa, a qual lhe causava profunda indignação. As liberdades, civil e religiosa, que por décadas haviam sido o fundamento de vida da nação norte-americana protestante, agora estavam sendo violadas de forma expressa em relação aos guardadores do sábado, cuja crença como dia de guarda ela também compartilhava. A nação que fora fundada para proporcionar liberdade às minorias, agora produzia leis com base “na intolerância e adotava princípios que inevitavelmente culminariam com a supressão das minorias religiosas”377. Era a versão moderna da liberdade dos muitos oprimindo e suprimindo a liberdade dos poucos. Tal realidade a fez se posicionar quanto ao dever do Estado em respeitar os ditames de consciência de seus cidadãos.378

Para a autora, a “liberdade é direito inalienável de todos, seja qual for o credo professado”379, e o desrespeito a ela, no tocante à consciência religiosa, era algo indesculpável para a nação norte-americana. Ela protestou de forma categórica contra os erros cometidos pelo Estado, cujas ações e omissões estavam tolhendo a liberdade cujo valor espiritual era sua obrigação constitucional proteger:

Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual os cristãos evangélicos tão nobremente lutaram.380

Assim é manifestado o mesmo poder arbitrário e opressor contra a liberdade religiosa, contra a liberdade de adorar a Deus de acordo com os ditames da consciência, que foi manifestado pelo papado, quando no passado ele

376 Ibid., p. 137.

377 Ibid., p. 135, com tradução própria.

378 Um estudo detalhado acerca da postura de Ellen White quanto ao princípio da liberdade religiosa no contexto

da relação entre a Igreja e o Estado pode ser verificado em COSTA, Márcio D. Principles of Church-State Relationships in The Writings of Ellen G. White. In: Tese de Doutorado em Filosofia do Seminário Teológico da Universidade Andrews, Berrien Springs-MI, EUA, 2010. 243 p.

379 WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. 42. ed. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, p. 293. 380 WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. 42. ed. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, p. 201.

perseguiu os que ousaram recusar conformar-se aos ritos e cerimônias religiosas dos romanistas.381

A autora também não poupou palavras para aconselhar os cidadãos de maneira geral, e os adventistas do sétimo dia de forma especial, quanto ao assunto. Recomendou uma postura firme e equilibrada frente à restrição de liberdade da qual estavam sendo vítimas em seu tempo em razão da imposição religiosa:

Há em nosso tempo um vasto afastamento das doutrinas e preceitos bíblicos, e há necessidade de uma volta ao grande princípio protestante – a Bíblia, e a Bíblia só, como regra de fé e prática. Satanás ainda está a trabalhar com todos os meios de que pode dispor, a fim de destruir a liberdade religiosa.382 Este princípio [liberdade religiosa] temos de manter firmemente em nossos dias. A bandeira da verdade e da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja evangélica e pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então, foi, neste último conflito, confiada a nossas mãos. A responsabilidade deste grande dom repousa com aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua Palavra. Temos de receber essa Palavra como autoridade suprema. Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência ao mesmo como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda a legislação humana. Um “Assim diz o Senhor” não deve ser posto à margem por um “Assim diz a igreja”, ou um “Assim diz o Estado”. A coroa de Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de autoridades terrestres.383

Em resumo, as ocorrências pontuais citadas, sejam de natureza política, social, religiosa, impactaram fortemente Ellen White em sua perspectiva de vida e seus desdobramentos temáticos, dentre os quais a liberdade. E não seria diferente com a autora, pois, conforme já se reconheceu, o contexto histórico (temporal) e social (espacial) no qual a pessoa está inserida impacta diretamente sua vida, e por desdobramento seu ministério profético384 e sua produção teológica. Nesse sentido, já se pontuou que:

381 WHITE, Ellen G. Mensagens Escolhidas-III. Tradução de Naor Conrado. 3. ed. Tatuí-SP: Casa Publicadora

Brasileira, 2000, p. 392.

382 WHITE, Ellen G. 2004, op. cit., p. 205.

383 WHITE, Ellen G. Atos dos Apóstolos. Tradução de Carlos A. Trezza. 8. ed. Tatuí-SP: Casa Publicadora

Brasileira, 1999, p. 68-69.

384 O termo “ministério profético” faz referência ao fato de Ellen White ser considerada como profetisa pela