• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO 6 !

1.4 AS ANÁLISES 36 !

Trabalhamos com análise de conteúdo de Bardin (2011) tipo categorial temática, que se processa através do desmembramento do texto em unidades e categorias menores para depois reagrupar analiticamente, buscando estabelecer unidades de sentidos.

É um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a ‘discursos’ (conteúdos e continentes) extremamente diversificados [...]. Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre dois polos: do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade (BARDIN, 2011, p. 9).

Esse processo tem o objetivo de levantar o conteúdo que emerge da comunicação, documentos, questionários e entrevistas, num levantamento dos dados produzidos pelos sujeitos, descrevendo analiticamente, a partir dos quais possibilitem a inferência de núcleos de sentidos, preservando-se da ambiguidade dos mesmos.

Bardin (2011, p. 146) ainda enfatiza que o processo de categorização é feito seguindo algumas etapas: o inventário, que consiste em desmembrar elementos; e a classificação, fase em que se repartem os elementos, impondo uma lógica de organização. Esse processo acontece, segundo a autora, em três fases:

1) Pré-análise, fase em que o material foi organizado com a finalidade de operacionalizar as ideias. Essa fase foi elaborada através de uma pesquisa, com a finalidade de entender como se dá o conhecimento sobre as políticas de avaliação em larga escala;

2) Exploração do material, fase em que consistiu no levantamento do material, buscando definir categorias e identificar unidades de registro e unidades de contexto que

promoverão a riqueza de inferências. Partindo da pesquisa realizada, foram encontradas duas categorias, Regulação e trabalho docente, organizados através de leitura e fichamento. Nessa fase, foram elaborados os questionários e a entrevista;

3) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Esta é a última fase e corresponde ao tratamento dos resultados, nela as informações se expressam possibilitando a análise. Nesta fase, foram produzidos os quadros com os conceitos que ajudaram na produção de sentidos, através do cruzamento do campo teórico com o campo empírico.

Na análise de conteúdo, ficam evidenciados os elementos que formam a estrutura desse conteúdo, esclarecendo diferentes características, revelando sua significação. Assim é necessário apontar conceitos, concepções que expressam o caminho do pensamento para apreender, sistematizar e organizar os dados à luz das categorias científicas, filosóficas e ontológicas, pois a definição das categorias tem um papel no desenvolvimento do conhecimento e, nela, o real pensado volta para explicar a relação entre o particular e o universal.

De acordo com Bardin (2011), a partir do referencial teórico, à luz das categorias a priori Regulação e Trabalho Docente, foram organizados nos Quadros 10 e 11, os elementos orientadores nos quais estão conceitos e concepções tomados como base para a análise. O quadro 10 expõe os conceitos da Teoria da Regulação e sua aplicação na educação.

Quadro 10 - Categoria conceitual de análise a priori-regulação

Categoria conceitual de análise Regulação

Unidade de contexto Unidade de Registro Regulação Conceito segundo os

autores Leitura e fichamento

A Teoria da Regulação integra processos políticos e econômicos na análise da intervenção do Estado na economia. A questão de fundo da teoria é identificar como as economias se expandem e se reproduzem, considerando as crises de acumulação e as relações sociais antagônicas, captando as diferenças e dinâmicas de cada fase do capitalismo de forma geral e específica em cada sociedade. A relação causa-efeito não se produz da mesma maneira em sociedades distintas, de acordo com as peculiaridades, a regulação pode ser viabilizada ou não. No estudo da regulação sobre o capitalismo, busca-se identificar as transformações sociais em formas de ação simultaneamente econômicas e não econômicas reproduzindo uma estrutura que possui uma dinâmica. (BOYER, 1990)

Regulação Conceito segundo os autores Leitura e fichamento

Um sistema particular de acumulação pode existir por- que seu “esquema de reprodução é coerente”. O problema, no entanto, é fazer os comportamentos de todo tipo de indivíduos – capitalistas, trabalhadores, funcionários públicos, financistas e todas as outras espécies de agentes político-econômicos – assumirem alguma modalidade de configuração que mantenha o regime de acumulação funcionando. (HARVEY, 1992, P117)

Regulação Conceito segundo os autores Leitura e fichamento

A educação, segundo Barroso (2005), é comparada a um processo composto resultante de regulações das regulações, de controle direto de uma regra sobre a ação dos regulados. Para esse autor, no campo educacional, há um sistema de multirregulação onde é preciso valorizar o papel primordial das instâncias, dos indivíduos, estruturas formais e não formais.

Em estudos sobre as políticas educativas internacionais, o termo regulação, segundo um breve sumário realizado por Barroso(2005), ocorre em dois contextos: no primeiro, em países francófonos o termo aparece associado ao debate sobre a reforma educacional para sua modernização, criticando a intervenção do Estado e reforçando uma imagem de Estado menos prescritiva e mais regulamentadora, orientada por controle de resultados. O Estado continua a investir parte do seu orçamento em educação, mas se retira das ações cotidianas da educação, de organização e gestão, transferindo-as para a iniciativa privada, em parcerias e concorrências, assumindo a função de avaliador para saber se os resultados foram alcançados.

No segundo contexto, em países anglo-saxônicos e onde acontecem políticas de cunho mais conservador e neoliberal, o termo aparece associado ao conceito de desregulamentação, alterando o modelo tradicional de intervenção do Estado, de coordenação e direção do sistema público de educação. Não se trata de simples alteração do termo, mas parcialmente, da mudança da regulação pelo Estado para a regulação de iniciativa privada

Regulação Conceito segundo os autores Leitura e fichamento

Azevedo e Gomes (2009, p. 100) apontam que o conceito de regulação estabelece “o conjunto de fatores que viabilizam a reprodução geral dos sistemas econômico e social, em função do Estado.

O quadro 11 expõe os conceitos das subcategorias relativos à forma como a categoria de análise Trabalho docente se apresenta, baseada na reestruturação produtiva e capitaneada por políticas neoliberais, está permeada por subcategorias que representam efeitos das políticas públicas de avaliação/regulação no trabalho docente.

Sistematizamos as subcategorias colorindo Proletarização (roxo), Precarização (verde), Valorização (azul claro) e Intensificação (azul escuro). A partir dessa sistematização, passamos a organização dos elementos coletados no campo, para a produção de sentidos.

Quadro 11 - Categoria conceitual de análise a priori-trabalho docente

Categoria Conceitual de Análise Trabalho

Docente

Unidade de contexto Unidade de registro

Valorização Conceitos segundo os autores a partir de leitura e fichamento

Sobre a valorização docente, Grochoka (2016) entende que é um princípio constitucional, efetivado por mecanismo legal, chamado carreira, desenvolvida por meio de três elementos: Formação, Condições de trabalho e Remuneração, tendo como objetivos a qualidade da educação e a qualidade de vida do trabalhador. Afirma ainda que o processo formativo do professor se divide em duas perspectivas: a formação inicial e a formação continuada. Para Grochoka (2016), a condição de trabalho docente na perspectiva da carreira, é parte não só da qualidade da educação como também se relaciona à qualidade de vida desse docente.

Conceitua três elementos: “Salário, vencimento e remuneração, pois ambos apresentam bases de cálculo diferentes. Assim, salário é o valor pago pelo empregador ao empregado conforme a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT); vencimento é definido pela Lei no 8.112 como “retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, com valor fixado em lei”. Assim, tanto salário como vencimento são uma parte da remuneração, que no caso do magistério é composta pelo vencimento mais vantagens pecuniárias, como gratificações, auxílios entre outros.”

Precarização Conceitos segundo os

autores

Segundo Bosi (2007), a totalidade do processo de precarização do trabalho docente está expresso em velhas e novas formas de contratação, trata-se de mudanças que aumentam o trabalho docente em extensão e intensidade, objetivando a mercantilização da educação pública.

Bosi (2007) critica esse material utilizado e ainda enfatiza que é direito de todos os docentes terem condições adequadas para realização do seu trabalho, com recursos, lutando para superação dessa realidade de alienação do trabalho.

Com a progressiva privatização dos meios de produção do trabalho docente, os docentes são impelidos a um campo de trabalho que apresenta estratégias combinando competição, empreendedorismo e voluntariado.

Proletarização Conceitos segundo os autores

Apple (1995) situa o grupo dos docentes em duas classes sociais, a pequena burguesia e a classe operária, fazendo com que os interesses dos docentes oscilem entre as duas classes. Nesse sentido, o autor alerta para questões de gênero e raça subjacentes a esses profissionais. O autor ainda propõe uma reflexão que abarque essa dupla relação, irredutíveis uma a outra, porém, se influenciem e co- determinem no terreno em

que cada uma delas atua.

Segundo Barbosa (2009), a multivariedade de funções imposta ao professor vai implicar em uma relação contraditória, se exige do docente, simultaneamente, que trabalhe com diferentes temas, métodos e perspectivas. Essa diversificação de habilidades impõe aos mesmos uma desqualificação intelectual através da dependência do planejamento de experts.

De acordo com uma visão dialética da história do trabalho, Apple (1995) afirma que os empregos femininos, em comparação com os masculinos, passaram por um processo de proletarização maior, submetidos ao controle e a autonomia limitada.

“Há formas distintas de controle vinculadas especificamente aos tipos de decisões controladas pela administração [...] “ideológica e “técnica” – A “proletarização técnica” define-se em relação ao controle dos modos de execução do trabalho [...] – A “proletarização ideológica” vincula-se ao controle sobre os fins do trabalho [...]” (JÁEN, 1991, p. 77, grifos da autora).

Silva (2012) percebe o processo de sofrimento como fruto da forma complexa de desenvolvimento do trabalho. Formas mais controladas e gerenciadas aprofundam o trabalho imaterial, somado a isso a intensificação e precarização, com arroxo salarial e num cenário empobrecido que resulta em muito sofrimento.

[...] las políticas y medidas que vienen tomándose en los últimos años, tanto a nivel global como nacional están contribuyendo a reforzar algunas de las tendencias mas negativas hacia la desprofesionalización del magisterio [...] Dicha desprofesionalización tiene que ver no únicamente con condiciones materiales, sino con un proceso gradual de “desposesion simbólica”: los docentes cada vez más arrinconados en un rol de meros operadores de la enseñanza, relegados a un papel cada vez may alienado y marginal (TORRES, 1999, p. 102-103, grifo da autora).

[...] sujeito de um fazer docente que precisa ser respeitado em sua experiência e inteligência, em suas angústias e em seus questionamentos, e compreendido em seus estereótipos e preconceitos. Sujeito que deve ser reconhecido como desempenhando papel central em qualquer tentativa viável de revitalizar a escola (pública), pois se é sujeito, é capaz de transformar a realidade em que vive. E se é sujeito de um fazer, é também sujeito de um pensar. (DIAS-DA- SILVA, 1998, p. 39).

Intensificação Conceitos segundo os autores

Dal Rosso (2008) parte de metáforas criadas por Marx (1983) para ilustrar a porosidade de “tempos mortos” durante a jornada de trabalho, mostra que existem espaços de não trabalho, de acordo com a organização do trabalho ou tecnologia que os mesmos densificam no trabalho, sem aumentar objetivamente a jornada do trabalhador.

Dal Rosso aponta polivalência e o uso das novas tecnologias como principais elementos utilizados na intensificação do trabalho.

Oliveira e Vieira (2014) indicam que há uma ampliação no tempo e inclusão de novas atividades, denominando de intensificação do trabalho.

“[...] representa uma das formas tangíveis pelas quais os privilégios de trabalho dos/as trabalhadores/as educacionais são degradados. Ela tem vários sintomas, do trivial ao mais

complexo – desde não ter tempo sequer para ir ao banheiro, tomar uma xícara de café, até ter uma falta total de tempo para conservar-se em dia com sua área. Podemos ver a intensificação atuando mais visivelmente no trabalho mental, no sentimento crônico de excesso de trabalho, o qual tem aumentado ao longo do tempo” (APPLE,1995, p. 39). Destruição da sociabilidade, Isolamento.

A intensificação do trabalho docente nos tempos contemporâneos é também resultado de uma crescente colonização administrativa das subjetividades das professoras e das emoções no ensino, sendo indícios desse fenômeno a escalada de pressões, expectativas, culpas, frustrações, impelidas burocraticamente e/ou discursivamente, relativamente àquilo que as professoras são ou deveriam ser profissionalmente, àquilo que as professoras fazem ou deveriam fazer, seja no ambiente escolar ou mesmo fora da escola.” (GARCIA e ANADON, 2009, p. 71).

Segundo Apple (1995), a intensificação é acompanhada de dois processos historicamente em desenvolvimento: a desqualificação do trabalhador e a separação entre concepção e execução no trabalho, dificuldade para manter a especialização.

Fonte: Rosângela Cely Branco Lindoso (2017).

No apêndice G, estão os elementos encontrados nos documentos da política disponibilizados através do site, de acordo com os conceitos de regulação. Esses elementos são congruentes com os conceitos estabelecidos no quadro 10.

O quadro 11 serviu de base para a elaboração dos elementos a serem investigados no campo, norteando as entrevistas e questionários.

Quadro 12 - Quadro analítico acerca das unidades de contexto e de registro

Categorias analíticas Unidade de contexto Unidade de registro Regulação Sentido da regulação:

Mediação de elementos da política internacional com a finalidade de adequar a uma determinada sociabilidade, reduzindo o papel do Estado e criando o mercado ou quase- mercado na educação.

Concepção e implantação da política. Concepção dos elementos da política. Efeitos da política.

Projeto ou ações para atingir as metas do IDEPE.

Trabalho docente Sentido do trabalho docente: Trabalho atravessado por situações políticas e pelo apelo dos docentes por melhores condições de trabalho no contexto das reformas educacionais.

Atividades pedagógicas desenvolvidas.

Mudanças na rotina escolar. Aprendizagem dos alunos. Impactos na vida pessoal. Efeitos positivos e negativos da política no trabalho docente. Fonte: Rosângela Cely Branco Lindoso (2017).

Com base nos quadros 10 e 11, onde estão os conceitos e as concepções da política de regulação, foi feita a coleta dos dados; o texto das entrevistas e questionários foram

desmembrados em unidades menores e reagrupados, relacionando ao quadro dos conceitos onde se expressam as subcategorias, coloridas de acordo com o sentido ao qual se relacionam. O apêndice F referentes às perguntas 1 e 2, são um exemplo da categorização dos elementos coletados no campo, relativos à: concepção/implantação da política e ao cotidiano da escola, considerando a nova política.