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2 ESTADO E REGULAÇÃO NAS POLÍTICAS ATUAIS 44 !

2.1 CONCEPÇÕES DE ESTADO: RESGATE HISTÓRICO 44 !

O Estado rege a sociedade e seus indivíduos e governa através de leis e coação, justificando sua ação no sentido do bem comum.

O Estado ideal foi estudado por Platão no livro A República (1993), ele imaginou como deveria ser o Estado. Segundo Platão, a alma humana se divide em três partes, com diferentes graus de desenvolvimento em cada uma delas. Para governar uma cidade é necessário que a parte mais desenvolvida da alma humana seja a razão; para ser um soldado ou guardião, a parte mais desenvolvida será a parte irrascível e para suprir as necessidades gerais, ou cumprir os deveres dos serviços braçais, a parte mais desenvolvida será carnal. A alma humana, quando passa por um processo de educação, traz à luz o verdadeiro espírito de cada homem e, a partir daí, é possível, segundo Platão, definir as hierarquias sociais que devem existir em um estado para que este funcione bem e guiado pela razão e não por sentimentos ilusórios.

Aristóteles foi o primeiro a estudar o Estado real, iniciando pela origem da política em Atenas, e Esparta na Antiguidade, para chegar a uma classificação de Estado até então inexistente. Para Aristóteles (1997), o Estado é superior ao indivíduo, entende, também, a coletividade como superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do Estado. A tarefa essencial do Estado é a educação, que deve desenvolver de forma harmônica e hierárquica todas as faculdades: antes de tudo as espirituais, intelectuais e subordinadamente, as materiais e físicas.

No século XVI, no Renascimento, o conhecimento passa a ser considerado como instrumento de controle da natureza, do poder, diferenciando a ação política da ação religiosa. Nessa época ocorre, também, o surgimento de pequenas cidades-estados, como a Itália com cinco estados, a Inglaterra, a França e a Espanha, com regimes políticos e diferentes níveis de desenvolvimento econômico, também colaboram para uma discussão ampliada sobre Estado. De acordo com Cambi (1999, p. 222-223),

Na origem da civilização Renascentista estão as grandes transformações políticas, sociais e culturais que, iniciadas no século XIV e até mesmo antes, fazem sentir seus efeitos nos séculos seguintes. Entre essas, assumem particular relevância dois fenômenos estreitamente conexos entre si. O primeiro é representado pela formação dos Estados nacionais na Europa e os regionais na Itália. O fim das duas grandes instituições universalistas medievais, o papado e o Império, favorece o nascimento e a sucessiva afirmação de algumas entidades nacionais. França e Inglaterra, sobretudo, com a consequente simplificação da geografia política e o desaparecimento de numerosos potentados feudais locais, nascidos à sombra da política imperial e da Igreja.

Foi a partir de Maquiavel (Florença 1469-1527), escrevendo O Príncipe, onde coloca os fundamentos da política como arte de governar o Estado, ou seja, como atingir, exercer e conservar o poder. Incorporando, no debate político, a diferença entre Estado e Sociedade, sendo o Estado o lugar onde o Príncipe atua, regulando a ordem social através de regulamentação, criação de leis e da intervenção, no sentido de produção da vida legitimada pela ação e o discurso. A partir de então, se intensificam os estudos sobre o Estado, com vários enfoques. Com o surgimento das Constituições escritas, toma novo impulso facilitado pelas normas e fundamentos que estabelecem a organização de cada Estado, observando-se notas e elementos permanentes.

Mas, retomemos as discussões iniciais que distinguiram o Estado de direito do Estado de natureza. O Estado de natureza é utilizado para explicar a função pré-social, em que os

indivíduos existiam isoladamente. As principais concepções de estado de natureza são duas: as teorias contratualistas do direito natural e o jusnaturalistas, desenvolvidas no percurso de transição para o capitalismo. Essas teorias são originárias do final dos séculos XVII e XVIII, plasmaram doutrinas políticas de individualidade e liberdade, que afirmam a necessidade do Estado regulador e legitimador dos direitos inatos dos indivíduos, instaurando uma ordem política que coíbe a violação desses direitos.

Nas obras desses contratualistas, segundo Bobbio e Bovero (1994, p. 61), encontramos a ideia de direito natural moderno, apresentando como tema central, em suas reflexões, o princípio do consenso daqueles sobre quem o poder do Estado é exercido, expresso num pacto ou contrato estabelecido entre homens, a partir da regulamentação e da autoridade intervindo na convivência social. Os contratualistas são assim chamados por propor uma organização estatal onde é possível abrir mão da liberdade individual e natural e se submetem a um poder, em troca de proteção.

Essas ideias se apresentam nas obras dos contratualistas Hobbes, Locke e Rousseau, criando um princípio que legitima o poder político do Estado moderno, expresso pelo pacto ou contrato social. Tem seu fundamento na concepção de Estado, partindo do estudo da natureza humana e se contrapondo às explicações religiosas e mágicas presentes na Idade Média. A grande contribuição desses contratualistas é considerar o homem como individuo racional que orienta sua ação por interesses e paixões. Tem seu pensamento construído sob dois elementos que se contrapõem e se sucedem: “o estado ou sociedade da natureza e o estado ou sociedade civil”.

No Estado de natureza, os indivíduos atuam sob suas paixões, instintos ou interesses, vivendo isolados, onde são livres e iguais. No estado civil ou político, esses indivíduos estão unidos vivendo a partir da razão, seguindo normas e obedecendo a autoridades constituídas.

Thomas Hobbes (2007) identifica que o Estado de natureza é marcado pelo desejo eterno de poder dos homens, e o mesmo é definido pela capacidade de adquirir riqueza, reputação e domínio de todos, vendo o outro como adversário, uma vez que todos podem tudo para conseguir seu intento, até causar a morte a outrem. A escassez dos bens tornaria isso perigoso, seria a guerra de todos contra todos. Segundo o autor:

Portanto, enquanto perdurar este direito de cada homem a todas as coisas, não poderá haver para nenhum homem - por mais forte e sábio que seja - a segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver. Consequentemente é um preceito ou regra geral da razão. Que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha esperança de consegui-la, e caso não a consiga, pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da guerra. A primeira

parte desta regra encerra a lei primeira e fundamental de natureza, isto é, procurar a paz e segui-la. A segunda resume o direito natural, isto é, por todos os meios possíveis cuidar da própria defesa (HOBBES, 2007, p. 101-102).

Para a conservação da paz, Hobbes propõe um tipo de estado contratualista absolutista. Primeiro, seria necessário regras observadas por todos, e autoridade para fazer com que sejam cumpridas. Essa passagem do estado de natureza para a constituição da sociedade civil marca a origem do Estado, o qual o homem transfere ao soberano o direito natural possuído por cada um sobre todas as coisas, impondo ao indivíduo a submissão e a autoridade constituída. Nesse sentido:

Contrato é a transferência mútua de direitos. Importante a diferença entre a transferência do direito a uma coisa ou tradição, isto é, a entrega da própria coisa. A coisa pode ser entregue juntamente com a translação do direito, como na compra e venda com direito a vista, ou na troca de bens e terras. Pode também ser entregue algum tempo depois (HOBBES,2007 p. 103-104).

A soberania é caracterizada a partir de três atributos: a irrevogabilidade, o caráter absoluto e a indivisibilidade do poder e da autoridade, consensuados mediante o contrato social. A soberania instituída por todos somente pode ser revogada por todos que, abrindo mão de sua vontade, instituíram o poder absoluto a um soberano.

Para John Locke (Inglaterra 1632-1704), assim como Hobbes, o poder político deveria ser assumido para que reinassem a paz, a segurança e a liberdade na esfera privada. Nele, o estado de natureza possui duas características: a primeira, como um estado onde se encontram agentes em liberdade e autonomia; a segunda é a igualdade, característica desse estado que lhe permite elaborar noções de direito, legalidade, poder e reciprocidade. Sem restrição à liberdade de natureza, a não ser pela força. Existe, porém, uma lei natural imposta a todos, limitando sua ação.

Assim, tanto Hobbes quanto Locke (1973) partem da condição de igualdade entre os homens no estado natural, mas a lei natural é, em princípio, eficaz e não restringe direitos, logo os indivíduos possuem direitos simplesmente por serem humanos e não por serem súditos. Então, ao restringir a propriedade aos direitos da natureza, Locke (1973) afirma que a lei civil obriga a reconhecer a propriedade como atributo humano que a antecede. Estabelece hierarquias entre as leis, colocando a lei de natureza como fundante de todas as leis, e condição das leis civis.

Alguns pontos são importantes de serem ressaltados: primeiro, que todos os homens possuam poder de executar as leis, resultando em grande possibilidade desses homens

exercerem mal a função; segundo, que esse contexto torna necessário a instituição de um governo civil; terceiro, a existência de governo evita o risco de legislar em causa própria.

Para Locke (1973), os homens tornavam-se proprietários ao passo que transformavam o estado de natureza, por meio do trabalho. Dessa forma, seria justificável a existência de pobres e ricos no estado de natureza pela capacidade de cada indivíduo de criar e acumular valores.

O desenvolvimento de relações mercantis e o surgimento do dinheiro, do comércio e da indústria leva à concentração de riqueza e ameaça dos conflitos. Para conservar a liberdade e a propriedade, os indivíduos criam o poder político. Assim, a passagem do estado de natureza para a sociedade civil ou política, feita para assegurar a propriedade, é a causa da instituição do Estado na sociedade civil.

Diferente de Hobbes, Locke rejeitava a ideia de um Estado absoluto. Para ele, o poder deveria ser dividido por um corpo de legislativo e pelo poder executivo na figura de um monarca, de forma que as leis fossem criadas e executadas no sentido do direito à propriedade e à segurança pessoal. Defendia a predominância do poder legislativo sobre o poder executivo, a exemplo da monarquia inglesa. O contrato social em Locke é marcado por duas características fundamentais: o consentimento e a confiança. Daí reside outra diferença entre Hobbes e Locke, ou seja, que o contrato seria um pacto de submissão dos súditos ao soberano. Para Locke (1973), é um pacto de consentimento em que o poder político é limitado, já que o poder executivo é submetido ao legislativo. Propõe também a revogação da autoridade, isso acontece quando o governo não assegura a vida, a liberdade e a propriedade, utilizando a força sem amparo legal, resvalando na tirania, conferindo ao povo legítimo direito à rebelião. Desse modo, o poder volta aos indivíduos até que se instaure o cumprimento do contrato social.

Locke (1973) constituiu diretrizes que fundamentam o estado liberal, firmando um dos princípios nucleares do liberalismo que é a existência do Estado para proteger os direitos e liberdades dos cidadãos, que são juízes dos seus interesses. As elaborações feitas pelo autor tiveram relevância histórica, influenciando o movimento de emancipação política da burguesia, expresso nas revoluções liberais da época moderna, e inspirando a declaração da independência dos Estados Unidos em 1776.

Dentre os estudiosos do Estado, Jean Jacques Rousseau (Suíça, 1712-1778) tem sua relevância em decorrência das formulações significativas na relação entre Estado e sociedade civil, diferente das defendidas por Hobbes ou Locke, Rousseau (1991), considera o homem como naturalmente bom, porém, esse estado sofre modificações ao se socializar, nesse

processo aponta a propriedade privada como causa das desigualdades, de acesso à riqueza, rivalidade de interesses e de disputa que tornam o egoísmo aquilo que basicamente move a vida social.

Denuncia que a ordem política, identificada por Hobbes e Locke, garante a segurança e o interesse de poucos, ou seja, os proprietários, revelando a causa das desigualdades e da dominação política dos poderosos contra os fracos.

Na obra, “Do contrato social”, esse autor propõe uma distribuição mais equilibrada da riqueza e da propriedade privada, isso não seria a socialização, mas a limitação do excesso e a garantia de acesso a todos. Aponta um novo tipo de homem que tivesse como objetivo o bem comum na ação do Estado. Afirma que os indivíduos deveriam criar as leis que regulam sua vida e o governo, ao contrário de Hobbes e Locke, onde há a submissão do povo ao soberano. A soberania, em Rousseau, se confunde com a vontade geral. Para ele, somente o Estado em que o povo exerce diretamente o poder executivo é legitimamente constituído. É necessário para o contrato social que o indivíduo se dê conta da situação alienada em que vive, uma vez que o indivíduo não tem a liberdade que pensa ter.

Rousseau (1991) deu uma contribuição para a construção da democracia na ordem política, mas o modo como se opera a vontade geral é problemática, uma vez que não observa como um determinado grupo transforma seus interesses em interesses coletivos, camuflando interesses que jamais poderiam ser considerados comuns, como sendo interesse de todo corpo social. A situação real, imaginada por Rousseau, não previu a presença de grupos ou associações organizadas que, em oposição, impediriam a formação de uma vontade geral. Em sua proposta, cada cidadão deveria raciocinar por si, opinando de acordo com sua “voz interior”. As ideias de Rousseau impulsionaram a Revolução Francesa. A partir desta revolução, a burguesia se constitui em classe no poder. Coutinho (2011) diz que apesar das muitas ideias presentes na obra de Rousseau, ele consegue articulá-las numa totalidade dialética, sua concepção filosófico-política.

O liberalismo se consolida na Inglaterra em 1688, com a denominada Revolução gloriosa, depois com a Independência Americana, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789. Na sequência, pensadores liberais como Max Weber (1999) formulam o conceito de Estado explicitado em duas dimensões: a primeira concebe o Estado como associação política, e a segunda concebe o Estado como empresa. Essas duas dimensões analisadas conjuntamente nos dão a possibilidade de compreender a coincidência radical e específica no âmbito do Estado, entre os meios de coação que permitem uma ordem racionalizada de sua aplicação.

Fazendo uma comparação entre a moderna empresa capitalista e o Estado moderno, aponta que, na empresa, o pressuposto estaria na separação do trabalhador dos meios de produção, e no Estado, o quadro administrativo estaria separado dos meios de administração, viabilizando a administração impessoal da ordem pública.

O trabalhador assalariado, o técnico administrativo, o servidor público ou o soldado sofrem dependência hierárquica pelo fato de os meios necessários para manutenção da empresa e o ganho para sua subsistência estarem na posse dos empresários ou mandatário político. De acordo com Max Weber (1999, p. 528), numa “associação política em que os meios administrativos materiais se encontram integral ou parcialmente no poder próprio do quadro administrativo dependente, é uma associação organizada elementarmente”. Não haveria condição para um Estado racional, fundado na crença legítima da lei, bem como na competência dos funcionários, caso os funcionários fossem funcionários e administradores ao mesmo tempo, o que caracterizava as formas políticas pré-modernas.

Para Weber, a capacidade empreendedora do empresário, dirigente político ou econômico não estaria no funcionário da administração pública, uma vez que este agiria de acordo com as regras pré-estabelecidas, que é obrigado a seguir. Aquele empresário agiria visando obter o melhor resultado possível.

Quando uma figura dirigente é um “funcionário”, segundo espírito de sua direção, mesmo um funcionário muito competente – alguém portanto que está acostumado a realizar seu trabalho de acordo com regulamento e ordem dada, cumprindo honestamente seus deveres – então não presta para ocupar uma posição à cabeça de uma empresa de economia privada nem de um Estado (WEBER, 1999, v. 2, p. 543).

Georg Wilheim Friedrich Hegel (Alemanha, 1770-1831) interpreta a formação social moderna depois da revolução burguesa, como aquela sociedade se organizou como uma descrição do Estado burguês, no processo histórico de consolidação da sociedade capitalista. Não mais como os jusnaturalistas propuseram, baseados em modelos ideais. Foi ele quem conceituou a sociedade civil como algo separado e diferente do Estado político, coexistindo com ele, mas não substituindo o estado de natureza.

Para Hegel (1997), a sociedade civil é um sistema onde se desenvolvem as relações e atividades econômicas de trocas e dependências individuais recíprocas, satisfazendo suas necessidades individuais por meio do trabalho, da divisão do trabalho e da troca, tendo assegurada a defesa de sua liberdade e da propriedade privada, através das regulações jurídico-administrativas. Assim sendo, diferente dos jusnaturalistas, a sociedade civil é

observada como esfera de relações econômicas, jurídicas e administrativas, porém não se opõe ao estado de natureza e o estado civil pela formação de um contrato.

O jovem Hegel, de acordo com Coutinho (2011), era entusiasta da Revolução Francesa, iniciando sua atividade teórica como admirador de Rousseau, critica a sociedade cristã burguesa de sua época, pelo predomínio do privado sobre o público, o que era, para ele, a decadência da “bela eticidade”, chegando a propor em Berna (1793-1796), o modelo político grego, qual seja uma sociedade humana solidária.

A filosofia do direito, em Hegel, é apontada por Coutinho (2011) como tentativa de superar o subjetivismo rousseauniano. Ao fazer isso, acaba por abandonar aspectos primordiais do conceito moderno de democracia, particularmente o de soberania popular, fruto da obra de Rousseau, primeira e talvez a mais brilhante expressão sistemática.

Hegel especifica que a sociedade civil burguesa, enquanto esfera exclusivamente autônoma, é um fenômeno da modernidade, o que no mundo antigo as relações econômicas estavam no âmbito das famílias. A primeira forma objetiva de comunidade universalizadora de interesses foi a família, aí se estabelecem normas comunitárias, a terceira e mais universal figura da eticidade foi o Estado, aparece na formulação do Hegel maduro, e a segunda forma, denominada de sistema dos carecimentos, e do trabalho dividido, esfera da sociedade civil burguesa, fruto da mediação entre a família e o Estado.

Para Hegel (1997), a instância universalizadora da vida ética seria o Estado, atingida na esfera dos interesses públicos e universais. Neste contexto, as contradições dos interesses privados seriam superadas. Se o Estado assegurar apenas os interesses individuais, impossibilitará aos indivíduos reconhecerem seus laços históricos e sociais. Essa ordem social produzida pelo desenvolvimento histórico é mantida e organizada pelo Estado. Situando a esfera estatal, enquanto espaço de realização dos interesses universais, significa para o mesmo que a construção do Estado se processa nessa esfera, assim as demandas vindas de organizações da sociedade civil, quando compatíveis com os interesses comuns, seriam atendidas.

Em sua maturidade, Coutinho (2011) aponta que Hegel se reconcilia com o real, em grande empenho teórico e, já no período de Frankfurt (1797-1800), compreende a sociedade civil burguesa como momento essencial da totalidade moderna, ao contrário do que sucedia nos pensadores liberais, sua máxima expressão na universalidade em si e para si, objetiva e autoconsciente do Estado.

Guarda similaridade com o mal-estar rousseauniano, na société civile, no discurso acerca da desigualdade, antecipando conceitos de alienação e empobrecimento da classe

trabalhadora no capitalismo, depois desenvolvido por Marx. Com relação ao pensamento liberal clássico, a possibilidade de um encadeamento universal para ele, se dará a partir de quando a classe burguesa deixe de representar seus interesses, como universais, passando a representar o bem de todos como direito universal. Para Adam Smith (1983), a harmonização dos interesses egoístas como o bem de todos, resultaria da ação automática do mercado, famosa “mão invisível”, que no pensamento liberal é aspecto objetivo da formação da vontade de todos.

Na concepção de Karl Heinrich Marx (Alemanha, 1818-1883), não há uma teoria do Estado completa e pronta, existem determinações diferentes em contextos diversos. Significa dizer que a realidade concreta é permeada de determinações, é dinâmica, levando em conta aspectos como as determinações históricas, entre outros, que conformam os objetos, percebendo as mudanças e as novas determinações que assumem.

Marx se apropria criticamente das ideias a partir de três fontes: o materialismo histórico dialético da filosofia Alemã (Hegel e Feuerbach); as teorias do valor-trabalho e da mais-valia, advindas da economia política inglesa (Smith e Ricardo); e o lugar da teoria das lutas de classes, dos socialistas utópicos franceses (Poudhon, Saint-Simon, Fourier, Owen).

Toma a sociedade civil como base econômica e o Estado como superestrutura. Com base em Hegel, vai nos dizer que na sociedade civil estariam as relações econômicas e, no