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CAPÍTULO 2 – Da metrópole à Cidade Região Paulista

2.3 As características da Cidade-Região Paulista

A desconcentração produtiva ocorrida no estado de São Paulo tinha por objetivo desadensar a atividade industrial da Região Metropolitana de São Paulo, e também do próprio estado. Entretanto, como visto por Souza (1978), este processo de desconcentração da indústria privilegiou os núcleos secundários do estado, tais como Santos, Campinas e São José dos Campos, isto é, regiões que já detinham um certo dinamismo e que se localizam a próximo a capital paulistana. Para autora, estes núcleos secundários passaram a ser atrativos para alocação da indústria, devido aos seguintes fatores: melhoria nas vias de comunicação com a cidade de São Paulo, bem como em outros conjuntos de infraestrutura, proximidade da capital e também por causa da própria deseconomias de aglomeração ocorrida na RMSP. Esta expansão da indústria para as regiões próximas a capital fez Souza (1978) perceber que no estado de São Paulo não estava ocorrendo uma simples desconcentração industrial para o interior, mas a formação de uma unidade regional que foi denominada por esta autora de Macrometrópole.

Sobre a formação deste megacomplexo regional, Lencioni (2003a) afirma que sua lógica de constituição não está vinculada apenas à desconcentração produtiva, ou ao declínio da produtividade industrial da capital, ou associada à reestruturação produtiva; a formação desta morfologia se caracterizaria por “uma nova lógica histórica de reprodução do capital”. Portanto, a Macrometrópole Paulista (ou o que aqui denominamos de Cidade-Região Paulista) é fruto da nova etapa de acumulação do capital (regime de acumulação flexível) que, “ao alterar as determinações das estratégias e práticas territoriais da indústria o fez reafirmando a

tradicional área industrial do interior paulista que, nesse processo, se dilui enquanto tal se metamorfoseando como território metropolitano” (LENCIONI, 2003a, p. 6). A contínua conformação deste complexo industrial metropolitano só vem sendo concretizada através do aumento e expansão dos fluxos materiais e imateriais, o que permite unir as espacialidades dispersas a um único sistema urbano através de um “espaço de fluxos”105.

O aumento dos fluxos materiais e imateriais, bem como de suas redes, faz com que se una, a um único sistema urbano, desde empresas de um mesmo (ou diferente) grupo econômico - espacialidades inerentes à gestão do capital e outras responsáveis por outros momentos da produção - os aglomerados de diferentes portes populacionais e funções. O resultado desta conjugação de diversas espacialidades através de um espaço de fluxos é impresso em uma nova morfologia urbana de caráter urbano-regional, que se caracteriza pelo seu poder concentrador, tanto de pessoas, quanto de riquezas. Além do mais, esta nova forma urbana é marcada pela existência e pelo aprofundamento do que Santos (2008) denominava “espaços do mandar” e “espaços do obedecer”106, já que, com a reestruturação ocorrida no

estado de São Paulo, centralizou-se.na metrópole paulistana, as atividades relacionadas a gestão do capital e da produção. Em síntese, o que se nota nesta porção do sudeste brasileiro é a formação de “um novo fato urbano de caráter metropolitano de dimensões inéditas” (LENCIONI, 2003a, p. 7).

A região que neste trabalho é denominada de Cidade-Região Paulista (CRP) e que engloba as áreas metropolitanas de São Paulo (RMSP), Campinas (RMC), Santos (RMBS), Vale do Paraíba (RMVPLN) e Sorocaba (RMS) e as aglomerações urbanas de Piracicaba e Jundiaí, assim como a unidade regional de Bragantina, caracteriza-se por ser um aglomerado urbano regional de caráter concentrador. A CRP, como dito anteriormente, é o novo espaço privilegiado para a acumulação do capital e, em um mundo cada vez mais globalizado, esta região busca maior conectividade com outros lugares do mundo, assim como busca ser um

105 Como já visto anteriormente, o termo espaço de fluxos foi cunhado por Castells (1999a, p. 47.) a despeito

desta terminologia o autor afirma: “Proponho a ideia de que há uma nova forma espacial característica das práticas sociais que dominam e moldam a sociedade em rede: o espaço de fluxos. O espaço de fluxos é a organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos. Por fluxos, entendo as sequências intencionais, repetitivas e programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômicas, política e simbólica da sociedade”. De fato, o espaço de fluxos de Castells (1999a) diz respeito as trocas de informação, ou seja, aos fluxos topográficos. Todavia, este trabalho também utiliza o termo espaço de fluxos para caracterizar as territorialidades contemporâneas que também são marcadas cada vez mais pelo aumento da circularidade dos fluxos materiais.

106 No entendimento de Santos (2008, p. 101) “Os espaços comandados pelo meio técnico científico são os

espaços do mandar, os outros são os espaços do obedecer. O espaço global éoriundo de todos os objetos e fluxos”.

lugar apropriado para receber as pessoas e o capital do “tipo certo107” (por exemplo: as plantas

industriais do tipo internacional).

Neste sentido, na conformação da Cidade-Região Paulista, além de novas áreas serem aglutinadas a esta morfologia através da expansão do processo de metropolização, da dispersão da indústria e dos fluxos materiais e imateriais; diversos municípios que se inserem na unidade da CRP expandem as áreas territoriais destinadas à produção industrial, entrando na lógica da guerra fiscal entre eles, também mudando não raras vezes, a paisagem local108 de algumas zonas para atender os anseios das corporações. Tais mudanças acentuam cada vez mais a concentração da produção e da riqueza na CRP.

No tocante ao caráter concentrador da Cidade-Região de São Paulo, um aspecto que expressa esta característica é a concentração dos estabelecimentos industriais. De acordo com os dados da RAIS (2010), em 2010, cerca de 75% do emprego formal da indústria de transformação do estado, estavam alocados na RMSP e nas regiões de governo de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos. Esta concentração pode ser facilmente observada a partir da FIGURA 6, que apresenta a participação relativa do Valor Adicionado Fiscal (VAF) da indústria de transformação por município no estado de São Paulo. Através desta figura, verifica-se que aqueles municípios que, em 2010, detinham mais 40% do valor adicionado calcado na produção industrial, localizavam-se dentro dos limites da Cidade-Região. Esta constatação indica a pujança desta territorialidade no que tange à produção industrial, e desmistifica a tese de interiorização do processo produtivo, já que grande parte da riqueza gerada por este setor era produzida (e continua sendo) nos limites da CRP.

Na realidade, um dos pressupostos que demarca o presente estudo é que esta desconcentração e concentração dos processos produtivos, no pós década de 1970, em um raio de 150km da Região Metropolitana de São Paulo, conduziu à conformação da Cidade-Região. Esta expressiva concentração do setor industrial na CR é reafirmada por Lencioni (2003a) que, usando os dados da RAIS de 1996, pondera que, até este ano, mais de 70% dos estabelecimentos e do emprego formal gerados pela indústria de transformação estavam localizados na RMSP e na Região Administrativa de Campinas, o que para ela correspondia ao core da CR. Quanto à concentração de riqueza, Lencioni (2003a) ainda mostra que as cinco principais regiões administrativas que compunham a CRP, em 1996, produziram um PIB

107 Fix (2007) nota uma crescente mudança nas metrópoles na atualidade, estas mudanças (tais como as

renovações urbanas) se perfazem como um conjunto de ações para atrair cada vez mais o capital do tipo certo para continua reprodução e acumulação do próprio capital. Tal fato não diminui as desigualdades, pelo contrário, fomentam ainda mais a desigualdade e a segregação, já que o capital e as pessoas do “tipo certo” tendem a se concentrar em uma parcela especifica do espaço urbano.

equivalente a 250 milhões de dólares;o que representava 32% do PIB nacional, e cerca de 83% do PIB gerado em todo o estado de São Paulo. Há de se ressaltar ainda que as regiões de São Paulo e Campinas, juntas, geraram, no ano de 1996, mais de 75% do Produto Interno Bruto de todo o estado, o que reforça a afirmação destas áreas serem os principais núcleos desta morfologia urbana (LENCIONI, 2003a).

FIGURA 6 – Participação relativa da indústria de transformação no Valor Adicionado Fiscal Estado de São Paulo, 2010

Fonte: Fundação Seade (2010).

Ainda com o intuito de demonstrar o caráter concentrador da Cidade-Região Paulista, as FIGURA 7 e 8 apresentam a distribuição dos estabelecimentos industriais tradicionais e tecnológicas109 para o estado de São Paulo nos anos de 1995 e 2005 (REOLON, 2015, p. 415; p. 422). Através deste conjunto de mapas, o trabalho de Reolon (2015) teve por objetivo analisar a distribuição dos estabelecimentos e do emprego no setor industrial em todo o estado110. Segundo este estudo, em 1995, cerca de 61 mil estabelecimentos industriais

109 Reolon (2015, p. 411-412) “analisou a distribuição do setor produtivo no estado de São Paulo, através de dois

grupos: o grupo industrial tradicional (“conformado pelas atividades de metalurgia, mecânica, elétrica e comunicações, material de transporte, madeira e mobiliário, papel e gráfica, borracha, fumoe couro, química, têxtil, calçadista e alimentos e bebidas”) e o grupo industrial tecnológico, que para o autor compreende o grupo de atividades que emprega mais inovação e que registra aumento da demanda global, sendo representativo das atividades de alta tecnologia”.

110 Ademais o autor também teve por objetivo averiguar as mudanças ocorridas na distribuição da produção

localizavam-se em SP; em 2005, este número passou para 66 mil, o que representou uma taxa de crescimento de 0,81% no quinquênio 1995/2005. Todavia, mesmo que o número de estabelecimentos industriais tenha crescido em termos absolutos, a taxa de crescimento destes, durante o período analisado por Reolon (2015), foi significativamente menor à taxa representada pela média nacional (2,92%).

De fato, o crescimento do emprego e do número de estabelecimentos industriais no estado de São Paulo vêmapresentado arrefecimento ao longo dos últimos anos, principalmente em função das crises das décadas de 1990 e 2000. Esta redução da participação da indústria na economia não é um fato inerente apenas ao estado de São Paulo, mas reflete o que ocorreu em todo país e no mundo de maneira geral, revelando um crescente ganho de importância do setor terciário no mercado de trabalho. Entretanto, por São Paulo deter o maior pátio industrial do país, a redução da participação da indústria neste estado vem sendo maior (SIQUEIRA, 2009).

Contudo, mesmo apresentando redução nas taxas de crescimento do emprego e dos estabelecimentos industriais, o estado de São Paulo ainda mantém sua hegemonia no que tange à concentração da produção industrial. No entanto, assim como a distribuição dos estabelecimentos e do emprego no setor industrial no Brasil é desigual, no âmbito do estado São Paulo esta distribuição também não é homogênea. Como se pode observar através da Figura 7, grande parte da indústria tradicional do estado de São Paulo, nos dois anos (1995 e 2005) analisados por Reolon (2015), estavam, em sua maioria, adensadas nas aglomerações de São Paulo, Campinas, Jundiaí, Sorocaba e São José dos Campos, ou seja, na Cidade- Região de São Paulo.

Neste sentido, ao analisar os mapas transcritos na FIGURA 7, percebe-se que nos dois anos pontuados, o município de São Paulo diminuiu sua participação relativa no que diz respeito à concentração da indústria do tipo tradicional, passando de 39% em 1995 para 30% em 2010. Sublinha-se que esta redução na participação relativa do município, também gerou declínios na média da participação regional da RMSP. Porém, mesmo que a referida região metropolitana tenha diminuído o número de estabelecimentos do tipo tradicional, alguns municípios como Guarulhos, Santana do Paranaíba e Mauá aumentaram seu percentual de atuação na produção industrial do estado. Os outros recortes territoriais que apresentaram crescimento no número de estabelecimentos e no emprego do grupo industrial tradicional foram as regiões administrativas de Sorocaba, Campinas e São José dos Campos (em especial os municípios de Limeira, Santa Barbara d’Oeste e Sorocaba), isto é, as áreas circunscritas a CRP (REOLON, 2015).

FIGURA 7 – Distribuição municipal dos estabelecimentos do grupo industrial tradicional Estado de São Paulo, 1995 e 2005

Fonte: Reolon (2015, p. 415).

No que diz respeito ao panorama da distribuição do setor fabril no estado de São Paulo, torna-se necessário enfatizar duas problemáticas que já foram previamente debatidas ao longo deste trabalho. A primeira questão se relaciona à finitude do processo de desconcentração da indústria. Como já foi discutido, o setor produtivo vem se desconcentrando e reorganizando suas plantas industriais ao longo das principais rodovias do estado de São Paulo, tendendo, principalmente, a se concentrar a uma distância de 150km da capital paulistana. Na realidade, a reorganização espacial da indústria se deu até onde havia condições gerais de produção necessárias para a produção e a reprodução da força de trabalho, bem como uma rede de solidariedade próxima de empresas que sustentasse o processo produtivo desverticalizado.

Outro ponto, a ser ressaltado, é que a desconcentração industrial não se enquadra no que se poderia dizer ser uma descentralização, já que descentralizar significaria mudar também os centros de gestão. Destarte, como destacado por diversos autores (CANO, 2007; AZONI, 1993), o que ocorreu no estado de São Paulo e no Brasil foi apenas desconcentração da produção que, em grande parte, estava adensada na Região Metropolitana de São Paulo. Portanto, as atividades relacionadas à gerência e comando das grandes indústrias continuaram e se reforçaram cada vez mais na RMSP e, principalmente na capital. Por fim, é preciso salientar que esta reorganização do setor de produção de bens não corrigiu os desequilíbrios regionais no que tange à concentração dos processos produtivos. As ações do Estado, que tinham por objetivo gerar uma equidade nos desequilíbrios regionais, aprofundaram ainda mais as desigualdades assim como seguiram e reforçaram as tendências de organização espacial do processo produtivo ditados pelo setor privado (REOLON, 2015).

Quanto à concentração do grupo industrial de alta tecnologia (Figura 8), Reolon (2015) destaca que este possuía um caráter muito mais concentrador do que as atividades incluídas no grupo tradicional, estando muito mais adensado no estado de São Paulo. Entretanto, mesmo tendo esta peculiaridade, as empresas que produziam e que usavam de alta tecnologia no processo produtivo também diminuíram sua participação relativa nesta UF. Dos 25.638 estabelecimentos incluídos neste grupo em 1995, 50% estavam alocados no estado de São Paulo, já em 2005, este percentual reduziu para 44% do total 33.334 estabelecimentos. Todavia, há de se ressaltar que, em termos de Brasil, mesmo com uma redução na participação relativa, o estado de São Paulo continua sendo o grande concentrador do grupo industrial de alta tecnologia.

FIGURA 8 – Distribuição municipal dos estabelecimentos do grupo industrial de alta tecnologia Estado de São Paulo, 1995 e 2005

Fonte: Reolon (2015, p. 422).

Através FIGURA 8 percebe-se que a zona de adensamento da indústria de alta tecnologia no estado de São Paulo, era, nos dois anos analisados, muito menor do que aquela observada para o grupo industrial tradicional, o que demonstra que esta atividade é bem mais concentrada territorialmente. De qualquer forma, para Reolon (2015), a indústria de alta tecnologia também tem apresentado uma certa desconcentração no âmbito do estado São Paulo, mas o recorte territorial de dispersão deste setor tem sido mais restrito à Cidade- Região111. O autor ainda salienta que os municípios que mais apresentaram crescimento no

111 A despeito da dessa concentração (REALON, 2015, p. 420) “esse ligeiro quadro sintetiza bem a dinâmica da

redistribuição das atividades do grupo industrial tecnológico, considerando-se que, embora o interior do Estado tenha apresentado bom desempenho quanto à absorção deestabelecimentos e de empregos, o desempenho dos municípios localizados no recorte da macrometrópole foi ainda melhor”.

número de empregos e estabelecimentos no âmbito do setor tecnológico foram: Sorocaba, Hortolândia, Americana, Piracicaba, Rio Claro, Itatiba, Indaiatuba, Sumaré, Mogi Guaçu e Campinas.

Ainda em relação a este adensamento industrial, é preciso ressaltar que as indústrias de alta tecnologia tendem a se concentrar e reproduzir em grandes aglomerações (SASSEN, 1994). Também, verifica-se que, a partir do momento que as indústrias tradicionais foram se dispersando por uma área muito maior que a indústria tecnológica, esta última se concentrou cada vez mais em uma porção territorial específica do estado de São Paulo. Neste sentido, Reolon (2015, p. 86) sublinha “que o perfil da indústria do estado de São Paulo tem, de fato, alterado-se em função da maior presença relativa de unidades industriais fortemente intensivas em capital e tecnologia”. Por fim, é necessário ressaltar que toda essa dinâmica de desconcentração e rearranjo do setor produtivo no âmbito da Cidade- Região tem levado à formação de certos vetores territoriais de crescimento e expansão no espectro da CRP112 (FIGURA 9). Estes vetores seguem as principais vias de circulação do

Estado de São Paulo e adensam um conjunto de infraestruturas (tais como portos, aeroportos, centros de pesquisas, universidades, etc) que potencializam o compartilhamento de funções entre os aglomerados.

Considera-se, portanto, que este adensamento de infraestrutura, riqueza, produção industrial, alta concentração demográfica e a crescente a ampliação dos fluxos topográficos e topológicos evidenciam a formação da Cidade-Região e de seus eixos de expansão. Outra evidência é a existência de uma grande mancha urbanizada (cerca de 50% da mancha urbanizada do Estado se encontra na CR), que, embora não esteja totalmente conurbada, devido, sobretudo, às restrições físicas e à presença de áreas protegidas, é servida por um sistema viário e de transporte que propicia a articulação dos espaços urbanos e a integração funcional das estruturas produtivas neles inseridas, como pode ser observado através da Figura 9.

FIGURA 9 – Vetores territoriais da cidade Região Paulista

Fonte: Emplasa (2014).

Ressalta-se que estes vetores de expansão, bem como a própria formação desta morfologia, têm gerado mudanças na rede urbana. Para Lencioni (2011), se antes a rede urbana tinha um padrão muito mais hierarquizado, agora, tem-se uma rede anastomasada113 com reforço ao policentrismo. Na realidade, as transformações econômicas geradas pelo processo de reestruturação produtiva levaram diversos agentes econômicos a buscarem novas alianças, mercados e posturas competitivas. Isto tem, cada vez mais, impulsionado à ampliação e diversificação das relações entre núcleos urbanos, as quais se multiplicam em diversos sentidos através dos fluxos topográficos e topológicos. Esta ampliação dos fluxos e relações tem sido mais contundente nas cidades que foram diretamente e fortemente influenciadas pelos processos de reestruturação produtiva que, a princípio, emanaram da capital paulistana no final do século XX em direção a um “interior” próximo.

Portanto, considera-se que areestruturação produtivaqueimplicou melhorias de infraestruturas e nos progressos tecnológicos gerados durante a Terceira Revolução Industrial,

113 Lencioni (2011) empresta o termo “anastomose” da biologia, para exemplificar a forma que a rede urbana

passa a deter na atualidade. Para autora, a rede urbana está cada vez mais menos hierárquica e detém uma complexidade muito maior, por apresentar inúmeras interações. Nas palavras a autora: “A integração das escalas local, regional, nacional e global se processa, cada vez mais, de forma anastomosada, ou seja, se dá por meio de complexas e inúmeras ramificações que não estabelecem uma estrutura hierárquica piramidal e arborescente, típica das hierarquias urbanas tradicionais (LENCIONI, 2011, p. 147).

além de influenciar na formação da Cidade-Região Paulista, gerou reflexos também na estruturação da rede urbana, tanto nacional, quanto do estado de São Paulo. Como ressaltado anteriormente, nota-se uma supervalorização das configurações anastomosadas da rede urbana, devido a uma equivalente supervalorização das telecomunicações, que, supostamente, teriam implodido com a estrutura hierárquica piramidal (padrão christalleriano). As técnicas, apesar de possibilitarem a real superação da estrutura piramidal (como vem acontecendo amplamente na expansão de mercados) e de conterem um potencial revolucionário de superação das hierarquias, não possuem autonomia. Elas são empregadas segundo os objetivos de agentes sociais, que constroem e dirigem as redes.

No caso do estado de São Paulo, onde se desenvolveu uma estrutura bastante completa da rede urbana, abrangendo vários níveis hierárquicos, o padrão christalleriano em forma de pirâmide era considerado, há algumas décadas, o mais próximo do verificável. Isto é, a maior quantidade de centros intermediários correspondia interações que seguiam, mais significativamente, as etapas sucessivas da hierarquia urbana; de modo a sustentar essa mesma estrutura, marcada por vários níveis de centralidade. Nas últimas décadas, todavia, a possibilidade de interpretação permitida pelo modelo declinou diante das possibilidades geradas pelo desenvolvimento dos transportes e comunicações, que permitem, por exemplo, interações diretas entre centros menores com a própria capital paulistana, sem a total